Momento exige ação rápida e
decisiva
Pedro J. Bondaczuk
A
operação por terra na guerra do Golfo Pérsico, salvo engano na interpretação
dos indícios dados pelos aliados, deve começar, no máximo, até amanhã, a menos
que nas próximas 24 horas o general Saddam Hussein inicie a retirada de suas
tropas do Kuwait.
É
claro que uma informação precisa a esse respeito é impossível de se obter nesse
momento, por se tratar de uma questão de estratégia, impossibilitando qualquer
análise prévia. Ninguém avisa antes ao inimigo quando, como e onde vai atacar.
E a coalizão multinacional, evidentemente, não faria isso.
Tudo,
portanto, pode não passar de mera especulação, embora uma série de indícios
aponte o dia "D" (que no caso seria dia "K", de Kuwait),
para amanhã.
A
maré no Golfo Pérsico, por exemplo, estará favorável a um desembarque anfíbio
no emirado ocupado nessa ocasião. Além disso, na avaliação dos serviços de
inteligência ocidentais, mediante o testemunho de refugiados e fotografias de
satélites, o Iraque estaria suficientemente enfraquecido para que a operação
fosse realizada com um mínimo de baixas nesse momento.
Os
Estados Unidos têm pressa em liquidar de vez com a guerra, ao contrário de
Saddam Hussein. Não se trata somente de questão do custo, embora este não seja
nada desprezível. O próprio fator climático está pesando na balança.
O
inverno está no fim na região e dentro de alguns dias, as tempestades de areia,
tão comuns a partir de março no deserto, tornarão inviáveis as grandes
batalhas, além do calor infernal. Prevê-se, portanto, uma operação dura,
fulminante e sobretudo rápida, a menos que o Iraque tenha, de fato, reservado
as surpresas que prometeu ao longo dos últimos dias e tudo não se trate de um
blefe.
É
verdade que há a proposta de Mikhail Gorbachev, formalizada, ontem, ao
chanceler iraquiano, Tarik Aziz, que depende de uma resposta de Saddam Hussein,
a ser considerada. Porém, o jornal "Le Monde" previu --- e tudo leva
a crer que com acerto --- que Bagdá dispõe de 24 horas, nada mais do que isso,
para iniciar a retirada incondicional de seus soldados do Kuwait.
Como
isso parece longe de acontecer, é muito provável que nas próximas horas o mundo
deverá assistir a uma das maiores batalhas terrestres dos tempos modernos,
cujos resultados, dada a censura existente no noticiário, a opinião pública irá
conhecer com detalhes dentro de muitos anos, quando não for mais necessária
nenhuma propaganda belicista dos meios de comunicação para garantir a reeleição
do presidente do país mais rico e poderoso do mundo.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 19 de fevereiro
de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment