Palpiteiros de plantão
Pedro J. Bondaczuk
A
economia brasileira é das mais complexas e difíceis de administrar de todo o
mundo, quer pelo seu tamanho --- é a décima maior do Planeta e já chegou a ser
a sétima --- quer pela inadequação do seu sistema tributário, arcaico, defasado
e sucessivamente burlado.
No
Brasil convivem o ultramoderno e o superarcaico. A era da informática e da
multimídia e mecanismos da Idade da Pedra Lascada. Daí a tentativa de fazer
qualquer previsão sobre o sucesso ou insucesso do Plano Real ser um exercício
ou de retórica eleitoral, no caso mediante ataques para fragilizar a
candidatura de quem supostamente lucraria com o êxito, Fernando Henrique
Cardoso, ou uma busca desesperada para ganhar espaço na imprensa.
Acreditamos
que as chances de dar certo são exatamente as mesmas de um novo fracasso: 50%.
Mas não nos atrevemos a fazer nenhuma previsão, até porque os tempos não são
muito propícios para adivinhos de qualquer espécie.
O
que nos deixa pasmos, e sumamente irritados, é o fato das críticas mais
contundentes contra esta nova tentativa de vencer a inflação, estarem partindo
de políticos e economistas que já serviram em governos anteriores e nada
fizeram para racionalizar a economia. Pelo contrário. O caos econômico que
temos assistido não foi gerado nesta administração, mas herdado de outras.
Temos
lido e ouvido muitas declarações sobre o Real nos últimos dias, inclusive de
congressistas que, do alto de sua empáfia, profetizam o fracasso do plano de
estabilização argumentando que para ele ter êxito, seriam necessárias as
reformas fiscal e previdenciária. Aí é que não entendemos mais nada!
O
País não acabou de passar pela frustração de ver um Congresso Revisor se
limitar a aprovar parcas cinco emendas à Constituição, todas inócuas e
dispensáveis?! Essas declarações, portanto, soam como admissão de culpa, embora
os parlamentares que as fazem não lhes dêem tal conotação.
Repetimos
o que afirmamos, invariavelmente, nos planos anteriores. É impossível fazer
qualquer previsão objetiva que não se baseie em mero palpite, até porque a
economia não é uma ciência exata. Traz embutidos inúmeros fatores subjetivos,
tais como vontade política, disciplina monetária, credibilidade do governo,
etc. etc. etc. Esse é o nosso temor.
Por
causa das frustrações dos últimos anos, dificilmente um brasileiro consegue
acreditar no outro. Foram tantas e tamanhas as expectativas frustradas ---
Diretas Já, Constituinte, eleições presidenciais, impeachment de Collor, etc.
--- que nunca é demais permanecer atento e com um pé atrás.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de julho de 1994).
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