Friday, March 24, 2017

Palpiteiros de plantão


Pedro J. Bondaczuk


A economia brasileira é das mais complexas e difíceis de administrar de todo o mundo, quer pelo seu tamanho --- é a décima maior do Planeta e já chegou a ser a sétima --- quer pela inadequação do seu sistema tributário, arcaico, defasado e sucessivamente burlado.

No Brasil convivem o ultramoderno e o superarcaico. A era da informática e da multimídia e mecanismos da Idade da Pedra Lascada. Daí a tentativa de fazer qualquer previsão sobre o sucesso ou insucesso do Plano Real ser um exercício ou de retórica eleitoral, no caso mediante ataques para fragilizar a candidatura de quem supostamente lucraria com o êxito, Fernando Henrique Cardoso, ou uma busca desesperada para ganhar espaço na imprensa.

Acreditamos que as chances de dar certo são exatamente as mesmas de um novo fracasso: 50%. Mas não nos atrevemos a fazer nenhuma previsão, até porque os tempos não são muito propícios para adivinhos de qualquer espécie.

O que nos deixa pasmos, e sumamente irritados, é o fato das críticas mais contundentes contra esta nova tentativa de vencer a inflação, estarem partindo de políticos e economistas que já serviram em governos anteriores e nada fizeram para racionalizar a economia. Pelo contrário. O caos econômico que temos assistido não foi gerado nesta administração, mas herdado de outras.

Temos lido e ouvido muitas declarações sobre o Real nos últimos dias, inclusive de congressistas que, do alto de sua empáfia, profetizam o fracasso do plano de estabilização argumentando que para ele ter êxito, seriam necessárias as reformas fiscal e previdenciária. Aí é que não entendemos mais nada!

O País não acabou de passar pela frustração de ver um Congresso Revisor se limitar a aprovar parcas cinco emendas à Constituição, todas inócuas e dispensáveis?! Essas declarações, portanto, soam como admissão de culpa, embora os parlamentares que as fazem não lhes dêem tal conotação.

Repetimos o que afirmamos, invariavelmente, nos planos anteriores. É impossível fazer qualquer previsão objetiva que não se baseie em mero palpite, até porque a economia não é uma ciência exata. Traz embutidos inúmeros fatores subjetivos, tais como vontade política, disciplina monetária, credibilidade do governo, etc. etc. etc. Esse é o nosso temor.

Por causa das frustrações dos últimos anos, dificilmente um brasileiro consegue acreditar no outro. Foram tantas e tamanhas as expectativas frustradas --- Diretas Já, Constituinte, eleições presidenciais, impeachment de Collor, etc. --- que nunca é demais permanecer atento e com um pé atrás.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de julho de 1994).


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk    

No comments: