Saturday, March 30, 2013


Ex-condenado à morte perto da Presidência

 Pedro J. Bondaczuk

 A Coréia do Sul vive sua hora de decisão, o momento crítico de sua história, que vai definir como serão suas instituições nos próximos tempos. Após 16 anos de ditadura militar, seus eleitores vão comparecer, amanhã, às urnas, para escolher um presidente da República, conforme anseio da maioria esmagadora da população, através do voto direto.

Cinco candidatos disputam a máxima magistratura do país, embora somente três tenham chances (rigorosamente iguais, de acordo com pesquisas de opinião) de sucesso: o governista Roh Tae-Woo, comprometido com o atual regime que ajudou a instalar quando era general da ativa e os oposicionistas Kim Dae-Jung e Kim Young-Sam.

Se há empate nas prévias, não é difícil de se deduzir que caso a oposição concorresse com um único representante, teria a vitória assegurada, e por margem simplesmente esmagadora, que seria a consagração de sua longa (e muitas vezes penosa) luta.

Mas não foi possível haver um acordo entre os dois políticos sul-coreanos mais populares da atualidade. Ambições pessoais falaram mais alto do que a prudência e a sabedoria política. Desavenças de forma, e não de substância, os dividiram. E essa divisão poderá custar caro: a derrota de ambos. Por conseqüência, tende a gerar uma frustração nacional de conseqüências imprevisíveis.

Ainda assim, como mero observador, que acompanha atento o desenrolar da campanha, atrevo-me a apostar no sucesso de Kim Dae-Jung. Trata-se de um político que nos últimos anos foi do inferno ao paraíso. Chegou a ser, inclusive, condenado à morte, no início da década.

Esteve exilado nos Estados Unidos e desde que regressou, até a jornada nacional de protestos de junho passado, que culminou na aceitação, por parte do governo, de pôr fim ao espúrio e viciado Colégio Eleitoral, praticamente não soube o que era liberdade.

Seu grande reduto eleitoral é a cidade de Kjangju, a Segunda maior da Coréia do Sul, cujos estudantes fizeram uma rebelião, em 1980, reprimida com inaudita dureza pela ditadura, o que redundou em centenas de mortes. Quem comandou a repressão, por uma ironia do destino, foi exatamente um dos candidatos mais cotados à Presidência: Roh Tae-Woo.

Por causa disso, e de outras circunstâncias, é sumamente importante para o futuro da Península Coreana a maneira como os eleitores vão se comportar. A oposição radical ameaça arruinar as eleições, por não acreditar na sua lisura.

A campanha foi das mais violentas, caracterizada por agressões e ameaças por parte dos partidários das três facções mais fortes da Coréia do Sul. Era hora do candidato Kim Young-Sam ter um ato de grandeza e renunciar à candidatura, em favor de Dae-Jung. Seria um ato de bom-senso, estrategicamente imbatível, e que refletiria, sobretudo, sabedoria política. Infelizmente, porém, não há a menor chance disso vir a acontecer. Infelizmente...

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 15 de dezembro de 1987).

 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: