Sunday, March 31, 2013


O processo de educação é permanente, contínuo, eterno, sem solução de continuidade, iniciado na mais tenra infância, com sequência até ao extremo da velhice, geração após geração. O pressuposto básico para que possamos educar alguém é o de, antes de tudo, sermos educados. É termos absoluta certeza da necessidade e da eficácia dos valores que transmitimos. Exige, mais do que palavras, princípios, ações e exemplos. Gilbert Chesterton acentuou: “A única educação eterna é esta: estar seguro o bastante de uma coisa para dizê-la a uma criança”. Os conceitos que transmitirmos aos  filhos, netos, sobrinhos ou alunos, irão moldar seu caráter e determinar seu comportamento vida afora. Se lhes passarmos a impressão de que o mundo é dos “espertos”, formaremos uma geração insensível, egoísta e preconceituosa ou, em linguagem crua e realista, uma horda de refinados malandros, no pior dos sentidos de malandragem. Se, pelo contrário, destacarmos valores testados e aprovados pelo tempo, como bondade, honestidade e solidariedade, estaremos contribuindo para um mundo justo e humano para a nossa geração e, sobretudo, para a dos netos dos nossos netos. Pense nisso!!!.

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Semente da destruição germina


Pedro J. Bondaczuk


O surpreendente anúncio do presidente norte-americano, George Bush, feito na sexta-feira, num dramático pronunciamento através de rede de televisão --- como devem ser anunciadas decisões históricas desse porte --- acerca de desarmamento nuclear, tende a fazer, sem dúvida nenhuma, do mundo um lugar um pouco mais seguro de se viver.

É claro que somente isto não basta para garantir à humanidade a sua sobrevivência neste Planeta cheio de riscos de toda a sorte, externos e internos. Não será a eliminação de um, ou de dez, ou de todos os "naipes" de armas atômicas dos arsenais de quem as possui que dará a segurança absoluta aos homens de que finalmente a espécie está entrando numa longa e talvez permanente era de racionalidade.

Não basta somente acabar com os meios para se fazerem guerras para que estas deixem de existir, mas é preciso, sobretudo, pôr um fim nas suas causas potenciais. E neste aspecto, um simples olhar de relance no noticiário de hoje demonstra que está muito, mas muito longe mesmo de acontecer.

Pelo contrário, o que se verifica é uma decadência crescente no padrão de vida da maioria esmagadora dos mais de 5,3 bilhões de pessoas que habitam a Terra. A semente da destruição plantada no coração humano, alimentada e regada pela cobiça, pelo fanatismo, pelo preconceito e pela alienação em relação aos reais valores da razão, permanece intacta e continua se desenvolvendo, adubada que é no quotidiano pela injustiça social.

Esse germe de ódio somente será eliminado quando não mais houver um contingente de cerca de um bilhão de analfabetos, incapazes de apreender a realidade que os cerca, embora sintam seus efeitos na carne. Deixará de existir quando os mais de 100 milhões de indivíduos que não contam sequer com um barraco de favela onde morar, a maioria meninos e meninas de rua, puderem ter algum teto decente e seguro sobre suas cabeças.

Será extinto quando os cerca de um bilhão de favelados adquirirem meios aos quais têm direito, de viver em condições saudáveis, de acordo com a dignidade humana. Ou quando os vários milhões de refugiados, que sobrevivem às custas da cada vez mais escassa caridade alheia, através dos cinco continentes, readquiram a cidadania, resgatem a esperança, voltem a se reintegrar à sociedade como cidadãos, e não como variáveis de um problema.

O presidente Bush, ao anunciar sua importante decisão, cujo mérito é inegável, assinalou: "O mundo está se transformando rapidamente. A cada dia escrevemos uma nova página da história, sem que a tinta da página de ontem sequer tenha tempo de secar".

É verdade que, nos últimos dois anos, conflitos que se arrastavam por décadas chegaram ao fim, na esteira das corajosas transformações das quais o presidente soviético Mikhail Gorbachev foi o "catalisador". Ou seja, o que induziu reações como reator que permaneceu intacto ao cabo delas, conforme o conceito de catálise na química.

Novos e assustadores problemas surgiram, no entanto, na esteira dos que foram solucionados. Movimentos nacionalistas que estavam adormecidos há décadas ressurgiram, como águas há muito represadas que romperam as barreiras que as continham, ameaçando a estabilidade de vastas regiões da Europa, Ásia e África, por enquanto.

Moveu-se uma fulminante guerra para eliminar um foco de fanatismo e megalomania no Golfo Pérsico, representado pelo Iraque de Saddam Hussein, mas se deixaram para trás as conseqüências de um serviço inacabado e do próprio recurso à força para a solução de pendências, com milhões de inocentes pagando um preço intolerável pela insensibilidade e alucinação de um ditador.

As páginas da história, portanto, não vêm sendo escritas apenas com tinta que demore a secar, mas com sangue, suor e lágrimas. Sem armas para guerrear, mas com pretextos para isso, os homens lançarão mão de paus, pedras, punhos, pontapés, cabeçadas ou dentadas para dar vazão às suas explosões de ódio. Este é que precisa ser extinto.

O que é preciso é a eliminação dos crescentes bolsões de miséria em meio a minúsculas ilhas de prosperidade. É atuar nas consciências, no terreno das idéias e dos conceitos, acabando de vez com o egoísmo, o preconceito, o oportunismo e a corrupção. Desse passo a humanidade ainda está há mil anos-luz de distância.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 1 de outubro de 1991).

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As boas e más entrevistas

Pedro J. Bondaczuk

As entrevistas tanto podem valorizar determinadas edições de jornais e revistas – e também de programas de rádio, televisão e de textos de sites da internet – como podem meramente preencher “buracos”. Muitas (e põe muitas nisso) não passam de “encheção de lingüiça”, como diz o vulgo, para caracterizar matérias que não dizem e nem desdizem, ou seja, que são ostensivo e escrachado preenchimento de espaço, sem o mínimo interesse para qualquer pessoa, por rigorosa falta de conteúdo. Poderiam ser substituídas pelo que em jornalismo apelidamos de “calhaus”, que são aqueles anúncios institucionais da própria empresa jornalística utilizados para tapar buracos sem que o leitor perceba. Isso, claro, no caso de jornais e revistas.

O sucesso de qualquer entrevista depende (e sustento que na mesma proporção), tanto do entrevistado, quanto do entrevistador. Perguntar também é uma arte e das mais complicadas de se exercer com inteligência e pertinência. Sócrates que o dissesse, já que seu método para chegar à verdade consistia exatamente nisso. Em fazer as perguntas mais claras, objetivas e precisas para arrancar respostas lógicas, exatas e esclarecedoras. E é isso o que um entrevistador competente precisa fazer. Ou seja, tem que saber perguntar o que o leitor (ou o ouvinte, ou o telespectador, dependendo da mídia) gostaria de saber. Nem todos sabem fazer isso. Aliás, sem nenhum exagero – baseado em minha experiência de editor – ouso afirmar que a maioria dos repórteres não sabe fazer perguntas já nem digo inteligentes, mas minimamente pertinentes.

Querem um exemplo bastante corriqueiro? Cito as perguntas que são feitas por determinados profissionais da área esportiva aos técnicos de futebol, ao término dos jogos transmitidos por rádio e TV. Algumas são tão idiotas e vazias a ponto de irritarem os mais fleugmáticos dos entrevistados. Imaginem quando estes são profissionais, digamos, mais temperamentais, como Muricy Ramalho, Luís Felipe Scolari ou o treinador da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2010, o Dunga!

Claro que a escolha do entrevistado é fundamental. Não posso esperar, por exemplo, que um leigo em física me conceda uma entrevista minimamente útil ou pelo menos interessante sobre alguma nova descoberta neste campo. Não adianta eu ser gênio na arte de perguntar se a pessoa a quem minhas perguntas se dirigem não entender bulhufas do assunto sobre o qual é entrevistado.

Como também de nada vale tentar arrancar idéias novas e criativas, que não sejam redundantes ou alucinantes, de algum escritor reconhecidamente pífio. A cada questão que eu lhe formular, ele responderá, com certeza, com uma enxurrada de disparates ridículos, de tal sorte de se tornarem impublicáveis. Muitos editores, na pressa de fecharem edições, publicam essas baboseiras assim mesmo. Para a sua sorte, o leitor sequer repara nessas bobagens. Deixa de lado as tais entrevistas, por absoluta falta de interesse. E isso, apenas isso impede que tanto entrevistador quanto entrevistado caiam em ridículo. Às vezes, ambos não têm nem mesmo essa “sorte”.

E por que trago à baila esse assunto, da esfera quase exclusiva do jornalismo, neste espaço voltado à Literatura? Faço-o para valorizar as boas entrevistas feitas com determinados escritores (um tanto quanto raras, ou pelo menos não tão abundantes quanto as que envolvem políticos e/ou economistas, de quem, usualmente, não se arrancam senão conjuntos de clichês e de lugares-comuns) muitas das quais valem tanto (ou até mais) do que seus próprios livros. Há anos que as coleciono. Tenho algumas dezenas delas, recortadas de jornais e de revistas. E as declarações nelas contidas têm me fornecido preciosos subsídios para boa parte dos meus ensaios literários.

É certo que sou seletivo. Conservo, em meus arquivos, apenas entrevistas dignas de serem preservadas. Declarações vazias, ou óbvias, ou redundantes, ou mesmo estapafúrdias não são prerrogativas exclusivas de políticos e economistas. Muitos escritores, quando se metem a comentar o que não entendem, dizem cada uma! Como essas declarações não me trazem nenhum proveito, ignoro-as, já que meu intuito não é o de ridicularizar ninguém, mesmo que mereça ser exposto ao ridículo, mas a de me aprimorar na arte que á a minha paixão.

Tenho em meus arquivos várias entrevistas de Octávio Paz, de Carlos Drummond de Andrade, de Gabriel Garcia Marquez, de Mário Vargas Llosa e Jorge Luís Borges, entre tantos outros, e em nenhuma delas jamais encontrei qualquer disparate. Muito pelo contrário, elas constituem-se em preciosas fontes de esclarecimento a que frequentemente recorro, com enorme satisfação e proveito intelectual.

Um dos escritores bastante entrevistados e cujas entrevistas sempre me impressionaram, pela clareza nas respostas e pela lucidez das opiniões emitidas, é o norte-americano Philip Roth. Após a leitura de vários de seus livros – notadamente do “Complexo de Portnoi” – e dos conceitos por ele tratados com clareza e competência sempre que entrevistado, não consigo entender, de maneira alguma, quais os critérios adotados pela academia sueca para a outorga anual do Prêmio Nobel de Literatura.

Entra ano, sai ano, esse magnífico romancista contemporâneo é apontado como candidato natural à premiação. Contudo... Quando o resultado é anunciado, nada. Premiam-se obscuros escritores regionais (muitos nem tão bons assim), que na esfera internacional são ilustres desconhecidos, e se omitem nomes em torno dos quais há praticamente consenso mundial. Essa é uma crítica que não me canso e certamente nunca me cansarei de fazer. Não, pelo menos, enquanto um brasileiro não for reconhecido pela academia sueca como digno de um Prêmio Nobel de Literatura. Será que isso, algum dia, ainda irá acontecer? Espero (e confio) que sim.

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Saturday, March 30, 2013


Ter um ideal de vida pelo qual lutar é, sem dúvida, muito importante e até indispensável para todos nós. Afinal, objetivos claros e definidos organizam nossas idéias e racionalizam nossos atos. Todavia, é fundamental “agir”, e em sentido prático, para a concretização dos objetivos propostos, sem se limitar, apenas, a apregoar suas óbvias vantagens e a criticar quem não age de acordo com o que julgamos ser o certo. O escritor irlandês George Bernard Shaw escreveu a respeito: “Tem gente que sonha com realizações importantes, e há quem vai lá e realiza”. Qual dos dois é mais importante? O que sonha em fazer o que é necessário para melhorar o mundo, mas que se limita a sonhar? Ou quem embarca no sonho alheio, mas atua em sentido prático e o concretiza? Ação, portanto, é o segredo das pessoas notáveis, que inscrevem seus nomes na história, por seus feitos extraordinários.

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Ex-condenado à morte perto da Presidência

 Pedro J. Bondaczuk

 A Coréia do Sul vive sua hora de decisão, o momento crítico de sua história, que vai definir como serão suas instituições nos próximos tempos. Após 16 anos de ditadura militar, seus eleitores vão comparecer, amanhã, às urnas, para escolher um presidente da República, conforme anseio da maioria esmagadora da população, através do voto direto.

Cinco candidatos disputam a máxima magistratura do país, embora somente três tenham chances (rigorosamente iguais, de acordo com pesquisas de opinião) de sucesso: o governista Roh Tae-Woo, comprometido com o atual regime que ajudou a instalar quando era general da ativa e os oposicionistas Kim Dae-Jung e Kim Young-Sam.

Se há empate nas prévias, não é difícil de se deduzir que caso a oposição concorresse com um único representante, teria a vitória assegurada, e por margem simplesmente esmagadora, que seria a consagração de sua longa (e muitas vezes penosa) luta.

Mas não foi possível haver um acordo entre os dois políticos sul-coreanos mais populares da atualidade. Ambições pessoais falaram mais alto do que a prudência e a sabedoria política. Desavenças de forma, e não de substância, os dividiram. E essa divisão poderá custar caro: a derrota de ambos. Por conseqüência, tende a gerar uma frustração nacional de conseqüências imprevisíveis.

Ainda assim, como mero observador, que acompanha atento o desenrolar da campanha, atrevo-me a apostar no sucesso de Kim Dae-Jung. Trata-se de um político que nos últimos anos foi do inferno ao paraíso. Chegou a ser, inclusive, condenado à morte, no início da década.

Esteve exilado nos Estados Unidos e desde que regressou, até a jornada nacional de protestos de junho passado, que culminou na aceitação, por parte do governo, de pôr fim ao espúrio e viciado Colégio Eleitoral, praticamente não soube o que era liberdade.

Seu grande reduto eleitoral é a cidade de Kjangju, a Segunda maior da Coréia do Sul, cujos estudantes fizeram uma rebelião, em 1980, reprimida com inaudita dureza pela ditadura, o que redundou em centenas de mortes. Quem comandou a repressão, por uma ironia do destino, foi exatamente um dos candidatos mais cotados à Presidência: Roh Tae-Woo.

Por causa disso, e de outras circunstâncias, é sumamente importante para o futuro da Península Coreana a maneira como os eleitores vão se comportar. A oposição radical ameaça arruinar as eleições, por não acreditar na sua lisura.

A campanha foi das mais violentas, caracterizada por agressões e ameaças por parte dos partidários das três facções mais fortes da Coréia do Sul. Era hora do candidato Kim Young-Sam ter um ato de grandeza e renunciar à candidatura, em favor de Dae-Jung. Seria um ato de bom-senso, estrategicamente imbatível, e que refletiria, sobretudo, sabedoria política. Infelizmente, porém, não há a menor chance disso vir a acontecer. Infelizmente...

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 15 de dezembro de 1987).

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Esquecidos do Nobel

Pedro J. Bondaczuk

O Nobel é, dos prêmios outorgados a personalidades de todo o mundo, que se destacam em suas respectivas áreas de atividade, o de maior reputação e credibilidade, posto que, também, dos mais criticados.  As críticas multiplicam-se, sobretudo, quando se trata de reconhecer o talento e a importância de escritores. São tantos os que o merecem e que ainda não o receberam que chego a duvidar dos critérios adotados para a escolha do ganhador do Nobel de Literatura de cada ano. Foram tantos os que o mundo cultural tinha certeza que seriam premiados, mas que jamais o foram, que essa dúvida chega a beirar a certeza.

Minha decepção chega a raiar à irritação quando penso que nenhum escritor brasileiro chegou pelo menos perto desse reconhecimento internacional a que fizeram jus. Neste ano, por exemplo, Ariano Suassuna foi candidato e... não ganhou. Seria, a nossa Literatura, pior, menos criativa e de menor conteúdo humanístico do que a dos demais países? Só pode pensar uma coisa dessas quem não a conheça ou não tenha o indispensável hábito de leitura. Posso enumerar, com a maior facilidade,  relação extensíssima de escritores nacionais – sobretudo poetas – que já deveriam ter em seus currículos um Nobel, mas não têm. São nomes para lá de óbvios, como Manuel Bandeira, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Moraes, Cora Coralina e a relação estende-se por páginas e mais páginas.

Cheguei, em certa ocasião, a achar que o júri responsável pela atribuição do Nobel de Literatura nutria grande preconceito contra escritores latino-americanos. Refletindo, porém, com mais calma e analisando a relação dos premiados ao longo dos anos, concluí que não é este o caso. Se fosse, Gabriela Mistral (chilena, em 1945), Miguel Angel Asturias (guatemalteco, em 1967), Pablo Neruda (chileno, em 1971), Gabriel Garcia Marquez (colombiano, em 1982), Octávio Paz (mexicano, em 1990) e Mário Vargas Llosa (peruano, em 2010), jamais seriam ganhadores do Nobel de Literatura.

