Monday, March 31, 2014

A vida nas grandes cidades, mesmo para os que não conhecem outros lugares – que nasceram e cresceram nelas e nunca saíram dali – é tensa, estressante e difícil. Trânsito complicado, poluição, violência e muito barulho são alguns dos principais inconvenientes. O excesso de ruído, porém, é o fator mais neurotizante. Causa terríveis danos, não apenas psicológicos, mas também físicos. Várias pessoas dizem que “adoram” essa confusão. Seriam sinceras? Não sei! Richard Abou escreveu a respeito: “Dois em cada três homens vivem nas cidades, submetidos às piores pressões. Fala-se muito nos danos causados ao indivíduo pela fase aguda, perceptível, do barulho. Comprovamos, inclusive, que o metabolismo cerebral e cardíaco são afetados. Mas é preciso não esquecer que, mesmo na ausência de níveis sonoros elevados, há nas cidades um ‘fundo de ruídos’ que solapa a resistência do organismo e o torna vulnerável a doenças diversas”.


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“Nos Bálcãs, tudo se resolve à bala”


Pedro J. Bondaczuk


A forte oposição do representante da Sérvia, na presidência colegiada, à eleição do croata Stipe Mesic para ser o presidente da Iugoslávia nos próximos 365 dias, de acordo com o sistema criado pelo marechal Jozip Broz Tito em 1980, pode ser a gota que faltava para causar a irreversível separação dessa federação européia.

Em 12 de junho próximo haverá um plebiscito nacional, a exemplo do realizado em 17 de março passado na União Soviética, para decidir o futuro desse Estado artificial, criado em 1918. E as previsões não são nada otimistas.

A Eslovênia, que realizou uma votação desse tipo em dezembro de 1990, está batendo pé firme na decisão de, qualquer que venha a ser o resultado das urnas, proclamar sua independência no final do mês que vem. Caso cumpra o prometido, será, fatalmente, a guerra civil. O Exército promete impedir a secessão.

Os sérvios constituem-se na porção majoritária da população iugoslava, com 9,8 milhões de habitantes do país. São, portanto, de longe, a etnia mais numerosa da Iugoslávia e sua capital, Belgrado, é, também, a sede do poder federal.

Trata-se de um Estado que já existia como nação independente quatro anos antes da federação ser criada. Surgiu em conseqüência da divisão do Império Turco-Otomano, ao fim da guerra dos Bálcãs, de 1912. A maioria de sua população é de religião ortodoxa, mas a República conta com muitos fiéis muçulmanos.

Embora o idioma oficial iugoslavo seja o servo-croata, para escrever, isso já não ocorre assim. Enquanto na Sérvia o alfabeto utilizado é o cirílico, o mesmo usado na Rússia, na Croácia vigora o latino. É uma situação semelhante à que ocorre entre o russo e o polonês. Conversando, um entende, razoavelmente, o outro. Escrevendo, as coisas mudam de figura.

A rigor, as placas das estradas ou de estabelecimentos comerciais, na Iugoslávia, são escritas em quatro idiomas. E, para complicar, em dois alfabetos, tão diferentes um do outro. A Croácia tem menos da metade da população da Sérvia, com seus 4,5 milhões de habitantes.

Sua origem é essencialmente européia. A República foi, até 1918, parte integrante do Império Austro-Húngaro. A religião predominante é a católica. As rivalidades entre as duas etnias são muito antigas, antecedendo, até mesmo, à formação da própria Iugoslávia. Os motivos variaram ao longo do tempo, mas a intolerância de um povo em relação ao outro sempre permaneceu igual.

Os confrontos entre sérvios e croatas atingiram o seu auge durante a Segunda Guerra Mundial. Historiadores locais garantem que as lutas entre eles provocaram uma quantidade de mortes muito maior do que a resultante da ocupação nazista desse território, que começou em 1941.

Enquanto os partizans, guerrilheiros de Tito, lutavam para expulsar os invasores alemães e tinham como objetivo criar um Estado federativo como a União Soviética, englobando as várias Repúblicas sob o regime comunista, os “Ustashis”, da Croácia, atuava em sentido inverso.

Tratava-se de um grupo fascista, portanto, solidário com as potências do Eixo. Teme-se que, agora, tudo isso venha à tona, para se somar à aguda crise econômica e ao impasse institucional criado pelo veto a Mesic e desemboque numa incontrolável onda de violência. Afinal, como observou Janathan Eyal, do Instituto Real de Serviços Unidos da Grã-Bretanha, a Patrick Worsnip, da Agência Reuter: “Nos Bálcãs, tudo é resolvido à bala”.   

(Artigo publicado na página 26, Internacional, do Correio Popular, em 19 de maio de 1991)


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Lições que o homem nunca aprendeu

Pedro J. Bondaczuk

A história jamais se repete e, por essa razão, os erros cometidos no passado, que levaram civilizações à decadência e à posterior extinção, acabam invariavelmente esquecidos. Caso não o fossem, sofrimentos inúteis, destruições insensatas e massacres criminosos seriam certamente evitados. Se porventura a humanidade soubesse não reincidir em equívocos praticados em outros tempos, os povos teriam queimado etapas na busca de uma sociedade ideal, em que houvesse fartura, equilíbrio e solidariedade e em que todos pudessem se sentir realizados e conseqüentemente felizes. Mas... uma coisa tão simples não passa de utopia, tida e havida como impossível de se concretizar.

