Wednesday, March 28, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Tsunessaburo Makiguti fez uma série de apontamentos, ao longo de 30 anos, sobre as deficiências na educação, que resultaram no livro "Educação para uma Vida Criativa", publicado no início da década de 30. De lá para cá, muita coisa mudou. O mundo conheceu uma nova e devastadora guerra mundial, além de mais de duas centenas de conflitos regionais. O homem desvendou o segredo mais íntimo da matéria, o átomo, e usou esse conhecimento para produzir as mais terríveis armas, jamais construídas, capazes de eliminar da face da Terra a humanidade e virtualmente todas as espécies animais e vegetais: as nucleares. Um astronauta pisou na Lua. Houve uma polarização ideológica que durou mais de quarenta anos (capitalismo versus comunismo), que só acabou recentemente, após a queda do Muro de Berlim e a desagregação da União Soviética. Mas a educação melhorou? Não! Permanece tão inadequada e deficiente quanto então.

Aro de generosidade


Pedro J. Bondaczuk


A generosidade não consiste, como a maioria entende, apenas em dar aos outros (àqueles que estão necessitando), o que temos de sobra e não iremos usar ou que nos seja imprestável: uma roupa velha que para nós não tem mais utilidade, um objeto que não mais nos interesse possuir, dinheiro, ou seja lá o que for. O ato mais generoso que existe é o da autodoação e aos que sequer conhecemos. É o de doar nossas idéias, nossa visão da vida, nosso entendimento do mundo, nossas fantasias e ilusões.

É levar consolo aos desconsolados, esperança aos desesperançados, alegria aos tristes e perspectivas aos entediados. É repartir de graça a experiência que adquirimos a um preço muitas vezes proibitivo. E é isso o que os escritores, estes seres iluminados e generosos, detentores de um talento que não é dado a qualquer um possuir, fazem.

Ofertam ao mundo aquilo que são. Deixam, para quem quiser (ou puder) se apropriar, do presente ou do futuro, conceitos, imagens, sentimentos, emoções, dúvidas, certezas e o que mais tiverem no fundo da consciência e souberem expressar em palavras e que se não o fizessem iriam se extinguir tão logo morressem. Por isso, tenho muito cuidado com aquilo que escrevo.

Fui, durante minha já longa carreira jornalística, um comentarista equilibrado, embora polêmico, que sempre criticou ações e não pessoas. Ao menos conscientemente, nunca destruí e nem tentei destruir ninguém. Claro que a recíproca nem sempre foi verdadeira. Fui alvo, em inúmeras oportunidades, de agressões verbais incompreensíveis e covardes. De críticas maldosas e francamente destrutivas. De ameaças até contra a minha vida. De chacotas. Sobrevivi.

De uns dois anos a esta parte, optei por escrever crônicas. Claro que não sou nenhum Rubem Braga, ou Fernando Sabino ou Henrique Pongetti. Aliás só procuro espelhar-me em um outro escritor que não os mencionados. Meu modelo é o professor Benedito Sampaio, cuja forma de escrever é o ideal que procuro atingir: elegante, correta, interessante e ao mesmo tempo coloquial.

Decidi abordar o lado aparentemente trivial da vida e que no entanto é o verdadeiramente importante. A escala de valores das pessoas (da grande maioria que conheço) é muito distorcida. O homem, no geral, desperdiça grande parte da existência (quando não toda ela) a correr atrás de fumaça, de bens cuja posse será transitória, de objetos aparentemente valiosos e que na verdade não valem coisa alguma. Quando se dão conta, acabam ficando sem nada. Sem a própria vida, desperdiçada em tarefas tolas.

Estou sendo generoso quando exponho minhas idéias mais íntimas, aquelas que denunciam como sou, com toda a minha fragilidade e vulnerabilidade, ao julgamento nem sempre isento e justo do público, mesmo que em troca de pagamento. Maior generosidade ainda é quando essa exposição é gratuita, sem nenhuma remuneração, como a maioria dos textos que publiquei.

E interpretações distorcidas não faltam para esse exercício permanente. Alguns atribuem o muito escrever à vaidade (o que, a pretexto de ser uma ofensa, é na verdade um elogio, pois pressupõe que o que escrevo é tão bom a ponto de me fazer vaidoso). Outros, à ânsia de notoriedade fácil (como se a apresentação de idéias através das palavras fosse uma ação que não exigisse nenhum esforço). Outros, ainda, acham que se trata de ganância, pensando que todos os textos produzidos são regiamente pagos.

Além desses inconvenientes, há o permanente risco do ridículo. E é mais fácil do que se pensa resvalar para ele. Difícil é percebê-lo e evitá-lo. Ainda assim, escrevo com alegria, com prazer, com emoção. Meu empenho é o de mostrar o lado alegre, belo ou risível da vida. O trágico é desnecessário. Não há quem não o conheça, por mais alienado que seja.

É verdade que às vezes não consigo dissimular a zanga contra atos de perversidade, corrupção e violência de toda a sorte. Contra as taras, a miséria, o egoísmo, a prevalência da força, o instinto cego e destrutivo e tudo o que ameace a vida e a felicidade das pessoas. Mesmo esses momentos de explosão, contudo, tento tornar racionais, para que os excessos verbais não neutralizem as lições possíveis de se extrair dessa maldade condenada.

O filósofo Aristóteles observou: "Qualquer pessoa pode zangar-se --- isso é fácil; mas zangar-se com a pessoa adequada, na medida adequada, para o propósito adequado e de maneira adequada, isso é coisa que não está ao alcance de qualquer um, e não é fácil".

Como não é fácil convencer a família da grandeza desse ato de generosidade para com a comunidade, gastando horas, dias, meses e anos a escrever de graça, preenchendo um tempo que ela entende que deveria ser preenchido com a corrida atrás do dinheiro. E sem receber reconhecimento de ninguém, na maioria das vezes...

Tuesday, March 27, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A educação, valor básico do homem, está em crise. Cristalizada em dogmas, não acompanha a evolução da humanidade – da passagem de uma sociedade industrial para outra de informação, por exemplo. Não satisfaz, portanto, as necessidades sociais, em um mundo assoberbado por novas questões e crescentes problemas. O fenômeno ocorre tanto no Ocidente, quanto no Oriente. Verifica-se quer em países altamente evoluídos política, econômica, social e tecnologicamente, quer em Estados carentes, até inviáveis (nestes, logicamente, de forma mais intensa). O fundador da Soka Gakkai Internacional, Tsunessaburo Makiguti, já havia detectado essa inadequação educacional, essa falta de rumos e perspectivas na formação das novas gerações – encarregadas de absorver e transmitir o patrimônio cultural da humanidade desde os primórdios da civilização até os dias atuais e tinha apontado, em 1930, alternativas para a correção de rumos.

Tipos inesquecíveis


Pedro J. Bondaczuk


A revista "Seleções", muito popular no País nos anos 50 e 60, tinha, entre suas reportagens, artigos e inúmeras seções, uma que eu apreciava particularmente. Chamava-se "Meu tipo inesquecível". Estampava depoimentos de personalidades norte-americanas a respeito de grandes amizades. Ou de pessoas marcantes, heróicas, extraordinárias, raras, dessas que mesmo não conhecendo pessoalmente, não conseguimos deixar de nos sentir amigos.

Eram pais sábios e compreensivos, avós maravilhosos, irmãos devotados, professores abnegados, médicos desprendidos e essa espécie de seres humanos cada vez mais rara, e por isso imprescindível, cuja vida é dedicada a tornar a existência de todos mais fácil e melhor.

O escritor Mário da Silva Brito escreveu, em uma de suas reflexões publicadas no "Suplemento Literário de O Estado de São Paulo", pelos idos do início dos anos 60: "Nunca fui eu só, ou só eu. Mas todos os outros. Os antepassados, os que me rodeiam, os que pertencem ao meu tempo. Os que amo e até os desconhecidos. Estou feito de pedaços. Sou uma soma de múltiplas parcelas humanas. Consigo somar até‚ quantidades heterogêneas".

Eu também, Mário. Sou uma colcha de retalhos de idéias, conceitos, palavras, emoções e impressões. E você está incorporado em mim, como um pedaço de minha personalidade, mesmo que jamais (para infelicidade minha) nossos caminhos tivessem se cruzado.

Sou um pouco da minha primeira professorinha, dona Helena, quando internado no Lar Escola São Francisco, em São Paulo, que me abriu o mundo do saber. Um grande pedaço da dona Ester Freeman, que vislumbrou, no menino deslumbrado com as primeiras letras, um poeta (bondade dela) e me incentivou a continuar escrevendo. Uma parcela imensa dos meus mestres do Ginásio Adventista Campineiro de Hortolândia (atual Instituto Adventista São Paulo), do Colégio Cesário Motta, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Incorporei em minha estrutura mental, em meu acervo de experiências e emoções, filósofos, poetas, escritores e compositores que viveram anos, séculos, até milênios antes de mim.

Homero, Píndaro,Virgílio,Cícero, Sêneca, Aristóteles, Sócrates, Heráclito, Santo Agostinho, Santo Tomás, São Francisco de Assis... Beethoven, Chopin, Tchaikowsky, Wagner, Schubert... Eça de Queiroz, Júlio Diniz, Alexandre Herculano, Fernando Pessoa...

Balzac, Hugo, Verlaine, Mauriac, Maurois... Morin, Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Hemingway, John dos Passos, James Joyce... Octávio Paz, Jorge Luís Borges, Mário Vargas Llosa, Gabriel Garcia Marquez... Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Érico Veríssimo...

Drummond, Bandeira, Quintana, Mário de Andrade, Cecília Meirelles... Benedito Sampaio, Mauro Sampaio, Uassyr Martinelli, Maurício de Moraes... Retalhos... Meros retalhos, que compõem um todo, complexo, às vezes complicado, quase sempre contraditório e polêmico.

Meu avô paterno, Hilarion, está entre estes meus tipos inesquecíveis. Meu pai é outro. Meus companheiros de república, em Barão Geraldo, que se transformaram nos irmãos que jamais tive... Meus quatro filhos... Meus milhares de amigos, em especial os que consegui no jornalismo...Meus colegas de rádio...Meus fantasmas interiores...Meus...São tantos os meus tipos inesquecíveis, que muitos deles até esqueci.

Monday, March 26, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A maior riqueza que uma nação pode ter é o seu povo. E quanto mais esclarecido ele for, mais apto será para atuar em conjunto, num esforço concentrado, que é o único e árduo caminho do desenvolvimento. No panorama internacional, não existem as loterias que tornam as pessoas ricas da noite para o dia, graças ao fator do acaso. Não há quinas ou senas para nações. As sociedades nacionais fazem-se grandes, fortes e respeitadas pelo talento, pelo empenho e pela determinação de sua gente. Este é o único meio para se desenvolver. Não existem países poderosos com um povo fraco. Caso existissem, a injustiça (pois haveria uma concentração de riquezas absurda nas mãos de uma minoria) seria tão aberrante, que em pouco tempo eles se dissolveriam no caos e na anarquia.

Trigal dourado


Pedro J. Bondaczuk


As lembranças da minha infância estão, em sua grande maioria, associadas à natureza. Nasci no campo, na região das Missões, no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma das áreas mais bonitas não somente do Estado, mas de todo este Brasil, repleto de beleza selvagem que não valorizamos e nem nos empenhamos em conservar.

O cenário, na propriedade do meu avô paterno, era tipicamente europeu, em plena zona tropical, caracterizado pelo estilo das casas com os telhados apropriados para não deixar acumular a neve, o mesmo ocorrendo com os vastos galpões para armazenar feno, pelo tipo de cerca, pela cultura plantada na lavoura etc.

Jamais haverei de esquecer, por exemplo, os vastos trigais da fazenda, principalmente nas vésperas da colheita, quando o trigo estava repleto de espigas maduras, formando um imenso lençol uniforme e dourado. Era uma delícia nos finais das tardes passear no meio dessa plantação, com o vento batendo sobre as plantas e produzindo um cicio altamente relaxante, acompanhado pelo canto de milhares de pássaros, de todas as espécies e tamanhos (verdadeira praga para os agricultores, dada a sua voracidade) e de um aroma que nunca mais consegui sentir em lugar algum.

Só quem já experimentou a sensação de calma que esses passeios sem compromisso, sem rumo ou sem hora certa dão é capaz de entender o que quero dizer. Não há palavras que exprimam. Desde a minha meninice, a idéia de beleza e de paz vem sempre acompanhada da visão desses trigais, renovados de ano para ano.

A despeito das lembranças serem sempre positivas, e até nostálgicas, tão marcantes e irreais que até parecem um sonho, desses que não queremos acordar para que não cessem, há um incidente que na época foi traumatizante, e que hoje me causa riso.

Meu pai trabalhava principalmente com o trigo, por causa da experiência que trouxe da Europa com essa cultura. Como não tinha com quem me deixar, já que a minha mãe também saía para a roça logo de manhãzinha, antes que o sol nascesse por completo, muitas vezes me levava junto com ele, em um rústico carrinho de madeira que ele mesmo havia feito. Deixava-me, geralmente, em uma das alamedas, entre uma parte e outra do trigal, perto de onde ficava trabalhando.

Comigo ficavam o seu cantil e frutas que levava para comer nos intervalos entre uma tarefa e outra. Para não me perder de vista, fincava um pedaço de pau com um lenço vermelho amarrado na ponta. Onde quer que estivesse, portanto, naquele "mar" uniforme, conseguia me localizar sem dificuldades.

Num determinado dia, porém, esqueceu-se desse arranjo. Certamente devia estar com uma disposição incomum, pois começou a capinar bem próximo de onde eu estava e foi se afastando, afastando, afastando cada vez mais, até que eu o perdesse de vista.

A princípio não me preocupei. Quando me deu fome, fiz o que sempre fazia. Colhi umas espigas de trigo maduro, esfreguei entre as mãos as sementes para tirar-lhes a palha e comi os minúsculos frutos. Uma delícia! Até hoje consigo sentir seu sabor natural e saudável em minha boca.

As horas foram passando, o sol forte começou a declinar, anunciando o cair da tarde, e nada do meu pai voltar. Ao longe, muito longe, podia ouvir seus gritos: Pedrinho, Peedriiinho...Tentei responder, mas minha voz devia ser muito fraca, pois parece que não fui ouvido.

Comecei a entrar em pânico. As idéias mais aterradoras passaram-me pela cabeça, desde a da possibilidade de ser atacado por alguma cobra ou animal selvagem, até o medo de ter meus olhos devorados pela Boitatá das histórias contadas pela peonzada, ao redor das fogueiras, que eu ouvira tantas noites.

Uma pessoa bem que poderia se perder no meio daqueles trigais, já que os campos eram bastante uniformes e não havia pontos de referência para orientação. Pior era para uma criança e ainda por cima em pânico. A voz do meu pai, chamando meu nome, ora ficava mais próxima, ora se distanciava a ponto de ficar inaudível. Meu terror crescia com a mesma rapidez com que a tarde caía.

Por puro desespero, comecei a gritar, gritar e gritar, até sentir-me rouco, com a voz não querendo mais sair. Finalmente, meu pai achou-me, desfeito em lágrimas. Afinal, eu era uma criança de somente cinco anos. Em resumo, nunca mais o acompanhei ao trabalho, não mais ouvi o cicio do vento por sobre o trigal dourado e nem senti o aroma indescritível das espigas maduras. Como bem diz o ditado: tudo o que é bom, dura pouco.

Sunday, March 25, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Sou um crente incorrigível na grandeza e transcendência humanas e na força da racionalidade do homem. Isto não quer dizer que seja alienado e não enxergue os crimes, as injustiças e as loucuras cometidos pelo mundo afora, através dos tempos, pelos mais variados tiranos, psicopatas e pilantras. Estou para lá de consciente disso, até em decorrência da minha formação profissional, como editor de jornal diário. Mas, como a "história nunca se repete, a não ser em forma de farsa..." Creio no futuro. Acredito que um dia, não importa quando, o homem fará a razão preponderar sobre os instintos, dominando seus "demônios interiores" e aprendendo a se relacionar harmoniosamente com os semelhantes e com a natureza.

Seres humanos não são classificáveis por raça


Pedro J. Bondaczuk


A história jamais se repete e, por essa razão, os erros cometidos no passado, que levaram civilizações à decadência e à posterior extinção, acabam sendo esquecidos. Caso não o fossem, sofrimentos inúteis, destruições insensatas e massacres criminosos seriam certamente evitados.

Se porventura a humanidade soubesse não reincidir em equívocos praticados em outros tempos, os povos teriam queimado etapas na busca de uma sociedade ideal, onde houvesse fartura, equilíbrio e solidariedade. Em que todos pudessem se sentir realizados e, conseqüentemente, felizes.

Mas por causa, exclusivamente, da nossa estupidez, o simples desejo de coisas tão corriqueiras e fáceis de se conseguir hoje soa como utopia, como uma enorme fantasia, como algo que extrapola, em muito, o plano da realidade.

O racismo, nas mais variadas formas em que se apresenta, já redundou, entre outras coisas, em duas guerras mundiais neste século. A primeira foi causada pela revolta dos bósnios e sérvios, que se recusavam a ver parte dos seus territórios anexada à Áustria. E por razões puramente étnicas. Por isso, Gavrilo Princip, integrante de um grupo nacionalista chamado "Mão Negra", que costumava manter reuniões na taverna "Grinalda Verde", em Belgrado, foi incumbido de uma missão que ele julgava sagrada e que no entanto se revelou desastrosa. Ou seja, deveria assassinar o arquiduque Francisco Ferdinando, que estava com viagem marcada para a Bósnia, para comandar exercícios militares.

E ele cometeu, de fato, esse ato de violência, que encarava como fundamental para a sua causa, em 28 de junho de 1914. Com isso, conseguiu deflagrar a Primeira Guerra Mundial, que já vinha "fermentando" há tempos e que carecia somente de um pretexto para começar.

Passados 21 anos dessa conflagração, e eis que outra, muito mais escabrosa e cruel, surgiu, por idênticos motivos: por pretensa superioridade de uma etnia sobre outra (ou sobre outras, para sermos mais exatos). Foi deflagrada por uma questão indefinida, vaga, tola ao extremo, chamada "racismo".

O que, em termos de seres humanos, se entende por "raça"? A separação de pessoas por tal parâmetro é indigna. Animaliza os homens. Estes possuem a identidade do seu poder de raciocínio, do livre-arbítrio, do fato de serem "imagem e semelhança" da divindade. Raça é algo que se aplica para seres inferiores, para os animais, não para pessoas.

Mas é este conceito estúpido e ilógico que ainda prevalece hoje. Na África do Sul, a maioria do povo que habita esse país foi privado por anos de todos os direitos em sua própria pátria somente por uma questão de cor da pele. Nos Estados Unidos, os conflitos raciais permanecem sempre latentes. Na União Soviética, distúrbios étnicos entravaram a evolução da "glasnost" e da "perestroika". E o racismo se multiplica pela Grã-Bretanha, Itália, França etc. Que pena que a história nunca se repita!

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 5 de setembro de 1989).

Saturday, March 24, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Para alguns, a “Idade de Ouro”, esse período radioso e inesquecível, sem tensões e preocupações, com o qual todos sonhamos, seria a infância, com a sua inocência e magia, aureolada pelas fantasias, na mente das pessoas. Para outros, é a adolescência, atrevida e audaz, perigosa e fascinante. Para terceiros, outra fase qualquer da vida, que tenha despertado saudades, pelas circunstâncias favoráveis que proporcionou (ou que julgam ter proporcionado), recuperada pelo frágil instrumento da memória. A maioria, porém, não teve, não tem e nunca terá uma “Idade de Ouro”. Suas vidas serão sempre cinzentas, terríveis, vazias, sem passado, presente ou futuro. Claro que isso é sumamente injusto, mas esta é a lamentável realidade do mundo, de sofrimentos e de injustiças.

Mundo novo


Pedro J. Bondaczuk

Pra fugir dos desenganos
e do tempo, infame e louco,
dos sofrimentos humanos
que aniquilam, pouco a pouco,
a vida do mais incauto,
construí um mundo novo.
Um mundo próspero e lauto,
sem rei, coroa ou povo.

As ruas não têm esquinas,
as casas são pequeninas
e as praças são roseirais.

O sol não vê seu poente,
o amor não fica doente
nem morre ao tempo passar.

Lá nunca houve tristeza.
O meu mundo é só beleza,
poesia e muita emoção.

Criei um céu com estrelas
de inefáveis sentimentos,
de bondade e simpatia.

E nele gravei um nome,
que o vento sempre repete
na copa dos pinheirais.

Gravei um nome canção...
Um nome pra repetir
com carinho e devoção,
pra sempre, na eternidade:
gravei teu nome, Nair!

Hoje ainda vago a esmo.
Na tarde fria se perde
a saudade de mim mesmo...

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 15 de julho de 1964).


Friday, March 23, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Minha intenção, ao abordar questões de vida e morte, não é a de ser mórbido. Muito pelo contrário. Em vez de lamentar a iminência da morte, exalto a realidade, a transcendência e o mistério da vida. O objetivo, ao tratar desse assunto, é o de realçar a necessidade de aproveitamento do tempo, não importa quanto dele ainda disponho, se anos ou segundos, para mostrar aos semelhantes a que viemos a este mundo. É o de convocar as pessoas desta geração e das vindouras, que eventualmente lerem meus textos e refletirem sobre eles, a deixarem o egoísmo de lado, esquecerem a mera satisfação sensorial que caracteriza os broncos, dominarem seus baixos instintos e se tornarem elos na imensa (e talvez infinita) corrente da razão. É, também, o de enfatizar a estupidez da busca por um poder que nada pode, pois não consegue derrotar a principal inimiga dos seres vivos: a morte. Vaidade, vaidade..., já dizia o bíblico pregador...

Uma arte em extinçãi


Pedro J. Bondaczuk


O homem contemporâneo vive, hoje, entre tantas contradições, uma que chama, em especial, a atenção. Este fim de milênio, caracterizado pela comunicação de massas, é igualmente o período em que as pessoas mais se sentem solitárias. Nunca o mundo teve tanta gente como agora. Afinal, são cerca de 5,5 bilhões de seres humanos disputando o espaço de um planeta de pequeno porte.

Em época alguma houve tantas cidades gigantescas. São cerca de 90 com mais de um milhão de habitantes. E no entanto, o homem está cada vez mais só. A saudável arte da conversação, embora encontre ainda um ou outro grupo heróico que a pratique, está em extinção.

O filósofo Ivan Illich constatou: "Cinqüenta anos atrás, a maior parte das palavras que um homem ouvia eram ditas pessoalmente a ele por alguém com quem conversava". E hoje? Atualmente este quadro é muito diferente, Ouve-se, é verdade, conversa o dia todo. Todavia, o que é ouvido é dito à distância.

São aparelhos de rádio, receptores de televisão, gravadores e vai por aí afora que nos enchem os ouvidos e a cabeça. Pessoalmente, em diálogo de qualquer espécie, as palavras ditas são minoria. Os meios de comunicação eletrônicos ditam um enervante monólogo.

Otto Lara Rezende constatou, numa de suas crônicas: "Até um cidadão que não dispunha de um televisor, ou de um rádio transistor, acaba sendo alvo do bombardeio de notícias que está no ar o dia todo, todo dia. Ninguém escapa, com raras exceções, à onipresença da notícia".

É verdade que estar bem informado é fundamental para qualquer cidadão. Todavia, nem todo o tipo de informação veiculado é do interesse de todos. A seleção, contudo, torna-se virtualmente impossível. O homem contemporâneo consome, voluntária ou involuntariamente, uma overdose de notícias, em geral desgastantes --- sobre corrupção, crise econômica, assassinatos, seqüestros e outras aberrações sociais --- que lhe despertam medo, ira, revolta e ressaltam sobretudo sua absoluta impotência.

