Thursday, August 31, 2017

O CÉTICO EMPEDERNIDO NÃO ACREDITA NEM MESMO EM SI


 As pessoas carentes de fé deixam de usufruir de uma imensa fonte de forças, ao dispor de todos nós, para realizar o que pretendem na vida. Ao não acreditarem no sucesso de suas ações, deixam de crer, principalmente, nas próprias possibilidades e potenciais. Descrentes, não conseguem trazer à tona os imensos poderes que certamente têm em seu interior, e que nem mesmo sabem (nunca procuraram saber), ou intuem, que possuam. E nem poderiam. Não acreditam neles!!! Quero deixar claro que quando me refiro a fé, não estou me reportando à crença religiosa. Não discuto religião com ninguém, e nem por decreto, por não estar habilitado a tanto e por respeitar crenças e opiniões alheias, por mais estapafúrdias que pareçam ou de fato sejam. Teologia, deixo bem claro, não é minha especialidade. Ademais, minhas convicções pessoais, a propósito, prefiro manter distantes de olhares indiscretos (ou mesmo discretos, não importa). À menor frustração, quem é cético empedernido entrega-se ao desânimo, ao desencanto e à inércia e, não raro, se anula. Não tem a que se apegar. Não acredita em nada e ninguém e, principalmente, em si próprio.

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Volta triunfal do real


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil, provavelmente entre 9 e 12 de abril próximo, voltará aos tempos dos "réis", que é como nossos avós pronunciavam o nome dos reais, que circularam desde o começo deste século até a reforma monetária de Getúlio Vargas, em meados dos anos 30, quando ocorreu a introdução do cruzeiro. Este acabou não dando muito certo. Passou por várias mudanças, num curto período saiu do circuito substituído pelo antigo signo monetário de Portugal e dos tempos de colônia, o cruzado, para retornar durante o Plano Collor.

Em agosto do ano passado, ganhou a companhia do real. Agora, está prestes a desaparecer (para sempre? Temporariamente? Até quando?), substituído por este último.

Por que se especula que a nova moeda deva entrar em circulação entre 9 e 12 de abril? Simples. Porque nessa ocasião se espera que a nova URV, projetada para indexar toda a economia, estará cotada a Cr$ 1.000,00. Facilitará, portanto, o corte dos três zeros, para dar lugar a um real (cuja notação gráfica será R$).

Por mais críticas que possamos ter em relação ao plano de estabilização econômica do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, por mais adversários que esse programa possua, todos estamos torcendo (talvez a exceção sejam os eternos "contras"), para que o Brasil, finalmente, tenha uma moeda forte, estável, representativa, desejável, valorizada e que todos queiram ter (embora infelizmente muitos não a terão, ou pelo menos não na quantidade necessária).

Desta vez conforme notícias, não haverá aquela confusão costumeira de "dinheiros". Cédulas de reais não vão conviver com as de cruzeiros reais, já que o governo, através do Banco Central, está apressando o processo de contratação de empresas no Exterior, a American Bank Notes, dos Estados Unidos, a tão nossa conhecida Thomas de La Rue (britânica) e a RBE Gieseeck e Devrient (da Alemanha), para imprimir, com urgência, as novas notas.

Elas serão em número de 1,5 bilhão, de R$ 1, R$ 5, R$ 10, R$ 50 e R$ 100. A Casa da Moeda, mesmo sendo a maior produtora do ramo no mundo, não teria a capacidade de suprir tamanha demanda num prazo tão exíguo. Deus queira que os reais, ou "réis" como diziam nossos avós, terminem o século como começaram: valorizados.

(Artigo publicado na página 2, opinião, do Correio Popular, em 4 de março de 1994).



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Cidades decadentes

Pedro J. Bondaczuk

Você já notou como “as cidades do Novo Mundo passam diretamente à decrepitude, sem se deterem no antigo”? Essa observação, aliás, não é minha, mas do antropólogo, etnólogo e filósofo Claude Lévi-Strauss. A constatação está no seu célebre livro “Tristes Trópicos”, best-seller mundial e que merece ser lido por todos. Conscientemente, nunca pensei nisso, embora inconscientemente talvez a ideia me tivesse passado pela cabeça.

Notem que Strauss não se referiu a nenhuma cidade brasileira em particular, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e até mesmo Brasília, que mal completou 57 anos, já apresenta, em algumas regiões específicas, sinais de decrepitude. E sequer passou pelo “antigo”. Ainda não houve tempo.

Essa decadência, sem que se passe sequer pela antiguidade conservada como patrimônio histórico, pode ser observada, também, em Buenos Aires, Montevidéu, Assunção, Caracas, Bogotá e qualquer outra metrópole latino-americana ou mesmo das três Américas. Falta-nos, ainda, o sentido da tradição, que deve caminhar sempre paralela à modernidade. Afinal, quem não tem passado... dificilmente terá um futuro.

Nesse caso, Strauss observou as cidades (provavelmente tomou por base São Paulo, onde residiu e lecionou) não somente com o olhar objetivo do cientista, mas com a subjetividade característica do escritor. E expressou sua conclusão com clareza e exatidão, como compete a quem pretende fazer literatura de primeira ordem.

Claro que não pretendo fazer nenhum estudo antropológico a respeito (até porque não tenho formação acadêmica para tal) e este texto sequer tem a menor pretensão de ser um ensaio, mas mera provocação.

Peço licença, porém, para transcrever outro trecho de Lévi-Strauss, este um tanto mais extenso, que nos chama a atenção para outro aspecto da urbanização que raramente notamos (se é que o fazemos).

“A vida urbana apresenta um estranho contraste. Embora represente a forma mais completa e requintada de civilização, em virtude da concentração humana excepcional que realiza em espaço reduzido e da duração de seu ciclo, precipita no cadinho atitudes inconscientes, cada uma delas infinitesimal mas que, devido ao número de indivíduos que as manifestam do mesmo modo e em grau idêntico, se tornam capazes de engendrar grandes efeitos. Como exemplo, o crescimento das cidades de leste para oeste e a polarização do luxo e da miséria segundo este eixo, mas que torna incompreensível se não reconhecermos esse privilégio – ou essa servidão – das cidades que consiste, à maneira dum microscópio e, graças ao aumento que lhe é peculiar, em fazer surgir na lâmina da consciência coletiva o borbulhar microbiano das nossas ancestrais, mas sempre vivas superstições. Tratar-se-ia, de resto, de superstições?”

Neste trecho, quem falou foi o cientista, não tanto o escritor, apesar da riqueza e da variedade das metáforas de que Strauss se vale. O fenômeno da urbanização não é novo. Pelo contrário, já é bastante antigo. As primeiras cidades, na Índia, na China e no Egito, têm, pelo menos, cinco milênios.

Ocorre que até não faz muito tempo – no século XIX, por exemplo – apenas 15% da população mundial, se tanto, habitava em cidades. Hoje, há uma brutal concentração nessas “arapucas” de cimento e asfalto. Cerca de 80% dos 7,6 bilhões de habitantes da Terra concentram-se nas cidades. É pertinente, pois, e oportuno, que estudemos esse fenômeno e tratemos dele cada vez com mais argúcia e fidelidade.

Surge-nos outra questão: pode o cientista de formação se aventurar, impunemente, no mundo das letras e produzir literatura de primeira linha, como qualquer bom escritor? Teoricamente, sim. Usualmente, não. O escritor e o cientista são condicionados a raciocinar de formas opostas. O primeiro, enfatiza a subjetividade. O segundo é, essencialmente, objetivo.

O escritor, por seu turno, quase sempre que se aventura a escrever sobre ciência, se enrola todo, confunde suas leis e conceitos básicos e não faz nem uma coisa e nem outra. Ou seja, nem texto científico e nem literatura. Afinal, ciência não é, a rigor, a sua “praia”.

Há, todavia, exceções, e de parte a parte. Uma delas é “Tristes Trópicos”, considerado um dos principais livros do século XX. A obra é tão rica, no aspecto literário, que chegou a haver proposta para que concorresse ao Prêmio Goncourt. Todavia, os responsáveis por essa premiação, a contragosto, tiveram que recusar a postulação. O motivo é que não se tratava de romance. E o prêmio é destinado exclusivamente a ficcionistas.

No livro, Lévi-Strauss relata uma viagem que empreendeu ao Brasil nos anos 30. Embora se tratasse, como ressaltei, de austero e discreto cientista, o autor decidiu produzir obra diferente da que se poderia esperar dele: pessoal, audaciosa e espontânea, quase que uma crônica, apesar da sua extensão, ou seja, das suas 500 páginas.

Strauss traça, em “Tristes Trópicos”, a trajetória das relações entre o velho e o novo mundo. Analisa o lugar do homem na natureza, além do sentido da civilização e do progresso. O livro foi recebido com entusiasmo pela comunidade literária, mas com indisfarçável mau humor pela confraria dos cientistas.

A ensaísta Catherine Clément assim se referiu à obra: “Insólitas, desconcertantes, desvairadas, saltando épocas, os anos, as estações, palpitantes, as fulgurações de ‘Tristes Trópicos’ são do tipo que traçam caminhos na noite. E isso ainda perdura”.

Se você, amável leitor, ainda não leu esse livro, leia. Certamente não irá se arrepender. E verá que, sem perder a objetividade característica da sua disciplina, o cientista pode, sim, produzir excelente obra literária, repleta de emoção e verdade, quando se propõe a tanto.


Strauss, entre outras coisas, faz observações curiosas, mas todas pertinentes, sobre sociedades indígenas brasileiras. Mas não só isso. Praticamente disseca nossos costumes, tradições, crenças, cultura, e nossa peculiar maneira de ser, tudo entremeado de reflexões filosóficas a respeito de inúmeros temas, entre os quais as concepções de progresso e de civilização. Por tudo isso, “Tristes Trópicos” é um livro imperdível que, embora de conteúdo científico, é genuína e excelente literatura.

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Wednesday, August 30, 2017

ENREDOS ENVOLVENDO “COMPAIXÃO” NÃO ADMITEM EXAGEROS, NEM PARA MAIS E NEM PARA MENOS
Caso Erich Segal tivesse seguido a infeliz (mas provavelmente bem-intencionada) recomendação de seu agente literário, para desistir da ideia de roteirizar seu consagrado romance, “Love Story” não teria sido filmado e, portanto, não ganharia um Oscar (teve, ainda, mais seis indicações) e nem teria virado o ícone romântico que virou. Isso sem dizer que sua conta bancária não seria razoavelmente mais engordada, como fruto de uma história que rendeu dividendos em duas frentes, o que não deixa de ser raridade. Como se vê, o filão temático da compaixão pode ser uma “galinha dos ovos de ouro”, caso o escritor que se valha dele o desenvolva com perícia, mas sempre com moderação. Encontrar o ponto de equilíbrio, todavia, é que são elas. Exageros para mais ou para menos arruínam boas histórias. E nem me perguntem onde está esse ponto de equilíbrio, pois se eu soubesse, escreveria um romance que rivalizaria com “Love Story” ou até o superaria, não concordam?


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A mãe das reformas



Pedro J. Bondaczuk



O deputado Delfim Neto, em recente palestra em São Paulo, disse que a reforma política --- que parece não estar sequer em cogitação na atual legislatura --- deveria merecer prioridade absoluta no Congresso, porque viabilizaria todas as demais.

E tem toda a razão. Hoje, por exemplo, entre outras coisas, inexistem a fidelidade partidária, uma legislação coerente e clara sobre financiamento de campanhas, voto distrital, etc.

Os eleitos estão distantes de seus eleitores, que em muitos casos sequer se lembram que votaram neles. Cobranças, nem pensar. Políticos mudam de partido por dá cá, toma lá e votam de acordo com os próprios interesses, raramente cumprindo qualquer determinação partidária. Programas não passam de ficção.

Os regimentos internos da Câmara de Deputados e do Senado são ultrapassados, burocráticos, sem criatividade e impedem que projetos tenham fluência rápida e normal. Parodiando o presidente iraquiano Saddam Hussein, Delfim afirmou que a política é a "mãe de todas as reformas". E de fato é.

Vejam o que está ocorrendo no atual Congresso. Questões de importância menor, ou até absolutamente desimportantes, bloqueiam o debate de assuntos de suma relevância, não apenas para um governo (no caso o atual), mas para todos os que virão no futuro. Questiúnculas paroquiais ou meras fofocas parlamentares substituem temas de relevância nacional. O corporativismo impera.

A administração pública precisa ser mudada, para que seja ágil, enxuta e barata (ou pelo menos não tão dispendiosa quanto agora). A previdência tem que ser reformada, mas não naquele ponto em que o projeto que está no Senado se concentra, o das aposentadorias de trabalhadores da iniciativa privada, mas nas do serviço público, hoje um ralo por onde escoa perdulariamente o já parco recurso de que o Estado dispõe.

Salários de servidores e precoces e superdimensionados benefícios previdenciários consomem mais de 90% do orçamento federal, sobrando migalhas para investir em saúde, educação, segurança, transportes e agricultura, entre outros. Com isso, o País deixa de crescer. Agrava o problema social e amplia o profundo fosso, o imenso abismo que divide as classes.

Festas juninas no Nordeste, por exemplo, paralisaram os trabalhos no Congresso e já se prepara uma convocação extraordinária para o período de férias, em julho, a um custo estimado de R$ 25 milhões. Quem vai cobrar dos congressistas por este disparate? Quem os cobra por qualquer ação ou omissão? Quem conhece a fundo a atuação do deputado ou do senador a quem delegou mandato? A reforma política, portanto, tem que entrar, com urgência, na pauta de prioridades.


(Texto escrito em 23 de junho de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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Amor multiforme

Pedro J. Bondaczuk

A palavra “amor” é uma das tantas que deveriam ser usadas, apenas, no plural. Diz tanta coisa e às vezes não diz nada. Não raro, reveste-se de extrema ambigüidade e não define coisa alguma ou é mero rótulo de sentimentos que, muitas vezes, são exatamente seu antônimo. Não temos na vida “um” amor, mas “vários” amores: o por uma parceira e cúmplice que nos acompanhe a vida toda para o que der e vier e que culmine por nos proporcionar a glória da paternidade; o pelos pais e filhos; o da amizade (que é uma das suas formas mais nobres e louváveis), o por uma causa etc.etc.etc.

Todas essas manifestações de afeto, porém, têm uma característica essencial: compromisso. No caso da mulher dos nossos sonhos, fica tácita a existência fundamental da fidelidade. No dos pais e dos filhos, está implícita a mútua ajuda em toda e qualquer circunstância da vida; no da amizade, a disponibilidade de partilhar sucessos e fracassos, ajudar e ser ajudado, concordar, discordar, censurar, aconselhar e vai por aí afora.

Lutar sozinhos, por maior que seja a nossa força, por mais preparados e aptos que estejamos e por maior determinação que possamos ter, é tarefa inglória e sem sentido. Não passa de desperdício de talento e de vontade. Mesmo que atinjamos nossos objetivos, não importa quantos e quais, essas vitórias serão apenas parciais. Em vez de satisfação por elas, o sentimento que teremos será o de tédio, do vazio sem fim na alma.

Careceremos de motivação maior que nos fortaleça e nos blinde contra tropeços e fracassos. Tudo o que fazemos, sem a mínima exceção, é voltado para alguém. Queremos ser reconhecidos e até louvados, mas nossos próprios reconhecimentos ou louvores não contam: soam ocos, falsos, inúteis, senão ridículos.

Temos necessidade vital de uma alma gêmea, para cumprirmos nosso papel no mundo e fazermos aquilo para o que fomos “programados”, através da natureza: darmos continuidade à vida. E isso, convenhamos, nunca poderemos fazer sozinhos. Ademais, nada terá sentido se não tivermos com quem partilhar alegrias, tristezas, vitórias, derrotas etc.etc.etc., ou seja, cada milímetro do nosso corpo, coração e alma, agindo, reciprocamente, em relação à parceira que nos couber.

Sozinhos, somos apenas metade de um todo. Somos incompletos. Nem sempre somos bem-sucedidos nessa implícita parceria. Podemos trocar um grande amor que se acabou por outro nascente, de igual intensidade ou, quem sabe até, mais intenso, mas não conseguimos, jamais, apagar da memória as lembranças que ele deixou.

O cheiro, a voz, o sabor dos beijos, os momentos de arrebatamento e paixão de alguém, que um dia amamos, tornam-se indeléveis, indestrutíveis, inesquecíveis impregnados em nossos corpos e mentes. Mágoas e sofrimentos podem ser (e viam de regra são) esquecidos com o passar do tempo, que tudo muda e cura todas as dores, físicas ou emocionais.

Mas as boas lembranças... estas permanecem para sempre conosco, enquanto vivermos, como nosso patrimônio pessoal. E elas não significam “traição” à nova amada, como se pode supor, pois esta, também, provavelmente, tem um acervo considerável de recordações dos seus amores anteriores (ou de fantasias amorosas, se nunca antes amou alguém). Podemos controlar pensamentos e até instintos, mas os sentimentos... são incontroláveis.

Muitas pessoas “matam” um grande amor com pequenas coisas. Ciúmes exagerados, expressados mediante palavras mordazes e ferinas e gestos ofensivos. picuinhas que consideram ofensas maiúsculas e imperdoáveis e tentativas de dominação, são alguns dos venenos que envenenam os mais sadios e estáveis relacionamentos.

Não raro, as pessoas que agem assim sequer se dão conta da gravidade dessas atitudes. Quando se apercebem... geralmente é tarde. Daí, vêm o arrependimento e um rosário de lágrimas e lamentações. Se o arrependimento matasse! O amor é caprichoso: quanto mais sólido parece ser, mais frágil, na verdade, é.

Requer permanente vigilância sobre palavras e atos e repudia mínimos gestos de hostilidade, que não condizem com a delicadeza desse sentimento. Alguns, no entanto, despencam nesse poço sem fundo da vaidade e nele só encontram absoluta falta de luz e uma solidão sem tamanho.

Todos os amores se parecem, em seu nascimento e manifestações, mas não há dois que sejam exatamente iguais. Podem até não variar em intensidade, mas se diferenciam, uns dos outros, por nuances, personalidades dos parceiros, circunstâncias e maneiras de se expressar.

Uns, são rudes, como as flores do campo e outros, sofisticados e ternos, mas em ambos a essência do sentimento está presente, viva e intensa Queiram ou não os pseudorracionalistas, o amor é experiência única, original e transcendental na vida de cada pessoa, não importa a forma com que se manifeste.

Não me refiro, óbvio, à mera atração sexual, importante, mas que sozinha não é, sequer, arremedo desse maiúsculo sentimento. Afinal, ele não envolve apenas dois corpos que se atraem, mas pensamentos, sentimentos, experiências e vidas. Há amores tão parecidos e, no entanto, tão originais e tão únicos! Pablo Neruda escreve, a respeito, nos versos de encerramento do poema “Não somente o fogo”:

Ai, vida minha,
não apenas o fogo entre nós arde
mas toda, toda a vida, a simples história
o simples amor
de uma mulher e um homem
parecidos a todos”.

Parecidos, é verdade, mas sempre originais. Todavia, reitero que o amor é multiforme. Deveria, portanto, ser, sempre, grafado no plural!!!



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Tuesday, August 29, 2017

SE CONSELHO FOSSE BOM, SERIA VENDIDO, E NÃO DADO”
Erich Segal já era um bem-sucedido roteirista de Hollywood quando foi convidado a redigir o roteiro baseado no livro de sua autoria, “Love Story”. Em um de seus trabalhos anteriores, havia obtido o mesmo sucesso, ou quase, que obteve com seu famoso romance”. Sabem qual foi? Foi “O submarino amarelo”, esse mesmo que vocês estão pensando, que ele escreveu em 1967, baseado em história de Lee Minotta. Pudera! O filme foi estrelado por ninguém menos que o mágico “Quarteto de Liverpool”, os Beatles, então no auge de popularidade mundial. O curioso, e que merece ser mencionado, é que, antes de roteirizar “Love Story” para o cinema, Segal foi aconselhado por seu agente literário a desistir da ideia. Sabem sob qual alegação? Por temor de que isso arruinasse sua reputação de roteirista de ação. Isso só comprova e dá razão à afirmação popular de que, se conselho fosse bom, seria vendido e não dado. Quem fez essa revelação foi a filha mais velha do escritor, Francesca, num artigo que publicou em 2008.


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Estamos perdendo até a privacidade

Pedro J. Bondaczuk

As maravilhas tecnológicas do mundo contemporâneo, que facilitam nossa vida (e algumas determinam, até, seu prolongamento), se mal aplicadas, podem acabar se tornando em instrumentos de dominação nas mãos de pessoas inescrupulosas. Um dos aspectos em que esta era, de engenhocas eletrônicas, mais agride o cidadão, é o da privacidade. Quando o escritor britânico, de origem indiana, Eric Arthur Blair, escreveu seu livro “1984”, hoje verdadeiro clássico publicado sob o pseudônimo de George Orwell, o Estado policial que descreveu, onipresente, que tudo sabia e tudo controlava, foi encarado como algo sumamente fantasioso para ser levado a sério. Dizia-se que era uma exacerbada ficção. Hoje, entretanto, com os inúmeros recursos de espionagem (antes usados, apenas, contra homens que ocupavam altos cargos governamentais) sendo voltados contra as pessoas comuns, essa tormentosa situação não está muito distante de se concretizar.

Bancos de memória de computadores dispõem, na atualidade, de quase tudo que se precise saber sobre cada um de nós, sob os mais variados pretextos. Nossos tropeços comerciais (como se alguém estivesse a salvo de atrasar alguma conta ou deixá-la de pagar por absoluta falta de recursos) permanecem gravadas “ad aeternum” a nos fecharem as portas nas transações e a causarem embaraços onde quer que estejamos. Nosso telefone pode estar “grampeado”, para conferir alguma eventual mera suspeita acerca da nossa conduta. O princípio básico da justiça, der que todos são inocentes até que se prove o contrário, foi drasticamente subvertido. Hoje se diz que toda pessoa é suspeita até que comprove sua inocência.

As revelações feitas por duas revistas norte-americanas acerca da vigilância que vários órgãos do governo dos Estados Unidos exerceram sobre grandes escritores do país, nos últimos 50 anos, reforça a nossa impressão de que o temido estado onisciente de Orwell não está muito distante de existir. E justo lá!A salvaguarda do direito de privacidade (como de tantos outros) na terra de Tio Sam ainda é a sua modelar imprensa. E a sábia Constituição que os construtores de sua independência elaboraram e legaram à posteridade, garantindo o direito sagrado e absoluto de informação. É nisso que os EUA diferem do “urso” soviético. Na URSS os meios de comunicação estão atrelados a essa entidade fictícia , monstro imaginário de mil garras e mil olhos, chamado de Estado. Falta-lhe independência para lutar por qualquer tipo de garantia de privacidade. Se um dia conseguirem calar a imprensa dos Estados Unidos… Nem é bom pensar!

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 1 de outubro de 1984).



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O Vieira político



Pedro J. Bondaczuk


Os sermões do padre Antonio Vieira, além de luzirem pelas extraordinárias mensagens cristãs que contêm, são versáteis manuais de redação e estilo da língua portuguesa, mesmo passados mais de três séculos da sua produção. Alguns dos pronunciamentos do combativo, piedoso e eclético sacerdote são antológicos, tanto pelos temas abordados, quanto pela linguagem simples, mas elegante e até poética e musical, com que foram escritos. Lendo-os em voz alta é que se consegue perceber toda a graça e a beleza do nosso idioma, quando usado com bom senso, inteligência e absoluta correção.

Todavia, poucas pessoas, críticos literários ou historiadores, ressaltaram um outro ângulo, quase nunca lembrado, das pregações desse inteligente e combativo sacerdote: o político. Vieira ressalta, em seus sermões, por exemplo, a defesa intransigente e sistemática dos direitos humanos dos indígenas brasileiros, numa época em que ninguém cogitava desse tipo de assunto, quando os habitantes primitivos do Brasil eram tidos como seres "menos do que gente". Eram considerados animais "semirracionais", pouco acima dos gorilas talvez, incapazes de gerir seus próprios destinos.

Recorde-se que nesse período os reis da maioria dos países da Europa detinham poder absoluto. Ostentavam o que se entendia como "direito divino" de reinar e a maior parte agia como déspotas cínicos e arrogantes, não raro dissolutos, senhores absolutos da vida e da morte de seus súditos. Não se sentiam na obrigação de prestar contas dos seus atos a quem quer que fosse, respaldados, é claro, por respeitáveis forças militares, prontas a punir qualquer ato interpretado como de rebeldia.

Vieira, no entanto, não escapou impune por suas ideias, liberais demais para a época e lugar. Pagou caro pela ousadia de defender os "indefensáveis". Seus sermões de cunho político, denunciando, corajosamente, violências e desmandos contra as populações indígenas, incomodavam, e muito, os poderosos proprietários de terras do Maranhão. Estes julgavam-se acima da lei e viam nos silvícolas nada mais do que mera mão de obra farta e gratuita, da qual poderiam se apossar quando bem entendessem.

As queixas contra o corajoso sacerdote jesuíta avolumavam-se. Os poderosos latifundiários maranhenses, porém, não ousavam hostilizar abertamente o padre. Temiam abrir guerra, senão com a Igreja, pelo menos com a poderosa Companhia de Jesus. Por isso, encaminharam suas reclamações à corte, em Lisboa, o que valeu, no final das contas, a expulsão de Vieira do Brasil. Pobres tempos! Pobre gente! Indigência de espírito!

Antonio Vieira, ressalte-se, era o pregador predileto do rei Dom João IV, que apreciava a forma elegante e repleta de imagens poéticas dos seus sermões, com que transmitia as sublimes mensagens do Evangelho, envolvendo e comovendo os que tinham o privilégio de os ouvir. Tanto isto é verdade, que a maior parte deles foi proferida não em alguma igrejinha qualquer, dos arrabaldes da capital, ou de alguma distante e perdida cidade do interior de Portugal, mas na própria capela real em Lisboa, que congregava, além do monarca português, uma plateia ilustre e seleta, a elite do poder secular e religioso do reino.

Uma das prédicas mais inspiradas do padre Vieira, primor de lógica, inteligência e verdade e uma aula de estilo, de ética e de lógica, ainda é atualíssima nos dias de hoje (como, aliás, a maioria das mensagens que nos legou). Aborda os interesses (raramente legítimos) que cercam a maioria das amizades, quase sempre falsas, ocasionais e interesseiras. Felizmente, como em tudo na vida, há exceções. Trata-se do "Sermão do Dia de São Roque".

Para ilustrar o que diz, Vieira cita a experiência de Jó, relatada no Velho Testamento. Enquanto o patriarca dispunha de grande riqueza e poder, e sua mesa era farta, e a bolsa generosa, não lhe faltavam comensais. O círculo de amigos era imenso e crescente, com todos jurando fidelidade irrestrita.

Contudo quando, para testar sua fé, Deus permitiu que perdesse tudo o que tinha (fortuna, família, prestígio e até a saúde), lhe restando apenas a vida, todos os que freqüentavam a sua casa, sem nenhuma exceção, o abandonaram. Não contentes com o mero afastamento, fizeram do seu infortúnio motivo de chacota. A paciência de Jó e sua inabalável fé, porém, prevaleceram. E o patriarca foi fartamente abençoado, por em momento algum perder a confiança em Deus.

Não tardou para que o patriarca recuperasse os bens perdidos e os multiplicasse. Constituiu nova família, a saúde foi restaurada e seu prestígio cresceu muito mais do que antes. E os "amigos" infiéis, que o abandonaram na desdita, retornaram rapidinho, e em massa, cada qual com uma desculpa na ponta da língua para justificar a infidelidade.

Vieira, aliás, experimentou coisa muito parecida em sua vida. Seu prestígio oscilou como gangorra e os bajuladores e detratores acompanharam essas subidas e descidas, aproximando-se ou afastando-se dele, conforme as conveniências. Até parece, portanto, que ele acabou de escrever há apenas algumas horas esse sermão maravilhoso, tamanha sua atualidade. Essa é a arma dos competentes e dos gênios: a capacidade de "radiografar", com sensibilidade e clareza, a alma humana.


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