Friday, June 27, 2014

Ceder ou não ceder?


Pedro J. Bondaczuk


O terrorismo internacional, poucos dias depois dos trágicos acontecimentos registrados no Palácio da Justiça de Bogotá, no massacre que redundou na morte de 97 pessoas, entre as quais metade dos juizes da Corte Suprema da Colômbia, voltou, anteontem, a chocar a opinião pública mundial com outro ato de insânia.

Foi no aeroporto de La Valetta, na ilha de Malta, onde quatro extremistas pousaram com o Boeing 737 da Egyptair e começaram a fuzilar um por um dos seus cativos, ao não terem uma de suas exigências cumpridas. Sessenta pessoas, entre passageiros, tripulantes, funcionários e os próprios seqüestradores, acabaram mortas.

Logo após o seqüestro, no mês passado, do transatlântico italiano “Achille Lauro”, nós afirmamos, neste espaço, que em virtude de não ter sido respeitado o trato feito naquela oportunidade com os piratas palestinos, temíamos que nas próximas ocorrências desse tipo a vida dos reféns ficaria muito mais exposta. E foi o que ocorreu nos dois casos posteriores, tanto no colombiano, quanto no egípcio, somando, apenas nesses dois episódios, 157 novas vítimas fatais na contabilidade macabra do extremismo.

Em ambos ataques, os respectivos presidentes tiveram que tomar decisões muito controvertidas, tendentes a despertar críticas e suscitar apoios ao longo do tempo. O colombiano Belisário Betancur, ordenando ao Exército do seu país que tomasse o Palácio da Justiça a qualquer preço. E esse, convenhamos, foi altíssimo. O egípcio Hosni Mubarak, decidindo por uma invasão do Boeing 737, anteontem à noite, certo de que era a única forma de impedir que os extremistas matassem a todos os que estavam no interior da aeronave. E o resultado não foi menos desastroso do que o colombiano. Diante desses dois casos, volta à baila uma velha questão: deve-se ou não negociar com terroristas no caso de seqüestro?

Os norte-americanos dizem que não, mas em duas ocasiões partiram para as negociações, embora através de intermediários. A primeira foi durante a invasão iraniana à embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em novembro de 1979. Após 444 dias de penosas conversas e com os valiosos préstimos da Argélia, finalmente os 52 reféns naquela oportunidade puderam retornar, sãos e salvos, à sua pátria.

A outra foi em junho deste ano, quando do seqüestro do avião da TWA, no Líbano. Desta vez, os sírios resolveram a parada para o aflito presidente Reagan que, impotente diante da ousadia dos seqüestradores, teve que guardar sua raiva para outra vez e se submeter às exigências dos extremistas.

O próprio governo da Colômbia, na pessoa do então presidente Júlio César Turbay Ayala, passou por amarga experiência em fevereiro de 1980, quando a embaixada da República Dominicana em Bogotá foi tomada à força por guerrilheiros do Movimento 19 de Abril.

Na época, aquela autoridade foi muito criticada por ter cedido às exigências dos rebeldes. Mas a verdade é que nenhum dos diplomatas que então foram reféns saiu lesionado. Quem agiu com maior sensatez, o anterior ou o atual presidente colombiano?

Afinal de contas, seria lícito colocar em risco a vida de pessoas tão ilustres (como foi o caso dos juizes da Corte Suprema da Colômbia) apenas para poder agarrar uns poucos malucos? Turbay Ayala, em 1980, achou que não e salvou todos os reféns.

Brincar de bang-bang, como os israelenses fizeram, no caso do aeroporto de Entebbe, na década passada, nem sempre é prudente ou sequer líucito. A primeira responsabilidade das autoridades em casos dessa natureza é salvar a vida dos reféns e depois pensar em punir os extremistas. Ou será que elas acreditam que os diversos grupos terroristas ficarão assustados ante a possibilidade de morte de seqüestradores em atos futuros?

A experiência tem provado o contrário. Esses fanáticos são como mariposas. Quanto mais possibilidades têm de queimar suas asas no fogo, mais se aproximam das chamas. Quanto mais arriscadas são as “missões”, maior quantidade delas é praticada. Uma teses está demonstrada: desde o caso de seqüestro do Achille Lauro, no mês passado, a vida dos reféns passou a valer pouco, muito pouco, quase nada nas mãos dos seus captores.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 26 de novembro de 1985).


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