Dificuldades no segundo
degrau
Pedro
J. Bondaczuk
A Seleção Brasileira
não teve o sucesso esperado por seus torcedores na tentativa de galgar o
segundo degrau, dos sete que terá de subir para a conquista da sua sexta Copa
do Mundo. Todos falam em “hexa”, mas, para mim, essa designação não é
apropriada. Por muitos e muitos anos, as designações bi, tri, tetra etc. eram
utilizadas, apenas, quando se tratava de ganhar títulos consecutivos. Isso
mudou, se não estou enganado, em 1970, quando o Brasil venceu seu terceiro mundial, embora não
seguido – pois houve o vexame de 1966 -
em gramados mexicanos. Mas... isso não importa. Consideremos que a
Seleção esteja em busca do hexa.
Não se pode falar em
tropeço, na tentativa de galgar o segundo degrau, pois os comandados de Felipão
não perderam. Digamos que subiu “parcialmente” esse segundo piso, com metade
dos pés nesse patamar, tendo que se equilibrar e dificultando, por
conseqüência, a subida do seguinte. E olhem que essa é a parte mais fácil desse
enorme desafio. Afinal – não resisto a tentação de repetir o surradíssimo
clichê – “no futebol não existe mais time bobo”. Não existe mesmo? Claro que
existe! Mas em uma Copa, com os nervos à flor da pele, todo cuidado é pouco.
Exemplo? A todo-poderosa Holanda por pouco não foi surpreendida pela
teoricamente medíocre Austrália.
Não me canso de
destacar e de reiterar que o futebol, notadamente em nível profissional, é,
mais do que um esporte, um jogo. Está, portanto, submetido a todos os fatores
aleatórios desse tipo de disputa. Além do que, é modalidade coletiva. Não depende
de um único atleta, mas dos onze e dos três reservas que possam evetualmente
ser aproveitados. É certo que se os dez tiverem desempenho normal e décimo
primeiro for excepcional, este último pode ser decisivo. Mas o mesmo raciocínio
vale, também, em sentido negativo. Ou seja, se algum zagueiro, meio campista e,
principalmente goleiro, destoar, essa má atuação pode (e quase sempre é) ser
decisiva para determinar a derrota de toda a equipe. É isso que os “teóricos”
não entendem. Tratam o futebol como aquilo que ele não é: ou seja, como ciência
exata. O que irrita é a arrogância com que determinados comentaristas tentam
nos enfiar goela abaixo suas opiniões. Mas... deixa pra lá!
Discordo dos que
disseram que a Seleção Brasileira jogou mal. Se assim fosse, teria saído
derrotada do campo. Todavia, não foi nenhum primor de técnica. Alguns
jogadores, sobretudo os do meio de campo – Paulinho, Oscar e Ramires – deixaram
a desejar. Nossa maior estrela, Neymar, teve performance apenas discreta,
embora sem comprometer. Todavia, houve atuações destacáveis, sobretudo as do
sistema defensivo, com a segurança de Thiago Silva, David Luís e,
principalmente, de Luís Gustavo, que teve atuação impecável. O México teve, a
rigor, apenas duas chances claras de gol e em ambas Júlio César se houve bem.
Do lado mexicano,
porém, seu goleiro, Ochoa, fez uma partida memorável. Sem exagero algum, evitou
no mínimo quatro gols brasileiros, o que derruba a opinião dos comentaristas
que, do alto da sua arrogância, juram por todas as juras que a Seleção jogou
mal. Com certeza, assistiram a outro jogo ou, então, sonharam que isso
aconteceu. Afinal, vimos as mesmíssimas imagens que eles. E supondo que todas
as oportunidades criadas pelas duas equipes fosse, convertidas em gols, o
placar seria de 4 a 2 para o Brasil e não o “mentiroso” 0 a 0.
O curioso é que Ochoa
não é tudo isso que mostrou particularmente em Fortaleza. Não está, por
exemplo, entre os primeiros no ranking de sua posição na Copa. E muito menos no
europeu. Tanto é que na última temporada, jogando na Espanha, teve temporada de
discreta para ruim. Chegou ao Brasil desempregado, dispensado pelo clube
espanhol que defendia. Diz-se que, após a atuação contra a Seleção Brasileira,
já tem propostas de clubes ingleses para disputar a Premiere League da próxima
temporada. Ele mesmo admitiu que fez a partida de sua vida. E fez mesmo. Isso
confirma o que não me canso de afirmar e de reiterar: que o futebol, mais do
que esporte, é um jogo. Como tal, está
sujeito a fatores aleatórios, de sorte e azar.
Se há uma atividade em
que é ingenuidade teorizar, esta é a modalidade que tanto nos apaixona. Mesmo
não sendo comum, não é tão raro assim um time, ou uma seleção, tidos e havidos
como muito fracos, como “galinhas mortas”, derrotarem os bichos papões, os
considerados grandões pela quantidade de adeptos e, sobretudo, pela fartura de
dinheiro para contratar os jogadores mais habilidosos e eficazes. Por isso, não
faço prognósticos. Limito-me a dar palpites, o que é muito diferente. Ninguém
pode prever, portanto, com um mínimo de certeza, se a Seleção Brasileira
galgará, até com certa tranqüilidade, o terceiro degrau, representado pela
Seleção de Camarões, dessa escada de sete, ou se tropeçará e se esborrachará
pateticamente no chão. Tomara que suba...
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