Lá se foi o primeiro
degrau
Pedro
J. Bondaczuk
A Seleção Brasileira
subiu o primeiro dos sete degraus que é desafiada a subir, caso pretenda
conquistar sua sexta Copa do Mundo. Presumo que pretenda, e muito. Venceu a
equipe da Croácia por 3 a 1, não sem antes dar um susto daqueles na torcida.
Digamos que “tropeçou”, logo ao dar o primeiro passo no início da “subida”.
Caiu e esfolou os joelhos. Culpa, provavelmente, da tensão da estréia, levando
em conta a juventude e a inexperiência do grupo nesse tipo de competição e
ainda mais disputada no Brasil. É certo que no banco tinha dois profissionais
experientíssimos: Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira. Mas a Seleção
teve tempo de se recuperar, dar a volta por cima e superar o primeiro obstáculo.
Há quem atribua o êxito
brasileiro a um polêmico pênalti assinalado pelo árbitro japonês a nosso favor.
Discordo. E discordo com base na mesmíssima imagem dos 99% que se dizem
convictos de que o apitador errou. Houve ou não houve a mão do zagueiro croata
no ombro do Fred dentro da área? “Ah, esse contato não foi suficiente para
derrubar o centroavante”, argumentam – não sem dose cavalar de arrogância – os
que fazem o possível e o impossível para desmerecer a vitória brasileira. Vocês
têm certeza disso? Baseados no quê? Na imagem? Mas esta mostra, nitidamente, o
contato. “O Fred, ao sentir a mão no ombro, se jogou”, insistem os 99% que
acham que não foi pênalti. E fez muito bem em se jogar. Eu, no lugar dele,
faria o mesmo. Mas, insisto, não houve o contato? Quanto à suficiência ou não
para causar a queda, só quem pode saber, óbvio, é quem o sofreu. Ou seja, é o
Fred.
Já vi penalidades
máximas muito mais absurdas do que esta serem assinaladas, sem causarem um
milésimo do escândalo que esta causou. Meu próprio time, a Ponte Preta, sofreu
inúmeras vezes com lances parecidos e ninguém (não raro, nem nossa torcida)
reclamou. Que os croatas reclamem, é compreensível. Estão na deles. Mas que a
crônica esportiva brasileira desmereça a vitória dos comandados de Felipão por
causa desse lance, é muito para a minha cabeça. Agindo assim, deu corda para
que a imprensa internacional, nada simpática a qualquer coisa que se refira ao
Brasil (salvo raríssimas e honrosíssimas exceções), fizesse o barulho que fez e
está fazendo e desse a entender que esta Copa está “armada” em favor dos
pentacampeões mundiais, como se eles precisassem disso para a conquista do
hexa.
A Seleção Brasileira
jogou bem? Depende. Se forem considerados os quinze minutos iniciais, até tomar
o gol e pouco depois desse “acidente” (pois para mim ficou claro que Marcelo
não queria empurrar a bola contra a própria meta), claro que não. Os garotos
não conseguiram controlar os nervos e tremeram na base face à responsabilidade
da estréia. Eu tremeria. Você não? Mas na partida inteira, considerada em seu
conjunto, a Seleção fez para o gasto. Ou vocês acham que a Croácia jogou
melhor? Atribuir a vitória brasileira somente ao suposto erro de arbitragem
(supondo que o japonês errou mesmo) é imensa sacanagem. Sacanagem com o Neymar,
que nos momentos decisivos, apareceu e decidiu. Sacanagem com o Oscar, que
calou a boca dos “milhões” de técnicos de botequim que defendiam sua saída da
equipe para dar lugar ao William. Sacanagem com Luiz Gustavo, quase impecável
na proteção à zaga. Sacanagem com David Luís, com sua vitalidade e entusiasmo.
Todo esse barulho feito
em torno da atuação do árbitro japonês pode ter conseqüências muito ruins para
a Seleção Brasileira. Pode, por exemplo, predispor os apitadores que vão mediar
os próximos jogos do Brasil a errarem a nosso dano, a pretexto de evitarem
erros que passem a impressão de que esta copa está “armada” para que
conquistemos o hexa. Como a de 1966, na Inglaterra. Ou como a escandalosa
‘mandracagem” de 1978 em favor da Argentina. Essas sim foram “armadas”. Caso
fosse anulado algum gol legítimo da Croácia, o que não aconteceu, a gritaria
até que seria compreensível. Mas... nosso adversário não conseguiu vazar Júlio
César nenhuma vez. Seu único gol foi acidental e feito por nosso lateral.
Ademais, o Brasil
venceu por 3 a 1 e não por 2 a 1. “Ah, mas o pênalti desestabilizou os
croatas”. Quem disse? O fato deles não terem feito nenhum gol (já que o único
da sua seleção foi o do Marcelo) deve ser atribuído à instabilidade, devido ao
suposto erro da arbitragem, ou a incompetência dos seus atacantes? É uma
questão sumamente subjetiva. Os dotados do tal complexo de vira lata, de que
Nelson Rodrigues tanto tratou, apostarão na primeira hipótese. Eu apostarei na
segunda (e tenho o mesmo direito à opinião que os que acham que o pênalti não
existiu e que ele determinou a vitória brasileira). Vão discordar de mim?
Discordem à vontade. Mas discordem com argumentos e não com sofismas ou
palavrões. De qualquer forma, com dificuldades ou não, o primeiro degrau rumo
ao hexa foi superado. Que venham os outros seis.
No comments:
Post a Comment