Thursday, June 19, 2014

Dificuldades no segundo degrau

Pedro J. Bondaczuk

A Seleção Brasileira não teve o sucesso esperado por seus torcedores na tentativa de galgar o segundo degrau, dos sete que terá de subir para a conquista da sua sexta Copa do Mundo. Todos falam em “hexa”, mas, para mim, essa designação não é apropriada. Por muitos e muitos anos, as designações bi, tri, tetra etc. eram utilizadas, apenas, quando se tratava de ganhar títulos consecutivos. Isso mudou, se não estou enganado, em 1970, quando o Brasil  venceu seu terceiro mundial, embora não seguido – pois houve o vexame de 1966 -   em gramados mexicanos. Mas... isso não importa. Consideremos que a Seleção esteja em busca do hexa.

Não se pode falar em tropeço, na tentativa de galgar o segundo degrau, pois os comandados de Felipão não perderam. Digamos que subiu “parcialmente” esse segundo piso, com metade dos pés nesse patamar, tendo que se equilibrar e dificultando, por conseqüência, a subida do seguinte. E olhem que essa é a parte mais fácil desse enorme desafio. Afinal – não resisto a tentação de repetir o surradíssimo clichê – “no futebol não existe mais time bobo”. Não existe mesmo? Claro que existe! Mas em uma Copa, com os nervos à flor da pele, todo cuidado é pouco. Exemplo? A todo-poderosa Holanda por pouco não foi surpreendida pela teoricamente medíocre Austrália.

Não me canso de destacar e de reiterar que o futebol, notadamente em nível profissional, é, mais do que um esporte, um jogo. Está, portanto, submetido a todos os fatores aleatórios desse tipo de disputa. Além do que, é modalidade coletiva. Não depende de um único atleta, mas dos onze e dos três reservas que possam evetualmente ser aproveitados. É certo que se os dez tiverem desempenho normal e décimo primeiro for excepcional, este último pode ser decisivo. Mas o mesmo raciocínio vale, também, em sentido negativo. Ou seja, se algum zagueiro, meio campista e, principalmente goleiro, destoar, essa má atuação pode (e quase sempre é) ser decisiva para determinar a derrota de toda a equipe. É isso que os “teóricos” não entendem. Tratam o futebol como aquilo que ele não é: ou seja, como ciência exata. O que irrita é a arrogância com que determinados comentaristas tentam nos enfiar goela abaixo suas opiniões. Mas... deixa pra lá!

Discordo dos que disseram que a Seleção Brasileira jogou mal. Se assim fosse, teria saído derrotada do campo. Todavia, não foi nenhum primor de técnica. Alguns jogadores, sobretudo os do meio de campo – Paulinho, Oscar e Ramires – deixaram a desejar. Nossa maior estrela, Neymar, teve performance apenas discreta, embora sem comprometer. Todavia, houve atuações destacáveis, sobretudo as do sistema defensivo, com a segurança de Thiago Silva, David Luís e, principalmente, de Luís Gustavo, que teve atuação impecável. O México teve, a rigor, apenas duas chances claras de gol e em ambas Júlio César se houve bem.

Do lado mexicano, porém, seu goleiro, Ochoa, fez uma partida memorável. Sem exagero algum, evitou no mínimo quatro gols brasileiros, o que derruba a opinião dos comentaristas que, do alto da sua arrogância, juram por todas as juras que a Seleção jogou mal. Com certeza, assistiram a outro jogo ou, então, sonharam que isso aconteceu. Afinal, vimos as mesmíssimas imagens que eles. E supondo que todas as oportunidades criadas pelas duas equipes fosse, convertidas em gols, o placar seria de 4 a 2 para o Brasil e não o “mentiroso” 0 a 0.

O curioso é que Ochoa não é tudo isso que mostrou particularmente em Fortaleza. Não está, por exemplo, entre os primeiros no ranking de sua posição na Copa. E muito menos no europeu. Tanto é que na última temporada, jogando na Espanha, teve temporada de discreta para ruim. Chegou ao Brasil desempregado, dispensado pelo clube espanhol que defendia. Diz-se que, após a atuação contra a Seleção Brasileira, já tem propostas de clubes ingleses para disputar a Premiere League da próxima temporada. Ele mesmo admitiu que fez a partida de sua vida. E fez mesmo. Isso confirma o que não me canso de afirmar e de reiterar: que o futebol, mais do que  esporte, é um jogo. Como tal, está sujeito a fatores aleatórios, de sorte e azar.

Se há uma atividade em que é ingenuidade teorizar, esta é a modalidade que tanto nos apaixona. Mesmo não sendo comum, não é tão raro assim um time, ou uma seleção, tidos e havidos como muito fracos, como “galinhas mortas”, derrotarem os bichos papões, os considerados grandões pela quantidade de adeptos e, sobretudo, pela fartura de dinheiro para contratar os jogadores mais habilidosos e eficazes. Por isso, não faço prognósticos. Limito-me a dar palpites, o que é muito diferente. Ninguém pode prever, portanto, com um mínimo de certeza, se a Seleção Brasileira galgará, até com certa tranqüilidade, o terceiro degrau, representado pela Seleção de Camarões, dessa escada de sete, ou se tropeçará e se esborrachará pateticamente no chão. Tomara que suba...


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: