Ciência utilizada para
o mal
Pedro
J. Bondaczuk
O biólogo, filósofo e
historiador francês, Jean Rostand, afirmou, em certa ocasião, que “a ciência
fez de nós deuses antes mesmo de merecermos ser homens”. Exagerou, porventura,
nessa declaração? Seria mera citação de efeito, simples exercício de retórica?
Creio que não. Afinal, seu autor sequer era escritor. Era um cientista
alertando para os riscos de acesso ao conhecimento científico (no qual era
especializado), de pessoas sem ética e sem juízo. Porquanto o fato de alguém
ser especialista neste domínio não quer dizer que, automaticamente, seja,
também, um sujeito ponderado e responsável. Nem todos cientistas são.
O que Rostand contestou
não foi, portanto, a ciência em si, mas o uso inadequado que se possa fazer ou
se faça dela. Determinados conhecimentos, que em mãos corretas tendem a ser
providenciais fontes de progresso e bem-estar, nas erradas podem ser causas de
males sem limites, de tragédias e de fontes de destruição e morte. Basta
atentar, por exemplo, para o que ocorreu (e vem ocorrendo) em relação às
pesquisas sobre vírus e bactérias, que começaram há pouco mais de um século e
que já trouxeram tantos e tamanhos avanços para a Medicina. As descobertas de
abnegados (e ignorados do grande público) pesquisadores praticamente dobraram
nossa expectativa de vida. Por que? Porque eles descobriram formas eficientes e
rápidas de combater doenças, que hoje são relativamente de fácil cura, mas que
há apenas algumas décadas eram incuráveis e letais, por serem desconhecidos os
agentes patogênicos que as causavam.
Graças a esses
cientistas, hoje é possível prevenir epidemias e, principalmente pandemias,
como a de peste negra, por exemplo, que no século XIV por muito pouco não
eliminou nossa espécie da face da Terra. Infelizmente, porém, o dramaturgo
irlandês George Bernard Shaw, ganhador de um Prêmio Nobel de Literatura, estava
coberto de razão ao afirmar que “a ciência nunca resolve um problema sem criar pelo
menos outros dez”. E qual o principal que criou ao dotar a humanidade do
conhecimento sobre vírus e bactérias? Ocorre que, por razões que nunca
entenderei e com as quais jamais concordarei, determinada parcela de
cientistas, a serviço de políticos, vem utilizando essas descobertas que já
salvaram tantas vidas, para eliminar milhares, milhões, bilhões de outras.
Refiro-me aos que desenvolveram, e se empenham em “aperfeiçoar”, as chamadas
armas biológicas. Ou seja, em utilizar o que se conhece sobre vírus e bactérias
não para erradicar doenças ainda não erradicadas, mas para tornar esses agentes
patogênicos indestrutíveis e fazer deles instrumentos de eliminação de
adversários (ou inimigos como queiram) políticos.
Como se vê, Jean
Rostand não exagerou ao constatar que “a ciência fez de nós deuses antes mesmo
de merecermos ser homens”. O que já se fez para o desenvolvimento de armas
biológicas é possível, apenas, se especular. Afinal, tudo o que se refira a
equipamentos bélicos de qualquer natureza é rigorosamente secreto, a pretexto
do que é chamado, eufemisticamente, de “segurança nacional”. Temos que confiar
nessas pessoas que se utilizam de um conhecimento potencialmente tão útil à
humanidade para algo tão terrível e vil! Mas como?! Não só não confio nessa
gente, como temo suas artimanhas. Quem me garante que, digamos, acidentalmente,
eles não possam deflagrar alguma pandemia incontrolável que nos elimine a todos
ou a boa parte de nós?
Leio o seguinte, na
enciclopédia eletrônica Wikipédia, que multiplica por um bilhão meu temor e
minha preocupação: “As pesquisas em
curso visam a desenvolver organismos causadores de doenças como peste e
varíola, e que sejam resistentes a vacinas e antibióticos atualmente conhecidos.
Não é fácil, porém, lidar com organismos vivos, mormente se deverão, ao serem
dispersos, resistir aos efeitos combinados do vento, chuva e radiação solar.
Quando esses problemas técnicos estiverem solucionados – o que será bastante
provável, com as intensas pesquisas em realização – a ameaça de guerra
bacteriológica se tornará bem real, tanto mais que a fabricação poderá ser
feita por equipes pequenas de microbiologistas e engenheiros, ao alcance até
dos países mais pobres”.
Já imaginaram se essas
armas biológicas caírem em mãos de terroristas, de lunáticos ensandecidos, de fanáticos que não dão o mínimo valor à
própria vida, quanto mais às dos outros?! E não digam que se trata de paranóia,
de algo improvável ou impossível de acontecer, pois não é. Até porque, como
observou o cientista e escritor Isaac Asimov, “o aspecto mais triste da vida de
hoje é que a ciência ganha em conhecimento mais rapidamente que a sociedade em
sabedoria”.
A Bíblia, numa das mais
maravilhosas alegorias (que muitos interpretam ao pé da letra), trata dessa
questão. Diz: “Tinha também o senhor Deus feito nascer da terra todas as castas de árvores agradáveis à
vista, cujo fruto era gostoso ao paladar; e a árvore da vida no meio do
Paraíso...” O primeiro casal tinha acesso a todas essas guloseimas, nutritivas
e energizantes. Apenas não podia comer uma (uma única entre milhões de
espécies) dessas dádivas divinas. Era algo que tornaria nossos primitivos
ancestrais e toda sua descendência (nós, inclusive) sábios, é verdade,
todavia... infelizes. Tratava-se do fruto da árvore da ciência do bem e do mal.
No entanto... o homem e a mulher primitivos... comeram o único fruto que lhes
fora proibido. Deu no que deu!
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