Friday, January 12, 2018

Visibilidade obtida em obras alheias

Pedro J. Bondaczuk

Uma das peculiaridades na minha já longa atuação no tão competitivo (e, no entanto, de tão poucos resultados financeiros) mundo das letras, é o fato de eu haver publicado mais, muito mais textos em livros alheios, do que em meus próprios. A desproporção é gritante. Refiro-me, aqui, aos prefácios que tive o privilégio e a honra de redigir. Considero isso, ou seja, convites para prefaciar, imensa prova de confiança da parte dos que me convidam para participar de suas obras, o que faço (sem nenhum laivo de demagogia) com a maior satisfação e orgulho. Sinto-me privilegiado por ser lembrado por tantos escritores notáveis – e não apenas da minha cidade, mas dos mais diversos recantos deste país de dimensões continentais – que, sobretudo, acreditam em minha competência e capacidade de análise, o que muito me envaidece (óbvio).

Nos últimos 24 anos – tempo de duração do que chamo, eufemisticamente, de “minha carreira literária” – consegui publicar, e com ingentes sacrifícios, apenas quatro livros meus. São eles, pela ordem: “Quadros de Natal” (contos natalinos,1993), “Por uma nova utopia” (ensaios, 1998), “Cronos e Narciso” (crônicas, 2010) e “Lance fatal” (contos, também em 2010). Como se vê são poucos, diria pouquíssimos (sou vidrado em superlativos) levando em conta tudo o que já escrevi. Curiosamente (e nem sei explicar, racionalmente, por que), os livros que publiquei estão longe, muito distantes de serem os melhores que produzi. Deve ser por excesso de confiança (mas não juro que seja). Talvez, em meu subconsciente, eu pretenda surpreender, com publicações posteriores, editoras, críticos e leitores. Mas… ainda não apareceu oportunidade para isso. Temo que nem mesmo apareça.

É verdade que não tenho me empenhado nem um pouco para isso. Não tenho tempo, disposição e mobilidade (a idade avançada dificulta, crescentemente, minha locomoção), para, por exemplo, sair, com originais debaixo do braço, em romaria pelas editoras, em busca de novas oportunidades. No meu íntimo, espero ser “convidado” para submeter à apreciação dos editores minha profícua produção. A probabilidade, todavia, disso acontecer é (suponho, ou estimo, e com muito otimismo por sinal) de uma em um milhão. Provavelmente até mais, muito mais. Vai daí que… é quase certo que doravante permanecerei inédito no mercado editorial. Curiosamente, isso já não acontece em relação aos meus prefácios. Como enfatizei antes, a desproporção entre meus livros e eles é brutal. Em recente levantamento que fiz, apurei que já prefaciei exatas QUARENTA obras literárias, entre romances, poesia, contos, ensaios e crítica literária, e de escritores do Oiapoque ao Chuí (claro que há exagero nessa abrangência). Ou seja, dez vezes mais do que os livros de minha autoria que publiquei.

Recebo (com bastante satisfação e quase semanalmente), dezenas de originais, com solicitações para que os prefacie. Alguns desses escritores que me procuram sequer integram meu relativamente vasto círculo de amizades (mas passam a integrar tão logo recebo seus pedidos). Nunca, em circunstância alguma, me fiz de difícil. Jamais inventei qualquer pretexto (nem mesmo o mais utilizado pelos arrogantes, como o de “falta de tempo”) para recusar a atender a qualquer convite. Nunca os recusei e nem recusarei. Afinal, tais solicitações são sinal de co0nfiança e de apreciação por parte dos que me procuram. Não tarda para que se estabeleça cumplicidade entre nós.

Dia desses, comentando o fato com um amigo, desses indivíduos pragmáticos, que pensam o tempo todo em vantagens de cada um de nossos atos, ele perguntou-me, em tom de velada censura: “o que você ganha com tudo isso, Pedrão?!”. Ora, ora, ora, amigão, ganho muito. E meus ganhos são intangíveis, não pecuniários, mas que, para mim são muito mais importantes do que meramente engordar minha conta bancária. O primeiro ganho, e para mim o mais relevante, é a visibilidade. Além disso, incorporo à minha vasta (mas caótica) biblioteca dezenas de livros novos, fresquinhos, fresquinhos, recém concluídos, dos quais me torno atento leitor, antes mesmo destes serem enviados às editoras.

Para prefaciá-los, obviamente, tenho que lê-los, mas não como às vezes se faz com algumas leituras, ou seja, às pressas, sem atentar para detalhes. Muito pelo contrário. Tais originais têm que ser lidos com atenção redobrada, e analisados em minúcias, dissecados, estudados, literalmente “virados no avesso”, com inúmeras anotações, observações à margem, para que meu texto seja fiel ao conteúdo da obra em foco. E o que aprendo nesse exercício não tem preço. Enriqueço demais meru acervo de conhecimentos e de experiências. Portanto... lucro demais com isso!

O que vem a ser um prefácio? Conceitualmente, até por definição, é um “texto introdutório, que apresenta o conteúdo de um livro”, despertando, por conseguinte, a curiosidade do leitor para que o “devore” com sofreguidão. Se bem escrito, leva quem adquiriu a obra a lê-la da primeira à última página, até para conferir se o prefaciador foi fiel ao conteúdo, se exagerou ou não em sua apresentação.


O que eu escrever, a propósito, ficará incorporado, de uma forma ou de outra, e para sempre, à obra prefaciada. Tornar-me-ei, tenha ou não consciência disso, “cúmplice” do autor. Isso sem contar que, certamente, ganharei um novo amigo (caso não o tenha conhecido antes de receber o convite) ou consolidarei ainda mais uma amizade se já tivermos esse precioso privilégio a nos unir. Caso eu reunisse, num único volume, todos os prefácios que escrevi, e que foram publicados, teria uma extensa e interessantíssima antologia, de gêneros e temas multivariados, muito (muitíssimo) mais volumosa do que os quatro livros juntos que já publiquei até aqui. Querem “lucro” maior do que os que citei?!

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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