Sunday, March 29, 2015

Estudos revelam que utilizamos, no máximo, 5% dos bilhões de neurônios que temos no cérebro ao longo de uma vida, digamos, de 80 anos. Isso, no caso dos gênios, absolutas raridades mundo afora. Há quem utilize, quando muito, 0,5% (se tanto). A média anda por volta dos 2,5%. Ou seja, estamos muito distantes de utilizar plenamente, em todo o seu potencial, o órgão mais poderoso e mais nobre, o que comanda todos os nossos atos, voluntários ou involuntários e que é a sede da vida, de que a natureza nos dotou. Outro aspecto, que determina nosso comportamento, é o fato de não subordinarmos nossa sabedoria ao nosso conhecimento. Ao contrário do que muitos pensam, são coisas distintas. Não somos seletivos quanto ao que deveríamos conhecer. Abarrotamos o cérebro de bugigangas, de quinquilharias, de informações inúteis e até prejudiciais, que não nos servirão nunca para nada ou que irão nos determinar um comportamento doentio, violento e distorcido, em detrimento do que poderia nos elevar, engrandecer e humanizar. Desperdiçamos, pois, os poucos neurônios que utilizamos com “lixo”,  em vez de preenchê-los com aquilo que nos confere sabedoria, em sentido lato. Temos, pois, que nos “humanizar”. Quando me refiro à “humanização”, estou pensando num homem que realmente seja a imagem e tenha a semelhança com o Criador. Em nosso atual estágio de evolução (e de “civilização”), não somos, sequer, ainda, caricata e ridícula imitação, extremamente mal-feita, da divindade, do suprassumo da perfeição.     


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Segregação afeta todos nós


Pedro J. Bondaczuk


A evolução dos acontecimentos na África do Sul, desde que o governo racista daquele país decretou o estado de emergência, no dia 20 de julho passado, vem sendo a exatamente prevista pelos observadores. Se em condições normais as autoridades policiais sul-africanas já tinham um poder extraordinário, até mesmo exorbitante, em relação a qualquer outro regime que se conheça, imaginem o que pode acontecer quando este ainda é aumentado, com a suspensão de todas (e estas normalmente são pouquíssimas) garantias individuais!

Só podia dar no que está dando. Em menos de três semanas, cerca de 40 pessoas perderam a vida em distúrbios. E estes sucedem-se e multiplicam-se numa velocidade assustadora. E a contagem de vítimas fatais idem.

Como em tantas outras crises e questões conflitivas, os países ditos democráticos do Ocidente demonstram, mais uma vez, um cinismo simplesmente constrangedor. Sabedores do repúdio que desperta nas pessoas do mundo todo o regime do “apartheid”, os principais líderes europeus vieram a público para criticar acerbamente o estado de emergência. Lamentaram as ocorrências dos conflitos na África do Sul, as mortes registradas, e fizeram estéreis ameaças, que todos sabem que jamais serão cumpridas.

Mas medidas efetivas de pressão, naquilo que realmente causa impacto, ou seja, as de caráter econômico, não chegaram sequer ao plano das cogitações. O interesse mesquinho de cada um falou mais alto.

É como o bispo anglicano negro, Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz do ano passado, constatou, decepcionado, num pronunciamento que fez durante um dos tantos funerais coletivos realizados numa comunidade negra do seu país: “Os Estados Unidos adotaram medidas de boicote contra a Nicarágua com uma facilidade espantosa. Mas em relação à África do Sul, perdem-se em estéreis elucubrações, sutilmente justificando atos sumamente condenáveis, como esse estranho estado de emergência que, decretado sob o pretexto de conter a violência e evitar a escalada de assassinatos no país (até a sua decretação, apenas neste ano, mais de 500 negros foram vitimados pelos distúrbios raciais), acabou dando condições para que essa assumisse proporções paroxísticas”.

O mundo parece não ter aprendido nada com a Segunda Guerra Mundial e, principalmente, com as paranóicas teorias de superioridade de uma raça sobre outra, de Gobineau e encampadas pelo “füherer” alemão. Nenhuma lição efetiva foi aprendida das célebres “soluções finais” de Hitler em relação aos judeus.

O ,esmo móvel odioso que levou os nazistas a cometerem as atrocidades que são do conhecimento de todos, e que hoje envergonham seus autores, está por trás das motivações dos mentores do “apartheid”. Só que Pieter Botha e seus seguidores não eliminam suas vítimas. Preferem mantê-las confinadas em seu próprio país, criando os chamados “bantustans”, autênticos campos de concentração que o regime segregacionista afirma serem nações independentes e soberanas.

Toda vez que a humanidade faz concessões desse tipo, em algum lugar, por mais remoto que seja, está contribuindo para piorar a vida de todos. Está compactuando com intoleráveis discriminações que, como um bumerangue, um dia voltarão sobre as próprias cabeças daqueles que fazem vistas grossas a tais fatos.

Ontem, os discriminados foram os judeus. Hoje, são os negros, as mulheres, os deficientes, os velhos e assim por diante. Amanhã serão os intelectuais, os ricos, os cristãos etc. Os homens estão sendo rotulados por suas características exteriores, que são as que menos deveriam contar, e não pela sua essência, por aquilo que têm de melhor.

Com isso, esse animal, essencialmente gregário, que morre se um dia tiver que viver isolado, vai se tornando, a cada dia, mais solitário, mais distante dos semelhantes, de quem depende para a sobrevivência, mas de quem passa, cada vez mais, a desconfiar. Nessa atitude é que reside uma das principais raízes da violência que, aos poucos, está destruindo a todos.     

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 9 de agosto de 1985)


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Antes de tudo leitor

Pedro J. Bondaczuk

O leitor é o principal agente da Literatura. Sem ele, esta atividade seria inútil, redundante, uma espécie de conversa de doido. Escreveríamos, apenas, para nós mesmos, tendo por temas o que estamos fartos de conhecer. Caso não conhecêssemos, óbvio, não escreveríamos a propósito. E se já conhecemos de sobejo o teor do que nos propomos a escrever, por qual razão o perpetuaríamos em letra de forma se não houvesse pelo menos uma outra pessoa para ler? Para nos informar do que sabemos décor e salteado? Não faz sentido. Seria enorme inutilidade. Escrevemos para que outro alguém leia. Alguém de quem nada conhecemos. Qual seu sexo? Qual sua cor? E seu estado civil? Que aparência tem? É gordo, magro, alto, baixo, cabeludo, careca, loiro, moreno, olhos azuis, negros ou castanhos? Não sabemos. E isso importa?! Importa que essa entidade anônima e sem rosto nos leia e que, se possível, se torne nosso seguidor fiel, mesmo no anonimato, abstrato, quase conceitual.

Nós, que temos o hábito (ou o vício) de escrever, que fazemos da escrita profissão, ou mais que isso, opção de vida, indestrutível paixão (não raro obsessão), somos, antes de sermos escritores, leitores. Sem leitura não seríamos nada. Não iríamos a lugar algum. Não conheceríamos sequer o beabá, as normas elementares do nosso idioma e, portanto, não saberíamos como utilizar a ferramenta por excelência do nosso ofício: a palavra. Jorge Luís Borges nos lembra: “Sem leitura não se pode escrever. Tampouco sem emoção, pois que a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, ‘apesar’ da linguagem”.

Somos, portanto, primitivamente e antes de tudo, leitores. É o que nos possibilita especular, com razoável margem de acerto, o que esse personagem incógnito, mas fundamental, gostaria de ler, o que espera de nós. Às vezes acertamos, muitas vezes erramos no diagnóstico, mas nossa própria experiência funciona como uma espécie de parâmetro, de mapa do tesouro, de guia, de bússola a nos orientar. Marcel Proust, em “O tempo redescoberto”, sugere: “...Todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo”. E justifica: “A obra não passa de uma espécie de instrumento ótico que lhe é oferecido para lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria, certamente, visto em si mesmo”. Pois é, quando lemos, estamos lendo a nós mesmos, fazendo uma espécie de exame de consciência, uma descoberta do que está escondido em recônditos ciosamente camuflados do subconsciente.

O polêmico, mas excelente filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, com o qual tanto me identifico, vai além de Proust nessa questão. Garante, em “Sociedade e solidão” que “é o bom leitor que faz o bom livro; em cada livro, ele encontra trechos que parecem confidências ou apartes ocultos para qualquer outro e evidentemente destinados ao seu ouvido; o proveito dos livros depende da sensibilidade do leitor; a ideia ou paixão mais profunda dorme como numa mina enquanto não é descoberta por uma mente e um coração afins”.

E quando não concordamos com as opiniões e conceitos expressados pelo autor, como é que fica? Afinal, é uma situação até bastante comum. E mais: se o que o escritor expressou está eivado de erros – e não me refiro aos gramaticais, mas aos conceituais – ainda assim a leitura é proveitosa e não mera perda de tempo? Entendo que sim. E Jorge Luís Borges também, a julgar pelo que escreveu no prólogo da primeira edição do livro “História universal da infâmia”: “O livro pode conter muitos erros, podemos não concordar com as opiniões expendidas pelo autor, mas, ainda assim, ele conserva algo sagrado, algo divino, não com um tipo de respeito supersticioso, mas com o desejo de encontrar felicidade, de encontrar sabedoria”.

Reitero, pois, que nenhum de nós conseguiria ser escritor, mesmo que dos mais primários e obscuros, se não fosse, antes e acima de tudo, ávido e obsessivo leitor. Está entre meus projetos literários o de escrever um livro para destacar a importância desse personagem indispensável da Literatura. Há muitas coisas a dizer a propósito, mas a tarefa não é tão fácil como possa parecer. Ademais, se conseguir atingir essa meta, não estarei sendo, sequer, original. O argentino Ricardo Piglia saiu na frente e escreveu a instigante e criativa obra “O último leitor”. Todavia, apesar de sua perícia e magistralidade, não esgotou o assunto. Há mil coisas que ele não citou e que considero importantes.

O fato é que devemos ler, muito, sempre, fartamente, obsessivamente, apaixonadamente. E se não tivermos recursos financeiros para adquirir livros, que não nos são fornecidos de graça e são relativamente caros? Bem, José Saramago também não tinha, mas acabou dando um jeito. E isso foi decisivo para que se tornasse o primeiro (e até aqui único) escritor de língua portuguesa a conquistar o cobiçado Prêmio Nobel de Literatura. Ele confidenciou, em um de seus tantos textos: “Eu fui um leitor apaixonado. Não havia livros em minha casa, mas costumava ler bastante nas bibliotecas públicas, especialmente à noite. Lia indiscriminadamente. Lembro-me de ler a tradução do ‘Paraíso Perdido’ quando tinha 16 anos. Não havia ninguém que me dissesse o que experimentar a seguir. Por isso tive uma educação literária anárquica cheia de lacunas, mas com o tempo consegui organizar uma espécie de visão coerente da literatura, acima de tudo da literatura francesa”.

Quando algum jovem talentoso, com evidente potencial de se tornar imortal no mundo das letras caso desenvolva adequadamente sua vocação (e conte com boa dose de sorte, sem dúvida) me pergunta o que fazer para se tornar escritor, embora não me sinta habilitado a aconselhar quem quer que seja, recomendo, convicto e sem titubear: LEIA!  Faça-o com o espírito aberto e tente estabelecer empatia com o autor. E nem precisa ler bem. Apenas LEIA. Piglia traz uma observação pitoresca a propósito: “Um leitor também é aquele que lê mal, distorce, percebe confusamente. Na clínica da arte de ler, nem sempre o que tem melhor visão lê melhor”. Bem ou mal, todavia, LEIA. Esta é a única chave para abrir a porta deste conciliábulo dos obcecados pelas letras, desta confraria de malditos, caso você teime em querer adentrar ao seu misterioso interior.


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Friday, March 27, 2015

O homem – em sentido genérico, ou seja, eu, você, fulano, sicrano, beltrano e, virtualmente, todos os que vivem, já viveram ou viverão um dia – está longe de se comportar como ser humano. É uma fera que anda sobre os dois pés, raciocina, fala, mas cujos atos são, guardadas as devidas proporções, típicos de qualquer outro animal. É um predador por excelência, com uma característica peculiar: é o único que depreda o meio em que vive. Essa afirmação sobre o homem pode até parecer paradoxal (não fôssemos um feixe de paradoxos), mas tem lá sua lógica. Nosso comportamento (salvo raras e honrosas exceções), ainda está tão distante do nosso potencial de inteligência, poder e bondade como a Terra está da constelação Alfa Centauro. Somos, ainda, escravos dos nossos hormônios (aquela nossa parte instintiva e animal, alheia à nossa vontade), em detrimento dos neurônios. Ou seja, a imensa maioria das nossas reações a determinados estímulos prende-se aos instintos e não à razão, que é o que nos distingue (ou deveria nos distinguir) dos demais seres vivos. Agimos, quase sempre, por impulsos (salvo raras exceções) e não sob o comando do raciocínio. Não exercitamos, pois, o livre-arbítrio, que tanto apregoamos. Ainda não sabemos optar entre o bem e o mal. Somos escravos das circunstâncias.

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Operação de risco


Pedro J. Bondaczuk


A decretação do Estado de Defesa no Rio de Janeiro, com a conseqüente intervenção das Forças Armadas no combate ao crime organizado, que domina boa parte dos morros e favelas da cidade, ganha mais adeptos, à medida que a violência aumenta, embora esteja longe de um consenso.

Trata-se de uma operação de altíssimo risco, sobre a qual é preciso fazer cuidadosas ponderações. A primeira refere-se a uma informação, dada por oficiais do Comando Militar do Leste, ao presidente Itamar Franco, sobre o poderio do adversário.

Um dos dados mais contundentes desse informe é a constatação de que os narcotraficantes dispõem de um arsenal de armas leves – fuzis e granadas, por exemplo – mais sofisticado e moderno do que o das Forças Armadas. Mais uma razão para que a intervenção se concretize.

Se agora os criminosos estão tão poderosos, imaginem como estarão se nenhuma medida for tomada para quebrar sua espinhas dorsal! Soluções paliativas (ficou provado) não resolvem e apenas agravam a situação. Outra dificuldade que precisa ser enfatizada é a da impossibilidade de utilização de equipamentos pesados dos militares – carros-tanques, canhões, helicópteros de combate e algumas metralhadoras – para que os moradores dos morros (a maioria vítima dos bandidos) não sejam atingidos. Ainda assim, seja qual for o tipo de operação a ser posto em prática, será quase inevitável a morte de inocentes.

Aí entra um terceiro, e talvez mais grave problema. O da reação da opinião pública. Por enquanto, esta é favorável a uma operação militar, mas pode mudar a qualquer momento e de forma radical. Não seria a primeira vez que isso ocorreria.

Diante das prováveis mortes, há risco, nada desprezível, de uma gritaria geral. Afinal, há vidas em jogo a considerar, tanto do lado dos militares, quanto dos moradores dos morros e favelas, muitos deles cúmplices dos traficantes e outros forçados a colaborar, sob pena de execução.

Há o respeito aos direitos humanos a ser levado em conta. O perigo da deflagração de uma guerra de guerrilha urbana, por outro lado, é bastante concreto. O crime organizado já mostrou ter ousadia (ou atrevimento?) suficiente para isso.

Mas há outras questões. Tão graves quanto estas, que precisam ser analisadas. Uma refere-se a onde colocar os bandidos que certamente serão presos. Nas prisões comuns, seria uma temeridade, face à corrupção existente na Polícia do Estado.

Não tardaria para que os chefões do narcotráfico voltassem aos seus feudos, para recomeçar sua guerra contra a sociedade e, provavelmente, com mais intensidade. Ou, como é mais freqüente, poderiam comandar, do interior dos presídios, seu sórdido negócio e sua covarde luta, passando instruções aos cúmplices que tenham conseguido escapar da detenção para novas ações.

Como se observa, não se trata de um “piquenique” de fim de semana, mas de uma operação de extrema complexidade logística e de enorme risco político. Contudo, alguma coisa precisa ser feita para acabar com um estado de coisas que raia ao absurdo, em que uma parte considerável da segunda maior cidade do País, que já foi a capital federal (e hoje é estadual), está nas mãos de criminosos, que ditam suas regras, fecham avenidas, escolas e o comércio e se arrogam em autoridades, ignorando a vida alheia e os poderes constituídos.

O tipo de providência e a forma de execução é que precisam ser analisados com muita cautela, além de extrema urgência. O mal precisa ser cortado pela raiz antes que se alastre e se torne irreversível.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de outubro de 1994).


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Sinceridade e prudência

Pedro J. Bondaczuk

A sinceridade é uma virtude, certo? Em termos. Nem sempre é. Aliás, quase nunca. Por estranho que possa parecer, depende com quem e no que expressemos sinceridade. O leitor estranhou essa minha postura, digamos, nem um pouco “politicamente correta”? Provavelmente sim. Se o fez, todavia, não foi rigorosamente sincero consigo e não pensou em determinadas situações e circunstâncias em que teve que ser dissimulado. O que aconteceria se saíssemos por aí opinando a torto e a direito, sobre tudo e sobre todos, exprimindo rigorosamente o que sentimos e pensamos? Arranjaríamos encrencas mil, faríamos tantos inimigos que não teríamos condições de sequer sair de casa. E teríamos que viver absolutamente sozinhos. Quem, por exemplo, nunca teve opinião desfavorável em algum aspecto, não importa qual, sobre pessoa que ama, cônjuge ou outro parente qualquer com os quais resida? Nesses casos expressa, sem papas na língua, com absoluta sinceridade, o que pensa? Duvido. Se o fizer, o relacionamento, seja conjugal, de amizade ou de qualquer natureza, certamente irá para as cucuias.

Não sou o único que pensa dessa maneira. Advirto que não estou recomendando a ninguém que seja falso, hipócrita ou bajulador, longe disso. Manda a prudência, todavia, que expressemos nossa opinião (quando esta for desabonadora), apenas a quem a pedir. E que, assim mesmo, sejamos diplomáticos, prudentes e gentis, opinando sim, mas sem ofender? Como? Cada um que pense numa estratégia. É isso ou arranjar um inimigo (ou um mundão deles), não raro feroz e implacável. Não sou o único que pensa dessa maneira (longe disso), reitero, e estou em ótima companhia. Tive o capricho de pesquisar textos de alguns escritores e topei com opiniões bastante sensatas e pertinentes a respeito.     

Um deles, por exemplo, é o inglês Oscar Wilde, que escreveu: "Um pouco de sinceridade pode ser bem perigoso, muita sinceridade é absolutamente fatal”. Viram? Expressou o mesmo que eu, embora sem justificar sua opinião. Querem outro exemplo? O Marquês de Maricá, em suas “Máximas”, faz esta pitoresca comparação: "A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis". O poeta português Miguel Torga foi ainda mais longe. Escreveu, em seu livro “Diário (1948)”:  "Arte sincera, política sincera, amor sincero... E o que isto é, explicado por um dicionário? O sábio que disse que os músculos da laringe é que pensavam, disse bem. São eles, na verdade, que pensam e articulam as palavras. O pior é o que permanece inexprimível na alma de cada um”. E Torga não tem razão? Ora, ora, ora...

Fernando Pessoa fez esta observação a respeito: "Custa tanto ser sincero quando se é inteligente! É como ser honesto quando se é ambicioso”. Em outro texto, publicado no “Livro do Desassossego”, o poeta dos heterônimos observou: "Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos. E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária". Você, por exemplo, caro leitor, que ficou escandalizado com essas opiniões (minhas e dos autores que citei), adota a sinceridade como regra constante, permanente e absoluta em tudo, em rigorosa e estritamente tudo o que fala e faz? Duvido. Caso a resposta seja afirmativa, deve estar encerrado em um bunker indevassável, impedido de sair de onde está para não ser linchado.

Há vinte anos escrevi uma crônica na qual narro um episódio em que fui (imprudentemente) absolutamente sincero, mas em hora errada e com pessoa que não devia. Em certo trecho desse texto relatei: “(...) Tempos atrás, quando morava em São Caetano do Sul, estava à procura de emprego para suplementar o salário que recebia como radialista. Como trabalhava na madrugada, tinha todo o período da tarde livre e achava um desperdício não preencher esse tempo com uma atividade remunerada. Conversando com o pessoal da Turma do Rapa --- sobre a qual já escrevi em uma das crônicas anteriores --- o Zé Gordo disse que tinha um conhecido que ocupava um alto cargo em uma empresa, que me poderia arranjar o trabalho que eu estava procurando.

Conversa vai, conversa vem, meu amigo descreveu-me o sujeito com o qual eu deveria falar. Disse, entre outras coisas, que o tal conhecido seu tinha os dentes saltados para fora e que se sentia complexado por isso. Era chamado pelas costas de ‘Dentinho’, apelido que abominava e o tirava do sério. Lembro-me que o Zé Gordo ainda me recomendou: ‘Vê se não o chama dessa forma, pois além de não conseguir o emprego, é capaz de você receber ainda algumas bolachas’.

‘Claro que não! Não sou burro!’, respondi-lhe irritado. No dia combinado, apareci na firma, um escritório de representações, à procura do tal sujeito. O guarda encaminhou-me diretamente à sua sala. Entrei, sentei-me, esperei que desligasse o telefone e me desse atenção. Assim que isso aconteceu, entreguei-lhe o bilhete do Zé Gordo. Mas não conseguia tirar os olhos da sua boca. Mais especificamente de seus dentes saltados. Seu nome era Dirceu. Não me lembrava na hora do sobrenome, mas não importava. O sujeito fez-me uma série de perguntas sobre o que eu sabia fazer, além de locução de rádio, quanto queria ganhar e coisas desse tipo. Saiu por duas vezes da sala com meus documentos e, por fim, disse que eu estava admitido.

Recomendou que passasse naquele mesmo dia – era uma quarta-feira – no Departamento Pessoal e começasse a trabalhar já na segunda-feira. Fiquei eufórico. Precisava daquele trabalho como ninguém, embora não quisesse largar o rádio. O horário combinado era o ideal. Permitia-me conciliar as duas atividades. Um tanto quanto emocionado por haver conseguido o que queria, levantei-me, todo sorridente, estendi-lhe a mão e sapequei: ‘Muito obrigado senhor Dentinho'. E saí de imediato. Quando percebi o que havia dito, já era tarde. Ainda pude ouvir, à distância, já na portaria da empresa: ‘Dentinho é a p...q...p...’...Isto é o que se chama ‘ato falho’”. Fui sincero, posto que por incontrolável (e subconsciente) impulso, mas na hora inadequada e com a pessoa errada. Deu no que deu.; Não consegui o emprego.


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Thursday, March 26, 2015

Nem tudo é alegria, delírio e encantamento quando estamos apaixonados. Há momentos (raros) de intenso sofrimento, que chega a ser até físico, quando vivemos essa situação. São os que antecedem os encontros com o foco, o motivo, o alvo da nossa paixão. As horas parecem se multiplicar, dá a impressão que o tempo parou e a ansiedade se torna aguda, furiosa, insuportável e nos causa profundo desconforto. Subitamente... eis que vemos a amada à distância, caminhando, sorridente, em nossa direção. Um calorzinho gostoso percorre todo o nosso corpo. O coração parece vir parar na boca, pulsando, intensamente. E, a partir de então, não temos mais olhos para nada e ninguém. Perdemos a noção de tempo e de espaço e nos sentimos, de corpo e alma, no interior do Paraíso. O escritor russo, Anton Tchekov, fez pitoresca observação a respeito, no seu livro “Apontamentos”, com a qual sou forçado a concordar. Escreveu: “Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre”. Já imaginaram se fôssemos sempre assim?!! E se “todos” fossem?!! Certamente o mundo não seria tão violento, injusto e repleto de corrupção, taras, velhacarias, lágrimas e dor. Seria o resgate permanente do bíblico Éden original. Quem sabe, algum dia, não será?!!


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Apesar de tudo, há riscos


Pedro J. Bondaczuk


O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, encerrou, ontem, com um discurso em que se mostrou estar na defensiva (o que até há bem pouco tempo seria inconcebível para um líder do Cremlin), as duas semanas extraordinárias de sessões do novo Congresso de Deputados do Povo do seu país.

Coisas surpreendentes foram ouvidas no recinto do Parlamento, boa parte das quais televisionada ao vivo para toda a União Soviética. Revelações que a população somente suspeitava foram confirmadas em detalhes, com cifras e tudo.

Como, por exemplo, o montante do orçamento militar da URSS, de cerca de US$ 123 bilhões anuais. Ou que o programa espacial russo, cantado e decantado como totalmente voltado para a paz, tem, na verdade, finalidades também bélicas. Ou que a União Soviética tem uma dívida externa de US$ 53 bilhões (ou quase isso). Ou então que um sexto (40 milhões) dos habitantes do país vivem na miséria.

Esse procedimento, porém, poderá evitar o que aconteceu na China, no fim de semana passado? A abertura soviética, promovida por Mikhail Gorbachev, seria mesmo tão segura como ele deu a entender em seu discurso de ontem? Não haveria, de fato, nenhuma possibilidade de um golpe contra o mentor da “glasnost” e da “Perestroika”, que o mandasse preso para a Sibéria ou então dele mudar de opinião quanto ao seu projeto transformador, como aconteceu com o líder chinês, Deng Xiaoping? Claro que há!

O grande defeito, nos dois projetos ditos democratizantes, levados a cabo por Moscou e Pequim, é que as autoridades que os deflagraram querem reservar para si o ritmo do processo. Desejam determinar o grau e o tempo em que tais mudanças devem se dar, não levando em conta o represamento das angústias, temores e frustrações populares.

Os povos soviético e chinês têm pressa para readquirir (ou conquistar pela primeira vez) a liberdade. Nos dois países, a rigor, seus cidadãos (pelo menos a maioria deles) não conheceram nunca, ou tiveram poucas chances de conhecer, o prazer de serem livres.

Ninguém pode afirmar, por exemplo, que sob o czarismo havia sequer um arremedo de democracia na antiga Rússia. E nem que os três regimes que a China conheceu neste século, o imperial, a República de Chiang-Kai-Shek e o comunismo, concederam liberdade ao povo.

Por isso, há tamanha pressa, não somente em abrir o regime, mas em “arrombar” suas portas. É verdade que os distúrbios étnicos na União Soviética ainda não redundaram num massacre, como o de Pequim. Mas desde que eles começaram, já produziram pelo menos 10% das mortes ocorridas na China. Portanto, todo o cuidado é pouco ao se exagerar nas expectativas dos resultados dos dois processos de transformação.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 10 de junho de 1989).


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Tema para um dia sem lucidez

Pedro J. Bondaczuk


A escolha de bom tema para desenvolver constitui-se em enorme chateação para quem tem a obrigação – por contrato ou por mero compromisso verbal assumido com algum jornal, revista, blog ou mesmo site da internet – de produzir um texto (pior quando tem que redigir vários) e isso não se deve necessariamente á falta de assunto. Bem, ás vezes, deve-se, embora eles abundem. Há dias em que acordamos com a cabeça vazia (é o meu caso, hoje), sem vontade alguma de escrever. Mas... temos compromisso a cumprir. Precisamos forçar a barra. Temos que produzir e não pode ser qualquer coisa. Não podemos descuidar da qualidade da nossa produção, por motivo óbvio. O leitor não quer nem saber do nosso drama. É coisa que não lhe compete.

Curiosamente (pelo menos é meu caso), é justamente nesses dias, quando o que queremos é ouvir música, passear preguiçosamente pelo jardim de casa, ou da praça pública, que acabamos escrevendo os melhores textos. Não raro eles saem a “fórceps”, num parto sumamente doloroso. Mas saem. Nada como a necessidade para mexer conosco. Hoje, como ia dizendo, acordei assim. Para complicar, um escritor, meu amigo (desses que classifico de “pau para toda obra”), ligou-me logo cedo, pedindo sugestão de tema. Meu ímpeto inicial foi o de brindá-lo com sonoro palavrão, se não com uma enxurrada deles. Como sugerir-lhe assunto se nem encontrei o meu, para abordar, e se o tempo continua passando, implacável e se não posso atrasar o texto que ainda tenho que escrever?! Bem, controlei-me, disse que lhe ligaria mais tarde, na esperança de que ele esquecesse o que me pediu.

Um assunto para abordar? Megalópoles... Está aí, amigo escritor, bom tema, mais atual do que nunca, para você explorar. Você nem precisará pensar muito. Basta relatar seu dia a dia, com sinceridade e com verdade, tratar de seu drama cotidiano nessa babel paulistana (ele mora em São Paulo, cuja região metropolitana é a terceira mais populosa do mundo). Garanto que milhões de pessoas têm experiências idênticas às suas e, por isso, se interessarão pelo que você escrever. É assim que as coisas funcionam. E veja como estou sendo bonzinho. Você pode explorar o tema quer ficcionalmente, quer em textos de não-ficção. Escreva um ensaio, desses caudalosos e bem detalhados, por exemplo. Ah, não tem tempo para isso? Que tal redigir uma crônica, dessas mais leves do que uma pluma, sobre essa absurda e insensata concentração urbana, que teve início no século XIX e que parece não ter prazo para parar?

Estou sendo mais generoso com você do que sou comigo. Afinal, ainda não tenho a mais remota ideia sobre o que escrever, o tempo continua passando e não estou com a mínima vontade de redigir coisa alguma. Aliás, de uns dias para cá, estou enfrentando uma situação que é um terror para qualquer escritor: uma severíssima crise de criatividade. Tudo o que escrevo me parece chocho, óbvio, tolo e totalmente sem graça. Sei que isso vai passar (sempre passa), mas pergunto: quando?! Não pode demorar muito, pois tenho “n” compromissos a cumprir.

Vou facilitar-lhe um pouco mais as coisas.  Deixo-lhe, como subsídio, para reflexão, este trecho de uma das minhas crônicas a propósito (e você a conhece, pois leu-a antes que a divulgasse e a aprovou), na qual escrevi: “O arquiteto Paulo Archias Mendes da Rocha, em seu livro ‘Memórias’, faz uma observação, que nós, moradores das grandes cidades, deveríamos levar muito a sério: ‘A cidade é uma idéia, ela não existe. É uma invenção do homem. Se não gostamos dela, temos de fazer uma outra. A esperança é essa. Saber que sabemos fazer desta uma outra’. Compete-nos, portanto, fazer uma ‘outra’ cidade, que de fato nos pertença, e não aos violentos, aos bandidos, aos marginais, aos ladrões e aos seqüestradores. Desta, que está aí, perigosa e violenta, certamente não gostamos! Como seria bom podermos voltar a caminhar tranqüilos pelas ruas da nossa cidade, a qualquer hora do dia ou da noite, como em passado ainda relativamente recente, sem riscos de assaltos ou de atropelamentos! Ou pelo menos sem aborrecimentos. Como seria bom poder apreciar o céu, as nuvens, as árvores, os monumentos, os tipos humanos... Enfim...” Como seria bom, não é mesmo?”

Eu ainda consigo perambular pelas ruas de Campinas, mas, confesso, não me sinto nada, nada seguro, mesmo em pleno dia. A violência já chegou por aqui e não poupa ninguém. Passear à noite? Nem pensar! Tenho amor à vida! E olhe que minha cidade é vinte vezes menor e menos populosa do que a sua caótica e alucinante Paulicéia. Viu quanta coisa você pode escrever sobre megalópoles? E nem precisa ser sobre São Paulo. Você pode tratar do Rio de Janeiro, por exemplo. Ou deixar o Brasil de lado e focalizar Londres, Tóquio, Xangai, Nova York etc.etc.etc. Opções é que não lhe faltam. Que tal escrever sobre a Cidade do México, a maior das megalópoles do Planeta?!! É ótima pedida. 

Não retornarei sua ligação, como prometi, pois tenho muito que escrever e estou sem vontade e sem assunto. Como sei que você vai ler este texto, por ser freqüentador assíduo deste espaço, optei por me valer dele para dar-lhe a sugestão que me pediu. Com isso, matei dois coelhos com uma única cajadada. Atendi sua solicitação, como sempre faço, e, de quebra... livrei-me de uma obrigação diária que me preocupava. Se isso vai interessar os leitores? Ah, vai!  Octávio Paz escreveu em certa ocasião: "Talvez a literatura tenha apenas dois temas: um o homem com os homens, seus semelhantes e seus adversários, outro, o homem só frente ao universo e frente a si mesmo”. E não é o que fiz? Não tratei do homem (no caso eu) frente a si mesmo?!! Pois então, fiz Literatura (agora, se boa ou má, são outros quinhentos).


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Wednesday, March 25, 2015

Ao nos apaixonarmos, mudamos, subitamente, nossos hábitos (pelo menos, os piores). Se formos relaxados, de uma hora para outra passamos a nos preocupar com asseio, com aprumo, com os trajes que vestimos, com a limpeza e a arrumação dos cabelos, com o brilho dos sapatos, com o hálito, com tudo o que possa agradar e impressionar nossa musa. Policiamos o nosso linguajar e nos preocupamos com cada um dos assuntos que formos abordar, na tentativa de parecermos inteligentes, responsáveis e sensíveis ao alvo da nossa paixão. Nessas ocasiões, nem adianta disfarçar, para os parentes e amigos, que estamos apaixonados. O simples brilho dos nossos olhos denuncia essa condição. E, claro, a súbita mudança do nosso comportamento confirma esse estado peculiar. Até o mais tolo dos tolos, ou o mais distraído dos nossos conhecidos, nota isso. Aliás, sequer fazemos questão de esconder ou de negar. Queremos que o mundo testemunhe nosso êxtase e felicidade. E, via de regra, conseguimos.


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso.  

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

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Criação de feras


Pedro J. Bondaczuk


O terrorismo é uma rara arma de ação política dos desesperados e, de acordo com um estudo divulgado nesta semana, feito por psicólogos e sociólogos, apresenta duas grandes vertentes. A primeira é a dos anarquistas, que se opõem a qualquer tipo de sociedade organizada e desejam destruir as estruturas sociais existentes.

Esse grupo teve grande atuação no passado, notadamente da parte dos niilistas espanhóis e seus congêneres russos, do período czarista. O assassinato do czar Alexandre II, em 1º de março de 1881, cometido por Ignaty Grinevitsky que, portando uma bomba, cometeu um atentado-suicida, segurando o artefato explosivo nas mãos, para que não explodisse em lugar errado, é um desses inúmeros exemplos.

Outro é o da morte do presidente norte-americano William McKinley, atingido, a bala, pelo terrorista Leon Czolgosz, em 6 de setembro de 1901 e que veio a falecer, em conseqüência dos ferimentos recebidos, oito dias depois.

Como se vê, o terrorismo está longe de ser um fenômeno recente. Podem ser classificadas na categoria dos anarquistas as mortes de Mahatma Gandhi, na Índia, e do arquiduque da Áustria, Francisco Ferdinando, na Bósnia. Seus respectivos matadores, Nathuram Godse e Gavrilo Princip eram notórios niilistas.

A segunda categoria dos terroristas é a dos que lutam por uma pátria. São os casos de grupos como a OLP, o IRA, o ETA e outros menos conhecidos. Estes, geralmente, atacam, apenas, objetivos dos países que desejam atingir diretamente, embora, não raro, atinjam, também, pessoas inocentes, que nada têm a ver com política.

A ser verdadeira (e não há motivos para duvidar da veracidade) a reportagem publicada, ontem, pelo jornal norte-americano “Los Angeles Times”, foi com esse tipo de terroristas que os governos da França e da Itália teriam estabelecido um “pacto de não-agressão” na década de 70.

Negociar acordos dessa espécie, entretanto, é o mesmo que confiar numa serpente venenosa, que tenhamos criado em casa, com o máximo de desvelo e de carinho. Nem por isso podemos (ou devemos) esperar qualquer espécie de lealdade do ofídio. Mesmo que inicialmente não nos ataque, não podemos, jamais, confiar que nunca nos atacará. Um dia, até por questão de instinto natural, acabaremos picados e envenenados pela cobra de estimação. O ataque faz parte da sua natureza.

É mais ou menos isso que vem ocorrendo com franceses e italianos em relação a líbios e palestinos. Se o pacto (que teria sido selado na década de 70) realmente existiu, foi para o espaço, com o seqüestro do transatlântico italiano Achile Lauro, em outubro do ano passado. Teve o atestado de óbito assinado com o julgamento, condenação e prisão dos autores dessa ação terrorista. E foi solenemente sepultado, principalmente, com o ataque ao Aeroporto Leonardo da Vinci, em 27 de dezembro de 1985, feito, simultaneamente, a um outro, em Schwehart, na Áustria. Isso, em relação à Itália.

Quanto à França, muitas das várias explosões registradas nos últimos dias, em Paris, foram atribuídas aos palestinos. E esses ataques mostram que o instinto do terrorista sobrepuja algum eventual sentimento de honra no cumprimento da palavra empenhada. É a cobra de estimação atacando o criador.

É claro que denúncias dessa espécie são virtualmente impossíveis de se comprovar, principalmente passados tantos anos da suposta ocorrência. Mas se os acordos realmente existiram, constituíram-se na mais grosseira e estúpida irresponsabilidade de quem os firmou.

A impunidade e a vista grossa aos atos criminosos alimentaram de sangue as feras. Permitiram que os monstros ficassem ainda mais perigosos e letais e desenvolvessem diversas cabeças, como a mitológica Hidra de Lerna. E determinaram, por conseqüência, que as monstruosas criaturas se voltassem, finalmente, contra os protetores.
 
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 5 de abril de 1986)


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