Ceder ou não ceder?
Pedro J. Bondaczuk
O terrorismo internacional,
poucos dias depois dos trágicos acontecimentos registrados no Palácio da
Justiça de Bogotá, no massacre que redundou na morte de 97 pessoas, entre as
quais metade dos juizes da Corte Suprema da Colômbia, voltou, anteontem, a
chocar a opinião pública mundial com outro ato de insânia.
Foi
no aeroporto de La Valetta, na ilha de Malta, onde quatro extremistas pousaram
com o Boeing 737 da Egyptair e começaram a fuzilar um por um dos seus cativos,
ao não terem uma de suas exigências cumpridas. Sessenta pessoas, entre
passageiros, tripulantes, funcionários e os próprios seqüestradores, acabaram
mortas.
Logo
após o seqüestro, no mês passado, do transatlântico italiano “Achille Lauro”,
nós afirmamos, neste espaço, que em virtude de não ter sido respeitado o trato
feito naquela oportunidade com os piratas palestinos, temíamos que nas próximas
ocorrências desse tipo a vida dos reféns ficaria muito mais exposta. E foi o
que ocorreu nos dois casos posteriores, tanto no colombiano, quanto no egípcio,
somando, apenas nesses dois episódios, 157 novas vítimas fatais na
contabilidade macabra do extremismo.
Em
ambos ataques, os respectivos presidentes tiveram que tomar decisões muito
controvertidas, tendentes a despertar críticas e suscitar apoios ao longo do
tempo. O colombiano Belisário Betancur, ordenando ao Exército do seu país que
tomasse o Palácio da Justiça a qualquer preço. E esse, convenhamos, foi
altíssimo. O egípcio Hosni Mubarak, decidindo por uma invasão do Boeing 737,
anteontem à noite, certo de que era a única forma de impedir que os extremistas
matassem a todos os que estavam no interior da aeronave. E o resultado não foi
menos desastroso do que o colombiano. Diante desses dois casos, volta à baila
uma velha questão: deve-se ou não negociar com terroristas no caso de
seqüestro?
Os
norte-americanos dizem que não, mas em duas ocasiões partiram para as
negociações, embora através de intermediários. A primeira foi durante a invasão
iraniana à embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em novembro de 1979. Após 444
dias de penosas conversas e com os valiosos préstimos da Argélia, finalmente os
52 reféns naquela oportunidade puderam retornar, sãos e salvos, à sua pátria.
A
outra foi em junho deste ano, quando do seqüestro do avião da TWA, no Líbano.
Desta vez, os sírios resolveram a parada para o aflito presidente Reagan que,
impotente diante da ousadia dos seqüestradores, teve que guardar sua raiva para
outra vez e se submeter às exigências dos extremistas.
O
próprio governo da Colômbia, na pessoa do então presidente Júlio César Turbay
Ayala, passou por amarga experiência em fevereiro de 1980, quando a embaixada
da República Dominicana em Bogotá foi tomada à força por guerrilheiros do
Movimento 19 de Abril.
Na
época, aquela autoridade foi muito criticada por ter cedido às exigências dos
rebeldes. Mas a verdade é que nenhum dos diplomatas que então foram reféns saiu
lesionado. Quem agiu com maior sensatez, o anterior ou o atual presidente
colombiano?
Afinal
de contas, seria lícito colocar em risco a vida de pessoas tão ilustres (como
foi o caso dos juizes da Corte Suprema da Colômbia) apenas para poder agarrar
uns poucos malucos? Turbay Ayala, em 1980, achou que não e salvou todos os
reféns.
Brincar
de bang-bang, como os israelenses fizeram, no caso do aeroporto de Entebbe, na
década passada, nem sempre é prudente ou sequer líucito. A primeira
responsabilidade das autoridades em casos dessa natureza é salvar a vida dos
reféns e depois pensar em punir os extremistas. Ou será que elas acreditam que
os diversos grupos terroristas ficarão assustados ante a possibilidade de morte
de seqüestradores em atos futuros?
A
experiência tem provado o contrário. Esses fanáticos são como mariposas. Quanto
mais possibilidades têm de queimar suas asas no fogo, mais se aproximam das
chamas. Quanto mais arriscadas são as “missões”, maior quantidade delas é
praticada. Uma teses está demonstrada: desde o caso de seqüestro do Achille
Lauro, no mês passado, a vida dos reféns passou a valer pouco, muito pouco,
quase nada nas mãos dos seus captores.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 26 de novembro de
1985).
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