Monday, June 30, 2014

A maldade, em suas variadas formas de manifestação, sempre me deixou perplexo. Suas conseqüências, não somente para quem é vítima dela, mas também (e sobretudo) para os que a praticam, são terríveis. E, ainda assim, o mal prepondera entre raças e povos, e se multiplica como erva daninha. Quem me dá a honra da sua leitura sabe que, ao lado do tempo e da solidão, este é um dos temas mais freqüentes em minhas reflexões. Estranhamente, porém (não sei por qual razão subjetiva), tenho escrito pouquíssimo sobre o seu oposto, ou seja, a bondade. Creio que o motivo seja por entender, subconscientemente, que se trata de um assunto restrito, a ser tratado mais por teólogos do que por filósofos. A rigor, não é. O jurista Pontes de Miranda escreveu o seguinte, com a lucidez que o caracterizava, a esse propósito, em seu livro “Obras Literárias”: “A bondade enérgica é a reconstrutora do mundo; somente ela, aliada à ciência, poderá guiar, pelos vergéis da Vida, o promíscuo rebanho da humanidade, e aproveitar como valores indispensáveis à obra do bem e da Sabedoria, da felicidade de todos e da verdade, os caracteres diferenciais das raças e dos povos”.


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Afinal uma atitude de racionalidade


Pedro J. Bondaczuk


O novo presidente sul-africano, Frederick de Klerk, iniciou o seu governo de uma maneira bastante positiva, embora hostilizado pela oposição radical de extrema-direita. Em primeiro lugar, abriu a possibilidade de haver pelo menos um princípio de pacificação nacional, ao garantir aos negros que fatalmente vai conceder alguma espécie de direito político a eles. É claro que isto ainda não é o ideal. Afinal, eles são a esmagadora maioria da população do país e não têm nenhuma espécie de representação. Nem no Parlamento e nem em qualquer outro cargo governamental.

O correto seria os negros terem direito a voto, como qualquer outro cidadão. Que ninguém fosse discriminado por nada. Quer pela cor, quer por sua ideologia, quer por sua condição social ou crença religiosa. Isto e somente isto pode ser chamado de democracia.

Mas para um país onde o “apartheid” predomina já por 40 anos, não deixa de ser um passo bastante promissor o dado pelo novo presidente. Principalmente quando ele garantiu que manifestações de caráter pacífico não mais seriam reprimidas pela polícia. E, o que é melhor, no primeiro teste prático, cumpriu o que prometeu.

Nos últimos três dias, os sul-africanos puderam presenciar algo que já havia sido esquecido por eles: três marchas de protesto, nas três cidades mais importantes da África do Sul, Capetown, Pretória e Johannesburgo, respectivamente, sem que se verificassem as deprimentes cenas de selvajaria, por parte das forças de segurança, com as quais, desgraçadamente, o mundo se acostumou.

Sem o típico festival das bombas de gás lacrimogêneo, da pancadaria com cassetetes contra manifestantes indefesos, quando não de chicotadas, num acinte à dignidade das pessoas. Sem notícias de prisão de jornalistas ou agressões a cinegrafistas de televisão. Sem informes de mortos, feridos e de prisões em massa.

Não se pode, portanto, deixar de assinalar esse importante ponto em favor de de Klerk e torcer para que ele não pare por aí. Os próprios sul-africanos, certamente, verão os benefícios dessa atitude em pouquíssimo tempo, caso os negros tenham, realmente, seus direitos reconhecidos.

Os ódios acumulados através de décadas vão ceder lugar à cooperação. Os ressentimentos vão cicatrizar. A tensão irá desaparecer. A África do Sul voltará a conviver com a comunidade internacional, da qual está segregada, exatamente por adotar uma política segregacionista.

E o progresso que o país experimentar será tal, que mesmo os brancos mais radicais vão se arrepender de não terem tomada uma atitude desse porte antes. Muito antes de 1989. Tomara que tudo não venha a se reduzir, porém, a um mero ensaio.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de setembro de 1989).


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Bateu na trave!

Pedro J. Bondaczuk

Ufa! Que sufoco! A desclassificação brasileira da Copa do Mundo (justo desta que nosso País é o anfitrião) bateu, literalmente, na trave, tanto na prorrogação quanto na decisão por tiros livres diretos da marca de pênalti, no confronto com a boa equipe chilena.. Nossa Seleção, aliás, foi salva tanto pelo erro (ou azar?) dos adversários, quanto pela competência do contestado (e injustiçado) Júlio César. Que memorável volta por cima que ele deu! A eliminação do Brasil, no Mundial de 2010, no jogo que perdeu para a Holanda, foi atribuída, toda ela, a uma suposta falha do goleiro, em que o menos culpado foi ele. Mas... já virou mania nacional eleger “bodes expiatórios” para lançar sobre eles toda a culpa dos eventuais fracassos da seleção cinco vezes campeã. Em 1950, o responsabilizado foi Barbosa. Em 2010 a vítima da vez foi Júlio César.

Caso a Seleção Brasileira fosse eliminada, desta vez o vexame seria muito maior do que o de 64 anos atrás, que continua entalado na garganta da torcida nacional, embora restem poucos remanescentes que testemunharam aquele fiasco (que eu não considero como tal). A eliminação teria ocorrido não em uma final, como em 1950, mas em fase inicial da etapa eliminatória. O Brasil não seria vice-campeão como naquela oportunidade (título que, para nós, não vale nada e é considerado da mesma forma que a última colocação), mas, dependendo dos critérios, poderia ocupar um pífio 16° lugar. Esta geração – que se não é uma das melhores da história, está muito distante de ser das piores – ficaria marcada para sempre com o signo do fracasso. Ou, para ser mais enfático, do vexame.

Felizmente, as circunstâncias aleatórias desta vez atuaram a nosso favor. E quis o acaso que o mesmo atleta, ridicularizado, vilipendiado e marginalizado pela torcida, que nos últimos quatro anos contestou até sua simples presença entre os selecionados, evitasse uma decepção nacional muito maior do que aquela de 64 anos antes. Torcedores e, principalmente, a imprensa especializada, se esquecem que futebol não é ciência exata. Que nem sempre a equipe melhor preparada e com jogadores mais habilidosos, é a vencedora. Estamos tratando de um jogo, com todos os fatores aleatórios, de sorte e azar, que o cercam. E não é apenas a Seleção Brasileira que está sujeita a esses caprichos. Todos os remanescentes da competição podem amargar inesperadas surpresas.

Dada a má performance dos comandados de Felipão, salvos pelas traves e pela providencial ação de Júlio César, muitos (diria a maioria) já estão dando, como líquida e certa, a eliminação do nosso super estrelado selecionado. É possível prever, com razoável margem de acerto, algo assim? Entendo que não! Quem pode garantir, por exemplo, que os adversários (que será apenas mais um, caso o Brasil tropece) nas fases seguintes, se os pentacampeões avançarem até a final, conseguirão (ou conseguirá) neutralizar nosso jogador mais habilidoso e decisivo, Neymar, mesmo que a poder de pancadas, como os chilenos fizeram? Como prever outro erro grosseiro, igual ou pior ao que Hulk cometeu na cobrança do fatídico arremesso lateral? Será que o meio de campo brasileiro continuará tão inoperante como se mostrou na Batalha do Mineirão? Será que Fred passará mais um jogo em branco, ele que é artilheiro nato, com tanta intimidade com o gol? Será que a arbitragem fará vistas grossas às infrações dos antagonistas? Será? Será? Será? Pode até ser que sim, que tudo isso se repita ou ocorra coisa pior. Mas as probabilidades disso ocorrer são equivalentes às de eu acertar sozinho nos números da megassena.

Aprendi que, no futebol, prognósticos não passam de meros palpites. Podemos acertar ou errar, todavia jamais serão previsões. Ninguém, mas ninguém mesmo tem a mais remota capacidade de saber de antemão o que não aconteceu e que pode nunca acontecer. Aliás, como ocorre em tudo na vida. O fato é que o quarto degrau, da escada metafórica de sete, que conduz ao título da Copa do Mundo, bem ou mal, foi vencido. É verdade que a Seleção Brasileira não o escalou galhardamente, como esperávamos. Digamos que “se arrastou” penosamente até ele, bafejada pela providencial ação do acaso. O fato é que agora restam só três desafios a separarem esta geração de jogadores da glória. Se ela conseguir vencê-los, será decantada em verso e prosa por anos e anos a fio. Se claudicar e ficar pelo caminho... duvido que conte com a mínima complacência de apaixonados torcedores, movidos exclusivamente por irracionalidade, que não comporta reconhecimento e nem justiça.


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Sunday, June 29, 2014

A paz e a felicidade são dois bens que cada um tem que conquistar sozinho. Ninguém pode nos conceder essas venturas. Há pessoas, é verdade, que contribuem (e decisivamente) para a sua conquista e manutenção. Mas trata-se de tarefa individual, de cada um de nós, mediante nossas atitudes e, principalmente, nossa predisposição espiritual. A paz e a felicidade são tão solitárias quanto o nascimento e a morte. O filósofo português, Agostinho da Silva, escreve o seguinte, a esse propósito, em seu livro “Textos e ensaios filosóficos”, cuja leitura recomendo: “Nem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se dão. Está-se aqui tão sozinho como ao nascer e no morrer, como de um modo geral no viver, em que a única companhia possível é a daquele Deus a um tempo imanente e transcendente”. E Ele está sempre presente na vida, inclusive dos descrentes, acalmando seus corações nos momentos mais agudos de dor e desespero e os predispondo à alegria e felicidade, mesmo à sua revelia.