Mesmo os que ainda reservam tempo para um papo com amigos, entre um chopinho e outro, no fim do expediente diário ou das aulas no colégio, não conseguem mais escapar dos temas dirigidos. E estes são, invariavelmente, os mesmos: inflação, futebol, maledicências sobre a vida alheia, bravatas sobre conquistas amorosas quase nunca verdadeiramente concretizadas e outras banalidades do gênero. Tempo para tratar de assuntos relevantes, para aprender e ensinar algo, nunca sobra.

E no entanto, jamais as pessoas sentiram tanta falta de diálogos construtivos. Ou de, pelo menos, ouvir alguém falar sobre coisas importantes para suas vidas. Palestras, conferências, simpósios e seminários multiplicam-se, para tratar de temas que há apenas meio século ou menos as pessoas levantavam em conversas nas varandas de suas casas, de forma amena e descontraída.

John Dewey constatou que "os homens vivem em comunidade em virtude das coisas que têm em comum; e a comunicação é o meio por que chegam a possuir coisas em comum". Só que, se comunicar, é uma via de duas mãos. Ou seja, um contínuo dar e receber. E é isto que está faltando nos dias de hoje, tornando as pessoas tão solitárias e arredias.

Thursday, March 22, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Quando consulto as horas, sempre em relógios alheios, faço-o com crescente preocupação, até mesmo com certo alarme. Não consigo me furtar de pensar que cada segundo é precioso, o maior capital de que disponho e que não pode ser desperdiçado, já que pode ser o último. Se o malbaratar com tolices, certamente fará falta. Procuro vivê-lo intensamente, não importa qual seja o meu ânimo, ou como me sinta fisicamente: se com dor ou não. Quero prolongar minha vida ao máximo! Mesmo tendo plena consciência de que esse prolongamento em pouco (ou em nada) depende de mim, ainda assim tento, tento e tento. É uma tarefa virtualmente impossível. Ainda assim, tento sem cessar. Amo a vida de paixão e busco frui-la da melhor maneira possível, não dando maior importância às dores e aborrecimentos e valorizando ao máximo as alegrias e as amizades.

Alienação às avessas


Pedro J. Bondaczuk


O cidadão, em especial o brasileiro (que é o que conheço e o que posso analisar), é bombardeado, diariamente, por uma carga brutal de más-notícias, como denúncias de corrupção em vários níveis da administração pública, aumento de preços e de impostos, surtos periódicos de desemprego, crescimento da miséria com seus dolorosos reflexos sociais, catástrofes de toda a sorte e violências de todos os tipos etc.
Este volume enorme de informação negativa, difundido por jornais, revistas, rádio, televisão, portais e blogs da internet, age sobre as pessoas, predispondo-as ao pessimismo, ao negativismo, ao desânimo e ao mau-humor. Pudera! Não há fortaleza de espírito que resista a tanta desgraça e patifaria juntas! Daí a onda de descrença generalizada que se observa no cotidiano e que nada constrói. Qual a opção dos meios de comunicação?
Esconder os fatos negativos, mantendo a população alienada? Passar uma imagem falsa da realidade, dando a entender que as coisas andam às mil maravilhas, quando de fato não estão assim? Evidentemente, não! Discordo dos que criticam o trabalho jornalístico, afirmando, (sem base nos fatos) que somos meros robôs dos patrões e que distorcemos a verdade a nosso bel prazer. Não somos perfeitos (ninguém é), mas salvo exceções (e estas existem em tudo e em todas as profissões), realizamos com competência e senso ético a nossa tarefa de informar. Todavia, dar a entender que só existem coisas e pessoas ruins, também é alienar. Devemos fugir dessa tentação. A palavra chave para os editores, como para todas as pessoas de bom-senso, em qualquer aspecto da vida, é: equilíbrio!
Compete aos analistas (supostamente formadores de opinião), que costumeiramente tratam destes temas, tentar orientar leitores (ou ouvintes, ou telespectadores, ou usuários da internet) para que dêem o devido peso a cada uma dessas informações. É sua tarefa fazer a contextualização exata dos fatos. Corrupção, desgraças, misérias, violência e injustiças sempre existiram e vão existir, porquanto caracterizam um dos lados do ser humano, o negativo, o imperfeito, o animal, o que precisa ser burilado.
Os tempos atuais, em termos qualitativos, não são nada piores do que as eras passadas. Se assim parece, é porque hoje há maior quantidade de pessoas (cerca de 6,5 bilhões) e infinitamente maiores facilidades de difusão de informações. Fica (claro) essa impressão, dado o volume avassalador de más-notícias despejado sobre cada um de nós (e que nós, editores, repassamos para os consumidores delas). Afinal, em época alguma o aparato comunicativo foi tão ágil, abrangente e instantâneo como agora, transformando, de fato, o mundo na tão apregoada “aldeia global” de que tanto o papa das comunicações, o canadense Marshall McLuhan, falou, em especial na década de 60 do século passado.
No século XIX, o poeta norte-americano Robert Frost constatou, a propósito de más-notícias: “Impacienta-me a idéia de que esta época é uma das piores da história do mundo. Já no seu tempo, Matthew Arnold, reclamava tal honra para a sua época, anterior à nossa. Wordsworth reclamava para a época retrasada. E assim vai, literatura afora. É falta de modéstia do homem imaginar-se sucumbido diante das piores forças já mobilizadas por Deus”.
O cidadão contemporâneo precisa se acostumar, pois, com a carga de más-notícias que recebe e saber como agir em relação a isso. Quando se tratar, por exemplo, de um escândalo envolvendo o patrimônio público, deve exercer seu direito de cidadania e cobrar providências. No caso da miséria, compete-lhe ser solidário e participar, de alguma forma, para que esta venha a ser, senão erradicada, pelo menos atenuada. E vai por aí afora.
Escândalos sempre existiram e provavelmente sempre existirão. O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw constatou: “A verdade real é que não só é bom para as pessoas ficarem escandalizadas de vez em quando, mas também é absolutamente necessário que se escandalizem freqüentemente”.
O que não dá mais para suportar é ter de carregar um complexo de culpa permanentemente, apenas pelo fato de ser brasileiro. A imagem que se pinta de nós no exterior é constrangedora, ofensiva e irritante. Descamba para o estereótipo e, mais do que este, para o preconceito. No entanto, não somos piores (e nem melhores) do que ninguém. Corrupção, por exemplo, há em toda a parte, e em maior volume e proporção do que no Brasil. Os meios de comunicação estão aí para comprovar.
Claro que o fato de existirem corruptos em todas as partes do mundo não justifica a impunidade para os daqui. Todavia, agir como se todo o brasileiro, sem atentar para quem seja, pelo simples fato de nascer no País, é desprovido de senso ético e não passa de uma reprodução mais ou menos fiel daquele personagem sem-caráter de Mário de Andrade, Macunaíma, é, não somente uma injustiça, mas uma tremenda burrice, para não dizer uma monumental sacanagem. E é isso que boa parte do mundo pensa de nós.

Wednesday, March 21, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Jorge Luís Borges tinha uma fixação – e explorou-a com muita destreza e maestria em seus contos e poemas – por labirintos, máscaras e tigres. Da minha parte, os objetos pelos quais sempre tive obsessão e que são temas constantes em meus textos são: o relógio e o espelho. Não cito, necessariamente, esses dois instrumentais – um para a medição do tempo, tendo por referencial a estrela responsável pela vida na Terra, o Sol, e o outro para refletir a nossa imagem e nos mostrar como somos e como estamos dia após dia – mas os tenho sempre presentes, subjetivamente, realçando o simbolismo do seu significado para o homem: a efemeridade humana. Somos transitórios, como um raio que corta o céu, em uma tempestade. Em curtíssima fração de "segundo cósmico" (em relação à eternidade), como num piscar de olhos, brilhamos subitamente e desaparecemos em seguida, a maioria sem deixar um único vestígio da nossa passagem.

Personagens que marcam


Pedro J. Bondaczuk



As pessoas sentem-se bem em algum lugar, não importa seu tamanho ou importância, apenas quando conseguem estabelecer interação com seus moradores. A alma de qualquer cidade, óbvio, é sua gente. Está consubstanciada nos que a habitam e lhe dão personalidade. Tirem-se as pessoas e sobra o quê? Restarão ruas desertas, prédios vazios de concreto e vidro, mansões, casas modestas, barracos...coisas inanimadas. Objetos sem vida e sem alma.

Não é, evidentemente, a isso que nos apegamos. Não é isso o que torna determinada cidade a nossa eleita, o palco da nossa vida, o abrigo dos nossos sonhos, o cenário das nossas ilusões e desilusões. Apegamo-nos, na verdade, é aos seus habitantes. Tanto aos do passado, que conhecemos somente pela tradição escrita ou verbal, quanto aos do presente e quiçá do futuro, refletido nas crianças de hoje, líderes potenciais da comunidade de amanhã.

Campinas não poderia ser diferente. Tem sua força no cérebro, no coração, na sensibilidade, no talento e no braço da sua gente. Nos cientistas e catedráticos que tornam suas universidades modelos nacionais e que ostentam projeção internacional. Em seus laboratórios de alta tecnologia, onde são cultivadas as sementes do futuro. Em suas escolas, preparando as novas gerações para assumirem as responsabilidades por suas próprias vidas e da comunidade. Em seus centros culturais, onde são acumuladas e preservadas as criações espontâneas do espírito. Em suas academias de letras, de dança, de esportes, onde se cultivam as artes e a saúde. Em seus hospitais, conhecidos além-fronteira por sua excelência. Em seus órgãos de comunicação, transmitindo informações e testemunhando a história dos povos no exato momento em que esta acontece.

A força de Campinas está em seu povo. Foi por ele que fiz desta cidade a minha terra de adoção (ou foi ela que me adotou?). Pessoas ilustres, com prestígio consolidado, com o nome registrado na história do País, nasceram (ou viveram algum período de suas vidas) aqui. A cidade produziu de tudo. Desde um presidente da República – Campos Sales, o segundo a ser eleito, no Brasil, pelo voto direto – a artistas de renome internacional, como Carlos Gomes, José Pancetti e Guilherme de Almeida, entre tantos e tantos outros. Desde eminentes políticos, como Francisco Glicério e Bento Quirino, a jornalistas notáveis, como Júlio de Mesquita e Azael Lobo. Desde médicos, como o Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho (fundador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e José Paulino Nogueira, a grandes inventores que moraram ou estudaram em Campinas, como o inventor da fotografia, Hercule Florence e Alberto Santos Dumont. Desde ilustres professores, como Benedito Sampaio, a grandes comunicadores, como César Ladeira.

Mas os personagens que mais me fascinaram, e por isso marcaram, foram os humildes, os populares, os até folclóricos, que conheci e com os quais convivi. Destes, o principal, sem dúvida, foi João Lopes de Camargo, conhecido como “Mane Fala Ó”, chamado dessa maneira por perseguir as meninas bonitas da cidade e não desistir do pacífico assédio (confundido, por muitos, como agressividade, o que lhe valeu algumas surras, em especial de namorados ciumentos) enquanto não lhe dissessem um singelo “ó”. Foi uma figura doce, inofensiva, ingênua que, com o tempo, conquistou a simpatia e o respeito de boa parte da população. Quando morreu, na véspera do Natal de 2003, atropelado, aos 72 anos de idade, sua morte causou consternação em toda a cidade. Foi um personagem tão querido, que hoje há uma praça em Campinas que ostenta o estranho apelido que tinha.

Outra figura folclórica da cidade foi a “Gilda”, que adotou essa denominação em alusão à personagem celebrizada pela atriz Rita Hayworth, num dos filmes mais famosos já produzidos por Hollywood. Seu nome de batismo, que poucos conheciam, era Geovina Ramos de Oliveira. Dizia-se viúva do cantor Francisco Alves, o famoso “Rei da Voz”, que morreu num desastre automobilístico na Via Dutra, em 27 de setembro de 1952. Assegurava que era noiva do então prefeito da cidade, Orestes Quércia, que se divertia com isso. Nunca deixava de usar faixas que a consagravam ora como rainha de Campinas, ora do Brasil, ora, apenas, do Guarani, seu clube do coração. Gilda morreu em 1974, aos 74 anos, para consternação da maioria dos campineiros. E minha também, claro.

Esses tipos pitorescos ainda existem na cidade, embora não tão populares como os dois que citei. Um deles, por exemplo, é Antônio Francisco dos Santos, tempos atrás conhecido como “Tonhão da Rapadura”, que hoje se autodenomina “O Politizador”, e que desfila, freqüentemente, pelo centro da cidade, com seu megafone, judiando dos ouvidos dos comerciantes, moradores e transeuntes do local. Outro é a Conceição, que se caracteriza pela extremada paixão pela Ponte Preta. E há tantas e tantas outras figuras marcantes, que humanizam e, por que não, divertem Campinas, com suas manias, extravagâncias e idiossincrasias. egafone, judiando dos ouvidos dos comneom ade, emborqa oraç os ataversidade de Sme mundial, como Carlos Gomes, Jos

Em algumas cidades, não conseguimos interagir com seus habitantes. Não raro, somos rejeitados por eles ou, o que é mais comum, simplesmente, ignorados. As razões são várias. Essa falta de entendimento ocorre ou por sermos rejeitados pelos moradores, ou porque os rejeitamos, ou por incompatibilidade de temperamentos, de formação, de educação etc. Não foi o que ocorreu comigo em relação a Campinas. Dois terços da minha vida, que já passa bastante de meio século, transcorreram aqui. A maior parte das lembranças que vão acompanhar meus últimos dias sobre a Terra é originária daqui. Sou fruto cultural desta cidade. Aqui obtive a minha formação, desde os tempos dos colégios Cesário Motta e Ateneu Paulista, à universidade, aluno que fui da tradicional Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Meus amigos mais caros residem ou estão sepultados aqui. Meus adversários mais temíveis também são daqui. Minha vida, portanto, está ligada, para sempre, à cidade, berço dos meus filhos.

E, a menos que o acaso, sempre caprichoso, apronte das suas, será aqui que irei estabelecer minha derradeira e definitiva interação: meus restos mortais haverão de repousar nesta terra generosa, misturando-se com ela, enquanto a essência do que fui e do que quis ser tentará permanecer, para sempre, viva na memória dos habitantes desta metrópole que tanto amei e amo.

Tuesday, March 20, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O líder pacifista indiano, Mohandas Karamanchand Gandhi, ensinou que “a Terra é suficiente para as necessidades básicas de todos, mas não para a voracidade dos consumistas”. Todavia, nos dias atuais, são estes os que prevalecem, causando uma catastrófica depredação planetária, nem sempre delatada, ou pelo menos não em sua verdadeira dimensão. Indiferentes ao fato de que estão neste mundo apenas de passagem e que seu papel, a sua razão de viver, é a de preparar condições propícias para que futuras gerações vivam melhor, certas pessoas, ou grupos, ou governos, ou corporações, usam e abusam dos recursos de que a natureza nos dotou. O desarranjo climático, que vem se verificando em várias partes do Planeta, tem sido freqüente demais para poder ser caracterizado como episódico, eventual ou passageiro. Todavia, os que deveriam se preocupar com isso, exibem criminosa indiferença com as agressões à natureza.

Arte e ciência


Pedro J. Bondaczuk



As duas maiores manifestações de racionalidade são as ciências e as artes. Ambas implicam em criação, mais especificamente em "invenção" e exigem que o autor tenha preparo intelectual para exercê-las. Mas apenas isso não basta. É insuficiente que o artista ou o cientista estejam apenas com a cabeça cheia de conceitos abstratos, se não souberem o que fazer com eles.

No caso das artes, é preciso que o indivíduo seja dotado, sobretudo, de sensibilidade e que conte com aguçado senso de observação. Fernando Pessoa faz longas digressões sobre essas duas vertentes da razão, com observações precisas e originais.

Claro que como artista, na qualidade de escritor e sobretudo de poeta, opta, em suas apreciações, pelas artes. Afirma que se trata da manifestação mais legítima da criatividade, por partir virtualmente do nada, quando muito de um retalho de idéia. Já a ciência tem todo um arcabouço de leis fundamentais que regem a natureza, sem o conhecimento das quais nada poder fazer. Mas o pesquisador científico tem onde se apoiar. Conta com um ponto de partida.

Para tornar o raciocínio mais claro, Pessoa estabelece a diferença entre as disciplinas. "A Ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são. O essencial na arte é exprimir, o que se exprime não tem importância". Seu âmbito, portanto, não é a precisão. É sobretudo o senso estético, a noção do belo, a sugestão dele mesmo onde não exista.

O campo de atuação do artista, "pastor de fantasias", quase sempre é o improvável, o imponderável, o impossível. Mas dessa abstração, mediante a utilização de signos, de símbolos, de sinais, consegue fazer o concreto: a obra de arte.

Na sociedade utilitarista de hoje, essa manifestação de racionalidade é encarada como coisa supérflua. É vista, com muito boa vontade, como um gosto, um "hobby", um passatempo ou às vezes um investimento financeiro. Veja-se o que está acontecendo com a poesia, cujos livros são cada vez menos consumidos e, por conseqüência, editados. No entanto, dos vários gêneros literários existentes, é o mais nobre, mais complexo e de mais difícil manejo.

O verdadeiro valor da arte, no entanto, não está no aspecto econômico, embora haja toda uma indústria orbitando ao seu redor. Ela é, no entender de Fernando Pessoas, "a auto-expressão lutando para ser absoluta". É ela, "e não a História", a verdadeira "mestra da vida". Por pior que seja uma obra, no seu aspecto formal, ainda assim brilha e se justifica se consegue despertar no espectador, senão contemplação, pelo menos reflexão, ou emoção.

"Uma obra de arte é...em sua essência uma invenção com valor", diz Fernando Pessoa. "Se não for invenção, o valor permanece a quem inventou; se não tiver valor não será obra de arte, pois que importa inventar o que não presta?" Na maior parte das vezes o artista parte, na elaboração do seu trabalho, de objetos e experiências pré-existentes.

Um escritor, por exemplo, na criação de um personagem para um romance, conto ou peça teatral, utiliza-se de características físicas e/ou psicológicas de pessoas que conhece ou conheceu. Ao preparar um cenário para o enredo da sua história, pesquisa vários ambientes, estilos e formas de decoração. Tem cuidado para que haja coerência quanto à moda da época em que a trama que elaborou se desenvolve.

Ou seja, lança mão daquilo que o cerca. Usa o que existe ou que existiu. Esse recurso vale tanto para pessoas, quanto para coisas. Ou para fatos, por que não? Mesmo quando projeta seu enredo no futuro, "cria" cenários, personalidades e experiências transformando o já existente. E nem por isso está deixando de fazer arte.

Um artista plástico, ao pintar uma tela, pode tomar como modelo uma paisagem que o impressionou, ou pegar alguém, ou algum objeto, como modelo. Não precisa --- e ultimamente não o faz --- reproduzi-los como são. Projeta-os em seu quadro como os "sente". O importante não é o que o inspirou. Não é como surgiu a idéia original. O que conta é a forma com que o artista a trabalhou. É o toque de inventividade que colocou na obra.

"Ao contrário da invenção prática, que é uma invenção com valor de utilidade, e da invenção científica, que é uma invenção com valor de verdade, a obra de arte é uma invenção com valor absoluto", acentua Fernando Pessoa. E conclui: "A arte é a notação nítida de uma impressão errada (falsa), (a notação nítida duma expressão exata chama-se ciência). O processo artístico é relatar essa impressão falsa de modo que pareça natural e verdadeira".

Monday, March 19, 2007

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Do site oficial da A. A. Ponte Preta e de Wander Roberto da VIPCOMM)

FALTOU “PUNCH” AO ATAQUE DA PONTE

Faltou “punch”, isto é, contundência, ao ataque da Ponte Preta, no jogo de sábado, da Macaca, contra o São Paulo, no Morumbi, que redundou na derrota por 1 a 0. O time até que se comportou bem no sistema defensivo, parando os atacantes são-paulinos, com ótima atuação dos zagueiros Emerson e Anderson e, notadamente, do jovem goleiro Dênis. Todavia, a peça ofensiva, ressentida, certamente, da ausência de Roger, produziu muito aquém do que poderia. As duas únicas chances reais de gol que teve, desperdiçou, por falta de concentração (ou de confiança) primeiro de Finazzi e, posteriormente, de Anderson Luiz. É verdade que, mais uma vez, a arbitragem interferiu no resultado final do jogo, deixando de assinalar um pênalti claríssimo do lateral Ilsinho sobre o ala pontepretano Fernando. Queiram ou não, os árbitros, sejam novatos, sejam veteranos, vêem a cor da camisa, no momento de assinalar os lances mais agudos. Ocorresse a jogada faltosa na área da Ponte Preta, a favor do tricolor e, certamente, o homem do apito teria assinalado. Ainda assim, gostei da atuação do time, a despeito da derrota. Afinal, o adversário não era nenhum timinho, mas o poderoso São Paulo que, desde setembro do ano passado, não sabe o que é uma derrota.

NO COBIÇADO GRUPO DOS 8

O que parecia um delirante sonho para a torcida bugrina, na estréia do técnico Carbone, na goleada diante do Rio Preto, por 5 a 0, se tornou grata e surpreendente realidade para o Guarani, após quatro vitórias consecutivas. Ou seja, a subida na tabela e a colocação no cobiçado “Grupo dos 8”, das equipes que vão disputar o acesso à Série A-1 do Campeonato Paulista na próxima fase. Foi uma seqüência histórica do Bugre, revertendo uma situação que chegou a ser desesperadora em certos momentos. É verdade que nos dois últimos jogos, ambos no Brinco, o time não se houve lá muito bem. O importante, contudo, é que venceu essas partidas – por 2 a 1, na quarta-feira, o Comercial de Ribeirão Preto e por um magro, mas importante, 1 a 0, ontem, quando derrotou o lanterninha da competição, o novato Osvaldo Cruz – mesmo jogando muito aquém das suas reais possibilidades. A classificação para a fase decisiva do campeonato, agora, está nas mãos do Guarani. Uma vitória em casa, diante da Internacional de Limeira, e um empate – ou frente ao São José, ou, no último compromisso dessa fase, sobre o Atlético Sorocaba – vai concretizar o que no início da temporada parecia apenas um sonho. Grande virada, portanto, esta do Bugre, que vai entrar para a sua história, com ou sem a obtenção da vaga.

TESTE DE FOGO PARA O ATUAL PLANTEL

A Ponte Preta tem, à sua frente, uma seqüência “infernal” de jogos, para definir sua sorte no Campeonato Paulista. A série começa neste fim de semana, quando o time enfrenta, em Bauru, o tinhoso e badalado Noroeste. Em seguida, pega, em casa, o bom Paulista de Jundiaí e o líder da competição, o Santos. Na penúltima rodada, vai a Marília e termina sua participação nesta fase do Campeonato contra o Sertãozinho, no Moisés Lucarelli. Caso vença todos esses jogos, estará entre os quatro melhores. Se fracassar, será mais uma competição que irá passar em brancas nuvens. Difícil? Sem dúvida! Impossível de ultrapassar esses obstáculos? Não! O time, mesmo sem ser brilhante, tem mostrado bastante eficiência nas mãos do técnico Nelsinho Baptista. É certo que ainda apresenta algumas deficiências, e nos três compartimentos da equipe. Na defesa, por exemplo, o setor direito tem mostrado muita fragilidade, com as dificuldades que André Cunha tem na marcação. O meio de campo joga muito recuado e os atacantes recebem poucas bolas em condições de arremate. Todavia, a Ponte evoluiu muito, em relação ao início da competição e, com um pouco mais de futebol, e um tantinho assim de sorte, pode surpreender todo o mundo e furar os prognósticos da crônica esportiva. Tomara que surpreenda, para queimar a língua desses cronistas parciais!

MURALHA VERDE DO BRINCO

A peça que mais evoluiu no Guarani, nas mãos do técnico José Luis Carbone, foi, sem dúvida, o seu setor defensivo ou, mais especificamente, sua zaga. Lino, Xandão e Danilo Silva estão tão entrosados que até parece que jogam juntos há anos, e não apenas há poucas semanas. E, nas raras ocasiões em que falharam, o goleiro Buzzetto fez verdadeiros milagres debaixo dos três paus, só faltando fazer chover. Com a defesa cumprindo o seu papel, nem é preciso o ataque jogar tanto. Um golzinho isolado, que pode até ser de bola parada (como aconteceu com a falta bem batida por Danilo Silva, contra o Comercial, ou com o pênalti cobrado com eficiência por Macaé, contra o Osvaldo Cruz), para o time somar três pontos a seu favor. Era o que faltava, por exemplo, ao Bugre nas mãos de Waguinho Dias: competitividade. Não adianta a equipe dar exibição se não consegue vencer. O que conta, claro, são as vitórias, não importa o placar ou a forma como é obtida. O Guarani, portanto, está no caminho certo. Desde que, claro, a defesa mantenha a atual invulnerabilidade.

ARANHA ESTÁ DE VOLTA

O goleiro Aranha, que sofreu uma grave contusão no jogo que a Ponte Preta perdeu para o Vila Nova, de Nova Lima, em Belo Horizonte, pela Copa do Brasil, já está recuperado e pronto para lutar pela camisa titular da equipe. E agora, o que Nelsinho Baptista fará? Afinal, o garoto Dênis vem apresentando atuações convincentes e, contra o São Paulo, mais uma vez, fez uma brilhante partida. Eu, se fosse o treinador, deixaria as coisas como estão. É verdade que Aranha perdeu a titularidade não por deficiência técnica, mas em decorrência de uma fatalidade, de acidente de jogo. Nada, todavia, justifica uma mudança neste momento. O garoto Dênis segurou a oportunidade que lhe apareceu com as duas mãos e não apenas correspondeu às expectativas, como as superou em muito. Quem ganha, sem dúvida, é a Ponte Preta, que pode contar, nesta reta final do Campeonato Paulista e no Brasileiro da Série B, com três ótimos goleiros (já que Vitor, procedente do Vitória, tem mostrado, nos treinos, que se tiver uma oportunidade, pode barrar seus dois companheiros de posição).

INTERIOR TEM QUE FICAR ESPERTO

Os clubes do interior, notadamente aqueles que fazem boa campanha no Campeonato Paulista, casos específicos do Noroeste, do Paulista, do São Caetano e do Bragantino, têm que ficar espertos nesta reta final da fase de classificação. Dois dos bichos-papões, considerados grandes, da Capital, Palmeiras e Corinthians, têm possibilidades reais de se classificar para as finais, ao lado de São Paulo e de Santos, virtualmente garantidos para a disputa do título. O alviverde do Parque Antártica, por exemplo, depois dos 4 a 2 que aplicou, ontem, sobre o Sertãozinho, na casa do adversário, já é um dos quatro primeiros classificados. Já o chamado “Timão” (que há muito não faz jus ao apelido), venceu, nos descontos, o Noroeste por 2 a 1 e renovou suas esperanças de chegar no G-4. Temo, sobretudo, pelas arbitragens, em favor do Palmeiras e do Corinthians. E se isso acontecer, certamente a bairrista crônica esportiva paulistana fará vistas grossas. Uma final, envolvendo os chamados quatro grandes, levará, certamente, muito cronista da Capital ao orgasmo. Todo cuidado, portanto, é pouco, para os principais times do interior. Não sei porque, mas tenho a impressão que “já vi esse filme”.

RESPINGOS...

· O baixinho Romário, com os três gols que marcou no sábado, contra o Boa Vista, está a apenas dois do seu milésimo. Não ficarei nada surpreso se o polêmico goleador atingir a marca histórica, que tanto persegue, no clássico do próximo domingo, no Maracanã, diante do Flamengo. Afinal, é o cenário perfeito para isso.
· O Paulista de Jundiaí, que na semana passada derrotou o Noroeste, em plena Bauru, ontem levou uma “chinelada” do Bragantino e foi goleado por 4 a 1.
· Dos quatro times que subiram neste ano para a Séria A-1 do Paulistão, o Guaratinguetá é o único que disse a que veio. Na pior das hipóteses, vai disputar o título do interior.
· O Santos continua impossível. Ontem, jogando com um time misto, derrotou o Ituano, em Itu, por 2 a 1. Em termos de plantel, não fica nada a dever ao poderoso São Paulo.
· O Fluminense não toma jeito mesmo. Foi o time grande do Rio que mais contratou nesta temporada. Todavia, não consegue engrenar. Ontem, perdeu, de novo, desta vez para o Botafogo, no Maracanã, por 1 a 0. E foi pouco!

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Os romanos tinham uma veneração toda especial pelos seus mortos. Veneravam os ancestrais desaparecidos como deuses e até erguiam altares no local mais nobre de suas casas para essa adoração. Esta, aliás, é a origem das lareiras, que não se destinavam, em absoluto, ao aquecimento das moradias, como ocorre hoje nos países frios e nem à simples decoração das residências, nos tropicais, como o Brasil. Era o local de culto dos entes queridos desaparecidos e sua lembrança permanecia viva através de muitas gerações. Todavia, nenhuma dessas pessoas é lembrada ou identificada hoje. Gaetan Picon escreveu que: “A obra não é eterna, mas a continuidade da criação artística, que a submete ao jogo das revivescências e das metamorfoses, é como uma miragem de eternidade”.

Amizades curtidas


Pedro J. Bondaczuk


A amizade é, dos sentimentos humanos, um dos que mais prezo. Claro, refiro-me à autêntica, à genuína, à prazerosa para ambos e à absolutamente desinteressada. Dado o meu temperamento expansivo, tenho uma certa facilidade em fazer amigos. E não é indispensável que haja afinidade de gostos e de idéias entre nós. Isto desmente o provérbio latino "simile simila". Ou seja, que "semelhante procura semelhante". Não é uma condição "sine qua non". Alguns amigos permanecem nessa especial condição por toda a vida. Tempo e espaço não são obstáculos para que o mútuo sentimento se mantenha vivo e até cresça. É o caso da turma do Rapa, de São Caetano do Sul, sobre a qual já tive oportunidade de escrever inúmeras crônicas. São amigos onipresentes. Moram dentro do coração.
No outro extremo, em virtude do meu temperamento ser um tanto explosivo e de eu ter a tendência, ou imprudência, de dizer tudo o que penso, sem medir as palavras, perco com facilidade algumas amizades. As falsas, evidentemente. Quando isso ocorre, não lamento muito. Às vezes até comemoro. O verdadeiro amigo não se melindra com pouca coisa. Sabe distinguir uma brincadeira, mesmo que de mau gosto, de uma crítica maldosa ou ferina. Sabe interpretar corretamente um "não".
Aqueles que querem me mudar, me moldar à sua feição, me despersonalizar, obviamente não gostam de mim. Não, pelo menos, da maneira que eu sou. Seria forçar muito a barra admitir que sejam meus amigos. Claro que não são. Não podem ser. No máximo, quando muito, são colegas, nada mais. Considero tais perdas, quando ocorrem, portanto, como normais e às vezes até como fatos positivos. Evitam decepções futuras. Trata-se de uma "seleção natural da espécie".
O escritor Mário da Silva Brito observou: "Olha, amizade é como picles: tem que ser curtida pelo tempo para bem se impregnar dos temperos que lhe dão sabor". E não é?! Nada mais verdadeiro! É certo que as recentes também são prazerosas. Estão repletas de descobertas. Na verdade, a amizade prescinde de regras, etiquetas e salamaleques. Dispensa formalidades. Não requer explicações. Existe porque existe e pronto. É intemporal (ou atemporal?). Nem é necessário que o amigo esteja presente para que continue sendo considerado como tal. Muitas vezes o distanciamento até aumenta a amizade. Quando ocorre o reencontro, é como se nunca tivesse havido separação. Um conhece os gostos e desgostos do outro. E, sobretudo, respeita-os. Trata-se de um sentimento em geral confundido com coleguismo. Mas está muito longe de ser apenas isso.
Colegas tenho aos montes. Nem sempre (ou quase nunca) posso confiar neles. Amigos tenho poucos, alguns muito antigos, outros de véspera. Mas todos preciosíssimos. Todos de confiança. Sua principal característica é a lealdade. São pessoas nas quais confio cegamente. Deposito, sem pestanejar, minha própria vida em suas mãos. Nem todos são da mesma faixa etária minha. Alguns são muito mais velhos. Outros, têm idade para ser meus filhos. Todos, no entanto, são absolutamente confiáveis. São leais. São sinceros. São gente...
Entre os amigos da juventude estão os fartamente citados em meus textos, por haverem se incorporado à minha vida e se acrescentado à minha pessoa, como o Zé Gordo, o Neuclair, o Eduardo "Patinhas", o Celso, o Marinho, o Paulo "Búlgaro", o João "Apedeuta" e vai por aí afora, numa sucessão de nomes (em geral acompanhados de apelidos carinhosos) quase que interminável. Entre os relativamente recentes, de uns dez a quinze anos para cá, alinham-se na maioria jornalistas. E isso tem explicação lógica. Há muito que o meu mundo se restringe a redações de jornais.
Entre estes posso citar o Hermano Pini, o Maurício de Moraes, o Roquenberg Duarte, o Josué Menezes, o Celso Bodstein, o Hermas Santos, o Mauro Sampaio etc. (que me perdoem os não mencionados, mas minhas amizades são tantas, que se fosse nomear a todas, passaria escrevendo horas sem fim). Alguns ocupam posições de destaque nos meios de comunicação. Outros, ou estão em fim de carreira ou, como eu, marcam passo e nunca saem do lugar. Nossa amizade, contudo, não envolve nenhuma espécie de interesse secundário. Existe porque existe e isso basta.
Um não quer e nem espera nada do outro, a não ser lealdade e sinceridade. Tenho amigos (talvez a maioria) que pensam e agem de maneira absolutamente diferente da minha. Mas sabemos conciliar nossas divergências. Respeitamos e até cultivamos nossas diferenças. Somos faces distintas da mesma moeda. É essa diversidade que dá tempero e substância à amizade.

Sunday, March 18, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O poeta grego Paladas de Alexandria, que viveu no século 4 da nossa era, sentenciou, num de seus poemas: “Vim nu à terra e nu irei para baixo dela./Por que canseiras vãs se o fim é só nudez?” Mas seria realmente assim? Tudo, nossos sonhos, esforços, canseiras, desgastes e ambições se resumiriam somente a isso? Para a maioria esmagadora dos seres humanos, sim! Vários bilhões de pessoas nasceram e morreram desde que a vida surgiu neste Planeta. No entanto, há registros, lembranças ou referências de apenas alguns milhares delas. Da esmagadora maioria, não há o mínimo vestígio da sua passagem pela existência. Nenhuma obra marcante, nenhum ato de coragem ou de covardia, de vileza ou de bondade, nada. Absolutamente nada. É como se tais homens e mulheres jamais houvessem nascido. E, no entanto, nasceram, amaram, odiaram, sofreram, tiveram alegrias e com certeza chegaram a se julgar o centro do universo. Pobre condição humana...

A Caixa de Pandora


Pedro J. Bondaczuk

O desastre verificado na usina nuclear soviética de Chernobyll, cujas conseqüências reais ainda são desconhecidas, conduzem o crítico a uma série de reflexões, baseado, não somente, neste caso específico, mas em vários outros. Como o verificado, por exemplo, em março de 1979, em Three Mile Island, nos Estados Unidos. Ou como os seguidos vazamentos de radioatividade verificados na unidade de Tsuruga, no Japão, que levaram as autoridades nipônicas a fecharem esse complexo, após o 39º acidente. Ou, então, como o caso verificado mais recentemente, na Grã-Bretanha, onde a radiação contaminou a produção leiteira de uma vasta região.
Quando a energia contida no interior de um átomo foi descoberta, a fantasia humana previu para ela milhares de aplicações em fins pacíficos. Chegou-se a falar, num tempo não tão remoto assim, até no seu uso em veículos automotores, nas grandes cidades mundiais.
Previu-se a remoção de montanhas em questão de horas, a abertura de túneis em fração ínfima de tempo (se comparada aos métodos convencionais) e outras utilizações em projetos megalomaníacos.
Hoje, à exceção de alguns navios de guerra, onde o combustível atômico tem vasta aplicação, para pouca coisa mais essa terrível energia tem servido ao homem. Ao contrário, nela, hoje, reside todo o nosso temor, e todo o nosso pânico, porquanto por esse meio, tudo o que foi feito no Planeta, e todos os seus habitantes, podem ser destruídos por essa fúria, capaz de ser deflagrada com o simples ato de se comprimir um determinado botão.
Mesmo que essa fonte energética possa servir para tudo o que se imaginou, o homem ainda não aprendeu como neutralizar um de seus principais efeitos colaterais: a emissão de raios gama, beta e sabe-se lá quantos e quais outros, letais para os seres vivos. Portanto, sua aplicação envolve infinitamente maiores riscos do que vantagens.
Pode-se dizer, até, que a energia nuclear é como aquela mitológica caixinha dos gregos, a de Pandora, que continha todos os males da Terra. No dia em que certo insensato a abriu, pestes, violência, morte e destruição passaram a assolar os povos.
A comparação é válida para a tremenda força existente no núcleo de um átomo. Vários cientistas admitem que acidentes, como o registrado na União Soviética, em que o coração do reator se derreteu e a própria usina foi tomada por um incêndio, podem matar milhões de pessoas. Algumas, no próprio desastre. Outras tantas, de uma forma mais cruel, lenta e insidiosa, mas fatal.
A própria URSS já teria passado por algo dessa natureza (embora suas autoridades sempre neguem a versão). Fotos tiradas por satélites, do território soviético, mostram uma região desolada, próxima aos Montes Urais, que apresenta um aspecto como se tivesse sido bombardeada por algum artefato nuclear.
Ali teria ocorrido, por volta de 1956, um desastre fabuloso, muito pior do que o ataque norte-americano a Hiroshima. Aldeias inteiras, que então constavam dos mapas, hoje já não existem mais. Quantos morreram ali (se for verídica a versão, e não há razões plausíveis para se duvidar da sua veracidade)? Cem mil pessoas? Duzentas mil? Quinhentas mil? Um milhão de pessoas?
Isso, provavelmente, jamais se saberá com certeza. Mas as fotografias de satélites mostram que alguma coisa de muito grave de fato aconteceu nessa área do território soviético. E de nada vai adiantar as autoridades desse país negarem a ocorrência.
Imagine o leitor se, ao invés de uma usina termonuclear, houvesse explodido – por algum desses acidentes inexplicáveis, mas sempre possíveis – um silo carregado de ogivas nucleares! E, pior, se por algum fenômeno diabólico, todavia plausível, a reação em cadeia, que conduz à fissão dos átomos, fosse deflagrada em cinco, ou em dez dessas bombas!
A esta altura, se ainda estivéssemos vivos, estaríamos à espera, somente, do pior. Ou de um longo inverno nuclear, que congelaria o Planeta, privado da luz solar por anos e anos. Ou de algo ainda mais apavorante: a insidiosa radioatividade, invisível, traiçoeira e implacável, que nos mataria lentamente.
E qual povo, obcecado pelo poder a ponto de agir, inconscientemente, como suicida, tem o direito de determinar o instante e a forma com que vamos morrer? Claro que nenhum! É por essa e muitas outras razões que devemos lutar, enquanto há tempo, para o banimento de todas essas engenhocas. Porquanto, cada dia que nasce está arriscado a se tornar o derradeiro em que vemos a luz do sol.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 30 de abril de 1986).

Saturday, March 17, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Quem acompanha, diariamente, o noticiário da imprensa, observa aspectos de um único e mesmo país, mas que, de tão diferentes e contraditórios, parecem ser de vários. Para fazer uma leitura correta dos conflitos sociais que afetam o Brasil, é necessária, e indispensável, uma visão de conjunto. Os pessimistas e derrotistas apegam-se, apenas, às imagens negativas e deprimentes, como a da violência e da criminalidade nos morros cariocas. Ou a da corrupção na política. Os otimistas e alienados, por seu turno, detêm-se, só, nas notícias positivas (cada vez mais raras, é mister destacar), esquecidos que elas são a realidade de uma minoria de brasileiros. É necessário que se tenha uma visão de conjunto, eqüidistante, neutra e despida de sectarismos e de preconceitos, para entender o que, de fato, se passa no País, para eliminar o que existe de ruim e de injusto e valorizar e generalizar os poucos aspectos positivos.

Miragem


Emerge, das brumas da memória,
bela, jovem e iluminada,
qual ícone, figura sagrada,
que integrou a minha longa história,

a sua imagem que me seduz.
Até mesmo sinto seu perfume,
cega-me o intensíssimo lume
do seu olhar, banhado de luz.

E eu, cansado da minha andança,
imprudente, como uma criança,
tento tocá-la com minha mão.

Não posso...Fracasso...Frustração...
Esvai-se minha louca esperança:
Você é miragem...ilusão...

(Soneto composto em 27 de dezembro de 2004 em Campinas).

Friday, March 16, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Será que cada um de nós está fazendo, de fato, o melhor não somente para si, mas para a comunidade em que vive? Muitos asseguram que fazem o que podem. Não é o suficiente. O estadista britânico, Winston Churchill, tem uma frase lapidar para essas pessoas: “Não tem sentido dizer que fazemos o melhor que podemos. Temos que conseguir fazer o que é necessário”. Como saber isso, todavia? É preciso sinceridade e muito rigor analítico, que somente alguns poucos sábios conseguem desenvolver. A tendência natural do ser humano é sempre achar que faz demais, mesmo que não faça nada que seja de fato valioso. Nada, porém, se constrói sem trabalho competente e bem-planejado, sem esforço corretamente dirigido e, até, sem uma certa dose de sacrifício. Compete-nos, pois, fazer não somente o que podemos, mas, sobretudo, o que for necessário, mesmo que isso nos exija imensa capacidade de superação.

Só promessa


Pedro J. Bondaczuk


O sucesso, que buscamos com tanta intensidade e afã, a ponto de, não raro, sacrificarmos tanta coisa boa que poderíamos usufruir, quando obtido, às vezes, pode significar um grande mal e não o bem que pretendíamos. Corremos o risco da acomodação, fatal para as nossas pretensões. Se não nos impusermos novos objetivos, estaremos nos arriscando a nos transformar em “mortos vivos”, em pessoas que vivem apenas por viver, sem sonhos, metas, conquistas ou fracassos que, se bem-administrados, têm lá o seu caráter didático..
O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw escreveu a esse respeito: “Temo o sucesso. Ser bem-sucedido é ter terminado nossos assuntos na terra, como o macho da aranha, que é morto pela fêmea no momento em que foi bem-sucedido em seu namoro. Gosto de um estado de contínuo vir a ser, como um objetivo à frente e não atrás”. Muita gente, porém, leva (mesmo sem conhecer a citação do eminente ganhador do Nobel de Literatura de 1925) longe demais.
A única meta, que de tão grandiosa não conseguirá jamais ser alcançada, é a de amar sem-limites, tanto os que mereçam, quanto (e principalmente) os que não sejam merecedores do nosso amor. O resto... Bem, o resto não é mais do que fumaça. Não passa de meras ilusões. Ademais, não basta nos limitarmos a ter objetivos. Temos que nos empenhar ao máximo para que eles se concretizem (desde que factíveis, é claro).
Carlos Pantaleão (obviamente, este é um nome fictício, embora o personagem seja real) dizia para todos que era escritor. Todavia, nunca havia escrito um só livro. Apregoava, aos quatro ventos, que estava trabalhando num romance e até resumia o seu enredo. Mas... escrever mesmo, que é bom... nada! É verdade que havia publicado alguns artigos e algumas crônicas até que razoáveis no jornalzinho do bairro em que ambos residíamos. Achava que isso o credenciava a se considerar um novo Fernando Sabino, ou, quem sabe, um Rubem Braga campineiro. Exagero, claro. Não que não tivesse talento, longe disso. O que não tinha era autodisciplina, garra e, em suma, vontade. Pudera! Contava com alguém para bancar os seus caprichos. Ou, melhor dizendo, sua malandragem.
Carlos não trabalhava há muito tempo. Estava desempregado há uns cinco anos e vivia às custas de Elza, sua mulher, vendedora em uma loja de sapatos da cidade, que fazia das tripas coração para manter a casa. Nosso projeto de escritor passava dias e dias num bar, a pretexto de “observar personagens” para seu propalado romance. Apesar de se tratar de desculpa visivelmente esfarrapada, sua dócil e crédula esposa acreditava nele.
Passados, porém, três anos que o conheci, não havia escrito uma só linha do tal livro. Certamente, jamais iria escrever. Reitero que não lhe faltava talento. Vivia se exibindo, como um prestidigitador das letras, no bar, compondo versos e mais versos, em papel de embrulhar pão (que o dono do boteco lhe dava), em troca de uma dose de bebida.
Estava sempre duro, já que a mulher não tinha como manter, simultaneamente, a casa e ainda, por cima, custear a sua malandragem (que ela, frise-se, não encarava dessa forma). Mas não faltava quem lhe pagasse alguma generosa dose de conhaque (e ele fazia questão de pedir sempre o mais caro), em troca de suas poesias. Li alguns versos seus e achei-os muito bons. Carlos, porém, não fazia questão sequer de os guardar. Esbanjava talento e tempo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Elza chegou ao cúmulo de cortar relações com várias amigas (inclusive com minha mulher), que tentavam alertá-la sobre a malandragem do marido. Ficava furiosa com quem sequer insinuasse que estava sendo ingênua e se deixando enganar por um sujeito de muita lábia, mas de pouco, ou nenhum caráter. Confiava cegamente no seu homem e estava convencida que seu sacrifício era um investimento no futuro, uma necessária contribuição para o sucesso do “trabalho” do amor de sua vida. Num bar?!!! Ora, ora, ora, querida Amélia!!! É surpreendente que, em pleno século XXI, ainda existam mulheres como ela!
Há tempos que não encontro com Carlos e que nem passo pelo boteco onde essa “promessa de escritor” dá a entender que seja a sua “redação”, no qual (garantia) faria “laboratório” para produzir seu best-seller. Não ficarei, porém, nada surpreso se, a esta altura, estiver na rua da amargura, sem o respaldo de Elza. Afinal, até ingenuidade (ou seria burrice mesmo?), quando em demasia, um dia cansa. Não sei se Carlos conhece a observação de Shaw, sobre o lado nocivo do sucesso (creio que não conheça). Mas, se conhecer, está levando longe demais esse belo pretexto para a sua, digamos, vagabundagem explícita.

Thursday, March 15, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O caminho para o sucesso é áspero e pedregoso e, mesmo assim, quem o percorre jamais tem absoluta segurança de que o vá alcançar. Todavia, essa vereda acidentada deve ser trilhada pois, caso contrário, haverá uma certeza, porém desagradável: jamais o êxito – dependendo do que cada um considere que ele seja – será obtido. É o que ocorre, atualmente, no Brasil. Por serem sacrificadas, as pessoas não estão dispostas a mais sacrifícios. Várias gerações cresceram, amadureceram e morreram ouvindo a afirmação de que este era o país do futuro. Chegaram a dizer que “Deus é brasileiro”, dada a excelência do solo, do clima e das condições geológicas deste País. No entanto, o que observamos, estarrecidos e atemorizados, é um contínuo retrocesso nacional, pelo menos no que diz respeito aos parâmetros sociais. Hoje, de acordo com dados estatísticos existentes em profusão, o Brasil é uma das sociedades mais injustas do Planeta.

Racionalidade é sonho


Pedro J. Bondaczuk


O homem, num determinado instante da sua trajetória pelo Planeta (que não se sabe quando foi) adquiriu, surpreso, a consciência de que existia. Foi quando começou a exercitar uma faculdade que o distinguia dos outros animais: a de pensar.

As três primeiras indagações que lhe vieram, então, à mente, embora certamente não colocadas com tanta clareza, foram: O que sou? Onde estou? Para onde vou? Da tentativa de resposta a estas três questões surgiram as ciências, as artes, as filosofias e as religiões.

Milhões de hipóteses foram levantadas, uma quantidade incontável de textos foi escrita em torno desse primitivo tema. Ninguém, todavia, respondeu, de forma incontestável: O que sou? Onde estou? Para onde vou?

Renè Dèscartes, por exemplo, na tentativa de buscar a verdade, negou, inicialmente, a existência de tudo. Depois, partiu de uma premissa básica para "negar" a sua negação: a célebre "cogito, ergo sum". Ou seja: penso, logo existo. Talvez hoje, a rigor, a única conclusão exata a que possamos chegar ainda seja apenas esta.

O que é a vida? É, sobretudo, um mistério. É muito mais do que meros conjuntos de aminoácidos combinando para formar proteínas componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito que seja, conseguiu isolar, separar, dissecar, posto que é imaterial.

O homem, por exemplo, simula em sua constituição orgânica o próprio universo. É regido pelas mesmas leis e princípios naturais. Tem, em suas células, bilhões e bilhões de vidas independentes. De sistemas vivos que nascem, crescem, reproduzem-se e morrem constantemente.

A cada dia somos "outros" e no entanto somos os mesmos. Continuamos vivendo. Esse quê de imaterial passa das células moribundas para as recém-nascidas, num processo que só termina quando o indivíduo, como um todo, morre. E para onde vai de fato essa chama que nos anima?

Na ausência de explicação, multidões recorrem ao expediente da fé. Apesar da raridade da vida, tanta gente atenta, 24 horas por dia, 365 dias de um ano, através de décadas, séculos, milênios, contra esse dom, esse mistério, esse milagre.

Filmes, novelas, histórias passam a impressão, a cada momento, que matar é um ato normal. Que isso faz parte do processo de seleção natural existente no mundo. Claro que essa visão não é a correta! Lógico que essa posição é sumamente imoral! Evidentemente não é uma atitude de um ser racional, capaz de saber o que é o bem e o que é o mal. No entanto, é a que ainda predomina, mostrando que o homem ainda tem muito a aprender para que de fato possa ser racional.

Wednesday, March 14, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O problema do menor abandonado no País não é recente. Vem de longa, longuíssima data, talvez desde o início da nossa colonização. Recordo-me de haver topado com a questão ainda na meninice, na década de 50. Muita história rolou desde então no País. Tivemos o plano desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek, que pretendia realizar, em cinco anos, o que seus antecessores haviam feito em 50. Passamos pelo “milagre” econômico que, hoje sabemos, não foi tão milagroso assim. Mas o problema do menor abandonado ficou sem solução. Por isso, agravou-se. Não é de se estranhar, pois, que a violência urbana tenha crescido tanto. Afinal, as crianças crescem e se não tiveram infância e conviveram apenas com a miséria e o abandono, se tornam, em geral, salvo exceções, adultos revoltados, contra tudo e contra todos, insensíveis, perigosos e destrutivos.

Gênios e néscios


“A estupidez é muito mais fascinante que a inteligência. A inteligência tem os seus limites, a estupidez não”. Esta constatação, meio que mal-humorada, contudo verossímil (desconfio que verdadeira), é do consagrado diretor de cinema francês, Claude Chabrol. Peço licença ao paciente leitor para lembrar (aos que não o conhecem) e informar (obviamente aos que sabem de quem se trata), que o referido cineasta, com vitoriosa carreira de mais de 40 anos, tem, em seu volumoso currículo, cerca de 50 filmes.

É considerado, pelos cinéfilos, o “papa da nouvelle vague”. Entre suas tantas obras cinematográficas que dirigiu, podemos citar, meio que aleatoriamente: “Le beau Serge” (sua primeira produção, de 1958), “Os primos” e “A doublé tour” (1959); “Les bonnes femmes’ (1960); “Les biches” (1968); “La femme infideli” e “Le Boucher” (1969); “Que la bête meure” (1970); “Madame Bovary” (1991); “A dama de honra” (2004) e vai por aí afora.

Mas, voltemos ao tema que sempre me fascinou, sobre gênios e néscios que, aliás, foi sugerido pelo leitor Renato Manjaterra, e que serve como pretexto para este nosso descontraído bate-papo (na verdade, monólogo, pois a palavra agora está comigo; mas que pode se constituir em diálogo, e até em debate, pela interatividade propiciada pela internet). Fala-se, amiúde, em “talento”, entendido pela maioria como aptidão inata para determinadas atividades. Mas, pergunto: essa suposta facilidade para escrever – ou para compor um poema, ou para jogar futebol, ou para rodar um filme, ou para criar uma sinfonia, ou para fazer um samba de qualidade – é garantia de sucesso a quem a tem? Depende! Temos que admitir, porém, que se trata de uma poderosa arma. Contudo, requer, para funcionar, outras tantas virtudes associadas, como sensibilidade, bom-senso, conhecimento, inteligência etc., e, sobretudo, paciência. Muita paciência.

Nesse ponto, concordo plenamente com Gustave Flaubert (como se vê, nem nessa conclusão sou original). O talentoso autor de “Madame Bovary” (romance que ganhou instigante versão cinematográfica, dirigida por Claude Chabrol) escreveu, a propósito: “Talento é paciência sem fim”. E não é?! Portanto, ninguém, por mais genial que seja, produz nada que preste contando, apenas, com certa aptidão para isso. As obras que realmente valem a pena requerem, reitero, entre tantas e tantas outras virtudes, sensibilidade, bom-senso, conhecimento, inteligência etc. e... paciência, claro!

Outro conceito que causa controvérsia é o de sabedoria. Há quem confunda essa virtude com conhecimento, com cultura, com informação etc. Claro que se ela vier associada a tudo isso, será bem melhor. Haverá de beirar a genialidade. Mas não depende de nada disso. Conheço muitos analfabetos, incapazes de desenhar um “o” e que, no entanto, têm uma sabedoria capaz de causar inveja a Salomão. Em contrapartida, também convivo com pessoas cuja parede está forrada de diplomas, que têm bibliotecas volumosas e muitíssima leitura, que gozam de projeção social e são tidas como “intelectuais” que, no entanto, não enxergam um palmo à frente do nariz. Certamente, o leitor também conhece gente assim.

Aliás, o escritor polonês Henryk Sienkiewicz, autor do best-seller “Quo Vadis”, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1905, escreveu o seguinte, a esse respeito, em seu romance (pouco-conhecido) “Em vão”: “Sábio!...Sábio!...Sábio: palavra sonora e formosa! Mas...de que nos servirá o ser sábio, se nem sequer sabemos apertar o nó, se descuidamos da educação de nossos filhos, se deixamos nossa mulher sem amparo, se abandonamos nossos pais?” Isso, para mim, está longe de ser sabedoria.

Finalmente, resta abordar mais um conceito, amiúde citado, mas pouco entendido: o da genialidade. Seria a exacerbação da sabedoria. Gênio, pelo menos no entendimento comum, é aquele com capacidade (intelectual, manual, ou ambas, não importa) fora do comum. Convenhamos, escasseiam, no mundo, pessoas com essas características. E sempre foi assim.

A esse propósito, recorro, novamente, a Sienkiewicz, que coloca na boca de um personagem, no mencionado romance “Em vão”, a seguinte observação: “No cérebro humano, o curso das idéias pode tomar direções; numa, as idéias vão, certamente, desde o centro à periferia; noutros, desde a periferia convergem o centro. Os primeiros tomam um objeto como matéria de estudo, dão-lhe vida e, com o fio das experiências, o fazem remontar à sua fonte originária. São os gênios criadores; os segundos se agarram aos objetos e os levam a suas próprias fontes pessoais, unificando-se, absorvendo-as, dividindo-as e classificando-as; estes são os homens de ciência. Os primeiros, criam; os segundos, escrutam e observam. Há entre essas duas direções uma diferença análoga à que existe entre a avareza e a prodigalidade, entre a inspiração e a expiração”.

Pelo exposto, até é possível entender a razão de tanta gente optar pela mediocridade (posto que inconscientemente), quando não pela burrice explícita. É muito mais fácil! Não exige nenhum esforço! Basta deixar as coisas acontecerem, sem interferir, e pronto. Tem como principal característica a omissão. Ser néscio, convenhamos, não exige nada, nada de especial. Não requer, por exemplo, talento e as virtudes a ele associadas (sensibilidade, bom-senso, conhecimento, inteligência etc. e... claro, paciência, muita paciência). Chabrol tem, portanto, toda a razão do mundo em seu mal-humorado desabafo. De fato, “a estupidez não tem limites”.

Tuesday, March 13, 2007

REFLEXÃO DO DIA


William Somerset Maugham observou, a propósito do comportamento das pessoas em seus relacionamentos do dia-a-dia, no romance “Catalina”: “Uma comédia análoga às que vemos levada à cena nos palcos dos teatros é também representada no palco do mundo. Todos nós somos atores de uma peça. A alguns cabe-lhes em sorte o papel de reis ou prelados, a outros o de mercadores, soldados ou agricultores, e cada um deve tratar de representar a parte que lhe foi designada. Escolhê-las, porém, compete a um poder mais alto”. Só através da autenticidade, da solidariedade e do amor, portanto, é que se poderá, um dia, caso se comece hoje, agora, neste preciso instante, tentar empreender a grande tarefa que nos compete executar: a de humanizar o homem!

Poeta das Américas


Pedro J. Bondaczuk


A literatura latino-americana de língua espanhola vem produzindo, ao longo dos dois últimos séculos, escritores de primeiríssima linha, no romance, na poesia, no conto, na crônica, no ensaio, etc., que extrapolam não apenas as fronteiras dos seus países de origem, mas do continente e, principalmente, do hemisfério. Conquistaram, com seu talento e magia, a merecida universalidade. E quanto mais o tempo passa, mais suas obras se consolidam, se impõem, luzem pela extraordinária beleza e pelas qualidades temáticas, artísticas e de estilo que ostentam.
Nomes como os de Pablo Neruda, Jorge Luís Borges, Gabriel Garcia Marquez, Octávio Paz, Mário Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Augusto Roa Bastos, Ernesto Sábato, Júlio Cortazar, Amado Nervo, Rubén Dario, Juan Rulfo e tantos e tantos outros, impõem-se, com justiça, como marcos literários da humanidade. Alguns conquistaram, com amplos méritos, o cobiçado Nobel de Literatura. Outros integram a vasta galeria dos injustiçados, daqueles que mereceram o prêmio sem, no entanto, ser agraciados com ele (na qual devem ser incluídos, sem dúvida, vários brasileiros, como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira, João Guimarães Rosa e vários outros)..
Embora traduzidos em praticamente todas as mais importantes línguas do Planeta, editados nos mais diversos e remotos lugares do mundo (e, claro, também no Brasil), alguns desses escritores são pouco conhecidos entre nós, mesmo pelos nossos mais eruditos intelectuais. Parece, salvo honrosas exceções, que o brasileiro nutre até um certo preconceito em relação a luminares da Literatura da América Latina. Mesmo dos consagrados, que conquistaram o Nobel, é mister frisar. Nossa influência literária – diria estética, incluindo as artes plásticas e a música erudita – é, basicamente, européia, notadamente francesa e russa.
Uma das escritoras menos conhecidas (e menos lidas) em nosso país é a poeta chilena (ou poetisa? Há quem diga, não se sabe porque, que esta expressão tem cunho machista!) Lucila Godoy Alcayaga, que se consagrou mundialmente com o pseudônimo de Gabriela Mistral. Trata-se de figura extremamente fascinante, sob qualquer aspecto que se analise, tanto no da sua vida pessoal, marcada pela trágica perda (suicidou-se quando tinha apenas 17 anos de idade) do único homem que, de fato, amou, quanto na da profissional, (professora por escolha e vocação), e na da literária.
Natural da Patagônia chilena, dos vales frios e permanentemente nevados de Elqui, onde nasceu em 7 de abril de 1889, na cidade de Vicuña, era dotada de extraordinária sensibilidade e habilidade no manejo do idioma. Só poderia, mesmo, acabar poeta, como acabou. E mais: premiada, com justiça, com o Prêmio Nobel de Literatura em 1945 pelo livro, "Desolacion", que segue sendo reeditado, sucessivamente, em vários países da América Latina e principalmente no seu Chile natal, 47 anos após a sua morte. Pois, à medida que o tempo passa, mais a sua poesia ganha interesse e permanência, por sua universalidade, transcendência e, sobretudo, por ser atemporal.
Entre suas muitas obras – a maioria dos textos escrita para jornais e álbuns de recordações de amigos – destacam-se: “Ternura” (editada em 1924, dedicada a pequenos poemas, como “Halazco”, “Apegados a mi” e “Piececitos”); “Leituras de mulheres e crianças” (1924); “Nuvens Brancas”(1929, de prosa): “Breve descrição do Chile” (1934); “Tala” (que Gabriela Mistral considerava sua obra-prima, lançada em Buenos Aires, em 1939, cujos direitos foram doados às crianças vítimas da Guerra Civil espanhola, onde está incluído o magnífico poema “Todas deveríamos ser rainhas”); “Poema das Mães” (1950); “Lagar” (em prosa e verso, 1954); “Recados contando o Chile” (póstuma, 1958, recompilada pelo padre Alfonso Escudero); “Epistolário” (1960) e “Poema de Chile” (1966, organizada por sua enfermeira, companheira e amiga, a norte-americana Doris Dana, nove anos após a sua morte).
A notável escritora – que não se considerava como tal, mas como simples professorinha, atividade que tanto amou e exerceu, com carinho, dedicação e incomparável devoção, por muitos e muitos anos – e diplomata – foi, entre outras coisas, cônsul chilena na cidade fluminense de Petrópolis – morreu, no Hospital Geral de Hampstead, em Nova York, às 4h10 de 10 de janeiro de 1957. Seu falecimento, aos 67 anos, causou enorme comoção no Chile. Seus funerais foram apoteóticos, com honras de chefe de Estado, e ocorreram em 21 de janeiro, em Santiago, reunindo imensa multidão, que acompanhou, comovida e desolada, o sepultamento dos seus restos mortais.
O governo chileno decretou, na oportunidade, três dias de luto oficial. Houve homenagens para a extraordinária escritora em toda a América Latina e na maioria dos países do mundo. Por disposição testamentária – em documento lavrado em Nova York, em 17 de novembro de 1956 – Gabriela Mistral doou todos os direitos autorais de suas obras que fossem publicadas dali em diante, na América do Sul, às crianças de Monte Grande. Foi mais um (e último) gesto de grandeza e de solidariedade desta que é, com toda a justiça, considerada a “Poeta das Américas”. Voltaremos, certamente, a tratar da sua trajetória e da sua obra.

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Monday, March 12, 2007

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Do site oficial da A. A. Ponte Preta e de Wander Roberto da VIPCOMM)

TERCEIRA VITÓRIA CONSECUTIVA

A Ponte Preta obteve, ontem, no Majestoso, a terceira vitória consecutiva no Campeonato Paulista da Série A-1, ao derrotar o bom time do América de São José do Rio Preto, por 3 a 2. Com os nove pontos conquistados em apenas uma semana, a Macaca deixou para trás os perigosos arredores da zona de rebaixamento e agora ousa sonhar com algo mais ambicioso, ou seja, com a colocação entre as quatro equipes que vão disputar o título estadual da temporada. Difícil? Sem dúvida! Afinal, esta é a mais qualificada competição regional do País, quiçá do mundo. Impossível? De jeito nenhum! É verdade que o time não teve o mesmo bom-comportamento das partidas anteriores. O ataque, porém, mesmo na ausência do matador Finazzi, fez a sua parte. Afinal, fez três gols. O setor vulnerável, mais uma vez, foi a peça defensiva. Até o bom goleiro Denis, que vem apresentado excelente performance desde que assumiu a camisa titular com a contusão de Aranha, falhou, ontem, no primeiro gol do América. O importante, porém, é que a Ponte manteve a invencibilidade em seus domínios no atual campeonato, tendo perdido em casa somente quatro pontos, nos empates com o São Bento e o Bragantino. Não fossem esses tropeços, e a alvinegra já estaria no seleto G-4.

MENINOS DO BRINCO REVERTEM SITUAÇÃO

O Guarani renasceu, no Campeonato Paulista da Série A-2, e agora até já pode sonhar com uma classificação entre os oito primeiros colocados da competição, que irão disputar as quatro vagas do acesso para a elite do futebol paulista. Os meninos do Brinco voltaram a encantar a direção técnica, a crônica esportiva e, sobretudo, a sofrida torcida bugrina, e deram um “passeio” no Botafogo de Ribeirão Preto, em pleno Estádio Santa Cruz, vencendo (e convencendo) o Pantera da Mogiana por 3 a 0. Basta, agora, vencer os dois jogos que tem em casa, contra o Comercial e Oswaldo Cruz, adversários teoricamente muito fracos, para que, aquilo que há 10 dias era apenas um sonho delirante, se transforme em grata realidade. Méritos para o veterano treinador José Luiz Carbone, que fez uma aposta de alto risco, nos garotos da categoria de base, e se deu bem. Os meninos agarraram a oportunidade que lhes foi dada com unhas e dentes e reverteram por completo uma situação que era desesperadora, principalmente depois da goleada que o Guarani sofreu diante do Rio Preto, por 5 a 0. Prêmio, pois, à ousadia de um técnico que, estranhamente, estava, há já um bom tempo, longe dos refletores da mídia, mas cuja competência não se pode jamais contestar.

PRÊMIO À EFICIÊNCIA

O meia João Marcos, desde que chegou ao Majestoso, procedente do Marília, vinha se constituindo no destaque deste novo time da Ponte Preta, que só agora começa a se entrosar e a jogar em sentido coletivo. Com um fôlego invejável, o atleta corre os 90 minutos, marcando, desarmando, passando bolas e servindo, sobretudo, o grande matador do time, Finazzi. Mesmo no período em que a equipe toda mostrava nítida falta de condicionamento físico, João Marcos destoava dos companheiros. Corria como se já estivesse jogando no time há mais de um ano. Há já umas oito ou nove partidas, o meia vem se constituindo na principal peça do time, no “pulmão” da Ponte Preta, mas faltava-lhe uma coisa que o angustiava: o gol, que ele perseguia com muito empenho. Na ansiedade de fazê-lo, inclusive, o jogador deixou, em algumas oportunidades, de passar a bola para companheiros melhor colocados, tentando o arremate e desperdiçando preciosas chances. Desde ontem, porém, o bom meio-campista não precisa mais se preocupar com isso. Fez, diante do América, um gol importantíssimo, fundamental para garantir não só a tranqüilidade pessoal, mas a sofrida vitória da Ponte, num momento em que a equipe estava acuada pelo adversário e jogava muito mal. Foi, portanto, um merecido prêmio à eficiência. E outros tantos gols virão, tenho certeza, nos próximos jogos. Afinal, João Marcos já mostrou, em campo, que é bom de bola.

CENTRO-AVANTE MODERNO E FEITO EM CASA

Entre os meninos do Brinco, que estão resgatando a história e a honra do Guarani, um dos que mais me chamaram a atenção é o centro-avante Tales. O leitor dirá, surpreso: “como, se sendo centro-avante, o garoto ainda não fez nenhum gol”?! Não fez por enquanto. Mas, certamente, ainda fará, e muitos. Tales é um atacante moderno, que não se limita a ficar plantado na área adversária, à espera de uma bola espirrada ou de uma falha dos zagueiros. Tem muita mobilidade, excelente toque de bola e é um dos responsáveis pelo ataque bugrino haver desencantado na competição, dando início à sua já memorável recuperação. Até aqui, o garoto vem servindo de “garçom”, fazendo passes preciosos aos companheiros melhor colocados. Graças à sua presença no comando do ataque do Guarani, o futebol de Lê cresceu a olhos vistos e quem sai ganhando, obviamente, é o time todo. Tales mostra, sobretudo, boa cabeça e não se deixou empolgar pelos elogios. O garoto, portanto, está no caminho certo e não vai tardar para que se transforme num ídolo da sofrida torcida do Guarani. E ele merece!

POLÊMICO, PORÉM GENIAL

A polêmica sempre foi a marca registrada de Romário, praticamente desde o início da sua brilhante carreira. Uma das mais conhecidas, refere-se à sua não-convocação para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1994 (disputada nos Estados Unidos). O marrento baixinho só foi chamado a integrar a equipe, e com a missão de ser o “salvador da pátria”, no jogo decisivo contra o Uruguai, disputado no Maracanã. Romário foi convocado às pressas, chamou para si a responsabilidade, e todos sabem o que aconteceu. Arrebentou a defesa uruguaia e garantiu a presença brasileira – seriamente ameaçada na ocasião – no Mundial que, a exemplo de Garrincha em 1962, foi o grande destaque e o principal responsável pela conquista do tetra. A polêmica atual refere-se aos mil gols que o Baixinho tanto persegue, antes de encerrar sua brilhante carreira. Não importa se ele chegou, ou não, a essa marca, contabilizando as vezes que visitou as redes adversárias em amistosos ou em partidas de juvenis, como maliciosamente se propala. O que chama a atenção é a sua determinação de alcançar essa marca. E ela está perto, muito próxima de ser alcançada. Faltam, somente, cinco gols para que Romário chegue aos mil. E, em vez de ser ridicularizado por parcela expressiva da crônica, como vem ocorrendo, deveria ser, na verdade, louvado como um dos cinco maiores jogadores do mundo de todos os tempos. É fogo alguém conseguir reconhecimento público no Brasil! Êta corja de invejosos!!!

AVANT-PREMIÈRE DA FINAL

São Paulo e Santos fizeram, ontem, na Vila Belmiro, um jogo que tem tudo para ser uma amostra antecipada da grande final do Campeonato Paulista de 2007. É certo que, no sistema mata-mata, adotado para este ano, tudo pode acontecer. É possível o favorito, que liderou toda a competição, ser vencido por algum time que tenha se classificado na “bacia das almas” e deixar o título escapar por entre os dedos. Entendo que essa forma de decisão – para muitos, mais emocionante – sumamente injusta. Pune a eficiência. O clássico de ontem foi trepidante. Em campo estavam os dois times que são, disparados, os melhores da atualidade, em termos técnicos, do futebol brasileiro. O primeiro tempo foi todo do tricolor do Morumbi, que perdeu inúmeras oportunidades. No segundo, as coisas se inverteram e o Santos mostrou maior eficiência em todas as suas peças, notadamente no ataque. Nessas circunstâncias, o resultado, de 1 a 1, fez plena justiça ao que as duas equipes mostraram em campo. Foi um jogão, digno de uma final. E, a menos que ocorra algum fortuito acidente de percurso, o título paulista da temporada será de um desses dois times. Qual dos dois? É impossível de se prognosticar!

RESPINGOS...

· O goleiro Marcos, do Palmeiras, está, mesmo, numa interminável maré de azar. Ontem, fraturou o braço, numa jogada boba com um avante do Juventus. Resta torcer por sua pronta recuperação. É um grande cara, admirado por todos por sua simplicidade e sinceridade.
· O Paulista de Jundiaí é, na atualidade, um dos melhores times do Estado ou, pelo menos, um dos mais competitivos. Ontem, foi a Bauru e derrotou o badalado Noroeste, por 2 a 1.
· O Corinthians, embora jogando mal, redimiu-se, ontem, dos maus resultados anteriores e venceu o bom Bragantino, em Bragança Paulista, por 2 a 1.
· O meia chileno Valdívia, conhecido em seu país como “El Mago”, deu a volta por cima no futebol brasileiro. Logo que chegou ao Parque Antártica, foi ridicularizado por parte da imprensa. Ontem, porém, só faltou fazer chover, na goleada do Palmeiras, sobre o Juventus, por 4 a 1.
· Outro time que precisa ser observado com bastante atenção, na Série B do próximo Campeonato Brasileiro, é o Vitória. Ontem, o rubro-negro baiano sapecou um 4 a 2 no seu maior rival, o Bahia, em plena Fonte Nova, diante de um público excepcional, de mais de 50 mil torcedores.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


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