Friday, March 31, 2017

TRANSFORMANDO “VENENO” EM POÇÃO RESTAURADORA

A poesia, posto que não raro bela (às vezes de beleza trágica) tende a ser cruel com quem a capta e a transmite. Os poemas de maior beleza, por estranho que pareça, nascem do desencanto, da dor da perda, da frustração sem esperança e dos males da alma sem remédio de quem os engendra. Mas o poeta – que a transmite – que a escreve com lágrimas, bílis e sangue, tem o dom especial, a magia interdita aos mortais comuns, de transformar “veneno” em poção restauradora e eficaz, que tanto encanta, embevece, maravilha e consola quem lê seus versos nascidos do desespero e, sobretudo, quem os “sente”. Essa poesia é como aquelas magníficas flores silvestres, de encanto absurdamente imenso, mas que contém traiçoeiros espinhos na haste, que impedem que os não iniciados as colham sem proteção nas mãos. Manuel Bandeira deixa isso muito claro, nestes magníficos versos com que encerra o poema “Desencanto”:  


“Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

Eu faço versos como quem morre”.

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Livros que recomendo:

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Os grandes perdedores



Pedro J. Bondaczuk


O cientista político italiano Norberto Bobbio afirmou, numa entrevista, que “a democracia é o estado no qual a luta contra o abuso de poder é travada paralelamente em duas linhas: contra o abuso de poder que parte do alto em nome do poder que vem de baixo, e contra o poder concentrado, em nome do poder distribuído”. A citação vem a propósito de uma notícia dando conta de que, em 1993, o governo e o setor financeiro lucraram US$ 21,7 bilhões com a inflação.

Tal constatação desmente as afirmações de ministros e de políticos em épocas de campanha de que todos perdem com essa disfunção econômica, concentradora de renda. Do montante citado, US$ 12,8 bilhões foram para os cofres do Tesouro, enquanto os restantes US$ 8,9 bilhões desse lucro couberam aos bancos.

O deputado e ex-ministro Delfim Netto costuma citar, freqüentemente, um princípio lógico, que embora óbvio, nem todos se dão conta. O de que, sempre que alguém lucra, certamente, outro alguém saiu perdendo. E quem perdeu, neste caso, com a inflação?

Um levantamento do Banco Central responde a esta questão. O referido relatório revela que mais de 59% da população brasileira não tem acesso sequer à caderneta de poupança como forma de proteger seu dinheiro da corrosão inflacionária. Estes, que somam 115 milhões de habitantes com mais de 10 anos de idade, os grandes perdedores.

Os titulares das 47,2 milhões de contas, que constituía, em 1993, o universo dos poupadores, se não lucraram, pelo menos não tiveram perdas. Outro aspecto a considerar é o fato de uma inflação baixa nem sempre significar justiça social. O combate às altas taxas inflacionárias deve vir acompanhado de medidas tendentes a gerar empregos à população.

Exemplo atual são os casos do México e da Argentina, países que nos últimos dias estiveram às voltas com sangrentos conflitos. Os mexicanos obtiveram, em 1993, índices notáveis, fechando o ano com um acumulado anual de apenas 5%. Todavia, 20% dos seus trabalhadores estão desempregados.

Os argentinos emplacaram uma inflação de 7% no ano passado. Porém, 10% da sua população não tem trabalho e o país ostenta um nível de empobrecimento de 30%. Combate à inflação e justiça social, portanto, devem andar lado a lado na promoção do desenvolvimento.  

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de janeiro de 1994)


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A alma da Literatura

Pedro J. Bondaczuk

A “alma” da Literatura, o imã que atrai nossa atenção de leitores para determinado texto e que faz com que ele, além de nos induzir à reflexão sobre seu conteúdo, nos delicie com sua forma, é algo bastante sutil, que o escritor italiano, Umberto Eco, chamou de “fato estético”. Ele referia-se, ao cunhar essa expressão, especificamente à poesia. No entanto, o princípio pode (e a meu ver, deve) ser estendido igualmente à prosa. Quando um texto é literário e quando não é? Entendo que o seja quando reúne, simultaneamente, objetividade, conteúdo e beleza. Além da correção, sem dúvida. Qualquer desses fatores que falte faz do texto tudo, menos de Literatura. Um bilhete, bem redigido, por exemplo, tende a ser objetivo, pode até soar belo, mas falta-lhe conteúdo para o leitor que não seja a pessoa a que seja endereçado. Não é, portanto, “literário”. Não contém o “fato estético”.

E o que vem a ser esse fator? Bem, na verdade não há uma definição exata e rigorosa dele, embora, paradoxalmente, seja perfeitamente identificável em um texto.  Umberto Eco assim se referiu a ele: “O fato estético é algo tão evidente, imediato e indefinido quanto o amor, o gosto da fruta, a água. Sentimos a poesia como sentimos a presença de uma mulher, uma montanha ou uma baía. Se ela é sentida de imediato, por que diluí-la em outras palavras, que certamente serão mais frágeis do que nossos sentimentos?” Sim, paciente leitor, por que?

Para um texto adquirir essa característica de excelência, para conter o tal do fato estético e ter, simultaneamente, objetividade, conteúdo e beleza, a condição primordial, primária, elementar (“sine qua non” como diriam os romanos), é a de que ele seja rigorosamente correto em todos os aspectos, quer na grafia, quer na semântica e quer em tudo o que diga respeito às “leis do idioma” (sua gramática). Uma escrita relapsa, eivada de erros, pelo meu critério pessoal, jamais poderá ser considerada “literária”. Não tenho dúvidas em afirmar que não é.

Umberto Eco, por sua vez, chama a atenção para o fato de que a poesia, ao contrário da prosa, ser passiva de diferentes interpretações, sem que haja a mínima necessidade de modificação no texto, a cada vez que for lida. Escreve: “Eu definiria o efeito poético como a capacidade que um texto oferece de continuar a gerar diferentes leituras, sem nunca se consumir de todo”. O bom poema, portanto, comporta infindáveis interpretações. O leitor torna-se, automaticamente, uma espécie de co-autor do texto poético. E o poeta francês Paul Claudel vai mais longe. Afirma que a interpretação do conteúdo de determinada poesia tem a ver não apenas com a forma como ela é escrita. “O poema não é feito dessas letras que eu espeto como pregos, mas do branco que fica no papel”. Ou seja, é todo um conjunto.

Então é esta a grande diferença entre a poesia e a prosa? Para Jorge Luís Borges, não! O escritor argentino, meu eterno guru literário, sugeriu que o que diferencia, principalmente, os dois gêneros é a “expectativa” que o leitor tem antes de iniciar a leitura de uma e de outra. E o que ele espera encontrar? Na poesia é a “intensidade” que, no entanto, não tolerará na prosa. Nesta última, sua expectativa reside basicamente na objetividade (além, claro, de esperar também encontrar conteúdo e beleza). Borges escreveu ainda, no livro “História da Eternidade”, referindo-se aos poetas: “Creio que os escritores somos amanuenses de algo secreto, que se pode chamar, segundo a tradição homérica, de ‘musa’; segundo a tradição hebréia, ‘ruach’, o ‘espírito’; ou segundo a fria mitologia moderna, ‘inconsciente’ ou ‘subconsciente’; ou segundo a bela expressão do grande poeta irlandês  William Buttler Yeats, a ‘grande memória’.

Para encerrar estas descompromissadas reflexões de hoje, peço licença para transcrever estes belos versos de Mário Quintana, intitulados “Como pássaros”, que caracterizam a caráter a mencionada “co-autoria” de quem lê um poema e como ela se dá:

“Os poemas são pássaros
que chegam não se sabe
de onde e pousam no
livro que lês.

Quando fechas o livro,
eles alçam vôo como de
um alçapão.

Eles não têm pouso nem
porto,
alimentam-se um instante
em cada par de mãos e
partem.

E olhas, então, essas tuas
mãos vazias, no
maravilhado espanto de
saberes que o alimento
deles já estava em ti”.

E não tem razão o inspirado poeta gaúcho?! Claro que sim!!!


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Thursday, March 30, 2017

COMO VOCÊ REAGE À SAUDADE?

Como você definiria a saudade? Vou mais longe: como você reage a ela? Procura esquivar-se do seu assédio, espantá-la como coisa incômoda e chata, da qual queira se livrar a qualquer custo? Mas essa é uma atitude inútil que, ademais, é injusta com quem (ou com o que) a suscitou. Considera a saudade, pois, bem vinda, embora lhe provoque furtivas lágrimas e lhe deixe a sensação frustrante, de algo bom que se perdeu e que não pode ser recuperado? Sim, porque ninguém a sente de pessoa, lugar ou acontecimentos que lhe causaram sofrimento, mágoa ou dor. Da minha parte, recebo-a com naturalidade e carinho, até como homenagem às coisas boas que a vida me proporcionou. Quanto à definição... deixo-a a cargo do poeta, com sua argúcia e sensibilidade, no caso, de Pablo Neruda, que a define assim, nestes incomparáveis e magníficos versos:

Saudade

"...Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor não foi embora,
mas a amada já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade;
E esse é o maior dos sofrimentos.
Não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver...
O maior sofrimento é nunca ter sofrido..."


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Popularidade que seria inconcebível há 5 anos


Pedro J. Bondaczuk


A chegada do presidente soviético, Mikhail Gorbachev, a Roma, ontem, fez com que se repetisse na Cidade Eterna uma cena que já se tornou comum nas viagens do líder do Cremlin. Multidões foram às ruas para saudar o visitante, com um entusiasmo raramente visto em tais ocasiões.

O povo, nas calçadas, repetiu ali o que ocorreu antes em Washington, Londres, Bonn, Berlim, Varsóvia, Pequim, para não mencionar Havana onde, por razões óbvias, a recepção tinha que ser calorosa. Afinal, a União Soviética virtualmente sustenta Cuba desde 1961. Não há dúvidas, pois, que esse dirigente detém um carisma como poucos estadistas tiveram na segunda metade deste violento século.

Gorbachev, no entanto, é um caso para estudo, tamanha é a confusão que gera no espírito dos analistas políticos. Líderes carismáticos o mundo conheceu muitos, nas derradeiras nove décadas. Mas sua influência sobre os povos, em geral, sempre desembocou em confrontos sangrentos.

Basta que se cite um deles, Adolf Hitler, para comprovar isso. Outros, que não provocaram guerras, nem por isso deixaram de usar uma linguagem de confrontação. E quando fizeram isso, suas palavras não corresponderam, em geral, aos seus atos.

Muitos deles, por exemplo, pregaram a paz, mas agiram no sentido exatamente inverso. Talvez por não atuar dessa maneira é que esse presidente tenha adquirido tamanha popularidade e em tempo tão rápido.

Quem, por mais otimista que fosse, poderia ao menos supor, há somente cinco anos, que um dirigente máximo do Partido Comunista soviético viria a ser o homem mais popular do mundo? Se alguém fizesse uma afirmação desse tipo em 1984, precisaria faze-la em caráter reservado, não sem antes ouvir deboche de seu interlocutor.

Se a previsão fosse feita em público, o infeliz cairia no mais completo ridículo. No entanto, é exatamente isso o que ocorre agora. Por quê? Em primeiro lugar, Gorbachev sabe usar seu charme pessoal. Trata bem a imprensa, cumprimenta a todos que pode e tem sempre um sorriso no rosto. Mas só isso não basta.

Ele prega a paz, ao invés de confrontação. E mais do que isso, faz acompanhar as suas palavras de atos concretos. Por exemplo, prometeu retirar os soldados soviéticos do Afeganistão. E retirou. Assegurou que cada país do Leste da Europa poderia seguir o seu próprio caminho. E não interferiu quando o processo reformista que está fazendo ruir uma estrutura existente há mais de quatro décadas foi posto em marcha.

Num mundo caracterizado por tanta violência, todos querem uma mensagem de paz. Gorbachev soube encampar isso. Daí a sua popularidade, que não pára de crescer. Mas que é insólito, isto ninguém pode negar.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 30 de novembro de 1989).

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Criadores de mundos


Pedro J. Bondaczuk


A imaginação é uma característica ímpar com que a natureza nos dotou. Tem o condão de, em infinitésimos de segundos, tornar o abstrato concreto, criar e destruir mundos e vencer distâncias imensas com velocidade maior do que a da luz. Pode contribuir para nos fazer felizes ou ser a causa de constantes pesadelos, sofrimentos e dores.

Por exemplo, há muitas doenças que são apenas imaginárias e que só podem ser curadas pela própria pessoa que as padece. Há sofrimentos emocionais que existem somente em nossas mentes, mas que, ainda assim, nos causam intensos tormentos. Em contrapartida, essa característica, exclusiva do homem, enseja grandes criações artísticas, obras monumentais e fundamentais avanços  da civilização.

Há escritores prolíficos, que escreveram livros e mais livros sobre determinados lugares em que nunca estiveram, mas com uma desenvoltura e verossimilhança tamanhas, como se esses fossem suas aldeias natais. Cito, como exemplo, quatro deles, popularíssimos mundo afora, cujos livros de aventuras encantaram gerações e mais gerações de jovens (inclusive a minha) e são lidos, avidamente, ainda nos dias atuais: Emilio Salgari, Karl May, Edgar Rice Burroughs e Júlio Verne.

Todos os quatro foram campeões de vendas. Ou seja, fizeram a fortuna dos respectivos editores. Foram autênticas “usinas de idéias” e, apesar da extensíssima produção, não se repetiram. Mas tiveram sortes muito diferentes em suas vidas pessoais. À exceção de Júlio Verne, foram considerados “escritores menores”, a despeito da quantidade de leitores que tiveram. Foram ignorados pelos críticos literários e seus textos não constam de nenhuma antologia.

O italiano Emílio Salgari, nascido em Verona em 21 de agosto de 1862, notabilizou-se por escrever, nos últimos 15 anos de vida (pasmem) 200 novelas de aventuras e viagens! Os locais enfocados, que serviram de cenário para as suas histórias, foram os mais diversos e exóticos possíveis, como a Malásia, as Antilhas, as Bermudas e o faroeste norte-americano.

O leitor deve estar pensando: “Como esse cara era viajado!” O curioso é que não era. Fez, em toda vida, uma única e curta viagem: no Mar Adriático, na costa oriental da Itália. Ou seja, em seu próprio país. Suas fontes de inspiração foram os relatos de viajantes e exploradores, com os quais teve a oportunidade de conversar. E sua fertilíssima imaginação, claro!

Por exemplo, Emílio Salgari tomou como modelo, para as heroínas dos seus romances, uma paixão frustrada da juventude. O escritor apaixonou-se, perdidamente, por uma jovem inglesa, de família nobre, que sequer tomou conhecimento de que ele existia. Casou-se, por fim, com uma camponesa italiana, Ida Peruzzi, paupérrima e que lhe gerou quatro filhos.

Alguns dos seus livros mais conhecidos (li todos eles) são: “Sandokan vence o tigre da Índia”, Sandokan na ilha de Bornéu”, “Sandokan reconquista Mompacém”, “Sandokan soberano da Malásia”, “Os pescadores de pérolas”, “O corsário negro”, “Os últimos corsários”, “O Capitão Tormenta”, “O tesouro dos incas”, “O escravo de Madagascar”, “A heroína de Cuba” e vai por aí afora.

Na Itália, a obra de Salgari foi (e ainda é) mais lida do que a de Dante Alighieri (cujo estudo é obrigatório nas escolas). Situa-se entre os 40 escritores mais traduzidos no mundo. Foi admirado, por exemplo, por Ernesto Che Guevara, que se inspirou nesse novelista para suas viagens de aventura da juventude.

Todo esse sucesso editorial, contudo, não lhe valeu coisa alguma. Salgari viveu seus últimos anos de vida trabalhando (duro) como jornalista, em extrema penúria. As dificuldades financeiras foram tantas, e tão graves, que cometeu suicídio em 25 de abril de 1911, em Turim.

Já o alemão Karl Friedrich May, nascido em Hohenstein-Emsthal, em 25 de fevereiro de 1842, é o maior best-seller da pátria de Goethe, Schiller e tantos outros monstros sagrados da literatura, de todos os tempos. Seu legado literário é de 33 romances de aventura, em várias partes do mundo, em todos os continentes.

Tornou-se conhecido, sobretudo, pelas peripécias do cacique apache Winnitou e seu “irmão de sangue” branco Old Shatterhand, vividas no Velho Oeste dos Estados Unidos. Ocorre que, até 1908, nunca havia saído da Alemanha.

Fato semelhante ocorreu com o jornalista norte-americano Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan, que nasceu em 1º de setembro de 1875 e morreu em 19 de março de 1950, sendo sepultado numa pequena cidade da Califórnia, chamada de Tarzana.

A África que esse escritor usou como cenário das aventuras do “Homem Macaco” não tem absolutamente nada a ver com esse continente. Trata-se de uma região “fantasma”, “irreal”, “imaginária”, habitada por povos estranhos, descendentes de antigos fenícios, romanos ou cruzados.

Já Júlio Verne, dos quatro, foi o mais bem-sucedido financeiramente, embora tenha vendido bem menos livros do que os outros três. Nascido em Nantes, em 8 de fevereiro de 1828, teve a felicidade de se associar a um editor experiente, que trabalhava com Victor Hugo, George Sand e outros grandes nomes da literatura francesa, Pierre-Jules Hetzel. Ambos enriqueceram, fato raro na vida de um escritor.

Seu primeiro sucesso, de vendas e de público, foi o romance “Cinco semanas em um balão”, lançado em 1862. A narrativa era tão verossímil, ao ponto dos leitores questionarem se se tratava de uma obra de ficção ou de um relato de viagem. Ocorre que Júlio Verne nunca esteve na África e muito menos andou de balão em toda a sua vida. Sequer é necessário lembrar os inúmeros sucessos desse escritor, visto por muitos como uma espécie de profeta, como “Vinte mil léguas submarinas”, “Viagem ao centro da terra”, “A volta ao mundo em oitenta dias”, “Da terra à lua” e “Robur, o conquistador”, entre tantos e tantos best-sellers.

Como se vê, a imaginação opera milagres, desde que acompanhada, é claro, de muita informação, domínio da linguagem, capacidade narrativa e, sobretudo, talento, muito talento para criar mundos de fantasia que sejam, sobretudo, verossímeis.

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Wednesday, March 29, 2017

COMO NASCEM OS SONHOS?

Como nascem os sonhos? De onde vêm? Para onde vão? Que conseqüências tendem a produzir em nossas vidas?  E não me refiro, especificamente, àqueles que temos durante o sono, que fogem do nosso controle e ocorrem à nossa revelia, pelo menos à da parte consciente do cérebro e que quase sempre esquecemos, tão logo acordamos. Refiro-me aos sonhos que temos acordados, e que engendram obras de arte, da mais fina e sutil sensibilidade, que muitos chamam de “inspiração”. A melhor explicação que já li a propósito, pelo menos a que mais me agradou, foi esta, dada pela poetisa Flora Figueiredo, nestes soberbos e sensíveis versos:
Flutuações

O sonho aprendeu a pairar bem alto,
lá onde o sobressalto nem sequer nasceu.
Namorou a trôpega ilusão,
até que trêfego e desajeitado,
desprendeu-se de seu reino idealizado,
veio pousar tamborilante em minha mão.
Assim, aquecido e aconchegado,
parece que se esqueceu de ir embora.
Na hora em que ressona distraído,
eu lhe pingo malemolências no ouvido
à sua inquietação eu me sujeito.
Eis que o sonho dorme agora aqui comigo,
seu corpo repousa no meu peito.


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