Transferência de riquezas
Pedro J. Bondaczuk
A inflação elevada e,
sobretudo, continuada tende a empobrecer milhões de pessoas e
concentrar riquezas nas mãos de pouquíssimos. Processos
inflacionários crônicos ou agudos são facilmente deflagrados, mas
contidos somente às custas de muito sacrifício e traumas sociais.
Como câncer não se cura com simples aspirina, essa disfunção
econômica, também, não pode ser corrigida com medidas paliativas
de curto prazo nem com a pirotecnia dos choques.
O combate a essa anomalia
requer paciência, disciplina e, sobretudo, um comando firme e
seguro. No Brasil, a sociedade ainda não se conscientizou de que a
inflação é uma moléstia que corrói suas bases e impede seu
desenvolvimento. O País, por exemplo, possui a maior Casa da Moeda
do mundo, em termos de produção. Emite 14 milhões de unidades
diárias.
Mal o cruzeiro real foi
lançado, seus possíveis efeitos psicológicos já foram
neutralizados pela erosão monetária ditada por esse processo
inflacionário feroz e resistente. O governo prepara o lançamento de
cédulas de Cr$ 10 mil e de Cr$ 50 mil. Mais trabalho, portanto, para
a maior Casa da Moeda do Mundo.
Um economista fez, num livro
hoje considerado clássico da literatura econômica, a seguinte
advertência na década de 40: “Através de um processo contínuo
de inflação, os governos podem confiscar, de modo secreto e
despercebido, parte importante da riqueza de seus cidadãos. Com este
método, eles não apenas confiscam arbitrariamente, e, enquanto o
processo empobrece a muitos, de fato enriquece a alguns... À medida
em que a inflação avança e o valor real da moeda flutua de forma
errática de um mês para outro, todas as relações permanentes
entre devedores e credores, que formam o fundamento último do
capitalismo, se tornam tão completamente desordenadas a ponto de se
tornarem quase desprovidas de sentido”.
Este texto, bastante didático,
é de John Maynard Keynes, contido em seu livro The Economic
Consequence of Peace (As Conseqüências Econômicas da Paz).
Serve como uma luva para o Brasil contemporâneo, onde os que lucram
com a inflação forçam as taxas para o alto e os que perdem ficam
impassíveis, apenas observando o próprio empobrecimento.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de janeiro de 1994)
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