Sunday, July 31, 2016

SENTIMENTOS QUE SE EXPANDEM NAS CÉLULAS

As três condições espirituais essenciais ao homem, fé, esperança e amor, são sentimentos, não pensamentos. Sentimo-las e não pensamos, necessariamente, nelas. O filósofo Will Durant, com base em pesquisas científicas sérias, constatou, em seu livro “Filosofia da Vida”: “A fé, a esperança e o amor parecem expandir-se em cada célula do nosso corpo; a dúvida, o medo e o ódio contraem-nos os tecidos, como se fossem venenos – e, fisicamente, são venenos”. Como são! Admito que nada no ser humano é mais nobre e maior do que a razão. Nada se compara à sua capacidade de raciocinar, de analisar e entender tudo e todos que o cercam e de criar, com a simples força do pensamento, o abstrato, ou seja, o que não existe. Não fora sua racionalidade, e esse animal, organicamente tão frágil e vulnerável, há muito, e fatalmente, já teria desaparecido da Terra. Aliás, não está a salvo do desaparecimento. Mas sem o sentimento, sem a emoção, sem a ação benéfica dos sentidos, não saberíamos apreciar, adequadamente, a vida e a beleza e muito menos reproduzi-la.


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Presente do Dia dos Pais

Dê ao seu amigão o melhor dos presentes neste Dia dos Pais: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas nessa data. Mas em todos ops dias do ano, por anos e anos a fio.

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso.

Com o que presentear:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

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Pela internetWWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.

Em livraria

Edição impressa:
1. Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
2. Livraria Saraiva.
3. Cia. Dos Livros.
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Edição em e-book:
1.     Editora Barauna
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3.     Extra
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É indispensável que se rompa o imobilismo


Pedro J. Bondaczuk


O País encontra-se, atualmente, num enorme círculo-vicioso, em relação aos rumos que devem ser dados à sua economia. O ministro da Fazenda, Dílson Funaro, quando esteve num giro pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Suíça, Alemanha Ocidental, Itália e Japão, na companhia do presidente do Banco Central, Francisco Gros, para explicar aos credores os motivos que levaram o Brasil a suspender os pagamentos dos juros de sua dívida externa, na semana de Carnaval, ouviu, invariavelmente, em todas as capitais por onde passou, uma só pergunta: “Quais os planos das autoridades brasileiras para redimensionar a nossa política econômica?”. E essa questão não pôde ser respondida, e por uma única razão. Até aqui ninguém conhece as regras do jogo para este e para os próximos anos.

No início deste mês, técnicos do governo afirmavam, “em off”, aos jornalistas, que o roteiro dos ajustes requeridos estava na dependência dos resultados das negociações da dívida externa. Argumentavam que era necessário, antes de tudo, se conhecer o volume de recursos que o País deveria enviar ao Exterior para o pagamento do serviço desse débito (juros e encargos). E saber-se se será possível obter dinheiro novo, e em que quantidade, para financiar o nosso desenvolvimento. Garantiam que somente de posse desses dados seria possível a definição de uma estratégia desenvolvimentista.

Dessa forma, ficou evidente, para qualquer um, e especialmente ao crítico, habituado aos pequenos detalhes, que têm grande significado, a existência de um impasse que precisa ser rompido. Os banqueiros garantem que somente aceitam conversar sobre uma eventual renegociação diante de um plano concreto que dê uma direção à economia brasileira.

O Planalto, por seu turno, contrapõe, dizendo que só poderá elaborar essas regras do jogo econômico diante de resultados concretos do ajuste no plano externo. E nós, como ficamos em toda essa história?

O governo apregoa, a todo o instante, aqui e lá fora, que a base da sua ação continuará sendo o combate à inflação, sem, no entanto, cair no fosso profundo e ameaçador da recessão. Mas a incerteza com a qual os empresários se deparam nesse instante (que pode ser caracterizado como sendo até de perplexidade) é o caminho mais seguro para nos levar para esse lado que não desejamos ir.

A sensível corrosão salarial verificada nos primeiros meses de 1987, embora com o “gatilho” disparado a toda a hora, fez com que o consumo baixasse, no comércio, a pelo menos a metade.

Muitos investimentos, que já deveriam ter sido feitos, estão parados, à espera daquilo que vai acontecer, como o comentarista econômico, Joelmir Betting, bem frisou, no “Jornal da Globo” de anteontem, “não nos próximos três anos de mandato do presidente José Sarney, mas nos três meses vindouros”.

Enquanto isso, a “ciranda financeira”, tão criticada nos tempos da Velha República, voltou a se manifestar a todo o vapor, estimulada pela insaciável fome do governo por mais dinheiro, que é drenado, dessa maneira, e mediante impostos bastante elevados, das atividades produtivas, para a máquina burocrática, centralizada e centralizadora, sabidamente cara e ineficiente, da administração federal.

Os juros enlouqueceram e em apenas três meses, foram parar na estratosfera. O grande problema, segundo os técnicos, é uma aguda falta de liquidez no mercado. Em outras palavras, o que está faltando é moeda, “grana”, “money”, ou “tutu”, como costumamos dizer.

Nisso entra um outro mistério para o leigo em economia. Nós sempre aprendemos que a inflação é caracterizada, principalmente, pela emissão de dinheiro sem que haja um correspondente lastro em ouro. Para as taxas andarem tão alto, portanto, presume-se que a praça deveria estar literalmente “inundada”de papel-moeda.

No entanto, este está escasso, na verdade. Se não estivesse, não haveria tamanha iliquidez. E os juros não estariam nos patamares absurdos em que se instalaram e não parecem dispostos a descer.

Essa atividade especulativa, se alivia os problemas de caixa do governo, agrava um problema antigo nosso: a concentração de renda. É mais do que evidente que o trabalhador de salário mínimo (cerca de 80% da massa salarial total do País), cujos proventos (ou seria “para os ventos”?), são insuficientes até para custear uma alimentação adequada, não está adquirindo títulos, debêntures, etc.

Mas é ele que vem pagando, invariavelmente, a conta. Estes papéis, por exemplo, puxam os juros para o alto, para que possam ser atrativos. As taxas elevadas., no entanto, são pagas pelos tomadores de capital, as empresas, aumentando proibitivamente seus custos financeiros.

No entanto, estes são repassados (com bastante justiça, por sinal) para o consumidor final, pois ninguém abre algum negócio para empatar ou perder. E a maioria da população, como fica nessa história toda?

É urgente, portanto, que este círculo-vicioso seja rompido e sem demora. Ou o governo elabora e apresenta, com urgência, à sociedade e aos banqueiros, o plano dos novos rumos que pretende imprimir à economia, ou estes renegociam o nosso débito externo, definindo quando deveremos pagar e receber. O que não pode persistir, é este terrível imobilismo do primeiro trimestre de 1987.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de março de 1987).


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Prazer ou obrigação?


Pedro J. Bondaczuk


Diz-se, amiúde, por aí, com ares de dogma, que para fazermos bem alguma coisa, qualquer coisa, é indispensável que gostemos do que fazemos. Vou bancar o chato e, mais uma vez, contradizer uma afirmativa, no caso esta. Não se trata de regra universal e infalível que não comporte exceções. Aliás, toda a regra tem lá a sua. E por que esta não haveria de ter?

Conheço pessoas que detestam o que fazem, mas executam bem o que lhes compete fazer. Fazem-no por obrigação, para honrarem compromissos assumidos e não decepcionam quem confia nelas. Tenho um amigo escritor que é assim. Conheço-o há anos e sei que detesta escrever. Por que esse espanto? O mais curioso é que tem um talento fantástico para a literatura. Tamanho, que extrapola sua vontade.

É autor de vários livros e nenhum encalhou nas prateleiras das livrarias. Tem contrato bastante extenso com uma editora de porte médio e nunca deixou de cumpri-lo. A cada seis meses, “comparece” com um novo livro e cada um é melhor do que o outro. Porém... detesta escrever.

Trata-se de um sujeito alegre, de bem com a vida, que aprecia tudo o que de bom ela tem para nos proporcionar: boa comida, bebidas de refinado gosto, mulheres bonitas, amizades fraternas etc.etc.etc. Está sempre sorrindo e, invariavelmente, tem uma anedota inteligente e engraçada na ponta da língua.

É dos raros escritores no País que sobrevive de literatura. Como se vê, é um cara bem-resolvido, bem-sucedido e conhecidíssimo (não vou revelar quem é, para não perder sua amizade, pois sou daqueles que contam o “milagre”, mas não revelam o “santo”).

Lá um belo dia, no entanto, esse meu amigo muda bruscamente de comportamento. Fica mais calado, não raro até taciturno, não participa das patuscadas da turma (essa “patuscada” fui buscar lá no fundo do baú), e volta e meia percebemo-lo distraído, como que fora do mundo. Nessas ocasiões, invariavelmente, ele se confessa “grávido”. Grávido de um novo livro.

Afasta-se de nós por algumas semanas e quando retorna ao nosso convívio, é como se nunca tivesse mudado. Volta a ser o mesmo sujeito alegre de sempre, amante de boa comida, de bebida de refinado gosto, de mulheres bonitas e retorna com anedotas inteligentes e engraçadíssimas na ponta da língua. Passado algum tempo, ficamos sabendo que emplacou outro sucesso literário. E ele jura que detesta escrever.

Não tem blog e nem site na internet, recusa-se a colaborar com os que os têm, a muito custo consegui arrancar uma crônica dele para o jornal em que trabalhava na ocasião e evita de se expor. Convidei-o para ser colunista do Literário e, por muito pouco, ia perdendo um amigo. Ficou uma fera comigo e disse para eu não mais chateá-lo. Não o chateei, claro.

Fora do período de “gravidez”, quem não o conheça bem, jamais acreditará que se trate de um escritor, e dos consagrados. Mas é. E vem emplacando sucesso após sucesso, e sem gostar de escrever. Como explicar isso? Sei lá!

Há, contudo, algo que deveria ser sempre prazeroso para todos, mas que para algumas pessoas não é: a leitura. Alguns professores entediados (é verdade que remunerados muito aquém da importância da sua função), e temo que seja a maioria, vêm transformando, há já bom tempo, esse refrigério da mente (e da alma) do grande prazer que deve ser, em verdadeira tortura.

Em vez de motivarem os alunos a ler, mostrando-lhes o quanto isso pode ser não somente útil, mas, sobretudo, prazeroso, impõem-lhes esse exercício como simples e maçante “obrigação”. E dessa forma, a coisa não funciona nunca. Muitos são até reprovados de série por não saberem interpretar corretamente determinado texto, em geral de algum clássico da literatura brasileira, o que acentua sua repulsa pelos livros.

Há escolas, porém, que agem ao contrário. Em vez da ameaça implícita de castigo aos alunos, caso não leiam determinado livro e não o interpretem corretamente, optam pelo incentivo. Algumas (todas particulares e, portanto, pagas), fazem da leitura matéria extracurricular, que não vale para a atribuição de nota, promovendo autênticos saraus literários, ocasião em que os jovens descobrem que o que lhes parecia objeto de tortura, é, na verdade, inesgotável fonte de prazer (além de conhecimento, claro).

Há colégios (geralmente os mantidos por denominações religiosas), que realizam concursos anuais, dos quais podem participar todos os alunos, de todos os cursos que têm. Os melhores textos são meticulosamente revisados, criteriosamente editados e reunidos numa antologia anual, vendida para a cobertura dos custos aos próprios participantes, aos demais estudantes, bem como aos seus pais.

Esses volumes permanecem na biblioteca da escola, para consulta em anos seguintes. E os jovens autores sentem orgulho imenso por integrar tais antologias. Eu mesmo já revisei e editei vários desses livros e notei que a qualidade teve sensível evolução de um ano para outro.

Esse procedimento estimula não somente a leitura, como, e principalmente, a redação. Muitos desses alunos já manifestaram, ao cabo de palestras que fiz nessas escolas, interesse em se tornarem escritores. Não tenho dúvidas que vários deles se tornarão. E os que não se tornarem, serão, com absoluta certeza, leitores compulsivos, para o resto de suas vidas. Porquanto assimilaram corretamente a lição de que a leitura é um imenso prazer, sempre, e jamais a temida tortura que muitos e muitos alunos, infelizmente, entendem que seja.

Guardadas as devidas proporções, sou mais ou menos como esse meu esquisito amigo que citei. Sou alegre, aprecio todos os prazeres da vida – boa comida, bebida de refinado gosto, mulheres bonitas, amizades fraternas etc.etc.etc. – e tenho sempre uma anedota na ponta da língua (só não sei se tão engraçadas como as dele). Lá um belo dia, também, sinto os sintomas da “gravidez” de um novo livro. Mas nossas semelhanças param por aí.

Ao contrário dele, não tenho como me afastar para um “parto” tranqüilo e sem ser incomodado por ninguém. O nascimento de um novo livro ocorre publicamente, em meio a mil e uma atividades, nos intervalos entre uma e outra.

Tenho uma infinidade de compromissos a cumprir e, estejam certos, cumpro-os todos à risca. Mas essa não é a nossa principal diferença. Ao contrário do meu ilustre amigo, gosto de escrever. Não faço o sucesso dele, mas também não tenho do que me queixar nesse aspecto. Como se vê, não é o prazer pelo que se faz que determina seu êxito ou o seu fracasso. É o talento. E este você pode ter, gostando ou não de tê-lo.


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Saturday, July 30, 2016

SENTIR OU PENSAR?

Fernando Pessoa observa que "sentir é compreender. Pensar é errar". Depende, portanto, do que queremos. Se buscamos a compreensão, através somente do raciocínio, acorrentando nossos sentimentos e policiando as emoções, estamos em um caminho equivocado. Aldous Huxley tem uma observação pertinente, que completa esse raciocínio: "A ciência não explicou nada. Quanto mais sabemos, mais fantástico se torna o mundo e mais profunda fica a escuridão ao seu redor". Três condições espirituais são indispensáveis para a manutenção da nossa saúde psíquica e física: fé, esperança e amor. Sem elas, estaremos perdidos num mar tempestuoso de dúvidas, medos e de ódio, que têm que ser vencidos se pretendermos conservar a sanidade. Sem uma crença transcendental, nossa vida não terá nenhum sentido. Quem não espera nada, por sua vez, e não acredita que possa alcançar o que deseja, carece de metas e todos os seus esforços se tornam inúteis e vãos. E aquele que não ama, tem a alma repleta de sentimentos negativos que, invariavelmente se refletem no corpo, o fazendo adoecer.


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Líder, agora, terá que ouvir reprimenda


Pedro J. Bondaczuk


O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, após permanecer por 63 horas em Cuba, quando reverteu uma recepção relativamente fria das autoridades cubanas, transformando-a numa triunfal despedida, ontem, desembarcou em Londres, onde foi recebido com as honras normalmente dispensadas pelos ingleses somente a seus mais estreitos aliados.

Nessa sua nova visita, contudo, o dirigente vai encontrar uma realidade diferente da anterior. Em Cuba, ele é que partiu para a ofensiva, embora com toda a diplomacia que já demonstrou possuir, fazendo críticas sutis, mas objetivas, ao anacronismo econômico cubano e à sua rigidez ideológica.

Na Grã-Bretanha, todavia, terá que ouvir certas reprimendas. Ou seja, precisará  “engolir” algumas pílulas amargas, em especial no que se refere aos direitos humanos em seu país. É verdade que neste aspecto Gorbachev já tem algo de positivo (muito positivo se comparado com o que acontecia antes, nesse campo, na época dos seus antecessores) para apresentar.

Não há quem não admita que na União Soviética de agora há bem mais liberdade do que na de 1985. Mas ainda existem determinados focos de resistência, que precisam ser eliminados. Há, ainda, presos políticos no país, que convém que sejam postos em liberdade. Subsistem alguns campos de trabalhos forçados, que precisam ser fechados. E Gorbachev deve estar consciente disso.

Por tal razão, não deverá se assustar muito com as críticas, até porque já manifestou, em várias ocasiões, estar disposto a acabar com todos os abusos que porventura existam. Essa posição foi manifestada, por exemplo, recentemente, em Genebra e em Viena. Isso levou, inclusive, o ex-secretário de Estado dos Estados unidos, George Shultz, em geral frio e comedido, a, num arroubo de entusiasmo, propor que o próximo congresso acerca dos Direitos Humanos seja realizado em Moscou.

Todavia, enquanto existir uma pessoa oprimida por causa de suas idéias; enquanto um único cidadão for encaminhado a manicômios, como se fosse louco, por divergir das diretrizes do Partido Comunista; enquanto um só dissidente passar pelo vexame dos interrogatórios agressivos e da estreita vigilância da KGB, convém que o presidente soviético seja, de fato, chamado às falas.

É verdade que a visita de Gorbachev à Grã-Bretanha terá também amenidades. Afinal, jamais, no pós-guerra (e mesmo antes disso), as relações anglo-soviéticas (talvez desde 1917), estiveram tão boas. Facilitou isso a amizade pessoal que o dirigente do Cremlin fez com a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, mesmo antes de chegar ao poder.

Recorde-se que quando Constantin Chernenko estava às portas da morte, o homem que viria a ser seu sucessor se encontrava em Londres. E que “a dama de ferro” prognosticou um grande futuro para ele. E acertou em cheio em suas previsões.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 6 de abril de 1989).


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Foto: Horace Engdahl, presidente da Comissão Julgadora do Nobel de Loteratura

Podemos sonhar alto?

Pedro J. Bondaczuk

Um leitor pergunta-me,, em tom claramente provocativo, o quanto nós, escritores do Terceiro Mundo, desta segunda década do terceiro milênio da Era Cristã, podemos sonhar. “Algum de vocês (ou todos vocês) espera, por exemplo, ganhar um Prêmio Nobel de Literatura?”, indaga.

Bem, sonhar não paga imposto (não, pelo menos, ainda). Em teoria, desde que estejamos vivos (e estamos), produzindo obras literárias de certo valor (o que, convenhamos, é bastante subjetivo), temos alguma chance de conquistar esse feito, posto que remota, ínfima, remotíssima é verdade. A probabilidade disso acontecer é, eu diria, de uma em um trilhão (sendo bastante otimista). Mas... mesmo que apenas teoricamente, ela existe.

Ou por acaso, querido e provocativo leitor, você acha que os 111 escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura, desde que foi criado, não eram humanos, mas deuses do Olimpo? Todos eles tiveram um começo igualzinho ao nosso. Muitos deles conviveram com o fracasso por anos a fio, até tirarem a “sorte grande” (e põe grande nisso!). Ou você acha que nenhum deles jamais passou pela decepção de um grande encalhe em algum livro publicado? Ou que não foram duramente criticados (diria, verbalmente “surrados”) por críticos mal-humorados e com pose de gênios? Claro que sim!

Você dirá: “É, mas nenhum brasileiro ainda foi premiado”. E estará certo em sua observação. No entanto, tudo na vida sempre tem uma primeira vez. E você tem certeza, mas certeza mesmo, que você não venha a se constituir nesse pioneiro (caso seja escritor, claro e que pelo menos escreva bem)? Ou que algum parente ou conhecido seu não logrará essa façanha? Ou que este excêntrico redator, um tanto fora do esquadro, não o faça?

Claro que essa possibilidade é tão ínfima, que sua simples menção descamba para o surreal. Mas que existe, mesmo havendo uma única probabilidade em um trilhão, existe. Claro que sua pergunta foi provocativa, provavelmente um trote. Mas foi tão “nonsense” que até merece uma resposta.

Você sabe como ocorre o processo de escolha do premiado? Grosso modo, é o seguinte: alguma organização de prestígio internacional faz a indicação do escritor que entenda mereça o prêmio, acompanhada, claro, de todos os livros que ele já publicou e de um detalhadíssimo currículo dele. Esse material todo é encaminhado à Academia Sueca, que recebe milhares dessas postulações a cada ano.

Uma comissão, composta, na grande maioria, por septuagenários – não faz muito presidida por um homem de 58 anos, o senhor Horace Engdahl (nem sei se ainda é ele) – faz uma pré-seleção dessas indicações (cujos critérios só seus membros sabem quais são) e classifica os cinco com maiores chances de vencer.

Feito isso, o grupo entra de “férias”. Mas não para descanso. Afasta-se de tudo e de todos para ler todos os livros dos cinco selecionados. Feita essa leitura, esses jurados voltam a se reunir. Sua quantidade é em número ímpar. E eles votam. O mais votado, é anunciado como o grande ganhador do Prêmio Nobel de Literatura do ano, anúncio este que é feito na primeira quinzena de outubro. Simples assim.

Quem sabe, um dia, você não será um deles?! Vai saber o que se passa na cabeça desses (para nós) anônimos jurados! Por isso, caro amigo, não custa sonhar. Não desista dos sonhos. E, quanto mais altos, melhor. Afinal, o que você tem a perder? Trata-se, somente, de sonho... ou quase...


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Friday, July 29, 2016

“SENTIR É PENSAR SEM IDEIAS”

O que é mais importante, diria indispensável, para se fazer uma boa obra de arte (entre outras coisas), o sentimento ou o pensamento? Claro que o ideal é o “casamento” indissolúvel e harmonioso de ambos, ou seja, da emoção e do raciocínio. Mas, se o artista tiver que optar por um dos dois (e não raro tem), sua opção mais inteligente e sensata é priorizar o primeiro. Ou seja, deve escolher, sem pestanejar, o sentimento. Fernando Pessoa afirmou a respeito: “Sentir é criar. Sentir é pensar sem idéias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem idéias”. E não tem mesmo. Em outro trecho de um dos seus tantos textos, o poeta dos heterônimos reforça sua tese e aduz: “Os sentidos são divinos, porque são a nossa relação com o universo, e a nossa relação com o universo Deus”. A natureza torna-se mais compreensível quando, em vez de vê-la, a sentimos. Tentar racionalizá-la, traduzi-la em idéias, pode redundar, até, em belas fantasias, mas é o método mais falho para captarmos a realidade. A criação é fruto de sentimentos muito mais do que da razão.


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O apartheid social



Pedro J. Bondaczuk


O problema dos chamados "homeless", ou seja, das pessoas que não têm onde morar e dormem nas ruas, se agravou muito e raramente se fala dele. O jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de sexta-feira (3 de junho de 1994), traz a história de um francês, que veio para o Brasil em 1950, e que vive nessa vexatória situação.

Nesse caso, trata-se de um alcoólatra, que perdeu a motivação e a alegria de viver depois que teve seu casamento desmanchado. Como ele, há centenas, milhares de indivíduos em São Paulo e em outras metrópoles do País que, por uma razão ou outra, perderam os bens, a família e, o que é pior, o auto-respeito.

Entre os que estão cadastrados para o pouso em abrigos do Estado, há pessoas desempregadas há dois, três, cinco e até oito anos. São as vítimas de um modelo de "desenvolvimento" cínico, perverso, que usa uma pseudo crise que se eterniza como álibi para aumentar a defasagem na distribuição de renda em seu próprio proveito. E relatório das Nações Unidas, divulgado esta semana, acentua que o Brasil, neste aspecto, é o segundo colocado no mundo, perdendo a "primazia" para Botswana.

Essa legião de desesperados, que perdeu tudo, a partir da dignidade que lhe foi surrupiada, é vítima dos planos econômicos sucessivos que não deram certo, porque foram elaborados para não funcionar, sem competência, sem sinceridade, sem vontade política de debelar a inflação, que apenas penaliza o assalariado e o cidadão mais desprotegido.

E o contingente de "homeless" está longe de diminuir. Pelo contrário, cresce a cada nova aventura empreendida pelos políticos oportunistas e pelos frios tecnocratas, que transformaram o País num laboratório para suas delirantes experiências.

Homens, mulheres e crianças têm seu presente arruinado, seus futuros decididos nos gabinetes luxuosos de Brasília. São forçados a se submeter à amarga experiência diária da rejeição, da frustração e do abandono sem esperanças.

São brasileiros vítimas de um "apartheid" mais desumano e brutal do que aquele que imperou na África do Sul, de 1948 até a eleição de Nelson Mandela para a presidência, que é a segregação social. Quem será o redentor desses humilhados e ofendidos? Quem lhes devolverá a perspectiva da utilidade, da dignidade, do auto-respeito? Quem permitirá que eles exerçam um direito que deveria ser inalienável, e que no entanto lhe é negado: o da cidadania?


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de junho de 1994).

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