Guerra
beneficia coalizão
Pedro J. Bondaczuk
A aventura de Saddam Hussein, de invadir e anexar o
Kuwait, além de trazer saldos políticos para a maioria dos líderes da coalizão
militar liderada pelos Estados Unidos, favoreceu sobremaneira a vários países
do Oriente Médio e principalmente do Golfo Pérsico.
Israel, por exemplo, teve premiada a sua postura
exemplar, ao não revidar aos ataques sucessivos do Iraque com mísseis Scud B a
seu território, com uma ajuda sem precedentes, tanto dos Estados Unidos, quanto
da Europa Ocidental. Além disso, conquistou as simpatias até de notórios
adversários, pela sua elogiável moderação.
O presidente iraquiano, ao atacar o Estado judeu,
contava com uma pronta e decisiva reação. Aliás, este era o ponto fundamental
de sua estratégia de distorcer os objetivos da guerra, buscando atrair para o
seu lado seus irmãos árabes, que pegaram em armas contra Bagdá.
Ao pretender transformar a invasão do Kuwait num
trunfo que lhe permitisse barganhar os territórios ocupados, Saddam mais
prejudicou, do que eventualmente beneficiou, a causa palestina. Os saldos
políticos que ele pretendeu colher acabaram ficando todos para Israel.
Outro Estado que obteve vantagens com a crise foi o
Egito, que acabou tendo uma asfixiante dívida externa, de US$ 8 bilhões,
virtualmente perdoada. Não bastasse isso, que já se constituiu num lucro
extraordinário, obteve ajuda financeira de várias partes do mundo, a pretexto
de haver sido um dos países mais prejudicados pela guerra, principalmente com o
retorno de milhares de egípcios que prestavam serviços no Kuwait e que tiveram
que voltar para casa. Além disso, o presidente Hosni Mubarak assumiu a virtual
liderança do mundo árabe, tornando-se o “interlocutor confiável” que tanto o
Ocidente buscava na região.
A Síria, por seu turno, só obteve vantagens e nenhum
ônus com a crise. De repente, livrou-se do incômodo rótulo que lhe tinha sido
colocado pelos integrantes do Grupo dos Sete, em 1988, de Estado promotor do
terrorismo. Viu suas relações diplomáticas serem reatadas com os principais
países da Europa Ocidental e teve uma aproximação inédita com os Estados
Unidos.
Hoje, qualquer solução para o conflito que envolve
há mais de quatro décadas o Oriente Médio passa, necessariamente, por Damasco,
pela aprovação ou não do presidente Hafez Assad. Para completar tudo, a facção
do Partido Socialista Árabe Baath, que governa esse país, saiu fortalecida
diante do fiasco da sua rival do Iraque.
A Arábia Saudita, por seu turno, ganhou
credibilidade na região. Perdeu a incômoda imagem de oportunista que possuía
entre os seus pares, a de lucrar com todos os conflitos regionais sem se
envolver diretamente neles. Não somente cedeu seu território à coalizão, para
que montasse ali toda a base da operação militar Tempestade do Deserto, como
participou diretamente da luta, com resultados expressivos.
Os demais emirados do Golfo tiveram seu batismo de
fogo nos campos de batalha, perdendo, de vez, o medo de envolvimento num
confronto direto com o poderoso e temível vizinho, depois de uma participação
algumas vezes até brilhante na reconquista do Kuwait.
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do
Correio Popular, em 3 de maio de 1991)
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