A urgência do pacto
Pedro J. Bondaczuk
Os estudos prévios, as
estimativas e os levantamentos do índice de custo de vida, como o
feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da
Universidade de São Paulo, envolvendo as famílias paulistanas com
rendas mensais entre dois e seis salários mínimos, todos são
unânimes em indicar que a taxa inflacionária de outubro será maior
do que a de setembro, que por sua vez foi superior à de agosto.
Trata-se de má notícia,
evidentemente, e por várias razões. Uma é óbvia, a dificuldade de
conciliação entre o salário e o orçamento doméstico. A outra
refere-se a um aperto ainda maior no crédito, via juros elevados,
por parte do Banco Central, com o objetivo de retirar dinheiro do
mercado, o que deve, certamente, aumentar a quantidade de falências
e concordatas.
Que fenômeno é esse, que
terrível inimigo que dispõe de tamanha força, a ponto de resistir
a toda a artilharia de medidas determinadas pelo governo e ainda
assim crescer, quando todos esperam que esteja vencido, ou pelo menos
com seu ímpeto contido?
É verdade que o índice de
outubro ainda traz embutido o reflexo da crise do Golfo Pérsico, que
no seu auge elevou o preço do barril do petróleo a até US$ 40. A
alta, de 50%, da carne bovina também influiu, causando um efeito em
cadeia, ao provocar aumentos também do frango e dos suínos. É a
lei da oferta e da procura funcionando. A demanda por esses dois
produtos cresceu. Conseqüentemente...
O novo secretário executivo
do Ministério da Economia, João Maia, todavia, assegura que a
situação de novembro será diferente. Que a taxa inflacionária irá
declinar. O que se questiona é a que custo isso irá ocorrer?
Quantos sacrifícios mais o atormentado cidadão precisará fazer,
que despesa sobressalente terá que cortar, quanta gente ficará sem
emprego para que a inflação seja de novo controlada?
Fica, a cada dia que passa,
mais e mais evidente a necessidade de um pacto, de um entendimento,
de um acordo nacional, que torne mais suave essa autêntica "guerra".
Chega a ser desalentadora, todavia, a forma com que se arrastam as
negociações.
Será que a sociedade
brasileira se encontra num impasse de tal sorte, numa situação de
divisão, de conflito de interesses tão grande, que seja incapaz de
se entender? De pactuar qualquer coisa? De assumir compromissos e os
cumprir com a seriedade que essa atitude requer? Não acreditamos
nisso!
Mas corremos todos contra o
tempo e este não espera ninguém. Quanto mais depressa e com maior
eficiência as partes negociarem e chegarem a um entendimento, mais
sofrimentos, sobressaltos e angústias serão poupados.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de outubro de 1990).
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