Saturday, July 02, 2016

Verdadeira história da guerra ainda é incógnita


Pedro J. Bondaczuk


A guerra do Golfo Pérsico, entre outras coisas, provocou o maior desastre ecológico já ocorrido no mundo, não somente com os milhões de litros de petróleo derramados no mar, mas com os incêndios de 650 poços no Kuwait e um número não revelado, porém não desprezível, no Iraque.

Além disso, já as toneladas de gases tóxicos que foram para a atmosfera, resultantes de explosões de bombas ocorridas em mais de 90 mil incursões aéreas através do território iraquiano, nas quais foram lançados 55 milhões de quilos de explosivos. O potencial destrutivo equivaleu a 55 quilotons, algo como se fossem explodidas cinco bombas atômicas, do porte da que destruiu Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial.

Findo o conflito, estranhamente, todos estão silenciando acerca dos danos ambientais causados, talvez na euforia da vitória --- cuja extensão ainda é bastante discutível, pois Saddam Hussein permanece no poder e com considerável força --- mas suas conseqüências já estão sendo muito sentidas na região --- com as sucessivas chuvas negras, ácidas, no Sul do Irã --- e certamente se farão sentir, num prazo relativamente curto, em todo o Planeta.

Aliás, a não ser o cessar-fogo concedido ao Iraque e detalhes da destruição do Kuwait, quase tudo o que se refere a essa guerra está encoberto por um véu de mistério, de mistificação, de burla.

Os governos envolvidos na questão agem como se ao esconderem o que aconteceu, os malefícios provocados não existirão. Quantos iraquianos morreram  nos 42 dias de ataques que seu país sofreu, entre civis e militares? Qual a extensão real da destruição? Quais as perdas aliadas em homens e equipamentos? Qual a situação verdadeira de Saddam Hussein? Até que ponto são verídicas as notícias fornecidas pelos seus opositores no Iraque acerca da rebelião xiita e curda?

Questões como esta, e outras tantas mais, levarão anos para serem respondidas, e assim mesmo as respostas virão em retalhos, nas entrelinhas. Para se ter uma visão de conjunto, será necessário montar cuidadosamente as peças, como num quebra-cabeças. É possível, até, que a verdade, em toda sua extensão, jamais venha à tona. Aliás, é o mais provável de acontecer.

O pior de tudo é que nem é necessário que se seja um "expert" em política, ou entendido em estratégia militar, ou sequer muito informado, para perceber que a guerra não resolveu absolutamente nada. Complicar é evidente que complicou.

Por melhores que sejam os esquemas de segurança montados para evitar a repetição da invasão do Kuwait, por exemplo, ninguém pode garantir com certeza que em 10, 12 ou 15 meses ela não vá se repetir. Foram atacadas, e de forma sumamente desastrada, as conseqüências da violência iraquiana, que foi a anexação do emirado. Todavia, não se chegou às suas verdadeiras causas, que são muito mais profundas do que a mera ambição de Saddam Hussein de controlar o fornecimento mundial de petróleo --- conforme se propalou ---  ou uma possível megalomania do presidente do Iraque.

(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 10 de março de 1991).


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