Wednesday, August 09, 2017

Transferência de riquezas



Pedro J. Bondaczuk


A inflação elevada e, sobretudo, continuada tende a empobrecer milhões de pessoas e concentrar riquezas nas mãos de pouquíssimos. Processos inflacionários crônicos ou agudos são facilmente deflagrados, mas contidos somente às custas de muito sacrifício e traumas sociais. Como câncer não se cura com simples aspirina, essa disfunção econômica, também, não pode ser corrigida com medidas paliativas de curto prazo nem com a pirotecnia dos choques.

O combate a essa anomalia requer paciência, disciplina e, sobretudo, um comando firme e seguro. No Brasil, a sociedade ainda não se conscientizou de que a inflação é uma moléstia que corrói suas bases e impede seu desenvolvimento. O País, por exemplo, possui a maior Casa da Moeda do mundo, em termos de produção. Emite 14 milhões de unidades diárias.

Mal o cruzeiro real foi lançado, seus possíveis efeitos psicológicos já foram neutralizados pela erosão monetária ditada por esse processo inflacionário feroz e resistente. O governo prepara o lançamento de cédulas de Cr$ 10 mil e de Cr$ 50 mil. Mais trabalho, portanto, para a maior Casa da Moeda do Mundo.

Um economista fez, num livro hoje considerado clássico da literatura econômica, a seguinte advertência na década de 40: “Através de um processo contínuo de inflação, os governos podem confiscar, de modo secreto e despercebido, parte importante da riqueza de seus cidadãos. Com este método, eles não apenas confiscam arbitrariamente, e, enquanto o processo empobrece a muitos, de fato enriquece a alguns... À medida em que a inflação avança e o valor real da moeda flutua de forma errática de um mês para outro, todas as relações permanentes entre devedores e credores, que formam o fundamento último do capitalismo, se tornam tão completamente desordenadas a ponto de se tornarem quase desprovidas de sentido”.

Este texto, bastante didático, é de John Maynard Keynes, contido em seu livro The Economic Consequence of Peace (As Conseqüências Econômicas da Paz). Serve como uma luva para o Brasil contemporâneo, onde os que lucram com a inflação forçam as taxas para o alto e os que perdem ficam impassíveis, apenas observando o próprio empobrecimento.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de janeiro de 1994)


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