Perestroika
vive hora decisiva
Pedro J. Bondaczuk
O
momento decisivo para Mikhail Gorbachev se aproxima. Os extremos, na União
Soviética, direita e esquerda, mais uma vez se tocaram e se uniram com a
finalidade de derrubá-lo, e não é de agora. Os objetivos das duas facções,
evidentemente, são diferentes. Aliás, esse conceito, na URSS, é diverso do que
conhecemos no Ocidente.
Ali,
ser esquerdista é pretender, simplesmente, derrubar o comunismo e o direitista,
evidentemente, está do lado oposto, objetivando restaurar o Estado totalitário.
O presidente, na qualidade de reformador, não é compreendido. Carece de aliados
e sobretudo de quem realmente entenda o alcance de suas idéias e não as apóie
apenas por oportunismo, visando a conseguir vantagens pessoais.
Nicoló
Machiavelli, pensador do século XVI, já observava, em sua época, o
comportamento natural em relação aos que pretendem reformar algo, uma reação
que cabe como uma luva ao caso atual de Gorbachev: "O reformador tem
inimigos em todos aqueles que se aproveitam da velha ordem, e somente tíbios
defensores naqueles que se aproveitariam da nova ordem; essa tibieza resulta em
parte do medo dos seus adversários...e em parte da incredulidade do gênero
humano que não acredita em nada que é novo até que tenha plena consciência de
sua realidade".
O
presidente soviético superestimou a capacidade de seu povo de raciocinar acerca
de questões políticas, econômicas e sociais, ou seja, de seus problemas, por
conta própria. Convém sempre ressaltar, e reiterar o quanto se torna
necessário, que a atual geração desse país foi condicionada ao totalitarismo.
Por isso, confunde democracia com anarquia e liberdade com libertinagem.
A
população tem servido, inocentemente, de massa de manobra de políticos
oportunistas. Está, evidentemente, mal informada. E a culpa por essa
desinformação cabe aos meios de comunicação, que sempre foram manipulados pelo
Estado. Eles apregoaram, por tanto tempo, tanta falsidade, que agora ninguém
crê quando procuram expressar a verdade. Ocorre como naquela história de Pedro
e o Lobo.
Gorbachev
cometeu um pecado mortal ao elaborar e expor seu projeto reformista. Atribuiu
papel fundamental ao Partido Comunista, exatamente o maior interessado em
manter as coisas como sempre estiveram, mesmo estando evidente que o país
caminha para o abismo.
Quando
se deu conta disso, já era tarde. Afastou a agremiação das decisões de governo,
mas não pôs fim à "Nomenklatura" do PC. Ou seja, é esse sistema
pervertido e corrupto que ainda se aplica ou deixa de aplicar as determinações
emanadas do Cremlin. Tem tudo nas mãos para sabotar a execução de qualquer
mudança. Nomeia desde o presidente de uma fábrica a um simples capataz.
Continua todo-poderoso e agora aspira novamente o poder total. Assim não há
quem consiga mudar alguma coisa.
Essa
sabotagem só podia dar no que está dando: no caos administrativo, no vácuo do
poder. O ex-presidente do Banco Mundial e ex-secretário de Defesa
norte-americano, Robert McNamara, constatou, num célebre seminário de que
participou, em fevereiro de 1967, em Jackson, no Mississippi: "A
suborganização, a subgestão de uma sociedade, não significa respeito pela
liberdade. Significa, simplesmente, consentir que outras forças, que não as da
razão, dêem forma à realidade. Essas forças podem ser a emoção, o ódio, a
agressão, a ignorância, a inércia --- tudo menos a razão. Sejam elas quais
forem, se a força que rege a atividade humana não for a força da razão, o homem
ficará sempre abaixo de seus meios". E é isso o que vem ocorrendo na União
Soviética contemporânea.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 20 de abril de
1991).
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