Monday, June 30, 2014

Bateu na trave!

Pedro J. Bondaczuk

Ufa! Que sufoco! A desclassificação brasileira da Copa do Mundo (justo desta que nosso País é o anfitrião) bateu, literalmente, na trave, tanto na prorrogação quanto na decisão por tiros livres diretos da marca de pênalti, no confronto com a boa equipe chilena.. Nossa Seleção, aliás, foi salva tanto pelo erro (ou azar?) dos adversários, quanto pela competência do contestado (e injustiçado) Júlio César. Que memorável volta por cima que ele deu! A eliminação do Brasil, no Mundial de 2010, no jogo que perdeu para a Holanda, foi atribuída, toda ela, a uma suposta falha do goleiro, em que o menos culpado foi ele. Mas... já virou mania nacional eleger “bodes expiatórios” para lançar sobre eles toda a culpa dos eventuais fracassos da seleção cinco vezes campeã. Em 1950, o responsabilizado foi Barbosa. Em 2010 a vítima da vez foi Júlio César.

Caso a Seleção Brasileira fosse eliminada, desta vez o vexame seria muito maior do que o de 64 anos atrás, que continua entalado na garganta da torcida nacional, embora restem poucos remanescentes que testemunharam aquele fiasco (que eu não considero como tal). A eliminação teria ocorrido não em uma final, como em 1950, mas em fase inicial da etapa eliminatória. O Brasil não seria vice-campeão como naquela oportunidade (título que, para nós, não vale nada e é considerado da mesma forma que a última colocação), mas, dependendo dos critérios, poderia ocupar um pífio 16° lugar. Esta geração – que se não é uma das melhores da história, está muito distante de ser das piores – ficaria marcada para sempre com o signo do fracasso. Ou, para ser mais enfático, do vexame.

Felizmente, as circunstâncias aleatórias desta vez atuaram a nosso favor. E quis o acaso que o mesmo atleta, ridicularizado, vilipendiado e marginalizado pela torcida, que nos últimos quatro anos contestou até sua simples presença entre os selecionados, evitasse uma decepção nacional muito maior do que aquela de 64 anos antes. Torcedores e, principalmente, a imprensa especializada, se esquecem que futebol não é ciência exata. Que nem sempre a equipe melhor preparada e com jogadores mais habilidosos, é a vencedora. Estamos tratando de um jogo, com todos os fatores aleatórios, de sorte e azar, que o cercam. E não é apenas a Seleção Brasileira que está sujeita a esses caprichos. Todos os remanescentes da competição podem amargar inesperadas surpresas.

Dada a má performance dos comandados de Felipão, salvos pelas traves e pela providencial ação de Júlio César, muitos (diria a maioria) já estão dando, como líquida e certa, a eliminação do nosso super estrelado selecionado. É possível prever, com razoável margem de acerto, algo assim? Entendo que não! Quem pode garantir, por exemplo, que os adversários (que será apenas mais um, caso o Brasil tropece) nas fases seguintes, se os pentacampeões avançarem até a final, conseguirão (ou conseguirá) neutralizar nosso jogador mais habilidoso e decisivo, Neymar, mesmo que a poder de pancadas, como os chilenos fizeram? Como prever outro erro grosseiro, igual ou pior ao que Hulk cometeu na cobrança do fatídico arremesso lateral? Será que o meio de campo brasileiro continuará tão inoperante como se mostrou na Batalha do Mineirão? Será que Fred passará mais um jogo em branco, ele que é artilheiro nato, com tanta intimidade com o gol? Será que a arbitragem fará vistas grossas às infrações dos antagonistas? Será? Será? Será? Pode até ser que sim, que tudo isso se repita ou ocorra coisa pior. Mas as probabilidades disso ocorrer são equivalentes às de eu acertar sozinho nos números da megassena.

Aprendi que, no futebol, prognósticos não passam de meros palpites. Podemos acertar ou errar, todavia jamais serão previsões. Ninguém, mas ninguém mesmo tem a mais remota capacidade de saber de antemão o que não aconteceu e que pode nunca acontecer. Aliás, como ocorre em tudo na vida. O fato é que o quarto degrau, da escada metafórica de sete, que conduz ao título da Copa do Mundo, bem ou mal, foi vencido. É verdade que a Seleção Brasileira não o escalou galhardamente, como esperávamos. Digamos que “se arrastou” penosamente até ele, bafejada pela providencial ação do acaso. O fato é que agora restam só três desafios a separarem esta geração de jogadores da glória. Se ela conseguir vencê-los, será decantada em verso e prosa por anos e anos a fio. Se claudicar e ficar pelo caminho... duvido que conte com a mínima complacência de apaixonados torcedores, movidos exclusivamente por irracionalidade, que não comporta reconhecimento e nem justiça.


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