Thursday, December 31, 2009




Às vezes, julgamo-nos onipotentes e não nos damos conta da nossa pequenez, de que dependemos de forças e circunstâncias muito além da nossa capacidade, sobre as quais não temos o mínimo controle. Há milhares de tragédias potenciais tendentes a nos conduzir à catástrofe que podem se abater sobre nós quando menos esperarmos. Basta citar, por exemplo, os efeitos catastróficos da tsunami que se abateu sobre a Ásia, em 26 de dezembro de 2004, que deixou cerca de meio milhão de mortos. Ou do furacão Katrina, que quase varreu Nova Orleans do mapa. Se quisermos, portanto, ter um futuro, temos que começar sua construção já! Mas com atos concretos e não com fantasias. Por isso, 2010 tem que ser caracterizado pela ação: conjunta, solidária, incansável e competente. Só dessa forma, poderemos fazer do ano que está às portas um período de alegrias, satisfações e sucessos. E com a ajuda de Deus, claro!



Alma nova

Pedro J. Bondaczuk

O início de cada novo ano é recebido de maneiras muito diferentes pelos três principais tipos de pessoas que existem: os otimistas, os pessimistas e os indiferentes, aqueles que deixam a vida rolar, sem esperar e nem desesperar demais dela. Observe-se que otimismo não implica em alienação, pelo menos não necessariamente. É uma predisposição pessoal, uma postura positiva, uma atitude de esperar sempre o melhor, mesmo nas piores circunstâncias e situações.
Já o pessimismo, óbvio, é o comportamento diametralmente oposto. É o de achar que nada no mundo é tão ruim que não possa piorar. É a postura das pessoas que no fundo da consciência esperam mais da vida e das pessoas do que estas provavelmente lhes irão dar e que, quando essas expectativas não são satisfeitas, enxergam tudo e todos sob o prisma da decepção e da frustração, ou seja, cinzento, enfumaçado, opaco e, portanto, ruim.
Creio que a humanidade se divida, grosso modo, em partes praticamente iguais desses três tipos de personalidade. Talvez haja, admito, um pouquinho a mais de pessimistas, em decorrência, até, da imensa horda de famintos, miseráveis e sofredores que povoam o Planeta.
Otimismo, pessimismo e indiferença, porém, não dependem intrinsecamente de condições econômicas e/ou sociais. Conheço muita gente que não tem rigorosamente nada de seu ou seja, usando jargão popular, não tem nem “onde cair morta”, mas que não abre mão da esperança de dias melhores.
É alegre, de uma alegria de causar estranheza e inveja em quem não consegue senti-la, confiante e, sobretudo, batalhadora. Como sempre espera o melhor, não mede esforços para a sua obtenção, acreditando que tanto esforço trará, mais dia menos dia, resultados favoráveis (mesmo que nunca traga).
Em contrapartida, cruzo, a todo o momento, com pessoas privilegiadíssimas, que têm muito mais do que fazem ou fizeram por merecer, que jamais passaram por qualquer espécie privação, que não têm a mínima carência, nem material e nem afetiva e que, no entanto... têm a alma parecida com um reservatório de vinagre. São azedas, desagradáveis e, principalmente, insuportáveis. São como aves de mau agouro. Na verdade, sequer sabem o que querem.
Quanto aos indiferentes, há milhões, mundo afora. Estes, em vez de pensarem na vida, limitam-se a viver. Pouco desejam, mesmo que nada tenham. E quando têm, contentam-se com a posse, sem questionar se o que possuem é muito, pouco ou apenas o suficiente. Creio que essas pessoas, à sua maneira, até sejam felizes. Ao contrário dos otimistas, estes sim são alienados, na mais pura e legítima caracterização de alienação.
Esses três tipos, portanto, nem poderiam ter as mesmas expectativas em relação ao início de cada novo ano. Têm posturas opostas e, forçando um pouco a constatação, até “almas” diferentes. Raramente mudam. Embora não se saiba em que momentos da vida assumiram essas posturas, essas findam por serem definitivas.
O otimista revê o que de positivo lhe aconteceu no ano que termina e acredita, sem titubear, na pior das hipóteses, que as mesmas coisas voltem a lhe acontecer. E na melhor... Espera surpresas agradáveis e oportunidades renovadas. Quanto aos fracassos, não lamenta por eles. Avalia onde errou e busca corrigir esses erros, para que não mais se repitam.
Já o pessimista sequer menciona o que de positivo lhe ocorreu. Talvez nem saiba identificar. Provavelmente, sequer se dá conta dessa ocorrência. Concentra-se nos insucessos e busca se prevenir para que estes não se repitam.
Fá-lo, todavia, de forma equivocada. Isola-se de tudo e de todos e vê, nas situações mais triviais, corriqueiras e inocentes do cotidiano, perigos que só ele enxerga. Encara o início de um novo ano como um ano a menos de vida. E alguns chegam ao exagero de desejarem a morte, na qual vislumbram o fim dos seus sofrimentos, na maior parte, apenas, imaginários (ou exclusivamente temidos).
Nesse aspecto, os indiferentes levam vantagem sobre os outros dois tipos. Não espera vitórias e nem teme fracassos. Apenas ignora ambos. Festeja o início de novo ano porque todos o fazem, sem emprestar ao momento nenhum significado especial.
Creio que esses três tipos de pessoas deveriam raciocinar como Gilbert Keith Chesterton sugere: “O objetivo de um ano novo não é que nós deveríamos ter um ano novo. É que nós deveríamos ter uma alma nova”.
E você, querido leitor, como encara a superação de mais uma etapa, com o consequente início de uma nova, com todo o potencial, positivo e negativo, que ela traz ou pode trazer? É otimista, pessimista ou indiferente?
Não farei nenhum juízo de valor e reservo minhas críticas (ou elogios) apenas a mim mesmo. Porquanto, qualquer que seja sua postura, lhe desejo, com absoluta sinceridade, um FELIZ ANO NOVO! E, se possível, de “alma nova”.

Wednesday, December 30, 2009




A visão do tempo precisa ser mudada. Octávio Paz acentua: "Saber que somos mortais nos leva a indagar: que futuro melhor nos espera? A ameaça de aniquilação do mundo deu novo e redobrado valor à hora presente. A presença é um novo erotismo fundado, não na eternidade, mas no aqui e no agora". Já passou pela cabeça da amiga que pode nem haver um ano 2008 para a humanidade? Poderíamos traçar inúmeros cenários possíveis que levariam o mundo à catástrofe. Suponhamos que ocorra uma guerra nuclear. Ou que um meteoro atinja a Terra e a destrua. Ou que um outro tsunami, de gigantescas proporções, surpreenda países e cidades. Os perigos a que estamos expostos são infindos. Tantas e tantas catástrofes podem acontecer. Mas Deus haverá de nos proteger e nada disso ocorrerá! Mas temos que fazer a nossa parte para salvar o Planeta, que é o nosso lar cósmico! Irmanados e solidários, saibamos fazer de 2010 um ano de paz, prosperidade e alegrias.



Futuro oculto

Pedro J. Bondaczuk

O futuro está na iminência de, mais uma vez, metamorfosear-se bem diante de nossos olhos. Vai se tornar, numa fração de tempo tão ínfima que não pode sequer ser mensurada, presente e, sem aviso ou delongas, em seguida, se consolidar em caudaloso e infinito passado. Em poucas horas, mais um ano ficará na lembrança, com o surgimento de um novo a nos desafiar a preenchê-lo de alegrias, sucessos e felicidade.
Essa é, pois, excelente oportunidade para “filosofarmos”. Não, claro, com aquela filosofia dos jargões complicados e das variadas escolas, teorias exóticas e conceitos vagos e nebulosos, incompreensíveis à maioria. Mas com a simples, a ditada pela observação criteriosa dos fatos e madura reflexão sobre suas origens e conseqüências. Momento algum é mais apropriado para esse exercício racional do que o da passagem de um ano para outro. Ou seja, agora.
Não há quem não se ocupe, de uma forma ou outra, com o futuro. Essa preocupação, desde que moderada, é saudável e desejável. Contudo, é preciso ter em mente que o futuro não passa de abstração, de mero potencial, de simples vir a ser. Pode se concretizar rapidamente, transformando-se, em infinitésimos de segundo, no presente, como dissemos, ou pode nunca acontecer, em decorrência da nossa mortalidade. Sua matéria-prima, portanto, são os sonhos, as esperanças, as projeções da mente e da imaginação. A realidade é o momento presente, curtíssimo, mais rápido do que um piscar de olhos. E é, principalmente, o passado que, reitero, é caudaloso e extenso.
Há pessoas que garantem pensar no futuro – que nem sabem se terão (ninguém jamais sabe) – mas se esquecem das tarefas mais comezinhas, das obrigações mais simples do dia-a-dia. Descuidam de tudo: das finanças, dos amores, dos relacionamentos e até da saúde. Concentram-se, apenas, num eterno “amanhã”, que para elas nunca chega.
Trata-se, porém, de grave equívoco. Quem age dessa maneira, arruína a vida, sem sequer se dar conta. Compete-nos viver, da melhor maneira possível, um dia por vez, como se este viesse a ser o último. É a única forma honesta, sábia e eficaz de construir o futuro.
Encaramos esse porvir de formas diferentes, conforme nossa personalidade, formação ou circunstâncias. Para uns, ele é nebuloso e assustador. Para outros, é indiferente, por saberem que é desconhecido. Há, no entanto, os que o aguardam com confiança e gratidão, mesmo sem ter a mínima noção do que ele lhes reserva. Vêem, nele, sem-número de oportunidades e se preparam para aproveitar cada uma delas.
Claro que essa postura não é garantia para o sucesso. Ninguém tem certeza de como será seu amanhã, se feliz ou tormentoso. O que importa é a postura. Uma atitude de confiança valoriza e multiplica as eventuais alegrias que o porvir nos reserva e previne e atenua as tristezas e sofrimentos.
O futuro é o que ainda não existe, certo? Errado! Nem sempre é assim. Não, pelo menos, em relação ao segundo seguinte ao que estamos vivendo. É conseqüência do que fizemos no passado e do que estivermos fazendo agora. Não surge, como por encanto, do nada.
Nosso futuro estamos construindo a cada momento, mediante atos, empenho e predisposição do espírito. Se perdermos tempo com temores exacerbados, inúteis lamentações e manifestações de pessimismo e mau-humor, quando ele chegar, num piscar de olhos, será estéril, sem que tenhamos feito nada de útil e proveitoso para nós e para a espécie. O que você terá, pois, no futuro imediato, será conseqüência do que estiver elaborando agora, neste preciso instante.
A maneira de encarar esse tempo potencial, tanto do otimista, quanto do pessimista, é bastante parecida. Varia, apenas, de intensidade. O primeiro, por exemplo, tem “certeza” de que ele virá, e será brilhante e feliz, muito melhor que o presente. Já o segundo, manifesta, apenas, “esperança” que venha a ser assim.
Mas a mera preocupação com o futuro, mesmo que com otimismo, mas sem prévia ação, no sentido de construí-lo, achando que as coisas irão se concretizar por si sós, à nossa revelia, é uma estupidez sem tamanho. Se quisermos que nossos projetos se concretizem (e isso se os tivermos), reitero quantas vezes for necessário, temos que agir nesse sentido.
Precisamos estudar, trabalhar e nos preparar com método, organização e aplicação, dia a dia, anos a fio. Ainda assim, não há a menor certeza de sucesso (nunca há e para ninguém). Repito, pela milésima vez, o que já escrevi em inúmeras ocasiões: não temos sequer certeza de que amanheceremos vivos amanhã, quanto mais sobre os resultados dos nossos esforços num remoto e nebuloso futuro.
Todavia, se nos prepararmos adequadamente, se aprendermos todo o conhecimento a que tivermos acesso, nossas possibilidades de sucesso crescerão exponencialmente. O tão aguardado ou temido porvir será, pelo menos potencialmente, viável. Afinal, como constatou o filósofo inglês, Francis Bacon, “o futuro do homem está oculto em seu saber”. E, tenha certeza, pelo menos em termos potenciais, de fato, está. Portanto, caro leitor, feliz “metamorfose do futuro”! Feliz ano novo!

Tuesday, December 29, 2009




As pessoas não têm noção da dimensão dos estragos já causados ao meio ambiente por empresas, corporações e governos irresponsáveis e criminosos. Há danos que os cientistas consideram irreversíveis. Outros, como os rombos na camada de ozônio – e agora descobriu-se que há um no hemisfério norte, sobre países altamente industrializados, muito maior do que no sul – talvez possam ser recuperáveis, desde que as providências comecem a ser tomadas já. Mas não estão sendo. Por isso, temos que agir. Este 2010 que está às portas tem que ser caracterizado pela ação, coordenada, competente, constante e positiva. Resgatemos a solidariedade. Transformemos a esperança em certeza. Façamos do futuro não um motivo de inquietação e temor, mas de plena felicidade. Precisamos conseguir! Devemos conseguir! Vamos conseguir! E graças ao nosso esforço solidário, permanente e efetivo, vamos transformar 2010 num período de muita felicidade e alegria!



Em busca de motivação

Pedro J. Bondaczuk

A passagem de um ano para outro é sempre o momento oportuno para fazermos um balanço dos 365 dias que terminaram e apurar qual foi o saldo, se positivo ou negativo. Caso estejamos com saúde e festejando o instante com a família, os amigos e até com estranhos, em casa, num clube ou na praia, numa dessas tantas festas de reveillon, será um ótimo sinal. Ou seja, será segura indicação que, por mais fracassos e desilusões que tenhamos eventualmente experimentado, o saldo do ano que passou foi positivo.
Em geral, não atentamos para isso e não valorizamos esse aspecto. Queremos, muitas vezes, o que está absolutamente fora do nosso alcance, além das nossas forças e capacidades, e nos frustramos. Consideramo-nos perdedores inveterados, sem atentar para a infinidade de vitórias que obtivemos que, somadas, compõem um êxito imenso, sem tamanho.
Carecemos de motivação para encarar o novo ano, mas torcendo para que seja um de muitos. Afinal, por mais amargos e pessimistas que sejamos, tememos a morte. E com razão. Apegamo-nos a tudo o que possa sugerir, mesmo que de longe, “sorte”. Fazemos simpatias caseiras de toda a espécie, recorremos ao horóscopo na tentativa de antecipar sucessos e alegrias, enfim, trocamos votos e juras de amizade, eufóricos e esperançosos. É errado proceder assim? Claro que não!
Errado é apostar na desgraça e na infelicidade. É começarmos um novo ano com coração e mente repletos de dúvidas e de temores. É não vermos alegrias e nem graça nenhuma na vida. É encararmos o mundo como um vale de lágrimas, de violência, sofrimento e dores, sem sequer atentarmos para o fato de que bilhões de pessoas ao redor do Planeta têm motivos reais para a amargura e o desespero.
Milhões não têm sequer o que comer, nem abrigo seguro, vivendo em acampamentos de refugiados. Milhares e milhares estão encerrados em leitos de hospitais, ou em prisões, ou em asilos e orfanatos e vai por aí afora. Estes sim têm motivos de sobra para lamentar e se desesperar. E, ainda assim, boa parte dessas pessoas, não importa quantas, não abre mão da esperança.
Pense nisso, amigo, antes de desfiar um rosário de lamentações por causa de pequenos fracassos, que sequer são definitivos e ademais têm reversão. Motive-se. Aceite o desafio da vida e transforme esses ínfimos insucessos em grandiosas vitórias. Se for necessário iludir-se, para sentir-se feliz, iluda-se.
Os sisudos pensadores, que põem pose de realistas e que assumem ares de sumamente racionais, também se iludem, embora neguem e se irritem quando alguém lhes faz essa observação. Todos, de uma forma ou de outra, nos iludimos. Afinal, como diz a letra da canção que serve como um dos temas da novela “Viver a vida”, da Rede Globo: “a vida é uma grande ilusão”. E não é? Da minha parte, acho bom que o seja.
Faça planos, muitos e ousados, mas não se esqueça deles tão logo termine este período de festas, já na segunda-feira. Empenhe-se na sua concretização. E, se não conseguir, não se aborreça e nem se diminua. Milhões de pessoas, muitas das quais muito mais bem preparadas do que você, também planejam e pouquíssimas conseguem sucesso no que planejaram.
Se as coisas não deram certo, faça o seguinte: no próximo final de ano, faça um criterioso balanço da sua conduta e busque descobrir em qual (ou quais se for o caso) ponto você falhou. Refaça seu plano para o ano seguinte e volte a empenhar-se por sua concretização. Faça isso quantas vezes, ou quantos anos, isso for necessário.
Mas nunca se desespere com o que você pode interpretar como fracasso. Às vezes nem é. E mesmo que for, você ficará ainda no lucro: terá encontrado motivação para viver bem e por um período muito extenso da sua vida, quiçá por ela inteira. E isso, caro amigo, mesmo que você discorde, ou relute em concordar, significará um ganho imenso. É algo que não tem preço.
Li, recentemente, um texto de Johann Wolfgang von Goethe, que cabe como uma luva para ilustrar o que quero transmitir nesta passagem de ano. O gênio literário alemão observou em determinado trecho: “Se tomardes a vida com excessiva severidade, que atração tem? Se a manhã não vos convidar a novas alegrias e se à noite não esperardes nenhum prazer, valerá a pena vestir-se e despir-se?”. Pois é, amigo, responda com sinceridade: valerá a pena? Claro que não!
Estenda essa suavidade em encarar a vida para todos os dias, sem exceção, do ano que se inicia. Vá mais longe. Não tema em ser exagerado. Adote essa conduta não apenas para o novo ano, mas para todos os que vier a viver. Motive-se e seja feliz!!!

Monday, December 28, 2009




Os indivíduos, os grupamentos humanos e os países sonham com um terceiro milênio radioso, onde não haja famintos, desabrigados e excluídos e as doenças que mais incapacitam e matam estejam controladas, senão vencidas. Acreditam no surgimento de um período de abundância e prosperidade geral e que essa coisa vaga, difusa e indefinida, chamada de "felicidade", será finalmente conseguida por todos, apesar de cada pessoa a entender e definir ao seu modo. Isso, porém, apenas será possível se agirmos nesse sentido. Se cumprirmos com nossas obrigações de maneira responsável, competente e constante. Esse 2010 que está no limiar tem tudo para ser o início da transformação positiva que a humanidade requer. Tem, portanto, que ser caracterizado pela ação. Podemos conseguir esse objetivo! Temos que conseguir! Vamos conseguir! Iremos tornar (e esta é a minha grande esperança) 2010 um ano de felicidades e de completo sucesso!.



Liberdade para voar

Pedro J. Bondaczuk

O tempo da nossa vida pode ser comparado ao espaço em que um frágil pássaro (no caso nós) empreende permanente vôo, alegoria, aliás, que já explorei em crônica recente, mas que é oportuna de ser reiterada.
Os finais de cada ano, nessa metáfora, representam um entardecer qualquer, quando a frágil ave (nós) regressa ao ninho para cuidar da prole e recobrar forças para reiniciar a jornada no dia seguinte, tão logo surja o sol. E essa faina se repete por inúmeros “amanhãs”. Quantos? Ninguém pode determinar. A quantidade varia de ave para ave, sem que ninguém possa determinar a razão.
Os novos anos seriam, neste caso, as tantas alvoradas diárias, nas quais esse frágil pássaro (reitero, nós) torna a levar, continuamente, numa espécie de ritual, em suas asas ou, quem sabe, no bico, alegrias, tristezas, sucessos, fracassos, mágoas e saudades, todos ditados por nossas circunstâncias, para longe do ninho, para serem descartados.
O momento atual é o do regresso. É a oportunidade de fazer o balanço dos perigos enfrentados e vencidos, dos belos lugares por onde se sobrevoou, dos locais de fartura de alimentos que se descobriu, de onde e do que é prudente fugir e assim por diante.
Ao retomar o vôo, amanhã, no albor do novo ano, em céu que pode ser claro e azul ou nublado e tempestuoso, terei traçado toda a estratégia para sobreviver até novo anoitecer, até mais um retorno ao ninho, e para contar com ousadia e experiência necessárias para tornar a voar no alvorecer seguinte.
A mim compete, se souber viver, decidir o que levarei nas asas, ou no bico, para o futuro e o que trazer no regresso. Isso, tendo sempre em mente que ora voarei em céu tempestuoso, em meio a nuvens cor de chumbo, ora num azul sem mácula, em dias plenos de luz.
Os anos se sucedem, as estações passam e tornam a voltar, num ciclo que parece não ter fim. Mas tem. Um dia o frágil pássaro (ou seja, nós) partirá rumo ao mistério e ao infinito, o da morte e, possivelmente, da eternidade, ou da absoluta extinção. E partirá em definitivo, para não mais voltar. Outras aves repetirão o mesmo ritual, e igualmente por tempo indeterminado. Este é o ciclo natural e inexorável da vida.
Para onde vamos seguir, é um mistério. Dependerá de nosso estado de espírito, crenças, sonhos, otimismo, esperanças e fé. Pois, como diz o poeta Mauro Sampaio, nos versos do poema “Oráculo”: “Quando o pássaro partir/para o seu vôo de inverno,/há de levar nas asas o pólen da saudade”. É apenas o que levaremos quando partirmos na derradeira jornada, a que não terá mais regresso.
O ideal seria que tivéssemos liberdade para voar, o que, porém, nunca ocorre. Estamos sempre na dependência de obstáculos (alguns intransponíveis) a transpor, de amarras de compromissos e obrigações a se desvencilhar e de permanente risco de predadores, armadilhas e ciladas de toda a sorte para escapar. Todos esses fatores tentam impedir nosso regresso ao ninho.
No meu caso, por exemplo, neste ano que está prestes a findar, eu trouxe, de regresso da minha jornada, ao ninho, após longo, mas relativamente suave vôo no céu do tempo, algumas perdas (poucas, mas expressivas) e muitos ganhos (dignos, claro, de comemoração).
No primeiro caso, perdi uma pessoa da família que muito estimava. Doravante, ela irá sobreviver, enquanto eu não fizer meu derradeiro vôo (o sem regresso) somente em minha memória e saudade. Em contrapartida, ganhei um companheirão que, creio, será dos mais fiéis e constantes (amado, certamente, já é), representado pelo nascimento do meu neto João Vítor.
Estou prestes a decolar para nova aventura, munido de disposição, coragem, ousadia e de estratégia. Contudo, não voarei só. Procurarei integrar-me ao “bando”, cujos integrantes, todos, têm o mesmo destino e objetivo que eu.
Tentarei empreender, como faço há décadas, minha maior conquista, que é a ruptura do casulo da solidão em que me sinto aprisionado. Porquanto, como observou o escritor Cesare Pavese, “todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros”. É o que tentarei fazer antes do próximo regresso ao ninho, tão logo anoiteça.

Sunday, December 27, 2009




A insensatez conduz o homem a depredar com intensidade crescente seu domo cósmico, como se aqui fosse um planeta provisório e que, quando deteriorado, houvesse um outro onde viver. Obviamente, pelo menos em nosso Sistema Solar, não há um substituto. E os eventualmente existentes em outras estrelas estão muito distantes para que sejam alcançados com a tecnologia da atualidade. A parafernália tecnológica passou a ser uma espécie de nova "religião". As pessoas crêem cegamente que a "ciência" tudo pode. Acredita-se até que possa regenerar um meio ambiente bastante deteriorado. Claro que não pode. Temos que agir, com inteligência, solidariedade e competência, para transformar a feia realidade atual. Por isso, 2008 tem que ser caracterizado pela ação construtiva. Nós podemos, devemos e vamos fazer isso! E o novo ano será de contínuo e ininterrupto sucesso, construído com nossa capacidade, nosso talento e nossas mãos!



Desfecho não teria sido diferente

Pedro J. Bondaczuk


A humanidade certamente mataria Jesus Cristo de novo caso este voltasse à Terra nos dias atuais”. Esta é a mensagem passada pelo escritor russo, Fedor Dostoievski, num magistral monólogo de um de seus personagens do livro “Os Irmãos Karamazov” , em que relata um hipotético encontro do Messias com um inquisidor espanhol.

O romancista externou essa opinião no século passado. Não com estas exatas palavras, evidentemente, mas deixou isso implícito. Hoje, essa possibilidade seria muito mais certa do que no seu tempo. Aliás, o Salvador da humanidade tem sido morto diariamente nos milhares de campos de refugiados espalhados por este atormentado Planeta. Na infinidade de favelas que cercam as grandes metrópoles, em especial do Terceiro Mundo. Nas masmorras nauseabundas, onde sádicos sem cérebro e nem emoções, torturam seres humanos, apenas por causa de suas convicções.

Quantas das cerca de 900 milhões de pessoas que se dizem cristãs seriam capazes de salvar Cristo de ser levado perante tribunais, que se dizem de Justiça, mas que decidem, invariavelmente, de maneira injusta, em detrimento dos humildes?

Quantos dos que posam de fanáticos crentes – a ponto de se autoflagelarem , como fazem alguns filipinos – o livrariam de ser torturado como subversivo, por pregar o que já no tempo dos romanos era e nos dias atuais é uma mensagem insólita e desafiadora: o amor ao próximo?

Quantos dos que fazem jejuns e penitências, confessam e comungam com freqüência livrariam o Deus que se fez homem de perecer de fome? Poucos, muito poucos. Quem sabe, ninguém! Cristo tem sido diariamente assassinado por aqueles que se valem da violência em seu nome, como ocorre no Líbano e na Irlanda do Norte.

É morto milhares de vezes por dia nas clínicas que praticam o aborto, evitando que seres humanos talvez brilhantes, quem sabe novos Pasteurs, Flemings e Einsteins, possam ver a luz da existência. É sacrificado a todo o instante, não numa cruz, mas nos corações dos que se dizem seguidores, e portanto discípulos, trocado pela inveja, cobiça, pornografia reles e barata e um inconfessável e profundo ódio pelos semelhantes. Às vezes (e não são poucas) esse rancor patológico é até mesmo pelos próprios pais, cônjuges e filhos.

Há 1.956 anos o Messias foi pregado na cruz, porque poucos conheciam a sua magnífica mensagem de amor e de perdão. Hoje, raros há que possam dizer que a desconheçam. A Bíblia é o livro mais vendido no mundo em todos os tempos. A televisão já exibiu filmes em todas as partes narrando a vida exemplar de Jesus.

Seu nome é invocado a todo o instante, nas mais variadas circunstâncias, especialmente nas horas de necessidade e aflição. E ainda assim, os homens seguem matando Cristo a cada instante em seus corações. Que lástima!

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 24 de março de 1989).

Saturday, December 26, 2009




A necessidade humana de acalentar esperanças para poder sobreviver ao tédio ou à mediocridade nos leva a fazer do futuro – ou seja, do que ainda não aconteceu e pode sequer jamais ocorrer para nós – uma "Idade de Ouro", onde tudo será melhor do que hoje e principalmente do que ontem. Com isso, nos esquecemos de viver o presente e de valorizar as benesses com que contamos. Nesse contexto, colocamos à nossa frente determinados símbolos, aos quais emprestamos excessivo valor. Um deles, é a passagem de um ano para outro. É o que está perto de ocorrer agora em relação a 2009. Ele pode, sim, ser um ano de sucessos e de alegrias, se agirmos nesse sentido. Se formos íntegros, dedicados, solidários, competentes e soubermos partilhar o que temos com os menos favorecidos. Ação tem que ser o grande lema para os próximos 365 dias. E que 2009 seja, de fato, um marco em nossas vidas. Que possamos concretizar nesse próximo ano nossos sonhos e ideais.



Soneto à doce amada – L

Pedro J. Bondaczuk

Sorri, sorriu e algo aconteceu
em nossa vida. Seria amor?
Seria ilusão? O rubor
coloriu o seu rosto. E o meu?

Meu rosto, pelo tempo marcado
com tantas e fundas cicatrizes
das muitas batalhas infelizes,
era o de alguém iluminado!

Abracei-a, com tanta ternura,
confiante, forte, vencedor,
sem medo, mágoa nem amargura!

Daí, este canto de louvor.
Encerrei minha ingente procura:
achei meu único, grande amor!

(Soneto composto em Campinas, em 16 de setembro de 1965).

Friday, December 25, 2009




Para uns, o Natal é só uma festa, como outra qualquer, desculpa para se abusar da comida e da bebida. Estes, encaram os festejos natalinos, o Ano Novo, o Carnaval, a Páscoa etc., da mesmíssima maneira. São os insensatos que tentam, em vão, fugir de si próprios. Para outros, é um período de amargas recordações, principalmente para os que tiveram infâncias infelizes e são incapazes de se livrar de lembranças espinhosas. O Natal também é uma ocasião de extrema tristeza para os desamparados, os desempregados, os solitários e os que não têm recursos para prover a subsistência com dignidade. O terrível sentimento de rejeição, para os que o sentiram “na carne”, um dia, aflora, por outro lado, com maior violência nessa oportunidade. Muita gente é infeliz, amarga e, não raro, violenta, por causa de uma infância marcada pela fome, violência e falta de afeto. São estes que requerem nossa atenção e nosso carinho. Não lhes neguemos! Feliz Natal e a toda a sua família!



O presente

Pedro J. Bondaczuk

(Conto)

-Qual foi o melhor presente de Natal que você já recebeu? – perguntei, de repente, à Ana Carolina e à Ana Paula.
-Foram tantos, não é verdade? Você é capaz de citar um e, mais do que isso, aquele que mais agradou, ou por seu valor intrínseco, ou pelo sentimental, não importa? O meu tenho na pontinha da língua – emendei, enquanto ambas pensavam.
O assunto veio à baila por acaso. Dia desses, conversava com minha irmã mais velha, a Ana Carolina (sou a caçula de quatro filhas) e com minha prima, Ana Paula, na cozinha da minha casa, enquanto saboreávamos uma xícara de café com bolo que a empregada acabara de assar.
Moro num bairro de classe média, no Jardim Chapadão, em Campinas, e não posso me queixar do meu estilo de vida. Sinto-me privilegiada, pois nasci em uma família com estabilidade financeira, bastante unida e que, sobretudo, sempre se amou.
Meu marido, o Zeca, é gerente de banco e aguarda para qualquer momento uma promoção que, se vier, implicará num considerável aumento de salário. Sou escritora de histórias infantis e já emplaquei pelo menos três grandes sucessos editoriais.
Esclareço que o papo em questão não tinha nada de especial e sequer fora planejado. Era dessas conversas descontraídas e informais que mulheres que se gostam de verdade e têm prazer na companhia umas das outras têm sempre que se encontram.
A cada vez que nos reunimos, não importa onde e nem quando, nossas tertúlias íntimas se estendem por horas. E falamos de tudo nessas ocasiões, da família, do trabalho, de novelas da moda, de livros lidos e vai por aí afora, sem esquecer de uma ou outra fofoca de momento, para desespero de nossos respectivos maridos que, sempre que se encontram, terminam brigando por causa dos seus times de futebol.
Em resposta à minha pergunta, Ana Carolina garantiu que o melhor presente de Natal que já recebeu foi seu filho Gustavo, em 1989. Ou seja, há 20 anos.
-O danado nasceu quase na hora da ceia, você se lembra Letícia? – perguntou-me, como se fosse possível esquecer.
Foi um auê! O Zacarias, meu cunhado, quase desmaiou de emoção, afobação ou sei lá o quê. Vá se entender os homens! Posam de durões, mas são uns manteigas derretidas! Meu cunhado não sabia o que fazer. Corria, atarantado, de um lado para outro, sem fazer nada de útil ou de prático. Mamãe, eficiente como era, não se abalou nem um pouco. Largou o peru, que estava destrinchando e, de imediato, foi buscar as malas da Carol, que ela havia, providencialmente, trazido quando veio para a ceia.
Meu marido, por sua vez, era outro aloprado e trapalhão. Corria, igualmente, feito barata tonta, tão afobado ou mais que o Zacarias. Parecia, até, que o filho a nascer era o nosso. Aliás, quando o Joaquim nasceu, dizem que o Zeca deu o maior vexame.
Entre outras coisas, caiu durinho, desmaiado, na sala de espera da maternidade, assim que a enfermeira informou que nosso filho havia nascido. Naquela noite maluca de Natal, citada pela Carol, porém, só papai, na verdade, com seu jeitão calmo e sereno, conseguiu manter a compostura, ou seja, a cabeça no lugar. E tranqüilizou todo o mundo.
-Calma, gente, meu neto só vai nascer daqui umas duas horas. Dá tempo, até, de ir a São Paulo se vocês quiserem – disse com uma calma que talvez (ou provavelmente) nem sentisse.
-Como eu iria esquecer! – exclamei, ao lembrar daquela noite agitada, sem esconder uma pontinha de ironia -Foi um Deus nos acuda! Por pouco seu filho não nasce na casa do papai, em plena sala de jantar, bem na horinha da ceia! – completei.
-Não exagera! Deu tempo para chegar à maternidade e ainda tive que esperar um tempão – interveio Carol,, interrompendo a gargalhada minha e da Ana Paula.
-Ele nasceu somente às três e tanto da madrugada de Natal – lembrou minha irmã, mal escondendo uma pontinha de irritação com a nossa brincadeira. Fazíamos esse tipo de zoada de propósito. Sabíamos que a minha irmã detestava que brincassem com suas lembranças.
Gozado, na minha memória, o nascimento do meu sobrinho havia demorado muito menos. Fora, conforme a minha impressão, quase instantâneo. Por muito pouco não havia ocorrido em plena sala de jantar da casa do papai.
-A bola está com você, Ana Paula – eu disse, encarando minha prima. –Qual foi seu presente especial de Natal?
-O meu? Ora, nem poderia ser outro. Foi o cruzeiro pelo Caribe, na minha lua-de-mel! Um luxo! Que navio! Que lugares maravilhosos! Às vezes penso que nada disso aconteceu e que apenas sonhei – respondeu Ana Paula, com olhar sonhador.
-Também, com um pão daqueles! A viagem seria maravilhosa nem que fosse para o Haiti e num desses barquinhos desengonçados que ameaçam se desmanchar no mar, de tão mambembes – observou Carol, que sempre teve uma quedinha pelo Marcelo, marido da minha prima.
-Foi, não sei se vocês se lembram, na véspera do Natal de 1985 – prosseguiu Ana Paula, ignorando a observação da minha irmã.
-Claro que me lembro – afirmei. –Quase que não pudemos ir ao seu casamento. Isso lá é data para se casar?! – acrescentei em tom de crítica, a mesma que havia feito há 24 anos.
-Pois acho que não há dia mais oportuno do que este. Afinal, o Natal não é a celebração da vida? Pois então, o casamento também é. Limitamo-nos a unir o útil ao agradável, nada mais – respondeu Ana Paula, que como excelente advogada que era, tinha argumento para tudo.
-Agora é a sua vez Letícia – disseram, ambas, ao mesmo tempo e gargalhando pelo fato de terem feito coro.
-O meu presente de Natal inesquecível eu ganhei em 1967 – revelei.
-Não é possível! Você só tinha dois anos! E não vai dizer que foi aquela boneca desengonçada, que você batizou de Garrafa! – exclamou minha irmã.
-Não, não foi a boneca. E apesar dos especialistas dizerem que passamos a nos lembrar, somente, de coisas que nos aconteceram por volta dos quatro anos, lembro daquele Natal como se fosse hoje. Até da roupa que eu, você, a Beatriz e a Terezinha vestíamos – respondi, com absoluta convicção.
-Se não foi a boneca, a tal da Garrafa, qual foi esse presente tão especial? Papai e mamãe não costumavam dar mais de um presente para nenhuma de nós – Carol voltou à carga.
-Calma, já explico – respondi.
Antes, já que as mencionei, devo dizer que Beatriz e Terezinha são minhas duas outras irmãs. A primeira, é apenas dois anos mais velha do que eu. Atualmente, está na Inglaterra, mais especificamente na cidade de Manchester, participando de um programa de intercâmbio de estudantes. Em contrapartida, a inglesinha (simpática, por sinal) Wendy está conosco, hospedada em nossa casa (na verdade, na minha).
Já Terezinha é apenas um ano mais nova que Carol e, portanto, seis mais velha do que eu. Também está no exterior, nos Estados Unidos, e pelo jeito vai ficar mesmo por lá. Está apaixonadíssima por um jogador de futebol americano da universidade e garante que logo, logo, vai se casar.
-Não foi a Garrafa meu grande presente daquele Natal, embora eu guarde essa boneca até hoje. Apaixonei-me por ela exatamente porque é tão feiinha. E hoje está muito mais feia ainda – comecei a explicação.
-Você se lembra da brincadeira que fizemos com papai e mamãe? – perguntei à Carol, para tentar explicar qual foi esse presente tão especial.
-A da caixa? Claro que lembro! Você quase estragou tudo! – respondeu minha irmã.
-É que apesar de vocês terem feito furo nela, eu quase não conseguia respirar. E lá dentro estava escuro demais. Vocês não paravam de rir e demoraram muito para chamar papai e mamãe - recordei.
-Também, você não parava de resmungar! – respondeu a Carol.
-Pois é, você lembra da cara de espanto que papai fez quando vocês disseram que aquele era o nosso presente para ele? Nunca vou esquecer o olhar de ternura que ele me dirigiu quando, de repente, saí da caixa e caí em seus braços. Justo ele que era tão sério e sorria tão pouco! Quando ele me apertou em seus braços, dizendo que mesmo sendo homem, iria se divertir muito com aquela “boneca” que falava e que ria (e eu gargalhava, sem conseguir conter a risada), que acabara de ganhar (no caso eu), nunca antes e nunca depois me senti tão amada, protegida e valorizada como naquele momento. Lembro que vi lágrimas escorrerem de seus olhos, apesar dele logo tratar de disfarçar, dizendo que lhe entrara um cisco no olho. Cisco coisa alguma! Aquele amor, que se estendeu pelo resto da minha vida, foi não só o meu melhor presente de Natal, mas o melhor presente que já recebi e posso vir a receber enquanto viver! – arrematei.
A Carol é mesmo uma chorona. Pois não é que ela se derreteu em lágrimas após essa revelação, enquanto a Ana Paula se mantinha pensativa! Aliás, não é para menos. Que falta o papai, esse homem carinhoso, inteligente e bom, nos faz! Se eu fui, como ele disse, seu melhor presente, imagine ele, com sua compreensão, bondade e amor!

Thursday, December 24, 2009




O Natal é, basicamente, a festa da família. Pelo menos deveria ter essa característica, que o tornaria marcante, ano a ano, pela vida afora, e não seria encarado, meramente, como é por muitos, como um feriado qualquer. Hoje, infelizmente, a ocasião presta-se a muita pieguice, a muita demagogia, a muita hipocrisia e a muita exploração da ingenuidade e da boa fé alheias. Há muito foi apropriada pelo comércio, que tem nesse período do ano apenas uma época propícia para garantir boas vendas e fechar o balanço anual dos grandes e pequenos magazines com lucros. Não haveria nada de errado nesse procedimento se ele não desviasse as atenções do verdadeiro significado do Natal. Mas a data é, também, (felizmente), para muita gente, ainda período de reflexão e de alegria. É uma pausa benfazeja na luta cotidiana pela sobrevivência. A forma como é encarada, contudo, varia de acordo com a personalidade, a realidade e a formação humanística de cada um. Feliz Natal e a toda a sua família!



À margem de nós mesmos

Pedro J. Bondaczuk

As pessoas mudam com o tempo, embora nem sempre as mudanças sejam para melhor. Enquanto algumas evoluem, aprendem com a vida, extraem preciosas lições de fracassos e frustrações, outras tantas caminham para trás, retrocedem inúmeros passos, corrompem-se, desencantam-se e ficam pelo caminho lamentando a má sorte, quando na verdade suas desventuras são frutos do próprio comportamento tolo.
Eu, como todo mundo, mudei, e muito, nesta minha já longa caminhada pelo tempo. Os que convivem comigo garantem que minhas mudanças foram para melhor. Não sei se essa avaliação é a correta ou se é mero fruto da estima que têm por mim.
A mim me parece, contudo, que me tornei mais tolerante, menos rígido, mais compreensivo e cortês. E como em sociedade prevalece o “efeito da mola”, ou seja, tudo o que fazemos volta para nós com a mesma força aplicada em nossas ações, venho sendo recompensado, mais do que esperava e possivelmente muito mais do que fizs por merecer, por essa postura mais amena e suave.
Uma das minhas mudanças mais dramáticas foi em relação ao Natal. As últimas cinco festas natalinas foram perfeitas em todos os sentidos, como num sonho, em que as coisas acontecem rigorosamente como planejamos. Tempos atrás jamais supunha que seria possível me alegrar tanto com uma simples festa (justo eu que sempre as detestei). Nem sempre, todavia, esse período do ano foi tão bom para mim como tem sido ultimamente. Pelo contrário, quase sempre era motivo de tristeza, saudade e solidão.
Minha primeira festa de Natal ocorreu quando eu já tinha onze anos de idade. Foi num internato de São Paulo. Talvez pela novidade desse algo, que até então não conhecia, pareceu-me a melhor da minha vida. Ainda hoje recordo-me desse dia com satisfação, saudade e até empolgação. Todavia, esse evento tão auspicioso perdeu, recentemente, a primazia, pelo menos em minhas lembranças. As melhores festas natalinas que já tive foram exatamente as cinco últimas, rigorosamente empatadas, sem nenhuma delas ser um tantinho que seja melhor do que a outra.
Ao longo de quase cinqüenta anos, posso afirmar que não tive natais. Quando criança, meus pais, evangélicos fiéis, não festejavam a data. Argumentavam que Jesus não nasceu em 25 de dezembro e que a festa, da forma como é celebrada, é uma incorporação de um festejo pagão ao cristianismo. Respeito sua postura e sua fé, posto que não concorde pelo menos com a primeira.
Não vejo mal nenhum numa reunião de família, seja a que pretexto for, em que cada membro manifeste, explicitamente, o amor que sente pelos demais, presenteando-os. Pelo contrário, apenas vislumbro méritos nessa atitude. Ademais, adulto nenhum tem o direito, seja a que pretexto for, de sonegar os sonhos de uma criança. A vida, como todos sabemos e sentimos na própria carne, é rápida demais. Chega um dia em que já não temos mais projetos ou ideais, ou por haver concretizado todos os que tínhamos, ou por haver fracassado por completo em sua realização.
Restam-nos, então, apenas lembranças, suaves recordações de pessoas que amamos e que não existem mais, de circunstâncias que nos fizeram momentaneamente felizes e de deliciosos sonhos que então acalentávamos. Quem não tem nada de positivo e bom a recordar é o mais miserável dos miseráveis, embora tenha posses em profusão.
Depois de adulto, também não tive natais. Durante décadas, passei esse dia que deve ser dedicado à família, em redações de jornais, fazendo plantões. Não me arrependo, é claro, pois dessa renúncia foi que tirei os recursos para o sustento, criação e educação dos meus filhos.
Só de cinco anos para cá isso mudou. Agora posso gozar plenamente das delícias de uma festa de Natal em um lar bem constituído, com a graça da Deus. E estou indo à forra. Venho recuperando todo o tempo perdido, abastecendo, avaramente, a memória de lembranças, cada uma mais preciosa e bela do que a outra.
Fernando Pessoas escreveu, certa feita: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Há pelo menos cinco anos, mudei, metaforicamente, meus trajes. Abandonei os formalíssimos terno e gravata, trocando-os por vestes esportivas, confortáveis e apropriadas para o nosso clima e, ainda assim, elegantes. Busquei novos caminhos que me levassem a lugares desconhecidos, renovando o espírito de aventura.
Deixei de lado a postura rígida e séria de antigamente e, a despeito das rugas e dos sinais que o tempo deixou em mim, voltei a ser aquele mesmo menino sonhador, que amava a vida e se sentia capaz de conquistar o mundo, sem receios e nem preocupações. Fiz, portanto, a mágica travessia e, finalmente, me encontrei, escapando do risco de ficar à margem de mim mesmo para sempre.

Wednesday, December 23, 2009




A alegria ou a tristeza no Natal são muito relativas. Por exemplo, uma família de sem-teto da periferia, que alimenta os filhos com repugnante pasta, feita de papelão ralado com tomates apodrecidos (encontrados no lixo), o ano todo, ficará sumamente feliz com uma cesta-básica, que será encarada como presente "caído do céu". Em contrapartida, o milionário, que participa da ceia a bordo de algum navio de cruzeiro pelo Caribe ou pelas ilhas gregas, ou no seu iate de US$ 300 milhões, se sentirá bastante "infeliz" e "mortificado" se o vinho que lhe for servido não estiver no ponto. Ou se achar que o peru ficou um pouco duro. Ou se o tempero do faisão não estiver ao seu gosto. Ou se o champanhe não estiver bem gelado e o caviar para acompanhá-lo não for da melhor procedência. O homem é mesmo assim: egoísta, insensato e contraditório. Daí Cristo ter vindo à Terra, na forma humana, para providenciar sua redenção...



Meninice do mundo

Pedro J. Bondaczuk

A fantasia é importante em qualquer idade, desde que, todavia, não seja posta como substituta, como panacéia, como derivativo da nem sempre suave (pelo contrário, às vezes aspérrima) realidade. É gostoso curti-la, sim, e quanto mais, melhor. Desde que, porém, na medida correta e nunca enganados. Ou seja, tendo em mente que ela é fruto exclusivo da nossa criatividade, mera abstração e nada mais.
Desde que me tornei pai pela primeira vez – e quis a Providência que eu tivesse o privilégio de passar por quatro vezes pela mágica experiência da paternidade – decidi que jamais, em circunstância alguma, fosse em que assunto fosse, eu mentiria para meus filhos. E sempre cumpri zelosamente essa determinação.
Desde que tinham tenra idade, estabeleci, com eles, absoluta cumplicidade que raros conseguem e um elo de completa confiança mutua. Eles confiam em mim e eu neles. Quando adolescentes, por maiores que fossem as bobagens que cometessem, sempre que interrogados, confessavam-nas, sem nenhum subterfúgio ou tentativa de negação. Acabavam ou perdoados, quando as faltas eram graves, ou elogiados pela sinceridade, nos pecadilhos, digamos, sem prejuízos para terceiros. E isso sempre funcionou.
Até hoje, meus filhos acreditam, sem a menor vacilação, em tudo que lhes falo, pois estão convictos que eu jamais lhes mentiria (e nunca lhes menti mesmo) e vice-versa. Por isso, a maneira como a figura emblemática do Natal, a do Papai Noel (criação de uma agência de publicidade norte-americana, que data de 1928, inspirada na figura de São Nicolau, destinada a promover o refrigerante Coca-Cola) sempre foi tratada, aqui em casa, é diferente da maioria dos lares.
Desde quando meus filhos começaram a entender as coisas, lhes expliquei que se tratava de mero símbolo, que não existia de fato, mas que nem por isso eles deixassem de curtir essa fantasia e melhor, que aproveitassem a brincadeira para se alegrar. E eles aceitaram isso numa boa.
Nunca me vesti de Papai Noel para lhes entregar presentes, até porque me sentiria ridículo naquela fantasia vermelha, calorenta e inapropriada para nosso clima tropical. Mas meus cunhados o fizeram algumas vezes. E as crianças levaram a coisa numa boa. Adoraram fazer teatro e fingir que acreditavam nele.
Receberam o “bom velhinho”, nas vezes que este passou por nossa casa (umas cinco ou seis, no máximo) como se ele fosse real. Como se acreditassem, mesmo, que ele havia vindo da Lapônia, num incrível trenó voador, puxado por renas mágicas, que sabiam voar.
Nunca estragaram a brincadeira, pelo contrário. Mas pilhei, em algumas ocasiões, as crianças mais velhas explicando às mais novas a diferença entre fantasia e realidade, o que tive o cuidado de reforçar. E assim os meus filhos cresceram. Ou seja, nunca abriram mão dos sonhos e ilusões, mas sempre tendo em vista que eles eram o que eram, ou seja, irreais.
Recebi inúmeras críticas, de parentes, amigos e até (ou principalmente) de desafetos, por minha suposta incoerência. Alguns me disseram: “Onde já se viu um sujeito que vive criando fantasias, que é escritor, matar os sonhos e ilusões das crianças!” Claro que essas pessoas confundiram as coisas. Aliás, nunca me entenderam e muito menos o meu procedimento e por mais que neguem, creio que não gostam de mim. Não faz mal.
Não matei, em momento algum, as fantasias dos meus filhos. Apenas, limitei-me a dizer-lhes a verdade. E, acima de tudo, ensinei-lhes a distinguir o que é somente imaginado do que realmente existe.
Na verdade, estimulei as duas coisas, que julgo importantíssimas para uma personalidade equilibrada, bem-formada e feliz. Ou seja, que as crianças criassem, sim, fantasias, e não apenas uma ou duas, mas quantas sua criatividade permitisse, ponderando, porém, que sempre tivessem o cuidado de dar-lhes o devido peso. Que jamais confundissem o real com o imaginado, porquanto essa confusão tem um nome próprio: alienação.
Por isso que amo tanto as crianças: por sua sabedoria e sagacidade, muito superiores às nossas, adultos, estejamos ou não dispostos a admitir essa superioridade, quase nunca admitida por nós, esquecidos, aliás, de como fomos em nossa meninice. Elas são o futuro do mundo e, principalmente, a esperança da humanidade. E a esperança, como ressaltou judiciosamente Machado de Assis, no romance “Esaú e Jacó”, é “a meninice do mundo”.
Não por acaso o Natal nada mais é do que uma comemoração já bimilenar ao nascimento de uma criança absolutamente especial, a nos lembrar e às várias gerações que somente assumindo a inocência e a pureza desses pequeninos seres, acharemos a chave da verdadeira sabedoria e desse “Santo Graal”, tão procurado onde ele nem está, que é a felicidade!

Tuesday, December 22, 2009







Eça de Queiroz acha que é sacrilégio experimentar satisfação no Natal, sabendo da existência de mazelas, injustiças e carências sociais mundo afora. Discordo! Melhor isso, do que nada. Escreve: "Nem eu sei realmente como a ceia faustosa possa saber bem, como o lume do salão possa aquecer, quando se considere que lá fora há quem regele e quem rilhe, a um canto triste, uma côdea de dois dias. É justamente nestas horas de festa íntima...que a alma se abre a sentimentos melhores de fraternidade e de simpatia universal, e que a consciência da miséria em que se debatem milhares de criaturas volta com uma amargura maior... Findas as consoadas, o egoísmo parte em desfilada, ninguém torna a pensar mais nos pobres... e a miséria continua a gemer ao seu canto". Não deixa de ser verdade, mas não precisa ser assim. Só depende de nós, para que o espírito de Natal se manifeste em todos os dias do ano, em todos os anos da nossa vida. Que tal tentar?!



Varinha mágica

Pedro J. Bondaczuk


O Natal é uma data que me desperta os sentimentos mais contraditórios, positivos e negativos, e, simultaneamente, lembranças, boas (algumas), e ruins (uma infinidade delas) de todas as outras festividades do nosso calendário ocidental.
Afinal, ninguém tem o poder de controlar o que quer e o que não quer que fique retido na memória. Bem que gostaria de ter, somente, excelentes recordações, e não apenas neste período especial, mas em todos os momentos de todos os anos, até para corroborar minha personalidade, que é, sobretudo otimista. As más lembranças, todavia, acompanham-me à minha revelia.
Tenho postura um tanto ambígua em relação ao Natal. Reflito, claro, todos os anos, no seu significado religioso, na importância e transcendência do magnífico presente doado à humanidade pelo Criador do universo, com seus bilhões de galáxias e “zilhões” (e o termo, aqui, é usado em sentido indeterminado, para caracterizar uma quantidade fantástica, mas impossível de ser quantificada) de estrelas: ou seja, seu próprio filho, que assumiu as condições humanas para nos indicar o caminho da imortalidade.
Todavia, não condeno quem encara a data pelo seu sentido, digamos, “profano”, de mera festa, oportunidade para se comer bem (para os que podem, claro) e se alegrar. Também festejo-a com essa alegria, junto às pessoas que amo e às quais ensinei os princípios (inclusive este) nos quais acredito e pauto a minha vida, no caso, os meus filhos.
Natal é a grande oportunidade que tenho de reunir minha prole (relativamente vasta), de pôr as conversas em dia, de manifestar e receber amor e de, por conseqüência, somar uma boa lembrança a mais no “panteão” de recordações que a cada instante recebe novos acréscimos.
Outro aspecto, digamos “profano”, que cultivo é o de presentear àqueles que estimo, não somente parentes, mas muitos amigos que considero irmãos (se não de sangue, pelo menos de espírito). Claro, como qualquer mortal comum que se preze, gosto demais de ser presenteado, não importa o valor da dádiva. O que é fundamental para mim é o fato de que alguém se lembrou que existo e disse, concretamente, por ações que prescindem de palavras: “olhe, gosto de você”. E isso é bom demais!!!.
De uns tempos a esta parte, alguns Natais têm sido um tanto mais tristes, pelo “desfalque” de pessoas muito queridas que, quando vivas, mesmo que não se fizessem presentes às ceias (e muitas vezes não se faziam mesmo), jamais se ausentavam da lembrança. Claro que elas jamais se ausentarão enquanto eu viver. A diferença é que agora “só” estão vivas, mesmo, na memória. Não podem, inesperadamente, no correr da ceia, telefonar-me desejando-me um bom Natal (e vice-versa), como costumavam fazer.
Primeiro foi a vez do meu pai a se ausentar, para sempre, dos meus festejos natalinos. Que falta que este “velho” querido (era assim que o tratava carinhosamente) me faz! Sua ausência é uma lacuna que jamais virá a ser preenchida por quem quer que seja.
Neste Natal, terei outro desfalque a me entristecer. Trata-se da minha sogra, na verdade segunda mãe, que nos deixou recentemente, bem no início deste mês de dezembro. Na hora da ceia, tenho certeza, a verei sentadinha do meu lado, servindo-me, como sempre fez, as minhas partes preferidas do peru, o vinho da minha predileção na temperatura exata de que gosto e outras tantas iguarias gostosas, que ela preparava com tanto gosto e carinho para mim.
Mas se é verdade que a família teve alguns “desfalques” (e jamais irei entender o mistério da morte), contou, também, com valiosos “acréscimos”. Em 1998, por exemplo, ganhei um genro, o Horácio. Em 2000, foi a vez do Pedro, meu primeiro neto, se incorporar ao clã. Em 2004, o Emerson, que há tempos freqüentava a casa como um dos nossos, adquiriu essa condição, de fato e de direito. Foi o segundo genro que ganhei.
E a família não parou (felizmente) de crescer. No ano passado, teve a adesão de um novo integrante. Ganhei meu terceiro (e último) genro, o Francis, e não ganharei outros só porque não tenho mais filhas para casar. Não vejo a hora, porém, do meu único filho homem, o Alexei, “presentear-me” com uma nora, para ciúmes da minha amada esposa (pois as mães, embora invariavelmente neguem, têm esse sentimento em relação aos filhos homens).
Finalmente, neste Natal terei o acréscimo mais recente, a “jóia da coroa”, a pérola da família, a “cereja do bolo”. Trata-se do meu segundo neto, o João Vítor, que nasceu neste ano e que terá seu “batismo de alegria” na sua primeira (de muitíssimas tenho certeza) festa natalina em família.
Apesar da forma ambígua com que encaro essa data, não posso negar que nenhum outro evento do ano, mas nenhum mesmo, é tão importante para mim quanto este. Por que? Dou voz ao reverendo Norman Vincent Peale – que considero uma espécie de Padre Antonio Vieira evangélico, pois como o sacerdote português, também foi um estilista do idioma, embora do inglês – para responder por mim, por expressar, melhor do que eu, a razão dessa importância: “O Natal agita uma varinha mágica sobre todo o mundo, e observe, tudo é mais suave e mais bonito”.
Queiram ou não, sejam religiosos ou profanos, cristãos ou ateus (não importa). A grande verdade é que este evento transforma as mentes e os corações de todos e consegue o milagre de, num passe de mágica, tornar bonito e bom até o que é sabidamente horrendo e ruim. Feliz Natal!!!!

Monday, December 21, 2009




Uma vez por ano, até as pessoas mais céticas, egoístas e empedernidas (ou distraídas) experimentam súbita transformação interior e, mesmo que por algumas horas, assumem o que chamamos de “espírito de Natal”. Claro que nem todos admitem isso. O ideal seria que essa mesma predisposição espiritual ocorresse o ano todo, em todos os seus 365 dias. Ciro dos Anjos, no romance "O Amanuense Belmiro", escreve: "Natal! A humanidade se transfigura de súbito, neste dia extraordinário. Que elemento se introduzirá na essência das coisas para que tudo venha, assim, a apresentar uma face nova e desconhecida, e para que todos os seres ganhem uma expressão especial, quase graciosa, de agitada felicidade? As árvores se fazem mais verdes, e os pardais, como cantam!! Será o poder de criar e de transfigurar, que possui a alma humana, ou será uma efetiva transformação no tecido íntimo das coisas?" Esta é a pergunta que lhe deixo para a sua reflexão.



Louvor à vida

Pedro J. Bondaczuk

O Natal, apesar de ter sido apropriado pelo comércio como uma época de zerar os prejuízos ou de consolidar os lucros (dependendo do caso e do estado da economia) é, sobretudo, uma louvação à vida. O próprio significado da palavra, "nascimento", sugere essa conotação.
Como tema literário (e jornalístico, diga-se de passagem), é dos mais difíceis, já que vem sendo explorado há quase dois mil anos por artistas de todas as tendências e línguas. Virtualmente, tudo o que se podia dizer, em qualquer das linguagens artísticas (e pior ainda, jornalísticas) que se utilize – a palavra (em qualquer idioma ou dialeto), o pincel (em qualquer estilo), o buril (em qualquer mão) ou o som (em qualquer tonalidade) – já foi dito por alguém em algum lugar e em algum tempo.
Quem se aventura a explorar a temática sabe que dificilmente (provavelmente nunca) conseguirá ser original. Mas será que a originalidade é tão importante neste caso? Ou há fatores mais relevantes na arte, como a visão pessoal, o bom gosto, a clareza, a simplicidade, etc, a serem enfatizados?
O que o artista contemporâneo acrescentará será somente sua experiência pessoal, que é única, desde que se disponha a perder o medo e se exponha de fato, de corpo inteiro, sem nenhuma espécie de pudor ou dissimulação, perante o público: com absoluta sinceridade, sem buscar criar estereótipos. E o jornalista, algo de inusitado que a data possa ensejar. No mais, tudo o que escrever ou disser não passará de variação em torno do mesmo tema.
Ainda assim, é um desafio que o artista de verdade, aquele dotado não somente de técnica, mas, sobretudo, de talento e sensibilidade (e o jornalista, reitero) deve encarar, mesmo correndo o risco de resvalar para o pieguismo, que é onde geralmente vão parar os textos que têm sido escritos anualmente sobre o Natal. É quase inevitável...
Há os que preferem se alienar da realidade e enveredar pelas fantasias, como se vivessem em mundo ideal e não no "perdido", no violento, no áspero, no duro, no inflexível no qual um deus precisou se fazer humano para salvar. Sua obra fica privada da verossimilhança. Outros descambam para um rumo diametralmente oposto. Também são inverossímeis. Tudo o que vêem no homem é violência, hipocrisia, mentira, vaidade, egoísmo e desamor.
Esquecem-se que essa espécie animal ainda está em formação, já que é extremamente "jovem" em relação não apenas à idade universal, mas da própria Terra, que foi formada, há no mínimo, 4 bilhões de anos. Em pouco mais de seis milênios, (uma piscada de olhos imperceptível de tão rápida, um quase nada da eternidade), evoluiu demais, tanto em termos materiais, quanto morais.
É certo que a história relata avanços e retrocessos contínuos, de acordo com as várias gerações, que são como safras. Umas são de primeira qualidade, outras somente medianas e outras ainda infestadas de pragas de toda a espécie, que não vingam e deixam vestígios de comportamentos doentios nos descendentes. Não se pode ser maniqueísta quando se trata de ser humano.
Os santos sempre foram raros e ninguém tem a absoluta certeza se sua santidade não foi apenas para "consumo público". A mente e o coração de uma pessoa são indevassáveis... No outro extremo, os piores monstros que já passaram pela Terra, os seres mais asquerosos e repelentes pelas atitudes hediondas que tomaram, certamente tiveram uma pontinha, um lampejo, uma centelha por menor que fosse de bondade, de grandeza e de racionalidade.
Tudo o que valoriza a vida e enfatiza o seu mistério e a sua beleza, deve ser preservado, cultivado e transmitido através das gerações. Mesmo com pieguismo... E o Natal, mais do que nunca, está nesta condição.
Porque a data marca não apenas o nascimento de um deus que se fez homem, mas o surgimento da esperança para uma espécie condenada ao desaparecimento por sua própria animalidade, por seus instintos e por suas inclinações.
Se a humanidade não tivesse "conserto", um Deus não se disporia a mandar para este inexpressivo planeta seu próprio filho para a tarefa da sua redenção, mesmo sabendo de antemão qual seria o seu destino na Terra, dada a sua onisciência (e esta é a base da nossa fé cristã).
Possivelmente, muitas gerações ainda irão se suceder. Algumas dessas "safras" serão magníficas. Outras, serão apenas comuns. Outras ainda vão ser de péssima qualidade. Estas últimas é que são perigosas, porquanto podem determinar, através de suas ações, a destruição do Planeta e de tudo o que nele há, se não forem condicionadas, não importa de que forma, a valorizar a vida.
Hoje, há milhões de arautos da morte espalhados pelo mundo. Basta ligar um receptor de televisão ou de rádio, assistir a qualquer filme ou ler os jornais e revistas para perceber onde está a ênfase. A mesma coisa vale em relação à literatura e por extensão às outras artes. Está na violência de toda a espécie, na marginalidade, na criminalidade, na exclusão, na controvérsia, na discórdia, nas guerras civis ou entre nações...Nos conflitos de toda a sorte...
Não que estejamos criticando a mídia. Se a imagem que determinado espelho reflete é horrível, não é este que deve ser quebrado. E os meios de comunicação não passam de reflexos dessa feia realidade que nos cerca. Daí tradições como a do Natal – não importa comemorado de que maneira ou descrito de que forma – são importantes de serem preservadas e transmitidas geração após geração. É a vida prevalecendo, com toda a sua fragilidade, sobre a ronda grotesca e permanente da morte... e do nada...

Sunday, December 20, 2009




Existe, de fato, algo que possamos chamar de "espírito de Natal", ou seja, uma suposta predisposição de pensar no próximo, no miserável, no indigente, no solitário ou no sofredor, em contraposição à fartura e à alegria dos privilegiados por ocasião dessa data? Uns mostram otimismo e fé na racionalidade humana (entre os quais me incluo) e certeza de que, um dia, não existirão mais famintos, desabrigados, excluídos ou segregados no mundo. Outros, não escondem seu ceticismo sobre o egoísmo do homem e suas trágicas conseqüências. Mário da Silva Brito destaca, numa crônica: "Pedem-me alegria. Mas como exercê-la sem que pareça uma afronta à infelicidade geral dos homens do mundo?! Só os inconscientes e os desalmados não percebem que a hora é de tristeza”. Não concordo! A hora é, sim, de muita alegria, a despeito de tudo! Temos, contudo, de fazer a nossa parte, para que haja, um dia, um mundo melhor, humano e justo.



Foi salvo o planeta errado?

Pedro J. Bondaczuk

O
local onde há quase 2 mil anos nasceu o Salvador da humanidade está hoje, 24 de dezembro de 1988, como naquele tempo, cercado por soldados. Naquela oportunidade, tratavam-se de centuriões romanos, que fiscalizavam a realização de um censo, de caráter militar. Hoje, o que leva tanta gente armada a se concentrar num local que deveria ser símbolo da paz é o levante palestino nos territórios ocupados. Como os homens receberiam Cristo se ele tornasse a vir ao mundo, na forma humana, nos dias atuais? Haveria alguma alma generosa, dita "cristã", para dar abrigo à sua família, do frio que normalmente faz nesta época do ano na região? A criança nasceria em alguma maternidade, cercada de toda a atenção médica e sem os riscos inerentes a um parto em más condições? Ou se repetiria o drama do passado, quando o filho do Criador do Universo foi recebido neste inexpressivo e minúsculo planetazinho azul, que gira ao redor de uma estrela de quinta grandeza de uma galáxia de porte médio, numa gruta para guardar animais? Num estábulo improvisado?

A violência (guardadas as devidas proporções, ditadas pela evolução da tecnologia da morte) é a mesma. Como naquele tempo, a região permanece conflagrada. Belém, ironicamente, vê passar por suas ruas estreitas os mesmos homens armados de há quase dois milênios. Só que ao invés de a espada, eles portam metralhadoras e lança-mísseis ultra-sofisticados. O egoísmo, por sua vez, multiplicou-se por mil. A solidariedade desapareceu, virtualmente, da Terra, cedendo espaço a um cínico e inconseqüente hedonismo, que a nada leva.

É verdade que o Natal é uma festa de aniversário e como tal deve ser comemorado. Mas Cristo jamais pregou a ostentação perdulária e o desregramento mesquinho. Nunca defendeu os poderosos (que nada podem, já que são mortais). Ao contrário, disse que os humildes eram bem-aventurados, porque um dia seriam exaltados. Enquanto pessoas cometem excessos na comida e na bebida, há milhões de crianças à beira da morte por inanição na África, na Ásia e mesmo na cidade em que residimos, seja ela qual for e esteja onde estiver, debaixo dos nossos narizes, nesta exato instante.

Enquanto muitos trocam votos falsos de felicidade, quando estão com seus corações repletos de inveja e de rancor, há pessoas infelizes, solitárias, em busca não de manjares ou de licores, mas somente de atenção. De uma, uma única palavra amiga, de solidariedade e de compreensão, que seja dita com sinceridade. De um sorriso de satisfação. De alguém que pelo menos ouça, sem zombar, as suas aflições. Será que Cristo tentou salvar o mundo errado??!!

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de dezembro de 1988)

Saturday, December 19, 2009




O Natal, enquanto tema literário, já se prestou a textos imortais, em todos os gêneros, países e idiomas. Nesta época, emergem nossos melhores sentimentos, que nos predispõem à beleza, à bondade e à solidariedade e que no restante do ano permanecem sufocados. Ainda bem que se manifestam nesta ocasião. Pior seria se sequer existissem. Deveríamos manter essa mesma predisposição sempre, nos 365 dias do ano, e em todos os anos de nossa vida. O mundo, certamente, seria muito melhor. Quase tudo o que poderia ser dito, de original, sobre a data, já o foi, com variações somente no que se refere a personagens, locais e estilos. O tema é, todavia, saudável desafio aos competentes e aos inovadores. E aos que estão dispostos a abrir seus corações e cultivar e disseminar os melhores e mais nobres sentimentos, induzindo os leitores a uma saudável e necessária reflexão. Afinal, o Natal é, antes de tudo, a celebração da vida, da alegria e do amor.