Verdadeira história da guerra
ainda é incógnita
Pedro J. Bondaczuk
A
guerra do Golfo Pérsico, entre outras coisas, provocou o maior desastre
ecológico já ocorrido no mundo, não somente com os milhões de litros de
petróleo derramados no mar, mas com os incêndios de 650 poços no Kuwait e um
número não revelado, porém não desprezível, no Iraque.
Além
disso, já as toneladas de gases tóxicos que foram para a atmosfera, resultantes
de explosões de bombas ocorridas em mais de 90 mil incursões aéreas através do
território iraquiano, nas quais foram lançados 55 milhões de quilos de
explosivos. O potencial destrutivo equivaleu a 55 quilotons, algo como se
fossem explodidas cinco bombas atômicas, do porte da que destruiu Hiroshima
durante a Segunda Guerra Mundial.
Findo
o conflito, estranhamente, todos estão silenciando acerca dos danos ambientais
causados, talvez na euforia da vitória --- cuja extensão ainda é bastante
discutível, pois Saddam Hussein permanece no poder e com considerável força ---
mas suas conseqüências já estão sendo muito sentidas na região --- com as
sucessivas chuvas negras, ácidas, no Sul do Irã --- e certamente se farão
sentir, num prazo relativamente curto, em todo o Planeta.
Aliás,
a não ser o cessar-fogo concedido ao Iraque e detalhes da destruição do Kuwait,
quase tudo o que se refere a essa guerra está encoberto por um véu de mistério,
de mistificação, de burla.
Os
governos envolvidos na questão agem como se ao esconderem o que aconteceu, os
malefícios provocados não existirão. Quantos iraquianos morreram nos 42 dias de ataques que seu país sofreu,
entre civis e militares? Qual a extensão real da destruição? Quais as perdas
aliadas em homens e equipamentos? Qual a situação verdadeira de Saddam Hussein?
Até que ponto são verídicas as notícias fornecidas pelos seus opositores no
Iraque acerca da rebelião xiita e curda?
Questões
como esta, e outras tantas mais, levarão anos para serem respondidas, e assim
mesmo as respostas virão em retalhos, nas entrelinhas. Para se ter uma visão de
conjunto, será necessário montar cuidadosamente as peças, como num
quebra-cabeças. É possível, até, que a verdade, em toda sua extensão, jamais
venha à tona. Aliás, é o mais provável de acontecer.
O
pior de tudo é que nem é necessário que se seja um "expert" em
política, ou entendido em estratégia militar, ou sequer muito informado, para
perceber que a guerra não resolveu absolutamente nada. Complicar é evidente que
complicou.
Por
melhores que sejam os esquemas de segurança montados para evitar a repetição da
invasão do Kuwait, por exemplo, ninguém pode garantir com certeza que em 10, 12
ou 15 meses ela não vá se repetir. Foram atacadas, e de forma sumamente
desastrada, as conseqüências da violência iraquiana, que foi a anexação do
emirado. Todavia, não se chegou às suas verdadeiras causas, que são muito mais
profundas do que a mera ambição de Saddam Hussein de controlar o fornecimento
mundial de petróleo --- conforme se propalou --- ou uma possível megalomania do presidente do
Iraque.
(Artigo
publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 10 de março de
1991).
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