Wednesday, September 28, 2011







Disputa á margem da Copa do Mundo

Pedro J. Bondaczuk


A grande atração deste ano, em termos de televisão, deverá ser a Copa do Mundo do México, agora que todas as emissoras (ao contrário do que ocorreu na Espanha, em 1982), terão acesso às transmissões. Cada uma, de acordo com suas condições financeiras e do pessoal que dispõe, buscará mostrar alguma inovação. Algo que seja marcante e que tenha condições de atrair o público telespectador, numa disputa tão renhida (ou maior) como a que será travada nos gramados mexicanos pelos 24 melhores selecionados da atualidade. A guerra pela audiência será, certamente, a característica desta temporada.

"A priori", se existe um setor em que todos os canais praticamente se nivelam, esse é o das transmissões esportivas. Convém reconhecer que todos eles reúnem os nomes mais expressivos da crônica especializada. Além disso, à primeira vista nos parece que a disputa será centralizada em quatro emissoras: Rede Globo, Rede Bandeirantes, Rede Record e Rede Manchete.

Por atingir a praticamente todo o território nacional e por dispor de recursos econômicos superiores às demais, a primeira deverá levar nítida vantagem. Por essa razão, terá a responsabilidade de executar um trabalho de melhor qualidade do que vem fazendo até aqui, nessa área. Principalmente que seja muitos furos acima da transmissão dos jogos das eliminatórias do ano passado, quando sua performance, em algumas partidas, chegou a ser decepcionante.

Entretanto, alguns recursos utilizados naquela oportunidade podem ser melhorados na Copa e acabar se constituindo em atrações capazes de desequilibrar a luta pela audiência. Como por exemplo a consulta ao povo, reunido nas praças das principais cidades brasileiras, durante o desenrolar dos jogos. Só que a tarefa, ao contrário do que aconteceu durante as eliminatórias, terá que ser entregue a gente do ramo. E a equipe precisará estar bem ensaiada, para que ninguém entre no ar em momento inoportuno e nem fale as bobagens que foram ditas naquela ocasião. Numa competição como a Copa do Mundo, esse procedimento poderá ligar a corrente de otimismo necessária para que a nossa seleção, a despeito de todas as falhas de organização, tenha sucesso.

A Rede Record, por seu turno, certamente voltará a repetir a fórmula vitoriosa de outras tantas jornadas, calcada sobretudo na criatividade do seu narrador Sílvio Luís. Atualmente, quem acompanha assiduamente as transmissões esportivas pela televisão, sabe que ele é o único que fala a linguagem do povo. Usa as expressões características dos nossos estádios, aquelas adotadas nas arquibancadas e alambrados. O jogo, com a sua narração, ganha o caráter que realmente deve ter: o de um esporte, uma coisa alegre e descontraída.

Em 1982, quando a Rede Globo conseguiu exclusividade para a transmissão dos jogos, na Espanha, esse profissional, provavelmente o mais antigo da TV ainda em atividade, conseguiu a sua definitiva consagração. Diversos telespectadores sintonizaram no único canal que reportava o espetáculo, mas tiraram o volume de seus receptores, ligaram o rádio e acompanharam os lances pela Rádio Record. E quem o leitor acha que estava narrando os jogos nessa emissora? Exatamente ele, Sílvio Luís!

Desta feita, ninguém precisará fazer tanto malabarismo para acompanhar o seu locutor preferido. Bastará sintonizar seu seletor de canais na Rede Record e pronto. Ele será, com toda a certeza, mais uma vez um grande páreo para a Globo, pelo menos em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Muitos torcedores, entretanto, preferem a vibração aos recursos técnicos e ao bom-humor. E nesse aspecto, Luciano do Valle, da Rede Bandeirantes, é insuperável. Quem acompanhou a vitoriosa trajetória do vôlei brasileiro, mormente a partir de 1981, sentiu a força de comunicação desse talentoso profissional. E nesta Copa do Mundo, na qual, até mesmo bafejada pela sorte no sorteio das chaves, a seleção brasileira terá amplas chances de chegar à final e, quem sabe, de disputar o título, o entusiasmo de Luciano deverá ser contagiante. Poderá empolgar os telespectadores e carrear uma surpreendente audiência para a Bandeirantes. Esse narrador é capaz de tornar interessante e repleto de emoções até um joguinho amistoso de dois times de várzea. Imaginem, por exemplo, uma final entre Brasil e Itália com a sua narração!

Mas a Rede Manchete também tem os seus trunfos e pode "atropelar" na reta final. É a primeira Copa da "caçula" das emissoras e ela não vai querer fazer feio logo de cara. Inclusive comenta-se, à boca pequena, que ela estaria na iminência de concretizar uma grande contratação para reforçar a sua equipe esportiva, que já é das melhores. O nome, por mais que tivéssemos tentado, não conseguimos apurar e a emissora não confirmou o boato. De qualquer maneira, com o seu pessoal atual, a Manchete tem todas as condições de competir em pé de igualdade com as concorrentes nessa disputa de audiência.

O ano, portanto, promete muito em termos de espetáculo. Torcemos, somente, para que, findo o processo sucessório (sumamente inoportuno neste momento) na CBF, comece de fato o trabalho sério para a formação do nosso selecionado. Afinal, nem o melhor narrador do mundo, e muito menos o mais sofisticado aparato técnico, podem dar emoção a um "scratch" desorganizado, desmotivado e preguiçoso.

(Artigo publicado na página 20, Arte & Variedades, do Correio Popular, em 10 de janeiro de 1986)

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