Friday, September 30, 2011











É preciso que valores duramente conquistados ao longo de milênios – como respeito, lealdade, honra, fidelidade, amor, amizade e solidariedade, entre outros – sejam resgatados e ampliados e não se transformem, como hoje, em simples palavras, despidas de conteúdo. Roger William Riis lembra que "somente nós, entre as coisas vivas, descobrimos a Beleza, a amamos e criamo-la para os nossos olhos e para os nossos ouvidos". Nessa mesma linha de raciocínio, o autor teatral Thornton Wilder, na peça "Our Town" (Nossa Cidade), coloca na boca de um personagem: "Oh, Terra, és maravilhosa demais para que alguém te perceba. Acaso os seres humanos têm consciência da vida enquanto vivem? Da vida em todos os seus minutos?". Certamente que não têm. O ideal de beleza, de cultura, de harmonia e de inteligência plena tem que ser cultivado no dia-a-dia, por sua transcendência e importância.

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Vídeo-História


EVOLUÇÃO DA TV

A evolução da TV como meio de comunicação de massa foi espantosamente rápida. Apenas para exemplificar, basta dizer que em 1946 o número de aparelhos existente nos EUA era de apenas 10 mil. Em 1950, portanto em 4 anos apenas, essa quantidade pulou para expressivos 4 milhões de receptores.
Quanto à TV em cores, as primeiras experiências nesse sentido começaram em 1929. Entretanto, o sistema apenas veio a obter êxito, experimentalmente, em 1950, através da rede norte-americana CBS (Columbia Broadcasting Systems). Em 1954, começaram, nos EUA, as transmissões em caráter comercial, com o sistema desenvolvido por Peter Goldmark, ainda no ano de 1940.
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(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 26, editoria TEVÊ, do Correio Popular, em 10 de julho de 1984).

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Quantidade com qualidade

Pedro J. Bondaczuk

O organismo humano, e creio que de todos os animais, foi projetado pela mãe natureza para ser dinâmico. Ou seja, para o exercício, para a ação, para se movimentar. Claro, respeitados os limites de cada um. A experiência comprova que a utilização dos vários órgãos do nosso corpo os desenvolve e a falta de uso, os atrofia. Isto vale para músculos, ossos, pulmões etc. E, logicamente, para o mais nobre dos órgãos, sede daquilo que nos distingue dos demais viventes, o cérebro, que abriga a razão e a inteligência.
E por que menciono, mais uma vez, este assunto, que já tive oportunidade de tratar em “n” ocasiões? Para responder a uma consulta de um leitor que me indaga se é possível a um escritor reunir, simultaneamente, quantidade de produção literária à qualidade. Possível é, e até desejável, mas há condições para viabilizar tão copiosa atividade. Uma delas – a principal, por sinal – é que a pessoa tenha muito que escrever. Ou seja, que suas idéias sejam fartas, originais, criativas e, sobretudo claras. Para tanto, é indispensável que tenha grande cultura. É necessário que seus conhecimentos sejam superiores à média.
Escrever, simplesmente, por escrever, sem que haja conteúdo nessa escrita, por mais apurada que seja sua forma de expressão, no meu entender, é perda de tempo e de recursos (papel, ou energia elétrica que move o computador, etc. etc. etc.). Nem sempre uma obra copiosa caracteriza bons escritores. Há os que publicam dezenas, quiçá centenas de livros e que, se você espremer todos eles para apurar o conteúdo não obterá nada. Em contrapartida, há os que se consagram com uma única e solitária obra, que prima pela fartura de idéias criativas, pela clareza, pela originalidade e pelo tanto de verdade com que conta.
Caso, portanto, o sujeito preencha a primeira condição que mencionei, ou seja, que tenha muito que dizer e saiba fazê-lo bem, quanto mais escrever, melhor será. Deixará um legado muito maior à posteridade do que quem escreve pouco e contribuirá, portanto, de maneira mais decisiva, para a evolução das artes e da cultura e, por consequência, da própria civilização.
Tomo como parâmetro o caso de escritores que contam com colunas diárias, de crônicas, em jornais. Hoje em dia, poucos assumem esse tipo de compromisso, que exige muito de quem tem tamanha ousadia. Tempos atrás, nos anos 50, 60 e 70, por exemplo, o campineiro Guilherme de Almeida assinava uma coluna diária no jornal “O Estado de São Paulo” intitulada “Eco ao longo dos meus passos”!. Colecionei, voluptuosamente, esses maravilhosos e instigantes textos, coleção esta que mantenho até hoje, como preciosidade da qual não abro mão por razão alguma. Volta e meia releio essas crônicas e o que me chama a atenção, além da indiscutível qualidade, é sua atualidade, tanto dos temas literários tratados, quanto da linguagem empregada.
Está aí, pois, um caso concreto que confirma minha opinião de que é possível escrever muito, e bem, desde que se tenha talento, paciência, conhecimento e disposição para tal. A grande maioria dessas crônicas não consta em livro algum do “poeta soldado”, que, com justiça, foi apelidado de “príncipe dos poetas brasileiros”. Sua obra só consolida sua majestade e nobreza. Quem teve o capricho de recortar do jornal essas crônicas e arquivá-las (hábito dos mais saudáveis e recomendáveis), tem um acervo muito mais rico do que os bibliófilos que não tenham esse costume.
Recomendo aos que lidam com literatura (e que tenham, claro, o que transmitir), que o façam, na maior quantidade possível. Como no caso do organismo humano, aqui, também, o exercício desenvolve e a falta dele atrofia. É certo que nem todos os textos lhe parecerão (ou, o que é mais importante, parecerão ao leitor), geniais, obras-primas basilares (embora não descarte essa possibilidade). A probabilidade, no entanto, é de contínua evolução na qualidade. Sua escrita se tornará crescentemente, mais solta, mais espontânea, mais fluente e mais natural, em decorrência do exercício.
Outro cronista do qual guardo centenas de crônicas em minha hemeroteca (para os que não se lembram, trata-se de coleção de recortes de jornal), é Luís Martins. Dele, ao contrário de Guilherme de Almeida, não tenho livro algum. Não que ele não tenha publicado, mas eu é que não tive oportunidade de adquirir nenhum dos que escreveu. Todavia, com tantos textos dele recortados do jornal (também publicava suas crônicas no “O Estado de São Paulo”), essa minha omissão, ditada pela falta de oportunidade de adquirir suas obras, não me traz o prejuízo que traria se eu não contasse com esse precioso acervo.
Luís Martins assinava seus textos, apenas, com as iniciais L. M. Era um baita cronista! Sua coluna era simples, despojada, intitulada, simplesmente, de “Crônicas”. Mas o conteúdo... uma maravilha! Sinto-me privilegiado por ter colecionado seus textos. Eram publicados, em geral, no lado esquerdo da página, costumeiramente a 7 ou a 8, de alto abaixo, em uma única coluna. Daí, provavelmente, passar despercebida aos desavisados.
Em suma: se você é escritor, tem fartura de idéias e tanta necessidade tão premente de escrever como tem de se alimentar, de repousar e de respirar, escreva. Escreva, escreva e escreva o máximo que puder. Se for cronista diário de algum jornal, o próprio compromisso assumido o induzirá a fazê-lo, e diariamente. Se não for, crie um blog e abasteça-o de textos todos os dias, sem nenhuma exceção. Haverá dias em que não terá a menor vontade de escrever. Isso é normal. Seja, contudo, autodisciplinado. Force-se. Sente-se à frente da telinha do computador, que a vontade logo virá.
Escreva sem pensar sequer em resultados. Não planeje reunir esses textos em um livro. Não sonhe no quanto pode vir a ganhar escrevendo. Simplesmente escreva. O tempo irá determinar o que você pode fazer com esses textos descompromissados.
Se você não for escritor, mas ainda assim tiver fartura de idéias e gostar desse nobre exercício de comunicação, escreva também. Se possível, todos os dias. Se o fizer, é até possível que descobrirá o que em princípio jamais havia lhe passado pela cabeça: que você tem talento inato, tem alma de, e é de fato, escritor. Publique ou não algum livro algum dia.

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Thursday, September 29, 2011











A "ilha de ouro", sonhada por poetas e idealistas e procurada por navegadores há já alguns séculos, não existe. Ainda está por ser construída por pessoas de larga visão. Sua localização não vai estar em algum minúsculo pedaço de terra do Pacífico Sul, do Atlântico Norte ou de qualquer outro dos mares da Terra. Será neste próprio e bizarro planeta azul, em sua totalidade, assim que seus habitantes reciclarem suas prioridades e se derem conta da estupidez de acumular bugigangas, como fazem desde que tiveram o primeiro lampejo de consciência. Embora seja óbvio que deste mundo não levamos coisa alguma, tão logo a morte – fatalidade biológica que atinge indistintamente o humilde e o poderoso, o rico e o miserável – nivele a todos, mas ao contrário deixamos atos e fatos e gestos de amor, o ideal das últimas gerações tem sido apenas o de juntar coisas, em geral inúteis. Daí tanta injustiça, sofrimento e infelicidade.

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Por dentro da TV



BÓGUS, UM GOZADOR

Todos os que conhecem o Armando Bógus são unânimes em apontar, como sua principal característica (uma verdadeira "marca registrada"), o seu incrível senso de humor. Dia desses ele aprontou mais uma das suas pelos corredores globais. A atriz Natália do Valle, voltando da gravação de algumas externas da novela "Transas e Caretas", cruzou com Bógus, vestindo uma roupa extravagante, dessas que estão muito na moda, em tecido cru, com a saia toda retalhada. O ator fez uma tremenda cara de espanto e sapecou: "Cruzes, você saiu de alguma briga?!" É claro que Natália, conhecendo o espírito gozador do colega, não se zangou de verdade. Mas não se furtou de um desabafo. Disse: "Passo o dia gravando, sentindo-me linda, maravilhosa, e depois vem você e me desmorona!" Esse Armando tem cada uma...

VISITA DA CEGONHA

Depois de nove anos de casados, a cegonha, finalmente, vai fazer a primeira visita no lar dos atores José Mayer e Vera Fajardo. Ele não cabe em si de contente e Verinha, talvez para fazer média, anda dizendo que gostaria que o herdeiro fosse um garotão.

GILLIARD, OUTRO QUE SERÁ PAPAI

Uma das frustrações do cantor Gilliard era a ausência da cegonha em sua casa. Muitos andaram até dizendo que ele havia brigado feio com a Silvinha por esse motivo, fato que não acreditamos. Agora, finalmente, o seu sonho está prestes a realizar-se. Sílvia está grávida e Gilliard está se "desmanchando" em gentilezas, parecendo até o Joca, da novela "Eu Prometo". Marinheiro de primeira viagem...

MONTES NAS NUVENS

O apresentador de TV e jurado Wagner Montes está ultimamente vivendo "nas nuvens". Isso, literalmente. O moço está "in love" com uma linda aeromoça, a Patrícia, de quem não desgruda em momento algum.

PAULO CASTELLI E SEU XODÓ

Há muitas pessoas maníacas por carros neste mundo, mas os amigos de Paulo Castelli dizem que igual a ele é muito difícil encontrar alguém. O moço, toda a vez que pode, dá as suas lustradinhas em seu Kharman-Ghia, um dos veículos mais brilhosos de todo o pessoal da Globo. E não é só isso. Sempre quando encontra com Jofre Soares e Edson Silva, vítimas da mesma mania, conversa horas a fio sobre a performance da sua máquina. Dizem que isso é amor à primeira vista e que a doença pega.

TRANSAÇÕES NA TV

Embora muita gente negue, a Rede Globo pode adquirir, nas próximas horas, os concursos de dois novos apresentadores. A primeira seria Hebe Camargo, que teria a incumbência de apresentar uma das seções do novo jornal de meio-dia que a emissora está planejando. O outro, Sérgio Chapellin, voltaria ao ninho antigo para cobrir a lacuna de Cid Moreira, que estaria prestes a se aposentar. Estamos colocando tudo no condicional, porque a nossa fonte também ainda tem algumas dúvidas. Por exemplo, a TV Manchete estaria tentando obter o concurso de Cid Moreira, que dessa forma adiaria por mais algum tempo seu afastamento dos vídeos, ou do próprio Chapellin, caso não obtenha sucesso com o Cid. De qualquer forma, fiquem atentos, pois há alguma coisa no ar, nesse sentido, e garanto que não é nem pássaro e nem avião...

MASTRANGI DE SECRETÁRIA ELETRÔNICA

A Matilde Mastrangi, depois do badalado leilão de fim de ano, na boate Gallery, cuja repercussão ultrapassou fronteiras e chegou até mesmo ao exterior, não tem mais sossego. Recorde-se que nessa aludida festa, as roupas da atriz, e até mesmo ela própria, foram leiloadas, alcançando a mais de Cr$ 1 milhão. À medida em que as peças do seu vestuário eram arrematadas, ela as tirava, até ficar fantasiada de Eva. Pois bem, depois desse leilão exótico, Matilde tem recebido propostas as mais variadas, que vão desde empregos de recepcionista em grandes empresas, até algumas totalmente impublicáveis. Para evitar maiores aborrecimentos, a moça adquiriu uma secretária eletrônica, que faz toda a triagem dos telefonemas que recebe. É o preço da fama...

CARNAVAL DOS ARTISTAS

Alguns artistas já estão se movimentando para programar como vão passar o carnaval. Nuno Leal Maia, por exemplo, vai trabalhar durante o reinado de Momo, filmando "O Rei do Rio", trabalho baseado na novela "Bandeira 2", de Dias Gomes. O mesmo não vai acontecer com Ary Fontoura, Berta Loran e José Maria Monteiro, que vão organizar um baile em Araruama, onde têm uma propriedade.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 18, editoria Tevê, do Correio Popular, em 17 de fevereiro de 1984).

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Lúcidas reflexões


Pedro J. Bondaczuk


A literatura da África do Sul, embora rica e profunda, raramente é levada em conta quando se analisa o panorama literário internacional, salvo com raras exceções. É como se lá não houvesse escritores dignos de menção. Todavia, há, e muitos, e excelentes. O país tem produzido, e há muitos anos, notáveis homens de letras que não ficam nada a dever aos de centros tidos como culturalmente mais avançados. É mister lembrar, sobretudo, que dois deles já conquistaram o Prêmio Nobel de Literatura (o que, convenhamos, não é pouca coisa): J. M. Coetzee e Nadine Gordimer.

O português Fernando Pessoa, que tanto admiramos (por razões óbvias), viveu sua infância na África do Sul. Foi alfabetizado em Durban. Escreveu seu primeiro livro em inglês, idioma que dominava tão bem quanto o português que, num poema célebre, louvou como sendo a sua “pátria”. Teve, portanto, fortíssima e decisiva influência da literatura sul-africana.

Outros escritores dignos de nota, oriundos da África do Sul (entre tantos e tantos) são: André Brink, Alan Patton, Breyton Breytenbroch, Wessel Ebersohn, Lewis Nkosi e, principalmente, Stuart Cloete. Vários deles já tiveram livros lançados no Brasil. São, todos eles, escritores muito bons, cujas obras literárias são dignas de figurar nas melhores bibliotecas.

Destes, porém, tenho preferência particular por Stuart Cloete. Por que? Porque fiquei fascinado com a leitura do seu romance “Balada africana”, edição da Boa Leitura Editora, com tradução de Raul Polillo, que acabo de reler pela segunda vez. Gosto de textos de ficção que, embora sejam narrativas fluentes de determinadas histórias, seus autores não se limitam a elas, mas nos induzem a fazermos reflexões sobre a vida, sobre a arte e sobre comportamentos sociais. É o caso desse livro. Com ele, diverti-me e, simultaneamente, me instruí e refleti.

O enredo desse romance de Stuart Cloete se passa não na África do Sul, como seria de se esperar. Seu cenário é o vizinho Moçambique, país que o autor conhecia muito bem. Aliás, o romancista, conhecido como escritor sul-africano, nasceu mesmo foi em Paris, embora nunca tenha se sentido francês. Viveu pouco tempo na França, e apenas na mais tenra infância.

A história em questão, basicamente, é sobre dois elefantes. Todavia – e isso se percebe, somente, com muita atenção durante a leitura – ela é só pretexto para o autor abordar, posto que com muita sutileza, o nem sempre tranqüilo (até pelo contrário) relacionamento entre negros e brancos nessa tão sofrida e explorada África.

Edward Fairly Stuart Graham Cloete, filho de mãe francesa e pai sul-africano, nasceu em Paris, em 23 de julho de 1897. Foi educado e viveu toda a vida na África do Sul, onde morreu, em 19 de março de 1976. Além de romancista, foi, também, ensaísta, contista e biógrafo. Chegou a atuar como roteirista de cinema.

No romance “Balada africana” faz reflexões como esta, por exemplo, a propósito de teorias modificadoras: “A nossa moralidade, a nossa vida de família e a nossa vida de negócios, tudo foi extremamente modificado pelas teorias que agora governam a nossa conduta – pelos inventos poupadores de trabalho que empurraram as mulheres para fora do lar – pela emancipação delas e pela subseqüente entrada delas na vida dos negócios – e até mesmo em negócios tais como a guerra”.

A propósito das categorias de homens que conseguia identificar, constatou: “No mundo, há quatro grandes classes de homens, das quais todos nós vivemos, e sem as quais morreríamos. As duas classes dos que ceifam as colheitas do solo, cultivando lavouras em sua superfície, e cavoucando-lhe as entranhas, em busca de minerais nela ocultos; os agricultores e os mineiros. A dos homens que buscam a messe do mar: o povo pescador. E, finalmente, a dos homens que desbastam as florestas: os madeireiros, os silvicultores e os caçadores que procuram carne, marfim e peles. São eles os batedores que precedem o arado”.

Outra reflexão original e pertinente é a que se refere sobre a infinidade de “vozes” que nos chamam a cada momento das nossas vidas, às quais se referiu nestes termos: “Ao redor de nós, há vozes que nos chamam. A voz do filme, a voz do rádio, da televisão, da imprensa e da propaganda – e nenhuma delas faz sentido. Não há imagem. Há apenas confusão; e, esmagado entre a pedra de moer de uma economia que se desmorona (e que fica por cima), e os mecanismos de fuga (que ficam por baixo) de uma indústria de diversões que surgiu brotando do desesperado desejo do homem no sentido de fugir de si próprio e ir para o reino da fantasia, o espírito humano está sendo reduzido a pó”.

Sobre a obsessão do homem contemporâneo, constatou o seguinte: “Nós temos medo da vida; temos medo da morte. Procuramos apenas conforto, coisa que nada mais é do que uma almofada entre o homem e a realidade. Não temos crenças. Tanto Deus, como o diabo, são agora considerados mitos. Com eles, lá se foi até a idéia do bem e do mal. Vivendo em cidades de aço e concreto, comendo alimentos industrializados, nós tentamos erguer-nos acima da natureza, e passamos a considerar-nos, de certo modo, superiores às leis que governam a vida. Um homem não é mais vivo, nem menos vivo, do que um gerânio no seu vaso, sobre o peitoril da janela; ou do que um elefante, nas florestas da África”.

Sobre a importância do fogo para a sobrevivência e a evolução humanas, tema que me suscitou, até mesmo, a redação longo ensaio, baseado em suas reflexões, fez estas observações: “É o fogo que faz o homem – separando-o dos animais. Em primeiro lugar, houve a arma – um grosso bastão, que até ao que se sabe, os grandes símios de outrora usaram. Depois, houve o fogo, que todas as feras temem. Há alguma coisa de Deus no fogo. Depois, ainda, houve os receptáculos, para que a água pudesse ser transportada. E houve cães, domesticados para caçar. Por fim, surgiu a semente, plantada ao invés de ser catada em estado selvagem; e os bandos e os rebanhos de animais domesticados. Mas o rei disto tudo é o fogo. O salvador e o destruidor”.

Como se vê, não cometo nenhum exagero ao considerar Stuart Cloete não somente ótimo romancista, mas profundo e refinado filósofo. Creio que não somente esse romance, mas toda a sua obra, merecem maior atenção dos leitores, sobretudo pela clareza de idéias e pelas profundas reflexões que suscita.



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Wednesday, September 28, 2011










Como aceitar que, em um mundo globalizado, mais de um bilhão de pessoas passem fome, quando a natureza tem sido generosa e safras recordes se sucedam de ano para ano? Como conceber uma pretensa Nova Era na qual 850 milhões de pessoas ao redor do mundo estejam desempregadas ou subempregadas, fazendo bicos para sobreviver? Como se ousa insinuar o novo Éden, quando há vinte milhões de nossos irmãos vivendo em acampamentos de refugiados, vítimas das várias guerras civis nos quatro quadrantes do Planeta? Onde mais de 100 milhões de "homeless" fazem das ruas, de vãos de pontes e viadutos, seus lares, vegetando, em situação muito mais precária do que os ancestrais das cavernas, pois nem estas possuem para se abrigar? Onde crianças de oito a onze anos trocam canetas e cadernos por fuzis e metralhadoras, nas várias guerras étnicas na África e na Ásia? Não. Esta não pode ser, e nem é, a minha utopia.

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Disputa á margem da Copa do Mundo

Pedro J. Bondaczuk


A grande atração deste ano, em termos de televisão, deverá ser a Copa do Mundo do México, agora que todas as emissoras (ao contrário do que ocorreu na Espanha, em 1982), terão acesso às transmissões. Cada uma, de acordo com suas condições financeiras e do pessoal que dispõe, buscará mostrar alguma inovação. Algo que seja marcante e que tenha condições de atrair o público telespectador, numa disputa tão renhida (ou maior) como a que será travada nos gramados mexicanos pelos 24 melhores selecionados da atualidade. A guerra pela audiência será, certamente, a característica desta temporada.

"A priori", se existe um setor em que todos os canais praticamente se nivelam, esse é o das transmissões esportivas. Convém reconhecer que todos eles reúnem os nomes mais expressivos da crônica especializada. Além disso, à primeira vista nos parece que a disputa será centralizada em quatro emissoras: Rede Globo, Rede Bandeirantes, Rede Record e Rede Manchete.

Por atingir a praticamente todo o território nacional e por dispor de recursos econômicos superiores às demais, a primeira deverá levar nítida vantagem. Por essa razão, terá a responsabilidade de executar um trabalho de melhor qualidade do que vem fazendo até aqui, nessa área. Principalmente que seja muitos furos acima da transmissão dos jogos das eliminatórias do ano passado, quando sua performance, em algumas partidas, chegou a ser decepcionante.

Entretanto, alguns recursos utilizados naquela oportunidade podem ser melhorados na Copa e acabar se constituindo em atrações capazes de desequilibrar a luta pela audiência. Como por exemplo a consulta ao povo, reunido nas praças das principais cidades brasileiras, durante o desenrolar dos jogos. Só que a tarefa, ao contrário do que aconteceu durante as eliminatórias, terá que ser entregue a gente do ramo. E a equipe precisará estar bem ensaiada, para que ninguém entre no ar em momento inoportuno e nem fale as bobagens que foram ditas naquela ocasião. Numa competição como a Copa do Mundo, esse procedimento poderá ligar a corrente de otimismo necessária para que a nossa seleção, a despeito de todas as falhas de organização, tenha sucesso.

A Rede Record, por seu turno, certamente voltará a repetir a fórmula vitoriosa de outras tantas jornadas, calcada sobretudo na criatividade do seu narrador Sílvio Luís. Atualmente, quem acompanha assiduamente as transmissões esportivas pela televisão, sabe que ele é o único que fala a linguagem do povo. Usa as expressões características dos nossos estádios, aquelas adotadas nas arquibancadas e alambrados. O jogo, com a sua narração, ganha o caráter que realmente deve ter: o de um esporte, uma coisa alegre e descontraída.

Em 1982, quando a Rede Globo conseguiu exclusividade para a transmissão dos jogos, na Espanha, esse profissional, provavelmente o mais antigo da TV ainda em atividade, conseguiu a sua definitiva consagração. Diversos telespectadores sintonizaram no único canal que reportava o espetáculo, mas tiraram o volume de seus receptores, ligaram o rádio e acompanharam os lances pela Rádio Record. E quem o leitor acha que estava narrando os jogos nessa emissora? Exatamente ele, Sílvio Luís!

Desta feita, ninguém precisará fazer tanto malabarismo para acompanhar o seu locutor preferido. Bastará sintonizar seu seletor de canais na Rede Record e pronto. Ele será, com toda a certeza, mais uma vez um grande páreo para a Globo, pelo menos em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Muitos torcedores, entretanto, preferem a vibração aos recursos técnicos e ao bom-humor. E nesse aspecto, Luciano do Valle, da Rede Bandeirantes, é insuperável. Quem acompanhou a vitoriosa trajetória do vôlei brasileiro, mormente a partir de 1981, sentiu a força de comunicação desse talentoso profissional. E nesta Copa do Mundo, na qual, até mesmo bafejada pela sorte no sorteio das chaves, a seleção brasileira terá amplas chances de chegar à final e, quem sabe, de disputar o título, o entusiasmo de Luciano deverá ser contagiante. Poderá empolgar os telespectadores e carrear uma surpreendente audiência para a Bandeirantes. Esse narrador é capaz de tornar interessante e repleto de emoções até um joguinho amistoso de dois times de várzea. Imaginem, por exemplo, uma final entre Brasil e Itália com a sua narração!

Mas a Rede Manchete também tem os seus trunfos e pode "atropelar" na reta final. É a primeira Copa da "caçula" das emissoras e ela não vai querer fazer feio logo de cara. Inclusive comenta-se, à boca pequena, que ela estaria na iminência de concretizar uma grande contratação para reforçar a sua equipe esportiva, que já é das melhores. O nome, por mais que tivéssemos tentado, não conseguimos apurar e a emissora não confirmou o boato. De qualquer maneira, com o seu pessoal atual, a Manchete tem todas as condições de competir em pé de igualdade com as concorrentes nessa disputa de audiência.

O ano, portanto, promete muito em termos de espetáculo. Torcemos, somente, para que, findo o processo sucessório (sumamente inoportuno neste momento) na CBF, comece de fato o trabalho sério para a formação do nosso selecionado. Afinal, nem o melhor narrador do mundo, e muito menos o mais sofisticado aparato técnico, podem dar emoção a um "scratch" desorganizado, desmotivado e preguiçoso.

(Artigo publicado na página 20, Arte & Variedades, do Correio Popular, em 10 de janeiro de 1986)

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Motor do sucesso

Pedro J. Bondaczuk

A motivação, ou seja, a expectativa de que o que somos ou o que fazemos possa resultar em alguma forma de reconhecimento (ou pecuniária, ou eventual promoção profissional ou social, ou homenagens que nos satisfaçam o ego, ou tantas outras), é um dos motores das grandes realizações. Não é o único, na verdade, e nem o mais potente. Essa primazia cabe à “necessidade”. Quando precisamos demais de alguma coisa, nos desdobramos e acabamos, de uma forma ou de outra, realizando o que não raro até nos pareça impossível.

Cultivamos, porém, virtudes, talentos e características positivas não apenas para satisfação pessoal, mas para sermos apreciados (e amados) por alguém. Todas as grandes obras e realizações ao longo do tempo, que ensejaram o progresso e a civilização, tiveram, por motivação primária, o amor. Ele é o grande motivador das nossas vontades, reflexões e ações, mesmo que não o saibamos ou tentemos negar.

Há, claro, outros fatores motivadores. Um deles é a justa remuneração pela obra que produzimos. É certo que raramente nos damos por satisfeitos por essa paga, por maior que ela seja. Sempre nos consideramos merecedores de mais, de muito mais do que nos remuneraram. Desde que não exagerada, essa insatisfação tende a ser até positiva. Torna-se em poderosa forma de motivação.

O escritor português, Alexandre Herculano, chegou à seguinte conclusão, em seu épico “Eurico, o presbítero”: “Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da atividade interior; é a causa, o fim e o resumo de todos os afetos humanos”. E não apenas de afetos, mas de virtudes, comportamentos e atos. Entenda-se amor, aqui, não propriamente no sentido mais comum e usual do termo. Pode também ser (e é), apreciação sincera e profunda do que somos e do que fazemos.

E qual é a grande motivação do escritor, que o impulsiona a produzir obras profundas, valiosas, lapidares até? Intrinsicamente, também é o “amor”, ou seja, a aspiração pela apreciação dos seus méritos, do seu talento e da sua virtude. Mas ela nunca vem só. Os motivadores sobressalentes variam de uma pessoa para outra. Alguns homens de letras sentem-se motivados, apenas, quando seus livros tornam-se best-sellers. Para estes, a remuneração pelo seu trabalho é a melhor (quando não única) forma de reconhecimento. Quando uma de suas produções esgota edições após edições, desdobra-se para produzir outras, e outras, e outras, e cada vez melhores, no afã de repetir o sucesso. Às vezes, consegue. Outras tantas, fracassa.

Alguns, desmotivam-se face ao insucesso. Há, até, os que deixam de escrever por causa disso e se afastam por completo do meio literário, que passam a detestar. Há os que insistem, e insistem e insistem, na esperança de repetir o êxito que um dia tiveram (isto, quando tiveram). Tudo depende da sua personalidade e do modo de encarar a arte e, sobretudo, a vida.

Mas não é somente o dinheiro que motiva escritores. Para alguns, o prestígio tem até maior importância do que a remuneração. Há, até, casos extremos dos que se sentem envergonhados por terem que vender seus livros, que consideram como “filhos espirituais”. Tolice, claro. Mas, como afirmei, a falta de motivação, qualquer que seja sua natureza, não raro mata no ninho extraordinários talentos. Por não verem resultados, nem financeiros e nem de qualquer outro tipo, ou seja, um mínimo de reconhecimento, muitos escritores criativos e geniais param, até, de escrever.

Para exemplificar o que quero dizer, cito o caso de um amigo, desses talentos raros de se encontrar, sujeito genial, criativo ao extremo e competente no manejo das “ferramentas” do ofício, notadamente das palavras do nosso idioma. Cronista de um jornal diário de porte médio, tinha uma legião de leitores, que a cada crônica sua, manifestavam-lhe apreço e admiração, ou por cartas, ou por e-mails, ou por telefonemas, ou pessoalmente. Instado por colegas, resolveu escrever seu primeiro livro.

Posso atestar a qualidade dessa obra, porquanto tive a honra de ser convidado a prefaciá-lo. Pronto o livro, veio a “romaria” em busca de uma editora. Após quatro ou cinco recusas, encontrou, afinal, quem se dispusesse a publicar sua obra. Sentia-se eufórico, mais criativo do que nunca, motivado por esse sucesso inicial. Começou a escrever, até, seu primeiro romance (muito bom, por sinal, cujos primeiros capítulos tive o privilégio de ler). Suas crônicas no jornal, que já eram muito boas, tornaram-se ótimas. Cresceram em qualidade.

Veio, afinal, o tão aguardado dia do lançamento. Em conjunto com a editora, foi programada uma noite de autógrafos, em uma das mais badaladas livrarias da cidade. O tal amigo enviou convites para cerca de 300 pessoas. O jornal deu uma nota bem visível a respeito. Meu amigo esperava esgotar três centenas (ou mais) de exemplares de cara, durante o evento. Para ter certeza da presença dos convidados, teve o capricho de telefonar para cada um deles, confirmando que estariam presentes. Fez despesas que nem poderia fazer. Contratou, por exemplo, um dos buffets mais tradicionais e mais caros da cidade, para recepcionar os potenciais compradores do seu livro.

Veio, finalmente, a tal da noite de autógrafos. Detesto esse tipo de badalação, mas, como me comprometi a comparecer, cumpri o compromisso. A princípio, julguei, até, que o evento havia sido adiado. Na hora marcada, havia, apenas, quatro pessoas na livraria, além de três ou quatro funcionários. Ninguém dos que juraram que iriam à noite de autógrafos compareceu. O evento foi um fracasso. Um dispendioso e frustrante fiasco.

Desmotivado, o amigo quis, daí por diante, distância de tudo o que se referisse a literatura. Demitiu-se do jornal e voltou a advogar (além de jornalista, é, também, competente advogado). O tal romance que havia iniciado, fez questão de apagar da memória do computador. E só não rompeu nossa amizade, de longuíssima data, porque me propus a jamais tocar no tema literatura. E nunca toquei com ele.

Embora discorde da atitude do amigo, estive a pique de seguir seu exemplo, face ao fracasso (até aqui) de vendas dos meus livros “Cronos e Narciso” e “Lance fatal”, que não estão vendendo coisíssima alguma. Ainda bem que não programei nenhuma noite (ou tarde, ou manhã, sei lá) de autógrafos e nem fiz despesas por conta. O insucesso dói, humilha, frustra, arrasa nossa autoconfiança e (por que não?) nossa criatividade. Claro que não pensei em parar de escrever crônicas, e nem poderia, face aos inúmeros compromissos que assumi a propósito.

Só que sou um pouquinho mais teimoso do que meu amigo. E encontro nova motivação – esta mais poderosa, posto que realista – no amor que tenho pela literatura. Continuo e continuarei escrevendo meus livros, mas sem expectativa sequer de que venham a ser publicados. Encaro, agora, esse exercício não mais como atividade potencialmente lucrativa, mas como mero “hoby”. Diverte-me e me satisfaz e isso me basta. Se um dia, as circunstâncias para publicação deles forem favoráveis, publicá-los-ei, sem nenhum problema. Porém, sem nutrir expectativas deles virem a ser best-sellers. Mesmo que, surpreendentemente, sejam.

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Tuesday, September 27, 2011










Desde 1989, data tomada como marco do fim da Guerra Fria, com a derrubada do Muro de Berlim e que antecipou a dissolução da União Soviética, dois anos depois, vem se propalando uma tal de "globalização", que seria uma espécie de Éden econômico. Apregoa-se uma nova era, que, no entanto, ainda não mostrou sua cara. O "mercado" é deificado e em seu nome são praticados determinados atos que, em vez de diminuir, ampliam o profundo fosso existente entre os homens. De um lado, uma minoria dispersiva, que desperdiça recursos e depreda o Planeta e que tudo tem e tudo pode. De outro, dois terços da humanidade nos limites entre a pobreza e a indigência, o que é inconcebível. A "globalização" é a nova utopia da classe política. Mas não é a minha.

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O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). –
Preço: R$ 23,90.

Lance fatal
(contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.

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Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.



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Boca quente


Primeira-dama?

O mínimo que um redator de noticiário tem que conhecer é o cargo ocupado e o tratamento dispensado ao personagem da notícia. Mas não foi isso o que aconteceu outro dia, no "Jornal da Manchete". No bloco do noticiário internacional, a coisa até que ía bem, com o vídeo mostrando as imagens de uma manifestação de mulheres "sikhs", no Estado de Punjab, protestando contra a invasão do Templo Dourado de Amritsar, pelo Exército indiano.

Acompanhando o visual, o locutor narrava o acontecimento, até que chegou neste trecho: "A primeira dama da Índia, Indira Gandhi, afirmou que não permitirá..." Acontece que Indira é a primeira-ministra indiana e não a primeira dama, um título meramente honorífico e dado à esposa do presidente da República. Que mancada!

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, editoria TEVÊ, do Correio Popular, em 25 de julho de 1984).

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Diamante multifacetado

Pedro J. Bondaczuk


O amor é o sentimento mais “democrático” – não distingue religião, cor, sexo, condição econômica e nem classe social etc. – e, simultaneamente, mais exclusivo, pelo menos no que diz respeito à forma de amar e às suas conseqüências. É, certamente, o tema mais explorado em literatura sem que, no entanto, tenha sequer se aproximado do esgotamento ou da obtenção de consenso. Trata-se, pois, de assunto fácil de se escrever a respeito e, paradoxalmente, dos mais complexos e difíceis, dependendo do ponto de vista de cada um que o aborde.

Explico. Caso relatemos apenas nossas experiências pessoais, quer como amantes quer como amados, o tema não implica em maiores complexidades. Basta que abramos o coração e relatemos nosso caso e o que pensamos a respeito com sinceridade e sem meios tons. Ou seja, que abordemos “a nossa verdade”. Contudo, se quisermos abordar a forma como outras pessoas encaram (e exercitam) esse sentimento, certamente provocaremos polêmicas sem fim e controvérsias insolúveis. Afinal, o amor é um diamante multifacetado com um número praticamente infinito de faces. Dificilmente as experiências alheias a propósito serão iguais às nossas. Podem ser parecidas, podem ocorrer coincidências, mas...

Posso, por exemplo, ter vivido (e ainda estar vivendo) um amor arrebatador, completo e irrestrito, que segue crescendo a cada dia, à medida que o tempo passa, sem nenhuma perspectiva de arrefecimento ou do fim. Só não posso dizer que ele seja eterno, porquanto desconheço o amanhã, com suas surpresas ( boas e más) e sua imprevisibilidade. Já outra pessoa pode ter amado até mais completa e irrestritamente do que eu, mas por curto período e, passados alguns simples dias, por algum motivo, objetivo ou apenas subjetivo, ou mesmo sem qualquer razão ou causa, subitamente, sem aviso, ter deixado de amar. E, o que é pior, passar a odiar a pessoa que tanto amou. Isso acontece com maior freqüência do que se pensa.

Alguém, no entanto, pode dizer, com certeza, que, neste caso, o sentimento não existiu? Ou que esse amor que se acabou foi menor do que o meu, que segue crescendo mais e mais a cada dia? Claro que não! Como afirmei, todos escritores, algum dia, já escreveram sobre o amor, ora para exaltá-lo, ora para enfatizarem os sofrimentos que causa quando se extingue. E, raramente, há concordância entre eles.

A norte-americana Pearl S. Buck, por exemplo, acentuou que esse sentimento “só acaba quando se detém o crescimento”. Concordo com ela, mas não posso jurar que seja, de fato, assim. Talvez possa acontecer dele não aumentar, mas também não diminuir e nem se extinguir. Não creio que isso ocorra, mas... Recuso-me a garantir que assim seja, por não ter essa convicção. Quando se trata de amor, ninguém é mestre (e eu, muito menos).Todos somos eternos aprendizes, e a vida toda.

Uma das causas mais comuns e, simultaneamente, mais dolorosas, para que se deixe de amar alguém, é a traição. Não se pode, no entanto, afirmar que essa seja “sempre” a causa mortis desse complicado (mas tão desejável) sentimento. Há pessoas que, mesmo traídas, continuam amando com a mesma intensidade, quando não ainda mais. Sofrem, obviamente, mas não deixam de amar. Conheço muitos casos assim.

O vulgo costuma ser sumamente cruel com a pessoa traída que não deixa de amar, impingindo-lhe epítetos chulos, do tipo “corno”, fazendo toda a espécie de chacotas e todo o tipo de anedotas. E sempre, sempre e sempre em relação à vítima. Estranhamente, porém, poupa quem perpetra esse deslize, sumamente imoral: o traidor (ou traidora). Isso... quando a vítima não é o sujeito que faz essas piadas grosseiras, gratuitas, ofensivas, desabonadoras, injustas e de péssimo gosto. Quando é... “Pimenta nos olhos dos outros é colírio”.

Dante Aligheri, em sua “A divina comédia”, na parte em que trata do “Inferno” (canto XI), assim se expressa a propósito: “A traição quebra afetos verdadeiros que a natureza inspira em almas simples”. Mas isso é uma regra? Na maior parte dos casos, até chega a ser. Mas não em todos. Há, reitero, pessoas traídas cujo amor é tão profundo que, mesmo que se esforcem, não conseguem deixar de amar quem as trai.

Outro ângulo diferente do tema refere-se à sua natureza. Para muitos, poetas ou não, o amor é a suprema bênção. Para outros, é fonte de delírios e de penas. Há, até, quem o classifique como moléstia fatal (claro, é um exagero. Nem tanto ao céu e nem tanto à terra). A esse propósito, Piers Paul Read coloca, na boca de um dos seus personagens do romance “O oportunista”, o seguinte desabafo: “O amor é sempre uma doença, mas se é correspondido pode seguir seu curso e até extinguir seu fogo; se é frustrado, permanece dentro da pessoa para sempre, envenenando o espírito”. Pode-se, porém, afirmar que isso seja regra geral e universal? Não, não e não!”

Alguns escritores, por seu turno, santificam e divinizam o amor, o que não considero nenhum exagero, embora não ponha a mão no fogo por essa opinião. Outros tantos, contudo, o demonizam e o associam ao pecado da luxúria. O filósofo Santo Tomás de Aquino, o “pai” do tomismo, da filosofia patrística, assim se expressou a propósito: “O que deve haver é o governo do amor. Amar uma pessoa significa desejar que ela seja feliz”.

O também sacerdote (era jesuíta) francês, que faleceu em 1965, Pierre Teilhard de Chardin, escreveu algo mais ou menos parecido, com sentido semelhante, ao prever: “Algum dia, quando tivermos dominado os ventos, as ondas, as marés e a gravidade... utilizaremos as energias do amor. Então, pela segunda vez na história do mundo, o homem descobrirá o fogo”. Será?

Já a norte-americana Pearl S. Buck, que citei acima, advertiu, no romance “Carta de Pequim”: “Não há nada mais explosivo no mundo do que o amor rejeitado”. Não há mesmo! As páginas policiais dos jornais do mundo todo estão repletas de casos dando conta dessa explosividade. Embora, reitero, jamais se possa generalizar. quando se trata desse sentimento. Cada pessoa é uma pessoa, ou seja, age de acordo com sua formação, experiência, constituição mental, psicológica e afetiva, convicções e, sobretudo, circunstâncias.

O filósofo norte-americano Will Durant, em seu clássico “Filosofia da Vida”, assim se expressa a propósito: “Se a sabedoria fosse moça, ela amaria o amor, nutri-lo-ia com a devoção, aprofundá-lo-ia com o sacrifício, vitalizá-lo-ia com a reprodução e a ele subordinaria tudo, desde o começo até o fim”.

Viram quantos escritores e filósofos citei neste simples e despretensioso texto? E todos abordaram o mesmíssimo assunto. Os ângulos de abordagem, todavia, foram os mais diversos, o que confirma minha tese de que, por mais que se escreva a respeito, jamais se conseguirá esgotar o tema ou chegar a um relativo consenso. Por isso é um assunto simultaneamente fácil de se abordar e sumamente difícil, embora aqui se configure um paradoxo.

Finalmente, reproduzo a citação do escritor e psicanalista Hélio Pellegrino, em uma de suas crônicas (a intitulada “Apologia da dor de dente”, publicada na Folha de S. Paulo em 26 de junho de 1983), em que diz: “Ao apaixonado, costuma-se conferir folgada autonomia, com respeito às inúmeras contingências que limitam a condição humana. Ao sopro da paixão, viaja ele pelos espaços infinitos, "capaz de ouvir e de entender as estrelas" e demais substantivos celestes. A paixão – tanto quanto a fé – remove montanhas. Ela é capaz de operar milagres e, nesta medida, testemunha, de maneira irrefutável, da existência deles. A paixão é a derrota da burocracia, o subjugamento da mesmice, a superação da rotina. Ela é vôo, liberdade, transporte, êxtase”. E não é?!!!






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Monday, September 26, 2011










O inimigo do ser humano, aquele que ameaça sua integridade física e mental e, principalmente, sua vida, não é externo, de fora do Planeta. Está na Terra e, mais do que isso, dentro de nós. Está na cidade poluída, nos nossos genes, na camada de ozônio, na droga, no colesterol ruim, no estresse, na injustiça social etc. etc. etc. Por isso sonho (e batalho todos os dias para a sua concretização) com uma era em que todas as doenças, do corpo e do espírito, sejam erradicadas. Em que não haja, de um lado, uma raça de gigantes, saudável e longeva, e de outro, multidões de seres raquíticos, famintos, doentes e frágeis, morrendo de doenças simples, como a diarréia. Esse dia haverá de chegar!

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Anote e Confira


CONEXÃO INTERNACIONAL

A linda atriz francesa, Catherine Deneuve, que esteve recentemente no Brasil, é a atração de hoje no Conexão Internacional. Com mais de 50 filmes rodados em 25 anos de carreira, tendo sido dirigida pelosa mais badalados diretores, do porte de Roman Polanski, Buñuel, Truffaut, Lelouch e Dino Risi, a estrela é a figura de maior importância na atualidade do cinema francês.

Roberto D'Ávila vai entrevistá-la a esse respeito e sobre fatos interessantes da sua vida. Catherine tem em seu currículo uma grande quantidade de sucessos cinematográficos, como os filmes "A Bela da Tarde", "Os Guarda-chuvas do Amor", "Pele de Asno", "Tristana", "O Último Metrô" e "Fome de Viver", entre outros.

Mulher sensível e inteligente, tem muito para contar a respeito da sua carreira, nas vésperas de completar 41 anos de vida, no próximo mês de outubro. Rede Manchete, canal 15 em UHF, às 22h15.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, editoria TEVÊ, do Correio Popular, em 19 de setembro de 1984).

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Vencendo o tempo

Pedro J. Bondaczuk

O poeta que consegue tocar a alma de quem o lê, que acumplicia o leitor e lhe desperta a sensibilidade e a emoção, tem maiores possibilidades de se consagrar e de se eternizar (na base possível a nós humanos, claro, do “eterno enquanto dura”). Não importa seu estilo, nem a escola em que os estudiosos o classificam e sequer os temas que aborda. Importa seu dom, seu talento e sua capacidade de despertar empatia.
Foi, entendo, o que aconteceu com Luiz Vaz de Camões, tido e havido como mito, como símbolo, até, do país em que nasceu. Tanto que a data da sua morte (10 de junho de 1580) é, também, o Dia de Portugal. Sua vida, porém, não foi caracterizada pela fama, pela fortuna, por homenagens de toda a sorte, enfim, pela glória. Pelo contrário. A se acreditar em seus biógrafos (e não há razões objetivas para não se crer), o hoje mítico poeta “comeu o pão que o diabo amassou”. Enfrentou sérias privações e justo na velhice, quando as pessoas tornam-se dependentes de terceiros, caso não hajam juntado um providencial pé de meia. E ele não juntou.
Claro que não são todos os bons poetas que acabam por se impor e cuja obra é lida, relida, decorada e declamada gerações afora, como ocorre com Camões, cuja poesia freqüenta os mais nobres espaços literários 431 anos após a sua morte. Esse reconhecimento póstumo depende de uma série de circunstâncias, alheias à qualidade da obra. Entre outras, está o feliz “acaso”, que alguns chamam de sorte, outros de destino, mas cujo significado, no final das contas, é o mesmo. Isso vale não apenas para os poetas, mas para todos os escritores e mais, para todas as pessoas, artistas ou não.
É particularmente admirável o fato de Camões ser tão reconhecido e admirado mais de quatro séculos após a morte por uma série de razões. Por exemplo, na época em que viveu e em que compôs sua obra, o hábito da leitura era um luxo. A quase totalidade da população européia, qualquer coisa em torno de 90%, era analfabeta. Publicar livros na ocasião, portanto, era péssimo negócio, se encarado, apenas, pelo aspecto comercial.
Raros, raríssimos escritores conseguiam convencer os primitivíssimos editores a publicarem seus livros. As pessoas de mais posses, principalmente a nobreza européia, não consideravam que, saber ler e exercitar esse conhecimento fossem coisas dignas da sua posição social. Para eles, um nobre, que merecesse de fato essa classificação, tinha que saber montar com perfeição, ser exímio cavaleiro, dominar a arte da guerra, ser perito em esgrimir uma espada ou um florete e ser corajoso em combate. “Ler? Para quê?”, era a pergunta que faziam. E essa mentalidade prevaleceu por muito tempo.
Em favor de Camões é necessário que se diga que, apesar de poeta e de saber, claro, ler e escrever (o que talvez o diminuísse aos olhos da nobreza), era, também, um guerreiro (posto que ditado pelas circunstâncias). Combateu, por exemplo, na África, onde perdeu um olho (dizem que se auto-exilou de Portugal depois de levar um fora de uma mulher pela qual estava apaixonado). Após essa aventura, regressou a Portugal.
Pelo jeito, devia ser uma pessoa temperamental, um sujeito esquentadinho, desses que não levam desaforo para casa. Como cheguei a essa conclusão? Fácil, por dedução, ao ler em sua biografia, que pouco depois de retornar da África, feriu, em Lisboa, um servo do Paço, que o teria provocado. Um sujeito calmo e cordato não faria isso. Acabou, como seria de se esperar, preso por essa atitude hostil. Mas foi perdoado pelo rei e partiu para o Oriente, onde passou muito tempo. Lá, também foi preso, e por diversas vezes, pelos mais variados motivos e, embora privado de um olho, voltou a pegar em armas, engajado às forças portuguesas.
Nesse período, todavia, seu maior feito (não para a sua geração, mas para as vindouras), não foi a exibição de sua coragem (ou imprudência?) de armas nas mãos. Foi a composição de um livro, mais especificamente, de uma epopéia, que se iguala, sdem favor algum, às duas de Homero, “!Ilíada” e “Odisséia”; à do romano Virgílio, “Eneida” e às duas indianas, “Ramaiana” e “Mahabarata”. Claro que me refiro a “Os Lusíadas”.
Tenho particular carinho por essa obra, não somente por sua importância histórica e literária, mas por uma razão bem mais prosaica. Nos tempos em que cursava o antigo ginásio, meu professor de Português, o saudoso Moisés Prates, a quem devo meu profundo amor pela literatura, dava suas magníficas aulas de análise sintática nos fazendo analisar (na verdade,virar no avesso) os versos de “Os Lusíadas”. Não nego que na ocasião cheguei a odiar esse livro, notadamente quando me enroscava em alguma análise. Hoje, sei décor trechos e mais trechos dessa epopéia, cujo valor, finalmente, está mais claro para mim do que um dia de sol.
Ao voltar a Portugal, Camões publicou seu extraordinário livro que, se lhe rendeu, na Corte, um relativo prestígio como intelectual e, sobretudo, como poeta, em termos de recursos financeiros não contribuiu em nada para sua subsistência. O rei, Dom Sebastião, determinou-lhe pequena pensão mensal, mas não pelos seus dotes poéticos, porém pelos serviços que prestou, como militar, à Coroa. O que ganhava, no entanto, mal dava para comer.
Seus últimos dias foram de penúria, de privações e de miséria. E também de frustrações. Entre outras coisas, Camões queixava-se da pouca importância que as pessoas davam ao seu livro e não se conformava com isso. Pudera! Numa Europa em que o analfabetismo era quase absoluto, o que ele poderia esperar em termos de leitura?! Como as pessoas poderiam ler sua genial epopéia se não sabiam juntar a com b?!
Quanto à sua obra lírica, o poeta sequer chegou a publicar em vida. Ela apenas foi publicada alguns anos após sua morte. Por todas essas circunstâncias, não é notável, e até miraculoso, o justíssimo prestígio que Camões goza atualmente, principalmente nos países de língua portuguesa? Sem dúvida! Com sorte e talento, o homem que hoje é símbolo de Portugal conseguiu vencer tanto o tempo, quanto, e principalmente, o esquecimento.

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Sunday, September 25, 2011










O ensaísta Henry David Thoreau, que em alguns de seus textos é extremamente cáustico na defesa das liberdades individuais, tem uma citação lapidar em que diz: "Se você construiu castelos no ar, não terá desperdiçado seu trabalho, pois no alto é onde devem estar. Agora, coloque fundações embaixo deles". Por maiores e mais arrojados que sejam nossos ideais, estes não podem se limitar apenas a elucubrações, sob pena de mero desperdício de tempo. Devemos batalhar para torná-los concretos. A tentativa de construir um mundo melhor, onde preponderem a solidariedade, o amor e a justiça, deve ser o objetivo máximo, constante, permanente, obsessivo até de sucessivas gerações (e, claro, o nosso também) sempre em sentido evolutivo, de tal sorte que a humanidade caminhe – ora a passos lentos, ora de maneira acelerada, de acordo com as condições e circunstâncias de momento – rumo à razão absoluta.

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Vespas molestam leões


Pedro J. Bondaczuk


Os muçulmanos fundamentalistas xiitas inauguraram, em 4 de novembro de 1979, no Irã, uma prática que vem se disseminando por todo o Oriente Médio e até por outras regiões do mundo: os ataques a embaixadas estrangeiras. Desde a ocupação da missão diplomática norte-americana em Teerã, num drama que teve 444 dias de duração e que contou com a aprovação pessoal do líder iraniano, aiatolá Khomeini, diversos casos de desrespeito à imunidade diplomática sucederam-se no Paquistão, na Colômbia e principalmente no Líbano, para citar apenas os que causaram mais repercussões. A partir daí, ficou aberta a "temporada de caça" aos diplomatas.

Nesta semana, embora obviamente em campos opostos, Estados Unidos e União Soviética receberam o mesmo tratamento em Beirute. Tiveram seu pessoal diplomático atingido (no caso dos russos) e ameaçado (no norte-americano) por facções fundamentalistas diferentes. Os soviéticos, possivelmente pela primeira vez em que isso ocorre em qualquer país com o qual Moscou possui relações em nível de embaixada, tiveram o dissabor de passar por um seqüestro de quatro de seus servidores. E por uma tribulação ainda maior: a morte de um deles, seu adido cultural na capital libanesa, Arkady Atkov, nas mãos dos seqüestradores. "Tio Sam", por seu turno, ainda aguarda ansioso para que não seja verdadeira a notícia publicada por dois jornais de Beirute, dando conta de que o diplomata William Buckley, cativo dos extremistas desde março do ano passado, foi assassinado pelo "Jihad Islâmico", grupo que segue a orientação do líder religioso e temporal do Irã, Ruhollah Khomeini.

Esse tipo de procedimento, embora já esteja completando seis anos de prática, é algo novo para as superpotências, até pouco tempo acostumadas a ser obedecidas, ou então temidas. No primeiro caso, pelos "aliados". No outro, pelos adversários. A despeito da Casa Branca e do Cremlin estarem apoiando cada um deles suas facções na guerra civil libanesa, essas não aceitam cegamente as determinações dos mentores. A rigor, nessa conturbada e caótica região do Oriente Médio, suas palavras não valem praticamente nada. Ali, diariamente, alianças se fazem e se desfazem, ao sabor de qualquer incidente, mesmo que seja bastante irrisório.

Os soviéticos passam por essa tribulação atual por causa dos sírios, que mantêm um inflexível cerco a Tripoli, segunda cidade em tamanho e importância do Líbano, para expulsar de lá fundamentalistas da seita muçulmana sunita, que apoiam a Organização para a Libertação da Palestina. É uma trama complicada, não é mesmo? Sabedores de que os russos são os mentores da política da Síria, seu mais precioso aliado no mundo árabe (e atualmente o único), os extremistas passaram a exigir como resgate dos reféns que o Cremlin ordene a Damasco a suspensão do seu cerco àquele porto do Norte libanês.

No caso do diplomata norte-americano, o pretenso assassinato se prenderia a uma represália contra o ataque israelense, realizado no meio da semana, ao QG da OLP na capital da Tunísia, que supostamente teria contado com o apoio logístico da Sexta Frota dos Estados Unidos acantonada na zona do Mediterrâneo, e que causou cerca de sete dezenas de vítimas fatais. E esteja certo o leitor, essa suspeita da participação de Washington, direta ou indiretamente, no episódio, ainda vai trazer muita dor de cabeça para a Casa Branca. Principalmente após a inoportuna declaração de Ronald Reagan, dada na quarta-feira, justificando o ataque de Israel à OLP.

Fica, pois, cada vez mais caracterizada, com os acontecimentos da semana em Beirute, a impotência dos poderosos "leões" diante de incômodas "vespas". A fraqueza dos fortes diante da ousadia dos fracos. Pode-se afirmar, até, que grupos diminutos, compostos de fanáticos esfarrapados e sem grandes recursos materiais e logísticos, estão pondo de joelhos as superpotências no Líbano. E isso, embora agrade a muita gente que se satisfaz em ver quebrada a arrogância dos poderosos, é muito mais perigoso do que a maioria pode imaginar. Ainda mais em se tratando de uma área tão explosiva como é o permanente barril de urânio do Oriente Médio...

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular em 5 de outubro de 1985)

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Ao sabor das aparências

Pedro J. Bondaczuk

As aparências enganam”. Essa expressão, muito comum e popular, nós ouvimos amiúde, principalmente para explicar, ou justificar, determinados equívocos que cometemos. Claro que não devemos tomar a afirmação rigorosamente ao pé da letra, como se fosse um dogma infalível. Ou seja, de que tudo o que aparenta ser alguma coisa de fato não o é. Às vezes, não é mesmo. Mas há exceções. E, no caso, talvez se constituam até em regras, sabe-se lá.

Depende, também, de a qual aparência nos referimos, se à física, ou se à moral ou comportamental. Ambas podem enganar, dependendo das circunstâncias. Um exemplo? Não raro cruzamos nosso olhar com alguma mulher aparentemente belíssima, bem vestida, maquiada com perícia e bom gosto, com porte ereto e nobre, que nos impressiona e até nos desperta desejo, quando não avassaladora paixão. Todavia, essa mesma “diva” pode ser um, baita engano, completamente diferente, se a virmos da forma que veio ao mundo, nua e, portanto, desprovida dos elegantes trajes e dos adereços complementares que nos davam a impressão de uma beleza sem mácula e sem senões.

Poderia citar dezenas, centenas, quiçá milhares de exemplos em que as aparências são enganadoras. O que não se pode, sob pena se enganar ainda muito mais, é generalizar. Em boa parte das vezes, o que aparenta ser, de fato é. Quando se toca no assunto, cita-se, via de regra, como exemplo de engano que as aparências propiciam as miragens. Pensa-se nelas como imagens que enganam os sentidos, ou pelo menos, um deles: o da visão, obviamente. Os leigos atribuem esse engano de interpretação a um delírio de quem as vê, ou seja, a eventual desarranjo mental. Estão equivocados. Trata-se de fenômeno óptico, rigorosamente físico, com explicação, portanto, racional e científica.

O vulgo acha que miragens aparecem, somente, quando as pessoas tentam atravessar algum deserto. Atribuem-nas a um estado de exaustão e à sede extrema de quem as vê. Pensa-se, de imediato, no surgimento de oásis verdejantes, com lagos de águas cristalinas, em meio ao areal e que desaparecem, ou mudam de lugar, tão logo o desditoso visionário chega próximo, para o seu desespero. Isso acontece, “também”, dessa maneira. Mas... não somente assim.

Recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia para uma explicação racional desse fenômeno, que, insisto, nada tem a ver com delírio. Diz: “Miragem, ou espelhismo é um fenômeno óptico muito comum em dias ensolarados, especialmente sobre rodovias, em paisagens desérticas, ou também em alto mar. Trata-se de uma imagem causada pelo desvio da luz refletida pelo objeto, ou seja, é um fenômeno físico real e não apenas uma ilusão de óptica”. E não foi o que afirmei?! Delírio? Uma ova!!

Tragamos, porém, o assunto para a nossa seara, o nosso campo de interesse, o das artes (e, claro, da literatura). O artista, sobretudo o escritor, como qualquer ser humano normal, com um mínimo de raciocínio, aspira à eternidade, mesmo tendo ciência da inutilidade dessa aspiração. Claro que tem consciência da impossibilidade física de chegar a ela. Busca-a, porém, através da sua obra. Se conseguirá ou não alcançar seu ousado objetivo, nunca saberá. Para ter sucesso depende de circunstâncias várias que lhe fogem por completo ao controle. Não depende, sequer, da qualidade do que produziu.

Inúmeras manifestações artísticas perderam-se para sempre, ao longo do tempo e da história, em decorrência de guerras, convulsões sociais, catástrofes naturais etc. Quanta coisa espetacular e original não se perdeu, por exemplo, no incêndio da Biblioteca de Alexandria, no Egito?! Ou na destruição da de Nínive?! Ou por causas várias, nos mais variados tempos e lugares?!

A obra de arte, objetivamente, não é eterna. Eterno é o dom artístico, a necessidade do homem de interpretar o que é, sente, faz e tudo o que o rodeia. É esse talento, que se manifesta das formas mais variáveis (literatura, pintura, música etc.) que confere ao artista uma espécie de “miragem de eternidade”. Ou seja, ela existe (tanto que a vislumbramos), mas não exatamente como a “imagem” dela nos sugere.

Essa nossa visão pode vir a se concretizar na sua forma verdadeira? Pode! Mas o que o artista produziu pode, também, se perder para sempre e não deixar o menor vestígio em questão de parcos anos ou quiçá até de dias ou horas. O escritor Gaëtan Picon – autor, entre outros livros, de “O escritor e sua sombra” – escreveu a respeito: “A obra não é eterna, mas a continuidade da criação artística, que a submete ao jogo das revivescências e das metamorfoses, é como uma miragem de eternidade”. E não é?!

Quanto à questão das aparências, afirmo que, quem se deixa levar apenas por elas, não raro comete equívocos que às vezes nem têm remédio. Nem sempre o que parece de fato é o que aparenta. E isso vale tanto para o aspecto material do mundo, quanto para o lado espiritual das pessoas.

Hermann Hesse coloca, na boca de um dos seus personagens, esta verdade, que contradiz as aparências: “O macio é mais forte do que o duro. A água mais forte do que a rocha. O amor mais forte que a violência”. E essa força maior, dos elementos citados, não é apenas figura de linguagem, mas pura realidade.

Analisemos, contudo: o macio verga, mas não quebra, ao contrário do que é duro, que se rompe facilmente. A água é a que gera boa parte da energia elétrica que se consome mundo afora (notadamente no Brasil), e não a rocha. Já a violência, destrói, não raro, não apenas a vítima dela, mas também o seu agente (a toda ação corresponde uma reação). O amor, porém, redime a ambos. Por isso, não nos deixemos levar, jamais, por meras aparências. Elas podem nos enganar demais. Ou não, conforme o caso.

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