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Chacina na selva


Pedro J. Bondaczuk


As manchetes dos jornais, nem bem esfriou ainda a celeuma em torno da chacina da Candelária, ocorrida no mês passado no Rio, estampam outro caso de massacre coletivo, desta vez envolvendo os índios ianomâmis, assassinados barbaramente nas selvas de Roraima, perto da fronteira com a Venezuela, possivelmente por garimpeiros.

Muitos estão preocupados apenas com a repercussão internacional desse novo episódio sangrento, no qual 19 pessoas foram mortas, sendo dez crianças, sete mulheres e dois homens adultos. A preocupação, contudo, não deveria ser apenas com a imagem do Brasil no Exterior.

Até porque, neste período pós-guerra fria, em que milhares de iraquianos estão morrendo de fome por causa de um embargo mundial generalizado; em que a Bósnia fornece diariamente cadáveres em profusão para os amantes daquilo que é mórbido se fartarem e estrangeiros são queimados na Alemanha por não serem arianos (só para citar as mazelas mais óbvias destes tempos deprimentes), não há por que ninguém outorgar ao nosso País o título de “Terra da Barbárie”.

Os assassinatos em Roraima, que foram antecedidos, dois dias antes, por outros cinco, devem exigir nossa atenção (e nossa pressão sobre as autoridades para que punam os culpados), por se tratar de uma “violação das leis”. Não importa se os mortos são índios, mulheres ou crianças.

Até porque, já seria mais do que tempo de se parar de rotular as pessoas por sexo, cor, raça, religião, classe social, ou seja lá o que for. Devemos nos indignar porque seres humanos foram trucidados, com requintes de crueldade, em suas legítimas propriedades.

Os informes dão conta, inclusive, de que alguns meninos foram degolados, a golpes de facão, pelos assassinos. Não compete a uma comunidade mundial cínica e oportunista tratar de nossos problemas internos, sem que se dê conta de suas próprias mazelas.

Cabe a nós, brasileiros, transformarmos o fantástico elenco de leis de que dispomos em “direitos reais”, e não apenas “letras mortas”. Recentemente, o escritor João Ubaldo Ribeiro observou, num artigo que escreveu para o jornal “O Globo”, que se algum extraterrestre aportasse no Brasil, sem conhecer nossa realidade, e tomasse ciência da legislação que temos, irá acreditar piamente que somos o povo mais protegido deste Planeta. E todos sabemos que não somos.

A propósito do extermínio de menores, que já se tornou sistemático e corriqueiro, o ministro da Justiça, Maurício Corrêa, está fazendo gestões junto à Polícia Federal para a criação de núcleo, dentro dessa instituição, com a tarefa específica de cuidar do combate aos grupos que se especializaram em eliminar meninos e meninas de rua.

Acrescentaríamos, a título de informação, que levantamentos confirmam que os assassinatos de crianças abandonadas vêm crescendo no País após a chacina da Candelária. Igualmente, porém, não se pode fazer vistas grossas ao aumento da criminalidade entre os adolescentes, protegidos por uma legislação demagógica e impertinente.

Além do caso do estudante Marco Antonio de Velasco Pontes, trucidado por um bando de jovens, a golpes de caratê, tivemos mais três episódios recentes, envolvendo mini-delinqüentes, que suprimiram vidas (um deles matou para roubar um par de tênis, no quinto, sexto ou sabe-se lá que número de crime por razão semelhante cometido por menores) e mesmo havendo burlado o Código Penal, ficarão impunes por serem “inimputáveis”. Esta deve ser a nossa preocupação e não o que as organizações e meios de comunicação internacionais vão falar do Brasil.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de agosto de 1993).


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Vitória da vida

Pedro J. Bondaczuk

O brasileiro é tido e havido mundo afora, por quem nos conhece apenas superficialmente – pelo Carnaval, pelas praias ensolaradas e quentes, repletas de pessoas saudáveis, bonitas e desnudas, exibindo corpos bem talhados etc.etc.etc. – como povo alegre e feliz. Quando se aprofunda um pouquinho mais no conhecimento do nosso país, no entanto, quando atenta para o noticiário do dia a dia no Brasil – repleto de violência, corrupção, miséria e inconsciência – descobre, surpreso, que tudo o que achava de nós não passa de estereótipo. Não somos nada melhores (e nem piores) do que qualquer outro povo. Conclui que o brasileiro não é tão alegre como supunha e nem tão cordial. Ademais, a alegria não é questão coletiva, característica de algum grupo específico. É individual. Depende de como cada pessoa encara a realidade e das circunstâncias que a envolvem.

Entretanto,.a  melhor maneira de mostrarmos apreço e veneração pela vida é cultivarmos a alegria. Não é fácil, convenhamos. Somos confrontados, da manhã até a noite, com coisas tristes, acabrunhantes, preocupantes, não raro terríveis que tendem a nos tornar, no mínimo, azedos e mal-humorados. O ideal, todavia, é jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça, ou ocorra ao nosso redor. É aprender a “sempre” extrair lições dos sofrimentos e tragédias próprios e/ou alheios. É atentarmos para os pequenos episódios positivos do dia a dia que, somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar devidamente.

Muitos, no íntimo, até concordam com essa colocação. Contudo, na hora de agir... é aquela tragédia! Optam, até inconscientemente, pelo ruim, pelo triste ou pelo violento. Ou pior: por todas essas características negativas simultaneamente. Foram condicionadas para isso. É o comportamento dominante ao seu redor. O filósofo, historiador e escritor norte-americano Will Durant (cujo nome de batismo era William James Durant), observou, no seu livro “Filosofia da Vida”, que “somos uma geração triste: nossa alegria não passa de tentativa para encher com a verbalidade o vazio do coração”. Exagero? O leitor sabe que não. Quem quiser pode conferir, agora mesmo, sem precisar se deslocar para lugar algum, esse comportamento coletivo. É só observar o que ocorre ao seu redor.
  
Renè Dèscartes, na tentativa de buscar a verdade, negou, inicialmente, a existência de tudo, até dele mesmo. Depois, partiu de uma premissa básica para "negar" sua negação: a célebre "cogito, ergo sum". Ou seja: penso, logo existo. Talvez hoje, a rigor, a única conclusão exata a que possamos chegar ainda seja apenas esta: existimos, porquanto pensamos. Mas o que é a vida? Hoje a ciência conhece praticamente tudo a seu respeito, como se origina, como funciona, o que fazer para que seja saudável etc.etc.etc. Só não sabe, todavia, o que de fato é.  A vida é, sobretudo, mistério. É muito mais do que o DNA, do que meros conjuntos de aminoácidos combinando para formar proteínas componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito e competente que seja, conseguiu isolar, separar, dissecar, entender ou explicar, posto que é imaterial.

Apesar da raridade da vida, tanta gente atenta, 24 horas por dia, 365 dias de um ano, através de décadas, séculos, milênios, contra esse dom, esse mistério, esse milagre. O Brasil, infelizmente, é um dos países mais violentos do mundo. Sua história, relativamente curta, foi escrita com sangue, muito sangue, notadamente de negros e de índios. Hoje morrem mais pessoas em nossas cidades, vítimas da violência (assassinatos, roubos, acidentes de todos os tipos, principalmente os de trânsito etc.), do que as vítimas dos mais ferozes combates das várias guerras travadas mundo afora. Filmes, novelas, histórias passam a impressão, a cada momento, que matar é ato normal e corriqueiro. Que isso faz parte do processo de seleção natural existente no mundo. Claro que essa visão não é a correta! Lógico que essa posição é sumamente imoral! Evidentemente não é atitude de um ser racional, capaz de saber o que é o bem e o que é o mal. No entanto, é a que predomina, mostrando que o homem ainda tem muito a aprender para que de fato possa ser racional.

O Talmud, livro sagrado dos judeus, acentua que “quem salva uma só vida faz como se salvasse o mundo inteiro; quem destrói uma só vida faz como se houvesse destruído o mundo inteiro”. E não importa se esta for humana, animal ou vegetal. Embora muitos não se dêem conta, todos temos a ver com todos e com tudo o que nos cerca. Os que têm mais condições, os que são mais fortes, mais instruídos, mais sábios, têm, claro, maior responsabilidade, embora ninguém possa e nem deva se eximir dela. Sejamos, pois, hoje e sempre, agentes da construção e jamais da destruição. Saibamos valorizar, proteger e perpetuar esse milagre, esse privilégio, essa aventura maravilhosa que é a vida.

Carlos Drummond de Andrade escreveu, em certa ocasião, que “a poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais”. “Mas como?”, pergunto aos meus botões, ciente, como poucos, do teor do noticiário diário (afinal, sou e sempre fui editor de jornal), com seu desfile de taras, velhacarias, aberrações, violências e tensões. Seria mesmo assim ou o poeta estaria forçando a barra? Onde a beleza, por exemplo, dos ataques terroristas? Onde a beleza dos massacres, principalmente de crianças, mulheres e velhos? Como vislumbrar poesia na fome, no abandono, na depredação da natureza etc.etc.etc? Ocorre que, mesmo nessas distorções, há “vida”. Certamente Drummond quis referir-se a ela. E esta tem que ser, sempre, exaltada, valorizada, defendida e protegida, por se tratar de fenômeno precioso, de verdadeiro milagre e provavelmente raro na vastidão universal.


Viver é bom. É magnífico. É transcendental, sejam quais forem as circunstâncias. Não há como não concordar com Aléxis Carrel, quando afirma: “A alegria é o sinal pelo qual a vida marca seu triunfo”. Devemos viver com alegria e otimismo cada dia, mesmo (ou principalmente) aqueles momentos de aflição e de dor, que todos temos em nosso caminho quando menos esperamos. Nestes casos, uma postura alegre e positiva torna mais suave a travessia desses instantes ruins que, como tudo na vida, também são passageiros. Não conheço uma única pessoa, por mais amarga e infeliz que seja, que não defenda, pelo menos da boca para fora, a alegria.

A diferença é que tais indivíduos consideram que essa condição é para os “outros”, não para eles. Ou seja, não vivem o que pregam. São dos que deixam implícito o célebre “faça o que falo, não o que faço”. Daí serem tão amargos, tão mal-humorados e tão negativos. Apostam na infelicidade e, por conseqüência, são, de fato infelizes. Artur da Távola indaga, com pertinência, a propósito: “Do que adiantará um discurso sobre a alegria se o professor for um triste?”. Sim, de que vai adiantar?! Sejamos, pois, vencedores, sobrevivendo e ajudando outros a sobreviverem. E brindemos cada vitória da vida com o que caracteriza com perfeição esse sucesso: a inarredável alegria. Difícil? Sem dúvida, como demonstrei! Impossível? Jamais, a menos que sejamos renitentes derrotistas.


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Saturday, June 28, 2014

Todos os que lidam com idéias, princípios e valores têm (a justa) pretensão de influenciar pessoas. É uma atitude justa, coerente e até nobre. Todavia, isso não pode ser feito pelo expediente da força, das ameaças e da coação. Só conquistando a confiança e, principalmente, o afeto alheios, a influência será eficaz, duradoura e decisiva. Isso vale, notadamente, para pais e educadores. Há quem tente impor a ferro e fogo princípios de conduta ao próximo. Não conseguem, claro, mesmo que esses valores sejam nitidamente corretos, construtivos e essenciais. O que está errado, no caso, não são as idéias, mas o método de exposição. As portas do espírito só podem ser abertas pela chave do amor. Ame pois, ame profunda e sinceramente os pobres de espírito, que carecem do seu esclarecimento. Faça do afeto a sua estratégia para chegar à sua mente, mediante o caminho do coração. O escritor mexicano, Domenico Cieri, escreveu o seguinte a respeito: “Ame se você quer influenciar”.   


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Lar europeu está mais distante


Pedro J. Bondaczuk


O presidente Mikhail Gorbachev admite e até estimula divergências internas em relação às suas idéias reformistas. A única coisa que sequer deseja ouvir falar é quanto ao separatismo. Pelo contrário, seu sonho é muito mais amplo do que o expressado no livro "Perestroika, Novas Idéias para o Meu País e o Mundo". É o da criação do chamado "lar comum europeu", que implique na integração política, econômica e social de todos os povos da Europa numa comunidade cujos limites territoriais possam ir do Oceano Atlântico aos Montes Urais.

Prega, portanto, a aglutinação, não a separação. Gorbachev sequer respeita os líderes nacionalistas das seis Repúblicas separatistas. Considera-os meros "aventureiros" que não atinam com as implicações internas e de estratégia mundial de seu secessionismo.

Certamente o presidente não desejou lançar mão da força para reprimir a rebeldia, principalmente na região do Báltico. Por exemplo, após a repressão militar levada a efeito em janeiro passado, em Vilnius, na Lituânia, pelos temidos "Boinas Negras", que redundou na morte de 14 pessoas quando da ocupação da torre de televisão da cidade, ele revelou genuína surpresa ao ser informado da operação. Seus assessores garantiram que Gorbachev nada sabia a este respeito e que, portanto, a ordem não havia partido dele. E não há porque duvidar da sua sinceridade.

Atos de força como esse e como os levados a efeito posteriormente na Letônia, na Estônia e atualmente na Geórgia, não se coadunam com o seu estilo, caracterizado pela pressão econômica, pela argumentação política, mas jamais pela agressão.

O presidente, mais do que ninguém, tinha consciência das repercussões internacionais da repressão. Todavia, se não foi ele quem ordenou o ataque de Vilnius, foi ele quem pagou pelas conseqüências, com a aceleração do desgaste da sua imagem.

É um tanto estranha a atitude do Ocidente diante das dificuldades enfrentadas por Gorbachev. É quase um consenso, em todas as partes do mundo, que uma eventual queda do líder do Cremlin tende a provocar a desestabilização não apenas na URSS, mas de caráter internacional. De Washington a Paris, de Ottawa a Tóquio, teme-se pela sua queda.

Tanto é que em fins de maio do ano passado, quando circularam rumores de sua renúncia, houve pânico nos mercados financeiros do mundo todo. As bolsas de valores sofreram quedas, as cotações do ouro e do dólar foram às nuvens e tudo somente voltou ao normal quando ficou claro que o presidente soviético não havia de fato renunciado.

Mas, se sua presença no poder é tão importante, qual a razão dos que se dizem seus amigos e aliados não lhe darem um apoio mais decisivo, concreto ou, na pior das hipóteses, não se calarem e deixarem de agitar águas já por si sós turvas, com suas críticas e previsões na maioria das vezes levianas? Trata-se, ainda, da sobrevivência da retórica que caracterizou a guerra fria. Afinal, o "uso do cachimbo deixa a boca torta".

O próprio Gorbachev fez uma magoada constatação a esse respeito, em 25 de maio de 1990, ao lembrar que uma superpotência não deve procurar tirar vantagem das dificuldades internas de outra, dizendo: "Quando as coisas ficam ruins na União Soviética ou nos Estados Unidos, não devemos sucumbir à tentação de esfregar as mãos jubilosamente ou de pescar em águas turvas".


(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 12 de abril de 1991)

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Simbiose da TV com o futebol

Pedro J. Bondaczuk

O futebol e a televisão formam perfeita simbiose, em que ambos se beneficiam. O primeiro, o chamado “esporte das multidões”, lucra, com esse veículo, pela megadivulgação mundial (entre outras tantas vantagens) que este lhe proporciona, o que torna a modalidade cada vez mais apreciada e faz dela a mais popular do Planeta. A segunda, no caso a TV, não sai perdendo. Muito pelo contrário. Lucra com massiva audiência das transmissões futebolísticas, que resulta em volumosa publicidade que, ao fim e ao cabo, é o que sustenta e viabiliza esse hoje tão disseminado e indispensável veículo de comunicação. Para quem não sabe, ou não se lembra, esclareço que simbiose é “uma relação mutuamente vantajosa na qual dois ou mais organismos diferentes são beneficiados por esta associação”.

No Brasil, a televisão não somente divulga o futebol, mas o sustenta. Sem ela, o profissionalismo da modalidade seria inviável. Os clubes, por exemplo, praticamente se sustentam com as verbas da TV (embora reclamem e considerem-na insuficiente). A arrecadação de bilheteria, por exemplo, nos jogos, mesmo nos que mais atraem público e superlotam estádios (o que, infelizmente, por uma série de razões, é cada vez mais raro), nos chamados “clássicos”, mal cobre (e quando cobre), sequer os custos da própria partida. Isso em eventos muito atrativos. Nos outros... A maioria dos jogos dá prejuízo. O montante arrecadado nas bilheterias não cobre nem mesmo os custos de manutenção dos estádios, as taxas de arbitragem e outras tantas despesas.

Já houve partidas do Campeonato Brasileiro, até mesmo da elite, com a presença de menos de uma reles centena de torcedores. O dinheiro arrecadado não pagou nem mínima parcela da conta de luz do estádio. Em competições regionais de alguns Estados (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro) isso já se tornou até mesmo corriqueiro O leitor já imaginou se os clubes tivessem que se sustentar, somente, ou mesmo prioritariamente, com essa pífia fonte de renda? Não suportariam sequer uma temporada. Iriam à falência, atolados em dívidas de toda a sorte, a partir (e principalmente) do próprio salário dos seus atletas e comissão técnica. É aí que entra em cena a providencial e salvadora verba da televisão. Mesmo com esta, destaque-se, inúmeras entidades esportivas, profissionais, Brasil afora, algumas de grande projeção e apelo popular, estão há muito tecnicamente falidas. Milhares de atletas, técnicos e funcionários são forçados a ingressar com ações na Justiça para receber o que pactuaram com seus empregadores em contrato. E muitos deixam de receber até recorrendo a esse expediente. Ou recebem o devido muitos anos depois. E se não houvesse a verba da TV, o que ocorreria? É facílimo de concluir.

Os clubes brasileiros – e isso os mais bem administrados e com maior número de adeptos, ou simpatizantes ou torcedores, como queiram – contam, basicamente, com três fontes de renda para sua manutenção e para impedir, assim. que seus balanços anuais fechem no vermelho. A primeira é a mensalidade paga por associados. Poucos, pouquíssimos contam com uma quantidade de sócios pelo menos razoável, compatível com o seu prestígio. E nenhum, rigorosamente nenhum proporcional ao número de alegados torcedores que têm. Os de melhor quadro associativo, salvo engano, são o Internacional de Porto Alegre e o São Paulo. Nenhum, todavia, nem esses dois ou outros em situação semelhante, conseguiria se manter somente com essa renda. A segunda fonte de recursos é a obtida com o repasse dos direitos federativos de atletas, geralmente (ás vezes unicamente) para clubes do exterior, da Europa, Ásia ou do genericamente denominado “mundo árabe”.

Todavia, a chamada “Lei Pelé” acabou, e há já bom tempo, com a figura do “passe”. Quem lucra, de fato, com as transferências, portanto, não é mais, como antes, a entidade que revela os jogadores ou que lhes serve de “vitrine”. São os empresários. De uns tempos para cá, empresas, que nada têm a ver com o futebol, passaram a investir pesado neste ramo, pelos lucros potenciais que apresenta. É, como se vê, ostensiva distorção, que raia o absurdo. Mesmo assim, essa é uma fonte de renda bastante importante, mas só para quem tem a felicidade de contar com jogadores que apresentem bom desempenho técnico nos gramados e assim despertem o interesse de multimilionárias potências futebolísticas internacionais. Todavia, o que sustenta, de fato, os clubes mais populares são as verbas de TV. Estas, contudo, não são iguais para todos. Há agremiações que recebem dez vezes ou mais do que outras, de porte parecido, o que lhes permite, mesmo que teoricamente, montar melhores grupos e manter a hegemonia técnica. Nem sempre montam, é verdade. Mas até os menos aquinhoados, os que recebem quantias expressivamente menores do que os chamados “grandes”, não têm muito a reclamar. Sem esse dinheiro, não teriam sequer como sobreviver.

Em termos de Copas do Mundo, a televisão é a grande responsável por tamanha popularização do futebol Planeta afora. “E quando esta não existia, ou quando não tinha desenvolvimento técnico para ter a abrangência que atualmente tem, para transmissões para todos os recantos da Terra, os torneios mundiais não despertavam nenhum interesse?”, muitos, certamente, estão se perguntando. Despertavam. Se não despertassem, não existiriam mais. Sim, a Fifa, promotora do evento, sobrevivia. Mas o número de pessoas que acompanhavam a competição era muitíssimo menor. E os lucros dele advindos, se ou quando existiam, eram pífios, se comparados aos atuais.

Hoje, por exemplo, estima-se que alguns jogos da atual Copa tenham sido vistos por mais de três bilhões de pessoas. Os patrocínios são múltiplos e bilionários. E até a arrecadação de bilheteria, que em jogos de outras competições, salvo uma ou outra exceção, não cobre sequer as despesas básicas, entra agora no ítem “lucro”. Está longe, muito longe de significar prejuízo. Claro que a audiência de mais de três bilhões de pessoas de alguns jogos da Copa é somente estimativa. Pode ter margem de erro bastante ampla, para mais ou para menos. Até o mais ingênuo dos ingênuos pelo menos intui que um tipo de pesquisa tão abrangente e que ainda assim seja minimamente correto, é impossível de ser feito. Pode ser que a quantidade de espectadores tenha sido bastante aquém da cifra estimada. Mas pode, igualmente, ter sido razoavelmente, ou muitíssimo maior. A exemplo de todo tema que abordo, este, também, é amplo demais para ser esgotado nestas reles reflexões, nestes despretensiosos comentários à margem. Pretendo, pois, ampliá-lo, mas apenas se surgir oportunidade para tal. Por enquanto...


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Friday, June 27, 2014

Somos, muitas vezes, críticos em demasia dos defeitos e comportamentos alheios, sem atentarmos para o fato de que, não raro, temos as mesmas deficiências que, tão enfaticamente, condenamos nos outros. Cobramos, por exemplo, mais solidariedade, todavia, é comum passarmos indiferentes diante de pessoas carentes, sem dar ouvidos aos seus apelos, agindo como se passássemos diante de algum objeto inanimado, de um poste, por exemplo. Reclamamos, de forma enfática, quando algum pedido nosso (muitas vezes absurdo e exagerado) deixa de ser atendido, mas ignoramos os que nos pedem as coisas mais corriqueiras e triviais, como um sorriso de simpatia. Levantamos o dedo acusador contra os ingratos, mas nos esquecemos de agradecer o tanto que fazem por nós, achando que se trata de obrigação alheia o ato de nos servir. O antropólogo italiano, Paulo Mantegazza, faz essa mesma constatação, mas desta forma original e até metafórica: “O homem, em geral, é surdo quando lhe pedem alguma coisa; é eloqüente, quando ele próprio a pede e é mudo quando@ deve agradecer”.


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Livros que recomendo:

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“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
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Ceder ou não ceder?


Pedro J. Bondaczuk


O terrorismo internacional, poucos dias depois dos trágicos acontecimentos registrados no Palácio da Justiça de Bogotá, no massacre que redundou na morte de 97 pessoas, entre as quais metade dos juizes da Corte Suprema da Colômbia, voltou, anteontem, a chocar a opinião pública mundial com outro ato de insânia.

Foi no aeroporto de La Valetta, na ilha de Malta, onde quatro extremistas pousaram com o Boeing 737 da Egyptair e começaram a fuzilar um por um dos seus cativos, ao não terem uma de suas exigências cumpridas. Sessenta pessoas, entre passageiros, tripulantes, funcionários e os próprios seqüestradores, acabaram mortas.

Logo após o seqüestro, no mês passado, do transatlântico italiano “Achille Lauro”, nós afirmamos, neste espaço, que em virtude de não ter sido respeitado o trato feito naquela oportunidade com os piratas palestinos, temíamos que nas próximas ocorrências desse tipo a vida dos reféns ficaria muito mais exposta. E foi o que ocorreu nos dois casos posteriores, tanto no colombiano, quanto no egípcio, somando, apenas nesses dois episódios, 157 novas vítimas fatais na contabilidade macabra do extremismo.

Em ambos ataques, os respectivos presidentes tiveram que tomar decisões muito controvertidas, tendentes a despertar críticas e suscitar apoios ao longo do tempo. O colombiano Belisário Betancur, ordenando ao Exército do seu país que tomasse o Palácio da Justiça a qualquer preço. E esse, convenhamos, foi altíssimo. O egípcio Hosni Mubarak, decidindo por uma invasão do Boeing 737, anteontem à noite, certo de que era a única forma de impedir que os extremistas matassem a todos os que estavam no interior da aeronave. E o resultado não foi menos desastroso do que o colombiano. Diante desses dois casos, volta à baila uma velha questão: deve-se ou não negociar com terroristas no caso de seqüestro?

Os norte-americanos dizem que não, mas em duas ocasiões partiram para as negociações, embora através de intermediários. A primeira foi durante a invasão iraniana à embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em novembro de 1979. Após 444 dias de penosas conversas e com os valiosos préstimos da Argélia, finalmente os 52 reféns naquela oportunidade puderam retornar, sãos e salvos, à sua pátria.

A outra foi em junho deste ano, quando do seqüestro do avião da TWA, no Líbano. Desta vez, os sírios resolveram a parada para o aflito presidente Reagan que, impotente diante da ousadia dos seqüestradores, teve que guardar sua raiva para outra vez e se submeter às exigências dos extremistas.

O próprio governo da Colômbia, na pessoa do então presidente Júlio César Turbay Ayala, passou por amarga experiência em fevereiro de 1980, quando a embaixada da República Dominicana em Bogotá foi tomada à força por guerrilheiros do Movimento 19 de Abril.

Na época, aquela autoridade foi muito criticada por ter cedido às exigências dos rebeldes. Mas a verdade é que nenhum dos diplomatas que então foram reféns saiu lesionado. Quem agiu com maior sensatez, o anterior ou o atual presidente colombiano?

Afinal de contas, seria lícito colocar em risco a vida de pessoas tão ilustres (como foi o caso dos juizes da Corte Suprema da Colômbia) apenas para poder agarrar uns poucos malucos? Turbay Ayala, em 1980, achou que não e salvou todos os reféns.

Brincar de bang-bang, como os israelenses fizeram, no caso do aeroporto de Entebbe, na década passada, nem sempre é prudente ou sequer líucito. A primeira responsabilidade das autoridades em casos dessa natureza é salvar a vida dos reféns e depois pensar em punir os extremistas. Ou será que elas acreditam que os diversos grupos terroristas ficarão assustados ante a possibilidade de morte de seqüestradores em atos futuros?

A experiência tem provado o contrário. Esses fanáticos são como mariposas. Quanto mais possibilidades têm de queimar suas asas no fogo, mais se aproximam das chamas. Quanto mais arriscadas são as “missões”, maior quantidade delas é praticada. Uma teses está demonstrada: desde o caso de seqüestro do Achille Lauro, no mês passado, a vida dos reféns passou a valer pouco, muito pouco, quase nada nas mãos dos seus captores.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 26 de novembro de 1985).


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