Contabilidade
surreal
Pedro J. Bondaczuk
Quando se comenta a respeito da instalação dos
chamados mísseis de teatro (assim denominados em virtude do seu alcance
limitado à área de possíveis zonas de combate), logo se pensa na Europa. Os EUA
estão dispostos a basear, nesse continente, , 572 desses artefatos até 1986
(mas a Holanda só aceita a sua parte dos Cruises a partir de 1988 ou até mais
tarde), enquanto a União Soviética já possui, e continua instalando mais, uma
quantidade indeterminada de SS-20, SS-21 e SS-22, nos territórios dos seus
aliados (ou satélites?) do Leste europeu.
Estima-se que os balísticos russos, instalados,
principalmente, na Alemanha Oriental e na Checoslováquia e, possivelmente,
também na Bulgária e na Hungria, não sejam inferiores a, pelo menos, um milhar.
Somados, os mísseis de teatro na Europa, após a
instalação dos Pershings II e Cruise, deverão atingir a aterradora cifra de
pelo menos dois mil! Ressalte-se que esses números se referem, somente, a armas
táticas, de pequeno e médio alcance.
Quanto aos balísticos intercontinentais, tipo ICBM,
ICVM e outras tantas siglas cabalísticas, o balanço atual ninguém (a não ser os
integrantes do restrito círculo de poder das superpotências) conhece qual é.
Sabe-se, no entanto, que a quantidade é alta, muito grande, fabulosa.
Contudo, pouco se comenta sobre a nuclearização da
Ásia, onde os EUA planejam instalar, mais especificamente no Japão, até 1985,
490 Cruises, do tipo Tomahawk, com alcance de 2.400 quilômetros. Os soviéticos,
por seu turno, em virtude do temor de ataques da China, teriam um número imenso
de balísticos de alcance médio na área, qualquer coisa em torno de três mil.
Esqueçamos as cifras dos países membros do Pacto de
Varsóvia (não significa que não tenham importância, mas porque são difíceis de
contabilizar) e nos fixemos apenas nos mísseis norte-americanos, fartamente
divulgados pela imprensa. Ainda assim, teremos um magnífico arsenal nuclear,
capaz de varrer do mapa dois continentes inteiros: Europa e Ásia.
Grã-Bretanha, Bélgica, Holanda e Itália, por causa
da distância que têm da URSS, vão receber, em conjunto, 464 Cruises de alcance
mais longo. Aos alemães ocidentais, vão restar todos os 108 Pershings II. Na
Ásia, apenas o Japão vai basear 490 Cruises Tomahawk (não se sabe se e em
quantos mais países esses balísticos serão instalados).
Somando-se tudo, até o final da presente década, e
apenas em bases fixas no exterior, os EUA terão 1.062 mísseis, quase todos
capazes de transportar mais de uma bomba atômica, muitíssimo mais potente do
que a que destruiu Hiroshima, em 6 de agosto de 1945.
Por este surrealista balancete de agentes da
destruição dá para alguém planejar o futuro? É ou não é uma maluca roleta-russa
planetária? E, o pior de tudo isso é que as superpotências ainda acham que
contam com poucos mísseis para assustar o adversário. Depois ainda dizem que os
loucos estão todos confinados a hospícios...
(Artigo publicado na página 22, Internacional, do
Correio Popular, em 3 de junho de 1984)
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