Doença
da alma
Pedro J. Bondaczuk
“O pessimismo é uma doença da
alma, da qual devemos nos acautelar. Ronda-nos a todo o instante e, quando
menos esperamos, nos toma em suas traiçoeiras garras. Distorce nossa visão de
mundo, suprime nossa alegria de viver e faz, até, com que enxerguemos terríveis
monstros, onde há, apenas, reles formigas. Ou seja, amplia o negativo e
distorce cruelmente a realidade. Inibe nossa iniciativa, criatividade e ousadia
e, sem que nos apercebamos, nos torna inúteis e indesejáveis. Afinal, como
outras doenças quaisquer, o pessimismo tende a ser extremamente contagioso”.
Quantas vezes, amável leitor que
me dá a honra de ler com assiduidade o que escrevo, já leu essa afirmação e
suas variantes em meus textos? Inúmeras. E lerá muito mais nesta modesta
reflexão, em que pincei e reproduzo vários trechos de crônicas escritas nos
últimos cinco anos. Poderia compor um livro a respeito, tanto que abordei o
tema, para mim incômodo, já que, por formação e opção sou um sujeito
(moderadamente) otimista.
É mister que não se confunda
otimismo com alienação. São dois comportamentos até que meio parecidos, mas
diametralmente opostos. Só posso ser otimista quando conheço todos os riscos
que me ameaçam e quando vislumbro saídas, e mais, quando conto com maneiras de
me precaver contra eles e neutralizá-los.
Minha postura, face à vida, nem
sempre é corretamente interpretada. Diria que raramente o é. Há quem,
afoitamente, me classifique de escritor de auto-ajuda. Não, não sou. Até porque
não acredito que possa (e não creio que ninguém tenha essa capacidade) resolver problemas alheios. Há soluções
específicas (quando existem) para cada caso, na dependência de um fator
aleatório a respeito do qual também trato amiúde: as circunstâncias. Volta e
meia, recebo e-mails de pessoas aflitas, desesperadas, apavoradas até
rogando-me que as ajude, as aconselhando como agir em situações aflitivas.
Aflito sinto-me eu dada a minha impotência em prestar-lhes auxílio. Sou apenas
um escritor com uma visão particular de vida, adequada às minhas circunstâncias.
Contudo não sei se seriam, também, as melhores opções para as dos outros.
E por que abordo esse polêmico
assunto em um espaço voltado à literatura? Porque constatei que a maioria dos
escritores que conheço ou de que apenas li seus livros é, ou foi sumamente
pessimista. Os românticos até que não eram tanto, porquanto criavam personagens
exemplares para se contrapor aos canalhas e seus enredos, salvo exceções,
apresentavam um “happy end”, após um sem número de peripécias em que seus
herois “comiam o pão que o diabo amassou” na mão dos vilões.
Algumas dessas histórias tinham o
grave defeito de serem inverossímeis. Isso não quer dizer que só o mal sempre
prevaleça – no frigir dos ovos não prevalece nunca – e que apenas histórias
escabrosas, e não raro escatológicas (quando não pornográficas) interessam aos
leitores. Ou então que só as pessoas maldosas se dão bem na vida. Aliás, nem se
dão. Na vida real, ou terminam mortas, ou vão parar na cadeia para cumprir
penas extensíssimas, ou mergulham de ponta cabeça no alcoolismo e/ou nas drogas
etc.etc.etc. O que faltava a esses escritores de histórias classificadas
jocosamente de água com açúcar (a alguns deles) era talento para conferir
verossimilhança a personagens e a enredos positivos.
Mas... desviei-me do tema que
pretendia abordar. A arte da escrita é mesmo assim: um assunto puxa outro e
quando nos damos conta, estamos falando do cinza quando a intenção era tratar
do vermelho. Há que se policiar para manter um mínimo de coerência e de
objetividade.
Uma pergunta é recorrente sempre
que trato da questão. Há como fugir desse pessimismo mórbido, que envenena
nosso comportamento, nossas ações e até nossos relacionamentos, sobretudo os
afetivos? Há e muitos. Para evitá-lo, o melhor recurso é o de recorrermos a
poderosas “vacinas”: fé, esperança e, sobretudo, amor. Helen Keller observou,
em uma de suas tantas conferências, como que num desafio à platéia, que não
teve como a contestar: “Nenhum pessimista jamais descobriu o segredo das
estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu para o
espírito humano”. E não estava certa?
O sucesso não acontece por acaso.
Sorte, por exemplo, não é nada mais do que a pessoa se encontrar no lugar
certo, na hora adequada, para aproveitar determinadas oportunidades. E para que
isso ocorra, evidentemente, ela precisa estar predisposta, preparada, apta a
não deixar fugir a chance, que pode ser a única (ou não). E, principalmente,
acreditar nela.
O cérebro humano precisa de
estímulos, de ginástica, de exercícios. Quanto mais vier a ser exigido, mais
ampliará seu alcance, sua capacidade de retenção e de elaboração de
informações. Pensar não dói e é um ato saudável. Mas como é o cérebro que
comanda todas nossas emoções e ações, a qualidade, e o teor, desses pensamentos
são muito importantes. Quem, por exemplo, não projeta na mente um futuro
brilhante, pode estar abreviando a própria vida. O pessimismo é um veneno que
mata lenta e metodicamente. Devemos fugir a todo o custo dessa tentação.
Não há como negar que o mais
profundo pessimismo permeia as relações humanas neste início de milênio. As
pessoas andam tão pessimistas, que até uma bobagem como a de que o mundo iria
acabar em 21 de dezembro de 2012, com base, apenas, em suposta profecia maia, foi
acreditada por milhões, mundo afora. Há, até, e não são poucos, os que torcem
(pelo menos da boca para fora), para que acabe mesmo. Raríssimos são os que crêem em um mundo
melhor, mais justo, equilibrado e humano, sem os enormes contrastes e
aberrações econômicos, sociais e comportamentais da atualidade. As pessoas desconfiam umas das
outras (com certa dose de razão, convenhamos) e a hipocrisia predomina nos
relacionamentos (sejam profissionais, afetivos ou de qualquer outra espécie,
até no seio das famílias, onde a prepotência,
a traição, os abusos sexuais e o rancor se instalam com freqüência
assustadora).
Há crescente desamor na
humanidade, o que se transforma em estopim para explosões (individuais e
coletivas) de violência ou pelo menos atua como uma espécie de bomba-relógio,
pronta a explodir a qualquer momento, face ao mais banal e inocente incidente.
Em suma: o homem desconfia do homem e odeia o seu semelhante.
Apostemos, porém, na felicidade.
Sejam quais forem as circunstâncias, não nos deixemos, jamais, levar pelo
pessimismo, pela angústia, pelo derrotismo. Para se ter uma vida sadia,
todavia, é preciso lutar contra esse negativismo. Não se defende,
evidentemente, a alienação de ninguém. O mal, nas suas diversas formas, existe,
sempre existiu e seguirá existindo. É realidade inegável, e deve, óbvio, ser
combatido. Seu antídoto evidente, porém, é seu oposto. Ou seja, é o bem. São as
idéias positivas. É a valorização das pequenas coisas agradáveis que nos
ocorrem que, somadas, acabam por se tornar grandes, maiúsculas, imensas,
incomensuráveis. Dê, portanto, um basta ao pessimismo, essa traiçoeira doença
da alma, principalmente ao exacerbado e mórbido! Tente! Você pode!!!
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