Friday, August 11, 2017


A urgência do pacto


Pedro J. Bondaczuk


Os estudos prévios, as estimativas e os levantamentos do índice de custo de vida, como o feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universidade de São Paulo, envolvendo as famílias paulistanas com rendas mensais entre dois e seis salários mínimos, todos são unânimes em indicar que a taxa inflacionária de outubro será maior do que a de setembro, que por sua vez foi superior à de agosto.

Trata-se de má notícia, evidentemente, e por várias razões. Uma é óbvia, a dificuldade de conciliação entre o salário e o orçamento doméstico. A outra refere-se a um aperto ainda maior no crédito, via juros elevados, por parte do Banco Central, com o objetivo de retirar dinheiro do mercado, o que deve, certamente, aumentar a quantidade de falências e concordatas.

Que fenômeno é esse, que terrível inimigo que dispõe de tamanha força, a ponto de resistir a toda a artilharia de medidas determinadas pelo governo e ainda assim crescer, quando todos esperam que esteja vencido, ou pelo menos com seu ímpeto contido?

É verdade que o índice de outubro ainda traz embutido o reflexo da crise do Golfo Pérsico, que no seu auge elevou o preço do barril do petróleo a até US$ 40. A alta, de 50%, da carne bovina também influiu, causando um efeito em cadeia, ao provocar aumentos também do frango e dos suínos. É a lei da oferta e da procura funcionando. A demanda por esses dois produtos cresceu. Conseqüentemente...

O novo secretário executivo do Ministério da Economia, João Maia, todavia, assegura que a situação de novembro será diferente. Que a taxa inflacionária irá declinar. O que se questiona é a que custo isso irá ocorrer? Quantos sacrifícios mais o atormentado cidadão precisará fazer, que despesa sobressalente terá que cortar, quanta gente ficará sem emprego para que a inflação seja de novo controlada?

Fica, a cada dia que passa, mais e mais evidente a necessidade de um pacto, de um entendimento, de um acordo nacional, que torne mais suave essa autêntica "guerra". Chega a ser desalentadora, todavia, a forma com que se arrastam as negociações.

Será que a sociedade brasileira se encontra num impasse de tal sorte, numa situação de divisão, de conflito de interesses tão grande, que seja incapaz de se entender? De pactuar qualquer coisa? De assumir compromissos e os cumprir com a seriedade que essa atitude requer? Não acreditamos nisso!

Mas corremos todos contra o tempo e este não espera ninguém. Quanto mais depressa e com maior eficiência as partes negociarem e chegarem a um entendimento, mais sofrimentos, sobressaltos e angústias serão poupados.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de outubro de 1990).


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