Saturday, March 25, 2017

Momento exige ação rápida e decisiva


Pedro J. Bondaczuk


A operação por terra na guerra do Golfo Pérsico, salvo engano na interpretação dos indícios dados pelos aliados, deve começar, no máximo, até amanhã, a menos que nas próximas 24 horas o general Saddam Hussein inicie a retirada de suas tropas do Kuwait.

É claro que uma informação precisa a esse respeito é impossível de se obter nesse momento, por se tratar de uma questão de estratégia, impossibilitando qualquer análise prévia. Ninguém avisa antes ao inimigo quando, como e onde vai atacar. E a coalizão multinacional, evidentemente, não faria isso.

Tudo, portanto, pode não passar de mera especulação, embora uma série de indícios aponte o dia "D" (que no caso seria dia "K", de Kuwait), para amanhã.

A maré no Golfo Pérsico, por exemplo, estará favorável a um desembarque anfíbio no emirado ocupado nessa ocasião. Além disso, na avaliação dos serviços de inteligência ocidentais, mediante o testemunho de refugiados e fotografias de satélites, o Iraque estaria suficientemente enfraquecido para que a operação fosse realizada com um mínimo de baixas nesse momento.

Os Estados Unidos têm pressa em liquidar de vez com a guerra, ao contrário de Saddam Hussein. Não se trata somente de questão do custo, embora este não seja nada desprezível. O próprio fator climático está pesando na balança.

O inverno está no fim na região e dentro de alguns dias, as tempestades de areia, tão comuns a partir de março no deserto, tornarão inviáveis as grandes batalhas, além do calor infernal. Prevê-se, portanto, uma operação dura, fulminante e sobretudo rápida, a menos que o Iraque tenha, de fato, reservado as surpresas que prometeu ao longo dos últimos dias e tudo não se trate de um blefe.

É verdade que há a proposta de Mikhail Gorbachev, formalizada, ontem, ao chanceler iraquiano, Tarik Aziz, que depende de uma resposta de Saddam Hussein, a ser considerada. Porém, o jornal "Le Monde" previu --- e tudo leva a crer que com acerto --- que Bagdá dispõe de 24 horas, nada mais do que isso, para iniciar a retirada incondicional de seus soldados do Kuwait.

Como isso parece longe de acontecer, é muito provável que nas próximas horas o mundo deverá assistir a uma das maiores batalhas terrestres dos tempos modernos, cujos resultados, dada a censura existente no noticiário, a opinião pública irá conhecer com detalhes dentro de muitos anos, quando não for mais necessária nenhuma propaganda belicista dos meios de comunicação para garantir a reeleição do presidente do país mais rico e poderoso do mundo.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 19 de fevereiro de 1991).


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