Reputação é assunto delicado
Pedro J. Bondaczuk
A reputação de uma pessoa comum já é um assunto delicado. Uma vez levantada qualquer suspeita em torno dela, por mais inocente que o indivíduo seja, jamais ele conseguirá convencer a todos com quem convive acerca de sua retidão. Imagine o leitor o que o bom nome significa para um homem público, que tem a sua vida permanentemente exposta ao sabor da curiosidade popular!
Estas considerações vêm a propósito dos rumores divulgados no dia 4 passado, pelo jornal "Nagoya Times", acerca do novo primeiro-ministro japonês Toshiki Kaifu, empossado, anteontem, na chefia do governo desse país. Esse diário insinuou que tal personalidade teria tido um filho ilegítimo com uma modelo de Tóquio. Dias depois, esse mesmo órgão de imprensa desmentiu o boato, dizendo ter sido "impossível provar" tal acusação, feita por "um adversário político" do premier.
Nesta semana, ao invés de silenciar sobre um assunto tão delicado, carente de qualquer prova, a revista "Shukan Post" voltou a tocar no tema, também para desmentir a notícia. Mas, com sua matéria, obteve resultado exatamente inverso. Ou seja, aumentou as suspeitas da opinião pública japonesa, abalada por dois grandes escândalos (dos quais um de caráter sexual) nos últimos 90 dias, de que o boato tivesse um fundo de verdade.
Com isso, conseguiu, somente, prestar um grande desserviço ao Japão, país que sempre se caracterizou, em especial no pós-guerra, pela estabilidade governamental (embora vários primeiros-ministros tenham tido que renunciar por causa de fatos escandalosos, como de suborno, um dos quais foi o da empresa aeronáutica norte-americana Lockheed).
É lícito que se espere do homem público uma conduta irrepreensível. O que não se admite, por se tratar de uma atitude criminosa, é levantar suspeitas em torno da honorabilidade de quem quer que seja, sem a existência concreta de provas sobre seus deslizes. Afinal, todos são inocentes, até que se prove o contrário.
E, no caso de Kaifu, que está exigindo, com toda a razão, que o jornal que levantou essa insinuação se retrate publicamente, não há a mínima evidência que fundamente a versão publicada. A fictícia modelo, com quem ele teria tido o insinuado relacionamento amoroso, não apareceu, por possivelmente não existir. O tal filho ilegítimo também não. O que ficou foi apenas o mal-estar causado pelo rumor.
Que se deseje pôr fim ao predomínio do Partido Liberal Democrático, de 34 anos, nesse país, até que se entende. Faz parte da competição política. Mas que isto seja feito num plano elevado, no de idéias e programas, e nunca no movediço terreno das retaliações pessoais irresponsáveis e da difusão de criminosos boatos. Afinal, a reputação é como a virgindade: uma vez perdida...
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de agosto de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A reputação de uma pessoa comum já é um assunto delicado. Uma vez levantada qualquer suspeita em torno dela, por mais inocente que o indivíduo seja, jamais ele conseguirá convencer a todos com quem convive acerca de sua retidão. Imagine o leitor o que o bom nome significa para um homem público, que tem a sua vida permanentemente exposta ao sabor da curiosidade popular!
Estas considerações vêm a propósito dos rumores divulgados no dia 4 passado, pelo jornal "Nagoya Times", acerca do novo primeiro-ministro japonês Toshiki Kaifu, empossado, anteontem, na chefia do governo desse país. Esse diário insinuou que tal personalidade teria tido um filho ilegítimo com uma modelo de Tóquio. Dias depois, esse mesmo órgão de imprensa desmentiu o boato, dizendo ter sido "impossível provar" tal acusação, feita por "um adversário político" do premier.
Nesta semana, ao invés de silenciar sobre um assunto tão delicado, carente de qualquer prova, a revista "Shukan Post" voltou a tocar no tema, também para desmentir a notícia. Mas, com sua matéria, obteve resultado exatamente inverso. Ou seja, aumentou as suspeitas da opinião pública japonesa, abalada por dois grandes escândalos (dos quais um de caráter sexual) nos últimos 90 dias, de que o boato tivesse um fundo de verdade.
Com isso, conseguiu, somente, prestar um grande desserviço ao Japão, país que sempre se caracterizou, em especial no pós-guerra, pela estabilidade governamental (embora vários primeiros-ministros tenham tido que renunciar por causa de fatos escandalosos, como de suborno, um dos quais foi o da empresa aeronáutica norte-americana Lockheed).
É lícito que se espere do homem público uma conduta irrepreensível. O que não se admite, por se tratar de uma atitude criminosa, é levantar suspeitas em torno da honorabilidade de quem quer que seja, sem a existência concreta de provas sobre seus deslizes. Afinal, todos são inocentes, até que se prove o contrário.
E, no caso de Kaifu, que está exigindo, com toda a razão, que o jornal que levantou essa insinuação se retrate publicamente, não há a mínima evidência que fundamente a versão publicada. A fictícia modelo, com quem ele teria tido o insinuado relacionamento amoroso, não apareceu, por possivelmente não existir. O tal filho ilegítimo também não. O que ficou foi apenas o mal-estar causado pelo rumor.
Que se deseje pôr fim ao predomínio do Partido Liberal Democrático, de 34 anos, nesse país, até que se entende. Faz parte da competição política. Mas que isto seja feito num plano elevado, no de idéias e programas, e nunca no movediço terreno das retaliações pessoais irresponsáveis e da difusão de criminosos boatos. Afinal, a reputação é como a virgindade: uma vez perdida...
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de agosto de 1989).
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