Passo a passo rumo ao
topo
Pedro
J. Bondaczuk
O técnico Luiz Felipe
Scolari, em entrevista coletiva dada já na Arena Corínthians, palco de abertura
da Copa do Mundo de 2014, se utilizou de uma até óbvia metáfora para definir a
competição. Comparou-a a uma escada de apenas sete degraus. Para que alguma
seleção atinja o topo, terá de galgar um por vez. Não pode chegar ao alto em um
único impulso. Felipão ressaltou que a metáfora era do palestrante Carlos
Júlio. Aproveitou para declarar que a palestra feita por essa personalidade ao
grupo brasileiro foi a melhor que já ouviu em toda sua vida. Tomara que tenha
motivado a todos.
Hoje, a Seleção
Brasileira encarou o primeiro degrau dessa escada de sete. Não posso dizer se o
galgou com tranqüilidade, se foi difícil escalá-lo ou se tropeçou e caiu logo
no início da escalada. Ressalto que escrevo estas considerações antes do jogo
de estréia. Desconheço, portanto, qual foi o resultado do jogo contra a
Croácia. Quem quiser chegar ao topo dessa escada – e, óbvio, todas as 32
seleções querem – têm uma única chance de erro, de queda nos três primeiros
degraus. Mas esta, reitero, só pode ocorrer em apenas um deles. A Espanha, por
exemplo, perdeu na estréia para a Suíça, na Copa do Mundo de 2010, na África do
Sul e, ainda assim, foi campeã. Levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por
cima.
As expectativas
brasileiras, porém, antes do pontapé inicial, eram as de que nosso selecionado
começasse da melhor forma possível sua escalada. Ou seja, vencendo e, de
preferência, convencendo, para conquistar a confiança dos ainda desconfiados e
consolidar a dos que crêem no seu sucesso sem dúvidas e nem restrições. Caso o
retrospecto estatístico tivesse alguma serventia prática que, óbvio, não tem,
seria compreensível o otimismo da massa torcedora, desde que não exagerado.
Afinal, em 19 estreias, o Brasil perdeu apenas duas – ambas na, digamos,
“pré-história” da Copa do Mundo, em 1930 e 1934 – e empatou uma, em 1978, na
Argentina, no jogo contra a Suécia, em que o árbitro anulou um gol brasileiro,
marcado no acréscimo, sob a alegação de que já havia apitado o final do jogo
antes da bola entrar. Aliás, isso cheirou a armação, das tantas que marcaram
aquela competição, visando favorecer os donos da casa, no caso, os argentinos.
Mas...
Nas demais estréias da
Seleção Brasileira, ou seja, em dezesseis delas, nossos atletas venceram todas,
embora nenhuma por diferença de mais de um gol. Não importa. Foram vitórias. O
primeiro degrau da escada do sucesso foi escalado, mesmo que com dificuldades,
com êxito. E hoje, o que ocorreu? Se eu fosse vidente, saberia. Não há nenhum
fator objetivo que assegure, previamente, o sucesso deste ou daquele
competidor. As estatísticas? Ora, ora, ora... Convém sempre lembrar que o
futebol é, antes e acima de tudo, um jogo. Está, portanto, adstrito aos humores
da sorte e do azar, fator absolutamente aleatório, que pode pender para um lado
ou para outro. Tomara que nos tenha sido favorável (os croatas diziam o mesmo
antes do jogo, mas pensando no seu próprio sucesso).
Os degraus a serem
superados, até o topo, ampliando um pouco a metáfora, têm dimensões diferentes.
Os três primeiros, digamos, teriam 20 centímetros. O esforço para galgá-los não
seria tão grande. Portanto, quem quiser ser vencedor, não tem o direito de
vacilar. Tem que escalá-los com agilidade, com naturalidade, mesmo que sem
facilidade, sem escorregões e nem tropeços. Já o quarto... teria 30
centímetros. Não raro, está “ensaboado”, exigindo cautela redobrada e total
atenção. Ainda assim... sua escalada não exige esforço sobre-humano. Não é o
que ocorre, porém, com o quinto, com o dobro das dimensões dos três primeiros.
Recorde-se que foi nele que a Seleção comandada pelo Dunga despencou na África
do Sul.
Os dois últimos degraus
são altíssimos. Além da altura, que exige muito maior esforço, e absoluta
concentração, estão eivados de armadilhas. A Seleção Brasileira tem amargas
lembranças desses penúltimos passos, em copas anteriores. Todavia, as duas
decepções mais amargas que ela teve envolvem a subida exatamente do último
degrau. O caso mais emblemático foi o fracasso de 1950, o tristemente
inesquecível “Maracanazzo”, que 64 anos após ainda nos assombra, e mais do que
nunca. Por que? Pela razão óbvia desta ser a segunda Copa do Mundo da história
a ser disputada em nossa casa.
O outro tropeço na
tentativa de escalar o derradeiro e dificílimo degrau, com o troféu da vitória
bem à vista, ao alcance das mãos, ocorreu em 1998. Claro que me refiro ao
Mundial da França, com o até hoje inexplicável drama que envolveu nosso
principal craque, Ronaldo (tempos depois apelidado de “Fenômeno”), e que
desestabilizou, psicologicamente, nossa equipe. Além do mais, o adversário era
“fatalista”, useiro e vezeiro em bater o Brasil em Copas. Tanto que, nas quatro
vezes que nos enfrentaram, nos eliminaram em três. A única vez que não
conseguiram êxito foi exatamente na primeira vez que as duas equipes se
enfrentaram em Copas do Mundo, em 1958, na Suécia, oportunidade em que tomaram
uma lavada de 5 a 2.
Bem, de qualquer forma,
com vitória, empate ou derrota, o primeiro degrau dessa escada de sete foi
superado. É preciso escalar os demais um a um, sem se preocupar com o seguinte
antes da hora. As expectativas de 200 milhões de brasileiras são as de que a
escalada seja firme e segura e que, em 13 de julho, o Brasil chegue ao topo e
se aposse, pela sexta vez, do troféu da vitória. Os próximos passos serão dados
sob muita tensão, mas também cercados de muita esperança. Tomara que a “Seleção
canarinho” chegue lá, e sem nenhum arranhão de preferência. “Alea jacta
est...”.
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