Poucos escritores têm coragem de pôr o dedo nessa dolorosa ferida: a do preconceito, sobretudo o racial. Aliás nem tenho certeza se são eles que não escrevem a propósito ou se os editores é que se recusam a publicar seus textos, por razões que só eles poderiam explicar (ou não). O fato é que por causa, exclusivamente, da nossa estupidez, o simples desejo de coisas tão corriqueiras e fáceis de conseguir hoje, com as facilidades existentes de informação e de comunicação – como o irrestrito respeito pela individualidade, por exemplo – soa como utopia, como enorme fantasia, como algo que extrapola, em muito, o plano da realidade.

O preconceito, seja de que espécie for – de raça, de religião, de sexo, de condição econômica ou social – é uma doença do espírito, que muitas vezes atinge surtos epidêmicos e causa grandes tragédias. O racismo, mais especificamente (nas mais variadas formas em que se manifesta), já redundou, entre outras coisas, em duas guerras mundiais no século passado que, somadas, foram responsáveis por pelo menos setenta milhões de mortes. A primeira foi causada pela revolta dos bósnios e sérvios, que se recusavam a ver parte dos seus territórios anexada à Áustria. E por razões puramente étnicas. Por isso, Gavrilo Princip, integrante de um grupo nacionalista chamado "Mão Negra", que costumava manter reuniões na taverna "Grinalda Verde", em Belgrado, foi incumbido de uma missão que ele julgava sagrada e que, no entanto, se revelou desastrosa. Ou seja, deveria assassinar o arquiduque Francisco Ferdinando, que estava com viagem marcada para a Bósnia, mais especificamente para Sarajevo, para comandar exercícios militares.

E ele cometeu, de fato, esse ato de violência, que encarava como fundamental para sua causa, em 28 de junho de 1914. Com isso, conseguiu deflagrar a Primeira Guerra Mundial, que já vinha "fermentando" há tempos e que carecia somente de um pretexto, de um “estopim” para começar. Passados 21 anos dessa conflagração, e eis que outra, muito mais escabrosa e cruel, surgiu, por idênticos motivos: por pretensa superioridade de uma etnia sobre outra (ou sobre outras, para ser mais exato). Foi deflagrada por uma questão indefinida, vaga, tola ao extremo, chamada "racismo".

O que, em termos de seres humanos, se entende por "raça"? A separação de pessoas por tal parâmetro é indigna. Animaliza os homens. Estes têm identidade, têm o poder de raciocínio e do livre-arbítrio. Raça é algo que se aplica a seres inferiores, aos animais, não a pessoas. Mas é este conceito estúpido e ilógico que ainda prevalece, posto que dissimulado. Na África do Sul, a maioria do povo que habita esse país foi privado por anos de todos os direitos em sua própria pátria somente por uma questão de cor da pele. Nos Estados Unidos, os conflitos raciais permanecem sempre latentes e volta e meia emergem à tona. Na extinta União Soviética, distúrbios étnicos entravaram a evolução da "glasnost" e da "perestroika" e contribuíram para a dissolução dessa superpotência. E o racismo se multiplica pela Grã-Bretanha, Itália, França, Espanha, Rússia etc, posto que enfaticamente negado.

Manifestações racistas são para lá de comuns nos esportes, por exemplo, a despeito de campanhas para conscientizar as pessoas que se trata de comportamento a ser erradicado. No futebol, tanto a Fifa, quanto a Uefa e várias federações nacionais procuram convencer atletas e torcedores a se livrarem de seus preconceitos, em nome da nobreza do esporte. Em vão! São comuns manifestações racistas nos estádios, contra atletas negros, quer provenientes da África, quer de outros países, como o Brasil, por exemplo. Roberto Carlos passou por essa amarga experiência na Rússia. Dia desses, o zagueiro Paulão, do Betis, time da cidade de Sevilha, na Espanha, saiu chorando de campo, após torcedores do seu próprio time hostilizarem-no com palavras ofensivas, de conotação racista. Que pena que a história não tenha nos ensinado nada e que repitamos erros e  comportamentos nitidamente nocivos e desastrosos, como este!

E o preconceito não é somente, ou especificamente, o de cor. Vejam o que ocorre na África. Rivalidades étnicas, ou seja, racismo, causaram (e ainda causam) inúmeros massacres, selvagens e dantescos. Um deles, o mais conhecido, foi o que envolveu os hutus que dizimaram milhões (isso mesmo, milhões!) de tutsis, e vice-versa, nos anos 90, em Ruanda e em Burundi. Essas carnificinas são seqüelas ainda do período colonial, quando as grandes potências européias reuniram, num mesmo território, por elas administrado, povos que mantinham rivalidades milenares e ódios há muito represados.

No período em que ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, alemães, belgas e italianos mantiveram seu domínio no continente africano, a pretexto de "civilizarem" esses povos, apenas exploraram seus recursos naturais, não muito abundantes por sinal, carrearam as parcas riquezas existentes na região para seus próprios cofres e deixaram, como maldita herança, populações inteiras desnorteadas. Nem conseguiram fazer com que sua cultura fosse assimilada e nem permitiram que as locais se conservassem. Deu no que deu.

Hoje a África, salvo raras exceções, se transformou em sucursal do inferno na Terra. Indigência, violência, prepotência e falta de perspectivas foram os legados que os europeus deixaram a povos com extraordinária tradição de humanismo. O preconceito, de qualquer espécie ou natureza, tem apenas isso a oferecer: o caos! Mas... a humanidade não consegue (ou não quer) entender essa verdade, que é tão obvia. Teima em nunca aprender as simplérrimas lições da História.


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Sunday, March 30, 2014

Os heróis são frutos da ocasião. Todos podemos ser, um dia, dependendo das circunstâncias, e de saber agir com determinação, no momento certo, quando formos exigidos para tal. Todavia, são raríssimas essas oportunidades para agirmos com bravura e heroísmo e conquistarmos, para sempre, a estima e a admiração gerais. Já que não somos heróis (ainda), contudo, não precisamos ser covardes. As oportunidades para a covardia, ao contrário do heroísmo, são muitas, quase infinitas ao longo da vida. Mas só depende de nós não sermos covardes em nenhuma ocasião. A maior das covardias, na minha visão, é a omissão. É deixar de fazer o que poderíamos (e deveríamos), por medo, indiferença, egoísmo ou qualquer outro motivo correlato. O escritor René Bazin escreveu a respeito: “Só duas ou três vezes nos aparece, na vida, uma oportunidade para mostrar que somos bravos. Mas temos, diariamente, várias ocasiões para não ser covardes”.


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A vida vale mais


Pedro J. Bondaczuk


O acordo entre os governos dos EUA e do Irã, que culminou com a libertação dos reféns norte-americanos aprisionados pelos fundamentalistas muçulmanos em Teerã, levanta de novo uma velha e controvertida questão. Devem as autoridades oficiais de um país negociar com seqüestradores e terroristas em geral, para evitar a imolação de vítimas inocentes? Alguns acham que sim. Outros entendem que não. Não há consenso a respeito.

Certos governos colocam a segurança e a vida dos reféns sempre em primeiro plano. E têm negociado quando necessário e possível com os captores. Esse é o caso dos EUA. Pelo menos foi o que Washington demonstrou na recém-finda crise com o Irã. Outros, porém, adotam uma posição inflexível a esse propósito. Deixam os cativos entregues à própria sorte. Argumentam que negociar com terroristas equivaleria a reconhecê-los. A conceder-lhes um status muito além do que eles merecem.

Na Itália, por exemplo, o governo tem por princípio não estabelecer negociações em caso de seqüestro. Essa intransigência já custou aos italianos o sacrifício da vida do seu ex-primeiro-ministro --- emérito professor de Direito Penal --- Aldo Moro. Ele foi executado por guerrilheiros urbanos do Grupo Brigadas Vermelhas, em maio de 1978, porque o gabinete se recusou até mesmo em cogitar de manter qualquer contato com os seqüestradores.

Atitude idêntica recente quase determinou também a morte do juiz Giovanni D'Urso, seqüestrado em 13 de dezembro passado pelo mesmo grupo, em circunstâncias parecidas com as do ex-premier. O magistrado escapou com vida do rapto. Não pela  benevolência do terror, mas por não ser uma figura tão conhecida internacionalmente quanto Aldo Moro. E porque alguns jornais italianos cederam à pressão dos brigadistas e publicaram manifestos políticos do grupo. Cumpridos os seus objetivos propagandísticos, as Brigadas libertaram ileso o juiz.

Até que ponto um governo tem o direito de arriscar a vida de seus cidadãos para conservar uma pseudodignidade, que de qualquer forma fica comprometida com a simples ocorrência de um ato dessa natureza? Afinal, seu papel primeiro é garantir a integridade, segurança e bem-estar do povo que lhe concedeu legitimidade de poder.

O simples fato de existirem grupos terroristas que se lhes opõem, valendo-se de expedientes violentos, atesta o fracasso governamental em sua missão de bem conduzir os destinos nacionais. Um governo que rege com justiça o seu povo nunca se tornará passivo de uma oposição tão feroz, embora em geral de minoria.

O fenômeno do terrorismo é muito mais antigo do que se deseja admitir. Mudaram as motivações. As colorações ideológicas. Os métodos de ação. Enfim, os objetivos agora são outros. Mas em essência, os guerrilheiros urbanos de hoje se identificam --- principalmente quanto ao fanatismo e ao desamor à vida --- aos anarquistas do fim do século passado e início do atual.

Nos países em que eles atuam quase sempre há governos que decepcionaram os seus povos. Tomaram o poder à força.  Cercearam as liberdades fundamentais dos cidadãos. Tornaram-se venais e corruptos. Subornáveis e manejados por corporações econômicas, geralmente apátridas, algumas erroneamente rotuladas de multinacionais. Falta-lhes a credibilidade popular.

Decepcionados com a imoralidade da vida pública, alguns jovens --- geralmente idealistas --- partem para a ilegalidade. Buscam realizar --- de forma errada --- utópicos sonhos igualitários, impossíveis de serem concretizados. Opõem à ilegalidade oficial, dissimulada e abafada, mas implícita para todos, transgressões à lei. Sob o pretexto de lutarem pela valorização da vida e da liberdade, se valem de assassinatos e seqüestros. E distorcem preciosos valores humanos, numa tentativa para justificar seusa injustificáveis atos.

O ataque terrorista de Gavrilo Princip --- um estudante sérvio que assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando --- serviu de pretexto para a Primeira Guerra Mundial. As ações do Al Fatah --- braço armado da Organização para a Libertação da Palestina --- criaram oposições e antipatias em torno da justa causa desse povo, despojado de suas terras e que em essência apenas busca não perder a sua milenar identidade nacional.

Mais ilegítimos do que os ataques cegos e irracionais das guerrilhas urbanas contra pessoas inocentes --- embora nem sempre --- mais imorais do que os seqüestros e atentados a bomba são, porém, as atitudes dos governos que se recusam a negociar com elas. Porque, tendo meios de conservar a vida, a integridade e a liberdade de alguns dos seus cidadãos --- que dada a sua fortuna, posição social ou política ou projeção nacional se tornam alvos das ações do terror --- não os acionam. E com isso tornam-se cúmplices de assassinatos brutais, perfeitamente evitáveis, que enlutam toda uma sociedade nacional. Essa atitude de omissão, sob o disfarce de defesa de princípios, é que infelizmente acaba legitimando perante as massas ações sumamente ilegítimas.

Por isso Jimmy Carter, pela humildade que demonstrou, pela sua elevada dose de humanismo e caráter cristão, está de parabéns, por ter salvado a vida dos seus 52 compatriotas no Irã.

(Artigo publicado na página 2, de Opinião, do Diário do Povo em 29 de janeiro de 1981)


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Quando o Estado se vinga

Pedro J. Bondaczuk

A pena de morte é um dos temas mais polêmicos, e que despertam mais paixões, em todo o mundo quando vem à baila, tanto em conversas informais, quanto em conferências, debates, artigos de jornais etc.etc.etc. E a controvérsia se dá não apenas entre juristas, sociólogos e outros intelectuais, mas, sobretudo, entre pessoas do povo. Há uma infinidade de livros ora defendendo, ora condenando essa prática. Entendo, pois, que seja assunto pertinente a ser tratado em um espaço dedicado à Literatura. Alguns defendem, irados, esse tipo de punição, argumentando que determinados delinqüentes são irrecuperáveis e nada têm a oferecer à sociedade. De fato há quem nunca se recupere e que não traga benefício algum para ninguém. Mas... Outros, porém, opõem-se, tenazmente, à medida, classificando-a de “vingança oficializada”. E no fundo, no fundo é, de fato, isso.

Sempre que ocorre algum crime, com requintes de crueldade e grande repercussão na mídia, como, para citar apenas o primeiro exemplo que me vem à memória, o cometido alguns meses atrás, por um jovem, na cidade de São Paulo, no qual um garotinho boliviano de seis anos de idade, que aniversariava na ocasião, foi fria e estupidamente morto, com um tiro na cabeça, apenas porque, assustado, não parava de chorar, sem que tivesse a mais remota chance de defesa, o assunto sobre a pena de morte vem à baila. Pronunciamentos passionais, então, são feitos, e em profusão, defendendo a medida, mesmo por pessoas esclarecidas e ponderadas.

Desde tempos imemoriais, essa prática vem sendo adotada para punir os que suprimem vidas a quaisquer pretextos. E as execuções são feitas das mais variadas maneiras, indo do apedrejamento, do linchamento e da forca – as formas mais comuns adotadas em passado ainda recente – aos pelotões de fuzilamento, câmaras de gás, cadeiras elétricas e injeções letais, nos últimos tempos. Houve época em que execuções se constituíam em acontecimentos sociais, em uma espécie de mórbida diversão. Reuniam milhares de pessoas em praças públicas, onde eram realizadas e a maioria aceitava, como a coisa mais natural do mundo, a supressão de vidas dos condenados.

Num determinado estágio da civilização, cabia aos parentes das vítimas de assassinato punirem os criminosos. Eram as propaladas “dívidas de sangue”, que tinham, necessariamente, que ser resgatadas. Coitado, por exemplo, do primogênito que deixasse de vingar a morte do pai! Ou do irmão que não vingasse a morte de irmão! Quem se negasse a pagar esse cruel débito macabro, ou por ser avesso à violência, ou por reconhecer justiça na execução do parente (quando este a merecia), era segregado do convívio social. Passava por humilhações inomináveis e era rotulado de covarde, pecha que carregava pelo resto da vida. E tal designação era considerada a maior das ofensas que se poderia fazer a alguém.

Essas dívidas de sangue deram causa a históricas guerras entre famílias, intermináveis, algumas com até mais de um século de duração. Uma das mais célebres, nos Estados Unidos, por exemplo, foi a que opôs os Martins e os McCoys. E, na cidade pernambucana de Exu, duas famílias mantiveram disputa desse tipo por gerações, sustentando longa e inconciliável inimizade, que fez dezenas de vítimas, dos dois lados.

A pena de morte nada mais é do que o Estado assumindo a dívida de sangue. Não passa, portanto, de vingança da sociedade contra infratores. Ou seja, aquele que condena o homicídio (no caso o Estado, na figura de um preposto, o juiz), comete o mesmo delito que proíbe aos outros. Isso, no mínimo, é aberrante contradição! Um erro jamais justifica outro, seja quem for que o cometa ou qual seja a razão. Morte é morte, tanto faz se praticada mediante tocaia por algum malfeitor, com o objetivo de roubar ou estuprar a vítima, ou se causada por gás cianureto, por injeção de produto químico letal ou por tiro de fuzil de algum carrasco a serviço do Estado.

Aliás, o extermínio autorizado e patrocinado pela sociedade, do ponto de vista moral, é pior do que o dos homicidas tradicionais que, certos ou errados, têm lá (ou pelo menos acreditam ter) seus motivos. Já o executor de uma sentença de morte não tem o mínimo interesse pessoal no condenado, ao qual sequer conhece. Mata fria, impiedosa e mecanicamente um ser humano, como se estivesse matando um animal qualquer. Ademais, não foi um e nem foram apenas dois os erros judiciais cometidos por tribunais, atribuindo culpas a pessoas absolutamente inocentes, em todos os tempos e lugares. Essas aberrações jurídicas somam-se aos milhares, quiçá aos milhões e penalizam, quase que somente os pobres, os humildes, os iletrados que não têm como pagar bons advogados.

Muitos desses erros – embora não tantos como gostaríamos – são reparados a tempo, mas somente quando a pena imposta ao injustiçado é a da privação da liberdade. Em raros casos, os condenados à morte livram-se da execução, pela descoberta, localização e captura dos verdadeiros culpados. Mas esta não é, e nunca foi, a regra, senão uma exceção. Mesmo no caso de prisões indevidas, a reparação nunca é completa. Que dinheiro paga uma reputação manchada, as humilhações e os sofrimentos de quem é encarcerado sem dever? E quando o réu é condenado à morte, executado e depois se descobre que era inocente? Como reparar essa monstruosidade? Como devolver a vida ao executado indevidamente? Quem deve ser responsabilizado por tamanho erro judiciário? O juiz? O promotor? As testemunhas? O advogado? O júri? A polícia? O Estado?

Se for este último, a quem cabe a responsabilidade? Ao presidente da República? Ao governador? Ao Supremo? Todos, certamente, vão saber encontrar subterfúgios e o erro vai passar batido. Quantos, por exemplo, dos mais de um mil executados no ano passado, em 40 países onde vigora a pena de morte, não eram inocentes? Ninguém sabe! E quais são os responsáveis por esses erros? Quem os punirá? Como? Ficam as incômodas perguntas no ar... E fica o básico preceito bíblico, um dos Dez Mandamentos: não matarás! E em hipótese alguma, acrescente-se! Que se achem, pois, outras punições, que não a da “vingança do Estado”, para punir os monstros sanguinários e cruéis que, comprovadamente, as mereçam.


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Saturday, March 29, 2014

Não raro desanimamos quando tentamos convencer alguma pessoa que amamos a fazer determinada coisa que lhe será boa ou a não continuar agindo de maneira errada, dadas as conseqüências com que terá de arcar. A persuasão é poderosa, mas exige muita paciência, diálogo, compreensão e, sobretudo, amor. Claro que para persuadirmos alguém a fazer (ou não fazer) alguma coisa, devemos estar absolutamente seguros de que se trata do melhor para ele. Se houver alguma dúvida, por mínima que seja, o melhor é não nos intrometermos em sua vida. Pior é tentar impor o que quer que seja para a amada, os filhos ou alunos etc. Aí, a coisa não funciona mesmo! As conquistas do espírito nunca se dão por esse meio. Frank Clark resume o tema com esta declaração: “Pode-se levar uma eternidade para conquistar o espírito do homem pela persuasão, mas ainda assim é mais rápido do que conquistá-lo pela força”. E eu diria: é mais rápido e eficaz.


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Decisão que perpetua atraso tecnológico



Pedro J. Bondaczuk

O Brasil, a despeito de avanços ocorridos nos últimos anos, sempre foi um país que não amparou, pelo menos no nível oficial, a pesquisa tecnológica. Por essa razão, é obrigado a pagar pesados “royalties”, em âmbito internacional, em produtos que poderiam ter sido inventados aqui, caso se desse a devida atenção a essa atividade.

Agora, para complicar ainda mais as coisas, nossos abnegados (e poucos) pesquisadores correm o risco de ficar sem as já restritas verbas com que contavam. Isto se deve à infeliz decisão, sob o pretexto de enxugar a máquina administrativa governamental, de extinguir o Ministério de Ciência e Tecnologia, tornando-o mero apêndice da pasta da Indústria e do Comércio.

Com isso, a comunidade científica brasileira, que raramente recebeu amparo oficial, está vivendo autêntico drama. Pesquisadores vêm sendo demitidos ou recebendo ameaças de demissões, como se fossem eles os culpados dos déficits do Planalto.

Dos tantos ministérios que deveriam (e poderiam) ser extintos, este é, provavelmente, o único em que não se justifica o fechamento, sob pena de acentuar o nosso já grande atraso tecnológico. Dia desses, um dos ministros veio a público para dizer que não será a existência de uma pasta específica que fará com que o País tenha um setor de pesquisas prestigiado e que apresente resultados.

Infelizmente, porém, esta autoridade estava errada. O que se observa é a tendência da evasão das nossas grandes (e raras) cabeças pensantes, que estão retornando, ou pensando em retornar ao Exterior, onde têm maior segurança.

Programas inteiros estão sendo paralisados, muitos numa fase altamente produtiva, por absoluta carência de verbas, cortadas sem mais e nem menos, de forma inoportuna e em área errada. É o País ficando mais perto da perpetuação da sua dependência tecnológica, um dos grandes fatores do seu subdesenvolvimento.

(Artigo meu, publicado sob pseudônimo, na página 11, Editoria de Informática do Correio Popular, em 3 de março de 1989).


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Talento reconhecido só depois da morte

Pedro J. Bondacauk

O escritor, salvo exceções, tende a ser mais sensível do que a maioria das pessoas. Claro que não se trata de nenhuma regra que deva ser seguida á risca por quem pretenda exercer, ou já exerça essa atividade. Aliás, nem mesmo existe estudo a esse propósito. A conclusão é minha, com base em observações pessoais, da leitura de algumas centenas de biografias. Quando me refiro a “sensível”, não estou pensando, especificamente, em emotividade. A sensibilidade de que falo é um certo aguçamento dos sentidos, uma capacidade ímpar de observação do que o indivíduo vê, ouve ou lê, para utilizar esse acervo todo em sua literatura.

Isso não quer dizer que quem não conte com essas características não seja ou não possa vir a ser escritor. Pode, sim. Apenas encontrará muito mais dificuldades para exercer seu mister. Quanto mais observadora uma pessoa for, mais facilmente criará personagens verossímeis e recriará cenários e situações que se aproximem, ou mesmo reproduzam, a realidade. Ademais, não me refiro a escritores “ocasionais”, desses que eventualmente escrevam um livro ou dois, mas não façam da literatura sua atividade central. Estou pensando é naqueles que fazem das letras a paixão de suas vidas. Já nem digo que sejam “profissionais”, porquanto o ato de escrever e de publicar livros sequer é considerado uma profissão. Não, pelo menos, no Brasil.

Nada é pior e mais angustiante para um escritor do que ver sua obra desprezada. As reações a isso, óbvio, são as mais variadas possíveis, de acordo com a personalidade e a sensibilidade de cada um. Uns, se conformam com a rejeição (ou, pelo menos, parecem se conformar) e vão procurar outra coisa para fazer que não seja literatura. Outros batalham a vida toda pelo reconhecimento e não se dão por vencidas jamais, até o último suspiro. Outros, ainda, sentem duramente o golpe, caem em depressão, contraem doenças (físicas e/ou mentais) e não raro entregam-se ao álcool e às drogas. E  outros, ainda, vão ao extremo dos extremos e chegam a cometer suicídio. Você acha que é exagero meu? Pois não é. E trago à baila um caso concreto em que o desfecho à sua rejeição como escritor foi exatamente este.

Refiro-me ao romancista e soldado norte-americano John Kennedy Toole, nascido na cidade de Nova Orleans, estado da Louisiana, em 17 de dezembro de 1937. Ele tinha plena convicção de que escrevia bem, mas esta nunca foi compartilhada pelas pessoas que o cercavam e com as quais conviveu. Como ele poderia saber que tinha esse talento? Não poderia estar enganado? Não poderia estar sendo enganado por uma vaidade exacerbada? Poderia, claro, mas não estava.

Ora, quem é leitor compulsivo (e para ser escritor, é desejável que se seja), tem maneira até bastante simples e objetiva de aferir a qualidade do que escreve. Basta comparar seus textos com os livros de outros escritores. Nesse caso, só vai se enganar se quiser. Ou se sua vaidade for tão grande, tão estúpida e até monumental e seu senso crítico, em contrapartida, for ínfimo ou nem mesmo existir. Uma pessoa culta, porém, dificilmente se deixará cegar, achando que tem um talento que na verdade não tenha.

Ocorre que tudo o que John Kennedy Toole escrevia era sistematicamente rejeitado pelos editores. Procurou dezenas de editoras e o resultado sempre, e invariavelmente, foi o mesmo. O leitor mais desconfiado deve estar pensando: “Impossível que todos estivessem enganados. Que um ou dois se equivoccassem, vá lá. Mas todos?! O sujeito escrevia mal mesmo e não se conformava”. Certo? Errado! Pelo menos nesse caso, todos se enganaram! Como sei? Simples! Seu romance “A Confederacy of Dunces”, publicado postumamente, foi um estrondoso sucesso de crítica e de público. Tornou-se best-seller nacional. “Coincidência”, dirão alguns mais céticos. Não, não foi. Foi qualidade! Querem saber por que de tanta convicção? Porque esse magnífico livro valeu ao autor, embora, claro, postumamente, um Prêmio Pulitzer de ficção, a maior premiação literária dos Estados Unidos!!!

E olhem que esse romance magnífico só não permaneceu no ineditismo eterno e não se perdeu por completo por causa da persistência, ou teimosia, da mãe de Toole. Alguns anos após sua morte, depois de tentar publicar e ver os originais novamente rejeitados por dezenas de editores, ela os encaminhou, já prestes a se dar por vencida, ao novelista Walker Percy. Este leu-os, perplexo, e se entusiasmou. Tomou a peito providenciar sua imediata publicação, valendo-se do seu prestígio pessoal. Deu no que deu. Ou seja, na consagração de Toole, inclusive com um raro Pulitzer póstumo. Não sei se esse prêmio já foi outorgado postumamente a qualquer outro escritor. Mas, caso tenha sido, foi um procedimento raríssimo.

Esse reconhecimento não poderia ter vindo antes, quando o soldado-escritor, ou escritor-soldado como queiram, estava vivo? Poderia e deveria. Mas... não foi. A rejeição literária provocou (ou agravou) a profunda depressão em John Kennedy Toole, que resultou em tragédia. Em 26 de março de 1969, no auge do desespero e da amargura, o jovem e talentoso escritor cometeu suicídio, na cidadezinha de Biloxi, com um tiro na cabeça. Tinha, apenas, 31 anos de idade. E o romance premiado com o Pulitzer não foi o único dos seus livros a fazer sucesso postumamente. “The Neon Bible” também esgotou várias edições, mostrando que o talento que Toole garantia ter e que tantos negavam era um fato. E era até maior do que ele próprio supunha. Há quem diga que o jovem sofria de paranóia antes mesmo de ter seus livros rejeitados. Admitindo que de fato sofresse, a falta de reconhecimento ao seu talento não teria agravado esse distúrbio e o levado a se suicidar? Óbvio que sim!!! Viram como não exagerei em minhas colocações?!


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Friday, March 28, 2014

Todas as pessoas, mesmo que não admitam ou tenham consciência, anseiam por ser compreendidas. Quem acha que compreende os outros, mesmo os que lhe são mais próximos e compartilham do mesmo teto, está enganado. Volta e meia se surpreende com alguma palavra que não estava em seu “script” ou com alguma atitude  inesperada. No fundo, somos todos solitários, embora em diferentes intensidades. Para sermos compreendidos, temos que nos expor. Não podemos temer decepções, devemos nos prevenir para elas e tentar compreender os outros. É tarefa difícil, dificílima, muito mais complexa do que podemos supor. Mas é indispensável, para relacionamentos sadios e equilibrados. O escritor Leo Rosten escreveu o seguinte, a respeito, no livro “De médico e de louco”: “Cada um de nós, no fundo, é um solitário, e anseia por ser compreendido; mas cada um de nós, em parte, permanece estranho mesmo para aqueles que nos amam”.


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso” Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

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Revanche entre irmãos



Pedro J. Bondaczuk


A Índia e o Paquistão, que até 1947 formaram uma unidade territorial sob o domínio colonial britânico, estão em vias de travar a sua terceira guerra desde que os dois países se tornaram independentes. As duas anteriores foram vencidas pelos indianos. Na última, os paquistaneses acabaram sendo territorialmente mutilados, com a perda de sua parte Oriental que hoje é o Bangladesh. O "pomo da discórdia", como há 43 anos, continua sendo centralizado no Estado de Cachemira e Jammu, a única unidade federacionista de predominância muçulmana. Nova Delhi, evidentemente, pretende conservar essa área. Islamabad, por seu turno, deseja anexá-la ou, quando não, fazer com que ela obtenha a sua autonomia, como uma espécie de "troco" pelo que ocorreu em 1971, quando sofreu uma mutilação territorial.

Qualquer guerra, por mais limitada que seja, é um fator de desestabilização internacional, é óbvio. Mas o risco da eclosão de um conflito entre a Índia e o Paquistão se torna muito maior se levarmos em conta que ambos os países, na atualidade, ou possuem, ou estão prestes a desenvolver armas nucleares. Quem pode garantir que num momento de desespero, quando a sorte das batalhas estiver desfavorável e uma derrota for iminente, alguma das partes não recorrerá a esse recurso? Por isso, este é o momento para que as grandes potências, em especial as duas "super", Estados Unidos e União Soviética, intervenham na questão, jogando "água fria na fervura".

A questão de Cachemira é muito complicada, exige grande dose de paciência e muita negociação. Através das armas, todavia, jamais o problema irá encontrar alguma solução. Um conflito armado tenderá, somente, a produzir mais dor e sofrimento a duas comunidades nacionais fortes militarmente, mas economicamente frágeis. Jogará pelo "esgoto" os parcos recursos que ambos possuem para resolver as suas imensas carências, destruindo o pouco que já existe e que irá exigir, mais adiante, verbas para a reconstrução.

Acresça-se a isso o perigo do uso irresponsável por alguma das partes (ou por ambas) de uma única arma atômica que seja. As conseqüências, não somente para indianos e paquistaneses, mas para todo o mundo, de algo assim, podem ser simplesmente trágicas. Estranha-se que, mesmo com toda a movimentação militar da Índia e do Paquistão, registrada nos últimos dias, a comunidade internacional esteja passiva, somente à espreita, diante dessa ameaça, num período em que as dramáticas mudanças ocorridas no Leste europeu fazem vislumbrar uma era de paz, num século que já teve tanto sangue e violência.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 19 de abril de 1990)


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Heroi ou vilão?

Pedro J. Bondaczuk

O escritor norte-americano Jack London é uma figura fascinante, para o bem ou para o mal. É uma das personalidades sobre as quais tenho maior quantidade de material informativo, incluindo várias biografias. Caso pretendesse, também, biografá-lo, seria “uma festa”. Teria dados suficientes, quiçá, para produzir uma obra-prima do gênero. Todavia... essa nunca foi minha “praia”. Jamais me passou, sequer remotamente, pela cabeça biografá-lo, ou a outra pessoa qualquer. O que gosto de fazer é “pinçar” aspectos inusitados a propósito de várias personalidades e opinar a respeito. E nesse aspecto, Jack London oferece uma infinidade de temas que merecem ser comentados.

Antes de tudo destaco que ele foi um dos escritores mais bem sucedidos do seu tempo, em qualquer aspecto que se encare o sucesso. Foi, por exemplo, o primeiro homem de letras a conseguir imediata projeção internacional apenas em decorrência de suas histórias. Foi, também, um dos raros que conseguiram ficar ricos (na verdade, ficou milionário), vivendo apenas de Literatura. Escreveu muito, muitíssimo. E sempre ficção. Só de romances, consegui catalogar vinte e dois que ele publicou. Provavelmente, essa cifra é, somente, irrisória parcela do conjunto de sua obra ficcional. De contos – sua especialidade – detectei só seis livros. Mas é impossível contabilizar a quanto sua produção contística ascendeu. Há quem diga que chega a alguns milhares. Exagero? Talvez. A maioria de suas histórias curtas ele publicou em revistas.

Mas o que me chama a atenção nos dados (muitos) que disponho sobre Jack London, não é propriamente nada que se refira à sua carreira. São controvérsias a propósito do seu “início” e de seu “fim”. Ou seja, do seu nascimento e a polêmica que cercou (e ainda cerca) sua morte. O nome verdadeiro de Jack London é John Griffith Chaney. Ele nasceu em São Francisco, na Califórnia, em 12 de janeiro de 1876. Até hoje, passados 137 anos do seu nascimento, persiste ainda a dúvida sobre quem foi seu pai biológico. A maioria dos biógrafos atribui essa paternidade ao astrólogo William Chaney, que vivia, maritalmente, com a mãe do escritor, Flora Wellman, na ocasião em que ela engravidou. Este, por seu turno, sempre negou haver gerado esse (ou qualquer outro) filho, argumentando que não poderia engravidar mulher alguma, porquanto era impotente.

O fato é que a mãe de Jack London veio a público, quando o filho já era famoso, para dar sua versão. Assegurou que foi, mesmo, engravidada por Chaney (o que este negou, até a sua morte) e que este exigiu que ela abortasse. Como se recusasse a abortar, o casal separou-se de vez. Quando a criança nasceu, Flora entregou-a à ex-escrava Virgínia Prentiss para criá-la. Dois anos depois, todavia, ela voltou aos cuidados da mãe biológica. Jack, pelo resto da vida, nutriu carinho especial e profundo amor filial por essa generosa mulher singular que o acolheu após o nascimento.

Flora Wellman casou-se com John London, veterano da Guerra da Secessão, parcialmente inválido em virtude dos ferimentos que recebeu quando soldado, que o criou como filho legítimo. Mas, se Chaney não era o pai de Jack London, como sempre afirmou, quem foi? Nunca se soube. Duvido que algum dia se saberá. E a controvérsia persiste até hoje, com versões antagônicas dos vários biógrafos. Uns dizem que Flora mentiu. Outros garantem que o mentiroso foi o astrólogo.

Se o nascimento do nosso personagem sempre esteve (e ainda está) envolto em tanta controvérsia, o que se refere à sua morte, não é diferente. A polêmica gira em torno de se ele cometeu ou não suicídio. O atestado de óbito diz que sua morte foi em decorrência de uremia. Contudo, sabe-se que o escritor, nos seus últimos momentos, recorreu à morfina para suportar as terríveis dores causadas pelos rins avariados. Suspeita-se que a verdadeira causa mortis tenha sido uma overdose da droga. Há quem afirme que, se esta, de fato, se verificou, foi acidental. A corrente majoritária, porém, garante que o excesso de morfina foi aplicado propositalmente pelo escritor. Alguns biógrafos até descobriram, entre a infinidade de contos escritos por Jack London, um em que o personagem “se mata” exatamente da forma como o autor morreu: por overdose da droga. Por tudo o que li a propósito, acredito que ele cometeu suicídio, em 22 de novembro de 1916, aos quarenta anos de idade.

Mas não são, apenas, seu nascimento e sua morte que chamam a atenção, por parecerem coisas saídas da cabeça de um delirante ficcionista, tão inusitados que chegam a parecer inverossímeis. Vários outros episódios da sua vida parecem um enredo exageradamente fantasioso de um conto ou de um romance de quinta categoria. Jack London, por exemplo, participou da famosa “corrida do ouro”, que agitou a Califórnia no século XIX. Não fez fortuna com o metal, mas fê-la com as histórias que narrou desse período em seus romances e contos. As circunstâncias de seus dois casamentos também dariam belo enredo. Como, igualmente, seu envolvimento com plágio. Jack London foi acusado de “comprar”, a preço irrisório, originais de escritores obscuros e utilizá-los, parcial ou totalmente, como sendo seus. Ao cabo da leitura de suas biografias (li mais de uma versão), fico na dúvida se o biografado foi um intelectual talentoso, dinâmico e empreendedor ou se não passou de refinado malandro que nunca desperdiçou oportunidades para enriquecer e estar sempre em evidência, sem se importar com os meios empregados.


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