Então como explicar (já nem mesmo puxando a brasa para a sardinha dos escritores brasileiros) o fato do argentino Jorge Francisco Isidoro Luís Borges Acevedo nunca ter sido sequer candidato com chances de conquista do prêmio? Não posso crer que os responsáveis pela atribuição dessa honraria desconhecessem a obra desse criativíssimo homem de letras. Mais inconcebível, ainda, é que não gostassem do que escreveu. Ou, pior, que não considerassem de qualidade superior os seus vários livros!

É certo que Borges chegou a criticar esse tipo de premiação e a insinuar que ela não lhe fazia nenhuma falta. Será que pensava, mesmo, isso? Não creio. Afirmo isso com base na entrevista que ele deu em 24 de agosto de 1984, por ocasião do seu 85º aniversário. Na ocasião, expressou, com todas as letras, “profundo desejo de conquistar um Prêmio Nobel de Literatura”. É verdade que, como era de seu feitio, deu outra declaração, na sequência, que me pareceu incoerente, por contradizer a primeira. Afirmou que gostaria de ser esquecido após sua morte. Mas como?! Se desejava que ninguém mais se lembrasse dele, então para quê desejava ganhar o Nobel? Mas ele era, mesmo, assim, o que no meu entender o tornava ainda mais fascinante, como se fosse necessário qualquer artifício para ser tão admirado e amado pelos seus admiradores (entre os quais, claro, sempre me incluí) como sempre foi e é.

Na entrevista citada, ainda tentou justificar o fato de não ter sido lembrado, dizendo: “A academia sueca, antigamente, premiava escritores que eram mundialmente conhecidos. Agora mudou de modus operandi: dedica-se a descobrir valores. Não os reprovo. Também eu gostaria de ser descoberto”. Todavia... não o foi.  

A propósito de Borges, abro um parêntese para comentar uma de suas tantas e polêmicas declarações. Foi a que chamou em especial a atenção do escritor (e amigo) Edir Araujo, que me questiona, por e-mail, a respeito. Certa feita, o genial argentino afirmou: “Que outros se gabem dos livros que escreveram; eu me orgulho dos que li.” O autor de “A passagem dos cometas” pergunta se também penso dessa maneira. Respondo: sim! O que já escrevi – e olhem que não foi pouco – para mim não tem a menor relevância diante da infinidade de excelentes obras que li e que contribuíram decisivamente para a minha formação, não apenas como praticante de Literatura, mas, sobretudo, como ser humano.

Fico imaginando a tremenda ironia que foi o fato de um homem tão apegado a livros, que tinha tamanha paixão pela leitura, como Borges, ter sido acometido pela cegueira nos derradeiros anos de vida. A esse propósito, ele disse, na citada entrevista que deu no dia do 85º aniversário: “Atualmente só consigo distinguir o amarelo e, do meu gato branco, o Bepo, aprendi a sentir sua proximidade”;

Uma das declarações mais polêmicas que fez, na oportunidade, foi quando disse que desconfiava que, se existia um Paraíso, este era uma biblioteca. Sustentou que “o homem embala entre seus parietais uma maravilha que lhe é dado chamar de Deus”. Um Deus que o protagonista de um dos seus contos busca na mítica biblioteca da Babilônia, com a certeza de que só poderá achá-lo em um capítulo, um parágrafo, uma das palavras escritas em um dos milhões de livros ali concentrados. E que sua cegueira (a dele, Borges, e não do personagem) o impedia de ler.

Prisioneiro dos espectros que alimentou ao longo da vida e da obra, o genial escritor – há vários anos, e com menos idade, mas com o mesmo senso crítico e a mesma ironia que o caracterizaram – reconheceu, num verso de um breve e comovedor poema: “Cometi um dos maiores pecados que um homem pode cometer: o de não ter sido feliz”. Quantos de nós não cometemos, inconsciente ou deliberadamente, esse mesmo equívoco?!


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Friday, March 29, 2013


O ser humano, no relativamente curto tempo que a espécie existe, ainda não aprendeu a valorizar a vida, nem mesmo a sua, quanto mais a das demais criaturas. Ela, no entanto, é um mistério, é um privilégio, é um milagre. Ao longo da história, as pessoas entregaram-se (e ainda se entregam) à perversa cultura da morte. Hoje em dia, filmes, romances, novelas e peças teatrais apresentam cenas em que determinados personagens matam outros com a maior naturalidade, como se fosse ato banal e corriqueiro. O pior é que as crianças crescem sob essa estúpida cultura da morte, que lhes é incutida a pretexto de se tratar de “arte”. Albert Einstein, porém, nos ensina: “A vida é sagrada, representa o supremo valor a que se ligam todos os outros valores”. Isto é o que deveria ser enfatizado, sempre, cotidiana e incansavelmente, às crianças, e não essa estúpida e absurda cultura da morte que lhes é impingida subliminarmente.

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Por dentro da TV


GLOBO DE OLHO NO JOELMIR

A Rede Globo, que já tem em Departamento de Jornalismo Marco Antonio Rocha e Lilian Wite Fibe, está em vias de reforçar ainda mais a sua área econômica. Mas não se assustem, que ela não está cogitando em Delfim, nem Galvêas, nem mesmo Afonso Celso Pastore. A Globo quer é o comentarista econômico Joelmir Betting. A Bandeirantes, que não é boba nem nada, busca um entendimento para segurar esse excelente jornalista.

ELISÂNGELA RECUSA PROPOSTA

A atriz Elisângela recusou, por esses dias, uma polpuda oferta de Cr$ 10 milhões. É que a moça foi convidada a posar nua para determinada revista masculina. Elisângela disse um sonoro "não" ao convite e mandou um recado: em público, não tira a roupa por dinheiro algum.

RITCHIE PAPAI

O pessoal do meio artístico não está esquentando a cabeça com a inflação. Isso, pelo menos, é o que parece, diante da verdadeira "onda" de nascimentos. Agora é a vez do cantor Ritchie de receber, dentro de algum tempo, a visita da cegonha. Para quem não sabe, o homem da "Menina Veneno" tem uma filha de três anos, chamada Marly. E está cruzando os dedos, torcendo para que o próximo seja um homem.

ROSAMARIA NÃO RENOVA

A Rede Globo, que contava com a participação de Rosamaria Murtinho na próxima novela das 19h, pode ficar sem a atriz. A emissora e a artista não chegaram a um acordo para renovação de contrato. Mesmo que esta venha a ocorrer nos próximos dias, desse trabalho Rosamaria não participa. Aliás, o que ela está "curtindo" mesmo é a direção teatral. Quem assistiu a moça dirigindo, diz que ela é uma grande revelação no setor.

TVS MUDA JORNALISMO

O Departamento de Jornalismo da TVS está passando por várias alterações. O atual diretor, Arlindo Silva, certamente vai perder o seu cargo. Dentro de alguns dias, este passará a ser ocupado pelo jornalista Carlos Henrique, que está atuando como correspondente da emissora em Brasília.

NEY NA MANCHETE

Outra novela está chegando ao fim na televisão. Mas não estamos nos referindo à "Champagne", mas ao "affaire" Ney Gonçalves Dias, Manchete e Globo. O excelente apresentador acaba de rescindir seu contrato com a emissora do Jardim Botânico e deverá, por estes dias, estar assumindo um lugarzinho na Rua do Russel. A "caçula" está mesmo infernal, em termos de contratações. Pelo menos está agitando barbaridades os meios artísticos.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na editoria de TEVÊ, página 22, do Correio Popular, em 5 de maio de 1984).

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No tempo certo

Pedro J. Bondaczuk

O tempo, posto se trate de conceito abstrato, de símbolo criado e convencionado pelo único animal inteligente da natureza – pelo menos dos que se tem certeza que existam – não deixa de ser, simultaneamente, concreto. Mesmo sem sua simbologia, caso não existisse, perceberíamos (e percebemos) sua existência e, por consequência, seu transcurso ou sua passagem. É tema inesgotável que, por mais que se escreva a propósito, sempre se omitirá uma infinidade de aspectos.

A enciclopédia eletrônica Wikipédia, por exemplo, com a objetividade que a caracteriza, traz uma série extensíssima de informações sobre o assunto, mas, por mais objetiva que possa ser, sequer se aproxima do seu esgotamento. Nem poderia. É inesgotável. Entre minhas cerca de 2.200 crônicas, por volta de um terço tratam do tempo, sob seus mais variados aspectos e, para dissecá-lo (já nem digo por completo, mas de forma apenas remotamente aproximada), teria que viver dezenas de vidas e dedicar todos os anos delas a escrever a propósito e, mesmo assim, não conseguiria. Exagero? Longe disso.

Para que vocês entendam a complexidade do tema, sequer existe uma definição desse conceito que seja precisa, incontestável e, portanto, consensual. Tentem defini-lo. O que é o tempo? Não me refiro a clima, uma de suas conseqüências e tomado (erroneamente) como seu sinônimo. Nem às formas criadas pelo homem para sua medição. Muito menos à sua padronização, que foi feita, apenas, por volta da primeira metade do século XIX.

Não é sua conceituação matemática que me interessa e muito menos a física, que se baseia, por sua vez, nos conceitos matemáticos. É seu aspecto filosófico o que mais me intriga e estimula o raciocínio (provavelmente ampliando as conexões de neurônios do cérebro, expandindo sua capacidade. Afinal, esse nobre órgão, que comanda todos os demais,  requer, como eles, exercício constante para permanecer saudável e se desenvolver).

Já que mencionei a Wikipédia, transcrevo conceituações de alguns estudiosos do tema, citados pela enciclopédia eletrônica. Um deles é o físico teórico norte-americano John Archibald Wheeler, que afirmou que o tempo “é o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez”. Embora sua observação tenha um quê de poético, não se tratou, óbvio, de um poeta. Foi um cientista (morreu em 2008) e dos mais respeitáveis, tendo, em seu currículo – além de ter sido um dos últimos colaboradores de Albert Einstein – o pioneirismo na elaboração da teoria da fissão nuclear, posteriormente comprovada na prática.

Já o “pai da teoria da relatividade” definiu o tempo (conforme a Wikipédia informa) com uma só palavra: ilusão. “Mas como?!!”, perguntará, atônito, o leitor, que esperava uma conceituação mais precisa de um gênio dessa envergadura. Mas Albert Einstein confirma sua constatação: “A distinção entre presente, passado e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão”. Há como contestar? De que forma? Baseados no quê?

Ainda aproveitando as informações da Wikipédia, a enciclopédia eletrônica cita antiga frase, que era dita e repetida “n” vezes por dia pelos locutores da Rádio Relógio do Rio de Janeiro, que considero um primor e com a qual concordo plenamente: “Cada segundo que passa é um milagre que jamais se repete”. Há como contestar afirmação tão óbvia, mas que quase nunca (ou nunca mesmo) nos damos conta?! Claro que não!
Vocês certamente já notaram que escrevi, escrevi e escrevi, que estas descompromissadas reflexões de hoje estão chegando ao final e que ainda não dei uma única definição de tempo, mesmo que remotamente aceitável. E é preciso? Em nosso íntimo, temos a noção exata, posto que não verbalizada, do que se trata. Wikipédia informa que crianças de colo não têm essa percepção e acrescenta que “adultos com certas doenças neurológicas e/ou psiquiátricas podem perdê-la”.

Mas não quero deixar vocês na mão. Se não tenho uma definição (mesmo que sumamente canhestra) desse conceito abstrato, posto que de percepção concreta, reproduzo esta conceituação (imprecisa, como todas que já li, mas que pelo menos nos dá uma idéia do que estamos tratando) da Wikipédia:

“Com base na percepção humana, a concepção comum de tempo é indicada por intervalos ou períodos de duração. Pode-se dizer que um acontecimento ocorre depois de outro acontecimento. Além disso, pode-se medir o quanto um acontecimento ocorre depois de outro. Esta resposta relativa ao quanto é a quantidade de tempo entre estes dois acontecimentos: à separação temporal dos dois acontecimentos distintos dá-se o nome de intervalo de tempo; à separação temporal entre o início e o fim de um mesmo evento dá-se o nome de duração. Uma das formas de se definir depois baseia-se na assunção de causalidade”.

Como se trata de tema recorrente em minhas abordagens – literárias ou filosóficas, não importa – certamente voltarei a ele, em algum momento que julgar oportuno, que tanto pode ser amanhã, como em dois, três ou mais anos. Afinal, respeito a colocação feita por Salomão (tido e havido como um dos homens mais sábios do remoto passado em que viveu), em um dos seus livros bíblicos, quando constatou: “Tudo tem seu tempo certo debaixo do sol”. E não tem?  

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Thursday, March 28, 2013


Muitos se queixam que não conseguem ser felizes, sem perceber, todavia, que o são. Agem como aquele velhinho de um célebre poema de Mário Quintana, que procura os óculos pela casa toda, quando estes estão bem na ponta do seu nariz. Arthur Rimbaud tem um texto marcante, em que descreve um momento de felicidade, destes que quando temos, não sabemos sequer identificar, quanto mais valorizar. Diz: “Nas noites azuis de verão irei pelos caminhos no meio do trigo, pisando a relva tenra. Não falarei nada, não pensarei em nada... e irei longe, muito longe, como um cigano, no meio da natureza – feliz como se estivesse com uma mulher”. Reitero que felicidade não significa ter algum objeto precioso, obter sucesso em alguma empreitada ou amar e ser amado. Tudo isso pode ser um caminho para chegarmos a ela, mas não é a própria. Felicidade é, antes de tudo, uma predisposição espiritual, um estado de alma, e independe de fatores externos.

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 Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: nenem138@gmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso” – Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.       

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Angústia e expectativa


Pedro J. Bondaczuk

O Brasil viveu, desde o primeiro dia deste mês, um clima de comoção nacional com a morte de Ayrton Senna, na curva Tamburello, na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, disputado no circuito de Ímola, na Itália. Afinal, tratava-se de um dos raros brasileiros que ainda conseguiam dar alguma alegria a este sofrido povo, que mostrou saber reconhecer o valor e o talento daqueles que têm essas virtudes.

Mas a vida continua e devemos é olhar para a frente, tendo no passado, somente, um conjunto de lições que orientam nossos procedimentos. Da mesma maneira com que o País se vestiu de luto, neste maio tenso e tormentoso, certamente explodirá em festa a qualquer momento, quando menos se esperar, em conseqüência de algum acontecimento positivo, que torne a despertar o adormecido patriotismo da população, mas desta vez sem a dor causada pelo desaparecimento do nosso campeão. Assim é a vida: cheia de alternâncias e surpresas, a maioria não muito agradáveis.

No plano econômico, já sabemos a data da entrada em vigor da nova moeda, o real, que vai ocorrer em 1º de julho próximo, e o ceticismo da maioria contrasta, de forma acentuada, com as declarações otimistas do governo e de certos economistas que apostam no sucesso do novo plano.

Greves e mais greves vêm sendo deflagradas por todas as partes, com os grevistas reivindicando a reposição de possíveis perdas salariais e atormentando ainda mais o dia-a-dia do já atribulado cidadão. 

Como se observa, trata-se de um período de tristeza, decorrente da morte de Ayrton Senna, e de incertezas quanto ao amanhã, que se afigura cada vez mais nebuloso e tensionante.

Haja coração para tudo isso! Mas as possibilidades de mudanças são concretas e estão em nossas mãos, embora nos sintamos impotentes diante de tantas dificuldades. No terreno esportivo, da mesma forma que surgiu o pranteado campeão, outros podem aparecer e resgatar o nosso orgulho de vencedores. É possível (e provável) que eles até já existam, à espera, apenas, de uma oportunidade, ou, quem sabe, do acaso, para poderem se projetar.

Vem aí, por exemplo, a Copa do Mundo dos Estados Unidos, e as chances do Brasil obter o tetra são reais e estão longe de se constituir num mero sonho. Mesmo no automobilismo, é injusto não dar um voto de confiança à nova geração, a Rubens Barrichello, a Christian Fittipaldi, a Gil de Ferran e a outros menos conhecidos, que lutam para conseguir o seu espaço no coração dos brasileiros.

Quanto à nova moeda, embora o ceticismo seja justificável, dadas as experiências malogradas anteriores, temos uma íntima convicção de que, em curto prazo, sua introdução vai deter a escalada inflacionária. No dia 10 passado, o chamado “menino prodígio” da economia mundial, Jeffrey Sachs, responsável direto pelo êxito boliviano em derrubar uma inflação de 40.000% anuais para algo próximo de zero, além de ter assessorado os governos do polonês Lech Walesa e do russo Boris Yeltsin, participando de uma palestra em São Paulo, afirmou que a atual estratégia brasileira é absolutamente correta.

Previu, sem sombra de dúvidas, que o plano vai dar certo, já que tecnicamente é viável e não traz em si, como os anteriores, o ranço do imediatismo. Tomara que sim! Porque o clima reinante no País não é dos melhores. Greves, ocupações de prédios públicos e de terras, a violência urbana e o generalizado descontentamento deixam clara, claríssima a ameaça de uma explosão social de conseqüências imprevisíveis. Oxalá, por trás dessas nuvens de tempestade, estejam dias de intensa alegria e tranqüilidade.            

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 14 de maio de 1994)

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