Simbiose da TV com o
futebol
Pedro
J. Bondaczuk
O futebol e a televisão
formam perfeita simbiose, em que ambos se beneficiam. O primeiro, o chamado
“esporte das multidões”, lucra, com esse veículo, pela megadivulgação mundial
(entre outras tantas vantagens) que este lhe proporciona, o que torna a
modalidade cada vez mais apreciada e faz dela a mais popular do Planeta. A
segunda, no caso a TV, não sai perdendo. Muito pelo contrário. Lucra com
massiva audiência das transmissões futebolísticas, que resulta em volumosa
publicidade que, ao fim e ao cabo, é o que sustenta e viabiliza esse hoje tão
disseminado e indispensável veículo de comunicação. Para quem não sabe, ou não
se lembra, esclareço que simbiose é “uma relação mutuamente vantajosa na qual
dois ou mais organismos diferentes são beneficiados por esta associação”.
No Brasil, a televisão
não somente divulga o futebol, mas o sustenta. Sem ela, o profissionalismo da
modalidade seria inviável. Os clubes, por exemplo, praticamente se sustentam
com as verbas da TV (embora reclamem e considerem-na insuficiente). A
arrecadação de bilheteria, por exemplo, nos jogos, mesmo nos que mais atraem
público e superlotam estádios (o que, infelizmente, por uma série de razões, é
cada vez mais raro), nos chamados “clássicos”, mal cobre (e quando cobre),
sequer os custos da própria partida. Isso em eventos muito atrativos. Nos
outros... A maioria dos jogos dá prejuízo. O montante arrecadado nas
bilheterias não cobre nem mesmo os custos de manutenção dos estádios, as taxas
de arbitragem e outras tantas despesas.
Já houve partidas do
Campeonato Brasileiro, até mesmo da elite, com a presença de menos de uma reles
centena de torcedores. O dinheiro arrecadado não pagou nem mínima parcela da conta
de luz do estádio. Em competições regionais de alguns Estados (incluindo São
Paulo e Rio de Janeiro) isso já se tornou até mesmo corriqueiro O leitor já
imaginou se os clubes tivessem que se sustentar, somente, ou mesmo
prioritariamente, com essa pífia fonte de renda? Não suportariam sequer uma
temporada. Iriam à falência, atolados em dívidas de toda a sorte, a partir (e
principalmente) do próprio salário dos seus atletas e comissão técnica. É aí
que entra em cena a providencial e salvadora verba da televisão. Mesmo com
esta, destaque-se, inúmeras entidades esportivas, profissionais, Brasil afora,
algumas de grande projeção e apelo popular, estão há muito tecnicamente
falidas. Milhares de atletas, técnicos e funcionários são forçados a ingressar
com ações na Justiça para receber o que pactuaram com seus empregadores em
contrato. E muitos deixam de receber até recorrendo a esse expediente. Ou
recebem o devido muitos anos depois. E se não houvesse a verba da TV, o que
ocorreria? É facílimo de concluir.
Os clubes brasileiros –
e isso os mais bem administrados e com maior número de adeptos, ou
simpatizantes ou torcedores, como queiram – contam, basicamente, com três
fontes de renda para sua manutenção e para impedir, assim. que seus balanços
anuais fechem no vermelho. A primeira é a mensalidade paga por associados.
Poucos, pouquíssimos contam com uma quantidade de sócios pelo menos razoável,
compatível com o seu prestígio. E nenhum, rigorosamente nenhum proporcional ao
número de alegados torcedores que têm. Os de melhor quadro associativo, salvo
engano, são o Internacional de Porto Alegre e o São Paulo. Nenhum, todavia, nem
esses dois ou outros em situação semelhante, conseguiria se manter somente com
essa renda. A segunda fonte de recursos é a obtida com o repasse dos direitos
federativos de atletas, geralmente (ás vezes unicamente) para clubes do
exterior, da Europa, Ásia ou do genericamente denominado “mundo árabe”.
Todavia, a chamada “Lei
Pelé” acabou, e há já bom tempo, com a figura do “passe”. Quem lucra, de fato,
com as transferências, portanto, não é mais, como antes, a entidade que revela
os jogadores ou que lhes serve de “vitrine”. São os empresários. De uns tempos
para cá, empresas, que nada têm a ver com o futebol, passaram a investir pesado
neste ramo, pelos lucros potenciais que apresenta. É, como se vê, ostensiva
distorção, que raia o absurdo. Mesmo assim, essa é uma fonte de renda bastante
importante, mas só para quem tem a felicidade de contar com jogadores que
apresentem bom desempenho técnico nos gramados e assim despertem o interesse de
multimilionárias potências futebolísticas internacionais. Todavia, o que
sustenta, de fato, os clubes mais populares são as verbas de TV. Estas,
contudo, não são iguais para todos. Há agremiações que recebem dez vezes ou
mais do que outras, de porte parecido, o que lhes permite, mesmo que
teoricamente, montar melhores grupos e manter a hegemonia técnica. Nem sempre
montam, é verdade. Mas até os menos aquinhoados, os que recebem quantias
expressivamente menores do que os chamados “grandes”, não têm muito a reclamar.
Sem esse dinheiro, não teriam sequer como sobreviver.
Em termos de Copas do
Mundo, a televisão é a grande responsável por tamanha popularização do futebol
Planeta afora. “E quando esta não existia, ou quando não tinha desenvolvimento
técnico para ter a abrangência que atualmente tem, para transmissões para todos
os recantos da Terra, os torneios mundiais não despertavam nenhum interesse?”,
muitos, certamente, estão se perguntando. Despertavam. Se não despertassem, não
existiriam mais. Sim, a Fifa, promotora do evento, sobrevivia. Mas o número de
pessoas que acompanhavam a competição era muitíssimo menor. E os lucros dele
advindos, se ou quando existiam, eram pífios, se comparados aos atuais.
Hoje, por exemplo,
estima-se que alguns jogos da atual Copa tenham sido vistos por mais de três
bilhões de pessoas. Os patrocínios são múltiplos e bilionários. E até a
arrecadação de bilheteria, que em jogos de outras competições, salvo uma ou
outra exceção, não cobre sequer as despesas básicas, entra agora no ítem
“lucro”. Está longe, muito longe de significar prejuízo. Claro que a audiência
de mais de três bilhões de pessoas de alguns jogos da Copa é somente
estimativa. Pode ter margem de erro bastante ampla, para mais ou para menos.
Até o mais ingênuo dos ingênuos pelo menos intui que um tipo de pesquisa tão
abrangente e que ainda assim seja minimamente correto, é impossível de ser
feito. Pode ser que a quantidade de espectadores tenha sido bastante aquém da
cifra estimada. Mas pode, igualmente, ter sido razoavelmente, ou muitíssimo
maior. A exemplo de todo tema que abordo, este, também, é amplo demais para ser
esgotado nestas reles reflexões, nestes despretensiosos comentários à margem.
Pretendo, pois, ampliá-lo, mas apenas se surgir oportunidade para tal. Por
enquanto...
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