Visibilidade
obtida em obras alheias
Pedro
J. Bondaczuk
Uma
das peculiaridades na minha já longa atuação no tão competitivo
(e, no entanto, de tão poucos resultados financeiros) mundo das
letras, é o fato de eu haver publicado mais, muito mais textos em
livros alheios, do que em meus próprios. A desproporção é
gritante. Refiro-me, aqui, aos prefácios que tive o privilégio e a
honra de redigir. Considero isso, ou seja, convites para prefaciar,
imensa prova de confiança da parte dos que me convidam para
participar de suas obras, o que faço (sem nenhum laivo de demagogia)
com a maior satisfação e orgulho. Sinto-me privilegiado por ser
lembrado por tantos escritores notáveis – e não apenas da minha
cidade, mas dos mais diversos recantos deste país de dimensões
continentais – que, sobretudo, acreditam em minha competência e
capacidade de análise, o que muito me envaidece (óbvio).
Nos
últimos 24 anos – tempo de duração do que chamo,
eufemisticamente, de “minha carreira literária” – consegui
publicar, e com ingentes sacrifícios, apenas quatro livros meus. São
eles, pela ordem: “Quadros de Natal” (contos natalinos,1993),
“Por uma nova utopia” (ensaios, 1998), “Cronos e Narciso”
(crônicas, 2010) e “Lance fatal” (contos, também em 2010). Como
se vê são poucos, diria pouquíssimos (sou vidrado em superlativos)
levando em conta tudo o que já escrevi. Curiosamente (e nem sei
explicar, racionalmente, por que), os livros que publiquei estão
longe, muito distantes de serem os melhores que produzi. Deve ser por
excesso de confiança (mas não juro que seja). Talvez, em meu
subconsciente, eu pretenda surpreender, com publicações
posteriores, editoras, críticos e leitores. Mas… ainda não
apareceu oportunidade para isso. Temo que nem mesmo apareça.
É
verdade que não tenho me empenhado nem um pouco para isso. Não
tenho tempo, disposição e mobilidade (a idade avançada dificulta,
crescentemente, minha locomoção), para, por exemplo, sair, com
originais debaixo do braço, em romaria pelas editoras, em busca de
novas oportunidades. No meu íntimo, espero ser “convidado” para
submeter à apreciação dos editores minha profícua produção. A
probabilidade, todavia, disso acontecer é (suponho, ou estimo, e com
muito otimismo por sinal) de uma em um milhão. Provavelmente até
mais, muito mais. Vai daí que… é quase certo que doravante
permanecerei inédito no mercado editorial. Curiosamente, isso já
não acontece em relação aos meus prefácios. Como enfatizei antes,
a desproporção entre meus livros e eles é brutal. Em recente
levantamento que fiz, apurei que já prefaciei exatas QUARENTA obras
literárias, entre romances, poesia, contos, ensaios e crítica
literária, e de escritores do Oiapoque ao Chuí (claro que há
exagero nessa abrangência). Ou seja, dez vezes mais do que os livros
de minha autoria que publiquei.
Recebo
(com bastante satisfação e quase semanalmente), dezenas de
originais, com solicitações para que os prefacie. Alguns desses
escritores que me procuram sequer integram meu relativamente vasto
círculo de amizades (mas passam a integrar tão logo recebo seus
pedidos). Nunca, em circunstância alguma, me fiz de difícil. Jamais
inventei qualquer pretexto (nem mesmo o mais utilizado pelos
arrogantes, como o de “falta de tempo”) para recusar a atender a
qualquer convite. Nunca os recusei e nem recusarei. Afinal, tais
solicitações são sinal de co0nfiança e de apreciação por parte
dos que me procuram. Não tarda para que se estabeleça cumplicidade
entre nós.
Dia
desses, comentando o fato com um amigo, desses indivíduos
pragmáticos, que pensam o tempo todo em vantagens de cada um de
nossos atos, ele perguntou-me, em tom de velada censura: “o que
você ganha com tudo isso, Pedrão?!”. Ora, ora, ora, amigão,
ganho muito. E meus ganhos são intangíveis, não pecuniários, mas
que, para mim são muito mais importantes do que meramente engordar
minha conta bancária. O primeiro ganho, e para mim o mais
relevante, é a visibilidade. Além disso, incorporo à minha vasta
(mas caótica) biblioteca dezenas de livros novos, fresquinhos,
fresquinhos, recém concluídos, dos quais me torno atento leitor,
antes mesmo destes serem enviados às editoras.
Para
prefaciá-los, obviamente, tenho que lê-los, mas não como às vezes
se faz com algumas leituras, ou seja, às pressas, sem atentar para
detalhes. Muito pelo contrário. Tais originais têm que ser lidos
com atenção redobrada, e analisados em minúcias, dissecados,
estudados, literalmente “virados no avesso”, com inúmeras
anotações, observações à margem, para que meu texto seja fiel ao
conteúdo da obra em foco. E o que aprendo nesse exercício não tem
preço. Enriqueço demais meru acervo de conhecimentos e de
experiências. Portanto... lucro demais com isso!
O
que vem a ser um prefácio? Conceitualmente, até por definição, é
um “texto introdutório, que apresenta o conteúdo de um livro”,
despertando, por conseguinte, a curiosidade do leitor para que o
“devore” com sofreguidão. Se bem escrito, leva quem adquiriu a
obra a lê-la da primeira à última página, até para conferir se o
prefaciador foi fiel ao conteúdo, se exagerou ou não em sua
apresentação.
O
que eu escrever, a propósito, ficará incorporado, de uma forma ou
de outra, e para sempre, à obra prefaciada. Tornar-me-ei, tenha ou
não consciência disso, “cúmplice” do autor. Isso sem contar
que, certamente, ganharei um novo amigo (caso não o tenha conhecido
antes de receber o convite) ou consolidarei ainda mais uma amizade se
já tivermos esse precioso privilégio a nos unir. Caso eu reunisse,
num único volume, todos os prefácios que escrevi, e que foram
publicados, teria uma extensa e interessantíssima antologia, de
gêneros e temas multivariados, muito (muitíssimo) mais volumosa do
que os quatro livros juntos que já publiquei até aqui. Querem
“lucro” maior do que os que citei?!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment