Friday, July 01, 2016

Reagan impõe sua liderança


Pedro J. Bondaczuk


O chamado “Grupo dos Sete”, que congrega as nações mais ricas do mundo capitalista, não escondia, ontem, ao término da 14ª reunião de cúpula desse seleto clube que toma de fato as decisões no Ocidente (de caráter político e econômico) uma certa preocupação. É que o encontro de Toronto é o último com a presença de seu grande líder, aquele que deu à entidade informal coesão nas ações e que tornou seus integrantes mais prósperos do que nunca.

No próximo ano, Ronald Reagan não irá participar da conferência, já que seu mandato presidencial termina em 20 de janeiro de 1989. E qualquer que seja o seu sucessor, o republicano George Bush ou o democrata Michael Dukakis, dificilmente ele conseguirá ter a mesma ascendência sobre os seus pares que teve este bem-sucedido ex-ator.

Se as atuas pesquisas de opinião nos Estados Unidos forem confirmadas nas urnas em 8 de novembro próximo, o novo ocupante da Casa Branca, quando ocorrer a próxima reunião de cúpula, deverá ser o governador de Massachusetts. Ou seja, um político ainda inexperiente na arena internacional.

Além disso, pelo menos baseado naquilo que ele disse até agora, em seus discursos de campanha, sua política econômica envolve um certo ranço de protecionismo, incompatível com o pensamento e a “práxis” da maioria dos integrantes desse clube de ricos.

Se o novo presidente norte-americano vier a ser o atual vice, as coisas não deverão ficar muito melhores. É verdade que George Bush comunga das idéias de Reagan acerca da liberdade comercial. Mas seu próprio temperamento não condiz com o espírito de liderança que o “Grupo dos Sete” requer.

Por outro lado, pensar em entregar esse papel ao dirigente de algum dos outros seis países, é algo que não deve dar certo. A candidata natural a tal liderança, caso isso fosse possível, seria a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher. Ocorre que os Estados Unidos, pelo seu poder e pela sua imensa riqueza, não podem, não devem e certamente não vão ficar numa posição subalterna perante os seus pares.

Daí a preocupação que os dirigentes do Japão, Alemanha Ocidental, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá mal podiam esconder, ontem., em Toronto, embora ninguém dissesse isso à imprensa. Reagan pode ter cometido muitos erros em política externa, e de fato os cometeu. Pode ter assustado, em determinados momentos, com a sua impulsividade, o mundo, que chegou a temer um confronto entre as superpotências, e assustou.

Mas ninguém pode negar que na média, entre as falhas e acertos de suas duas gestões, estes últimos prevaleceram. Ele deixará, no início de 1989, aa Casa Branca como um autêntico vencedor. E fará falta, não tenham dúvidas.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de junho de 1988).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: