Ex-condenado
à morte perto da Presidência
Cinco candidatos disputam a máxima magistratura do
país, embora somente três tenham chances (rigorosamente iguais, de acordo com
pesquisas de opinião) de sucesso: o governista Roh Tae-Woo, comprometido com o
atual regime que ajudou a instalar quando era general da ativa e os
oposicionistas Kim Dae-Jung e Kim Young-Sam.
Se há empate nas prévias, não é difícil de se
deduzir que caso a oposição concorresse com um único representante, teria a
vitória assegurada, e por margem simplesmente esmagadora, que seria a
consagração de sua longa (e muitas vezes penosa) luta.
Mas não foi possível haver um acordo entre os dois
políticos sul-coreanos mais populares da atualidade. Ambições pessoais falaram
mais alto do que a prudência e a sabedoria política. Desavenças de forma, e não
de substância, os dividiram. E essa divisão poderá custar caro: a derrota de
ambos. Por conseqüência, tende a gerar uma frustração nacional de conseqüências
imprevisíveis.
Ainda assim, como mero observador, que acompanha
atento o desenrolar da campanha, atrevo-me a apostar no sucesso de Kim
Dae-Jung. Trata-se de um político que nos últimos anos foi do inferno ao
paraíso. Chegou a ser, inclusive, condenado à morte, no início da década.
Esteve exilado nos Estados Unidos e desde que
regressou, até a jornada nacional de protestos de junho passado, que culminou
na aceitação, por parte do governo, de pôr fim ao espúrio e viciado Colégio
Eleitoral, praticamente não soube o que era liberdade.
Seu grande reduto eleitoral é a cidade de Kjangju, a
Segunda maior da Coréia do Sul, cujos estudantes fizeram uma rebelião, em 1980,
reprimida com inaudita dureza pela ditadura, o que redundou em centenas de
mortes. Quem comandou a repressão, por uma ironia do destino, foi exatamente um
dos candidatos mais cotados à Presidência: Roh Tae-Woo.
Por causa disso, e de outras circunstâncias, é
sumamente importante para o futuro da Península Coreana a maneira como os
eleitores vão se comportar. A oposição radical ameaça arruinar as eleições, por
não acreditar na sua lisura.
A campanha foi das mais violentas, caracterizada por
agressões e ameaças por parte dos partidários das três facções mais fortes da
Coréia do Sul. Era hora do candidato Kim Young-Sam ter um ato de grandeza e
renunciar à candidatura, em favor de Dae-Jung. Seria um ato de bom-senso,
estrategicamente imbatível, e que refletiria, sobretudo, sabedoria política. Infelizmente,
porém, não há a menor chance disso vir a acontecer. Infelizmente...
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 15 de dezembro de
1987).
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