Wednesday, March 27, 2013

Doença da alma
 
Pedro J. Bondaczuk
 
O pessimismo é uma doença da alma, da qual devemos nos acautelar. Ronda-nos a todo o instante e, quando menos esperamos, nos toma em suas traiçoeiras garras. Distorce nossa visão de mundo, suprime nossa alegria de viver e faz, até, com que enxerguemos terríveis monstros, onde há, apenas, reles formigas. Ou seja, amplia o negativo e distorce cruelmente a realidade. Inibe nossa iniciativa, criatividade e ousadia e, sem que nos apercebamos, nos torna inúteis e indesejáveis. Afinal, como outras doenças quaisquer, o pessimismo tende a ser extremamente contagioso”.
 
Quantas vezes, amável leitor que me dá a honra de ler com assiduidade o que escrevo, já leu essa afirmação e suas variantes em meus textos? Inúmeras. E lerá muito mais nesta modesta reflexão, em que pincei e reproduzo vários trechos de crônicas escritas nos últimos cinco anos. Poderia compor um livro a respeito, tanto que abordei o tema, para mim incômodo, já que, por formação e opção sou um sujeito (moderadamente) otimista.
 
É mister que não se confunda otimismo com alienação. São dois comportamentos até que meio parecidos, mas diametralmente opostos. Só posso ser otimista quando conheço todos os riscos que me ameaçam e quando vislumbro saídas, e mais, quando conto com maneiras de me precaver contra eles e neutralizá-los.
 
Minha postura, face à vida, nem sempre é corretamente interpretada. Diria que raramente o é. Há quem, afoitamente, me classifique de escritor de auto-ajuda. Não, não sou. Até porque não acredito que possa (e não creio que ninguém tenha essa capacidade)  resolver problemas alheios. Há soluções específicas (quando existem) para cada caso, na dependência de um fator aleatório a respeito do qual também trato amiúde: as circunstâncias. Volta e meia, recebo e-mails de pessoas aflitas, desesperadas, apavoradas até rogando-me que as ajude, as aconselhando como agir em situações aflitivas. Aflito sinto-me eu dada a minha impotência em prestar-lhes auxílio. Sou apenas um escritor com uma visão particular de vida, adequada às minhas circunstâncias. Contudo não sei se seriam, também, as melhores opções para as dos outros.
 
E por que abordo esse polêmico assunto em um espaço voltado à literatura? Porque constatei que a maioria dos escritores que conheço ou de que apenas li seus livros é, ou foi sumamente pessimista. Os românticos até que não eram tanto, porquanto criavam personagens exemplares para se contrapor aos canalhas e seus enredos, salvo exceções, apresentavam um “happy end”, após um sem número de peripécias em que seus herois “comiam o pão que o diabo amassou” na mão dos vilões.
 
Algumas dessas histórias tinham o grave defeito de serem inverossímeis. Isso não quer dizer que só o mal sempre prevaleça – no frigir dos ovos não prevalece nunca – e que apenas histórias escabrosas, e não raro escatológicas (quando não pornográficas) interessam aos leitores. Ou então que só as pessoas maldosas se dão bem na vida. Aliás, nem se dão. Na vida real, ou terminam mortas, ou vão parar na cadeia para cumprir penas extensíssimas, ou mergulham de ponta cabeça no alcoolismo e/ou nas drogas etc.etc.etc. O que faltava a esses escritores de histórias classificadas jocosamente de água com açúcar (a alguns deles) era talento para conferir verossimilhança a personagens e a enredos positivos.        
 
Mas... desviei-me do tema que pretendia abordar. A arte da escrita é mesmo assim: um assunto puxa outro e quando nos damos conta, estamos falando do cinza quando a intenção era tratar do vermelho. Há que se policiar para manter um mínimo de coerência e de objetividade.
 
Uma pergunta é recorrente sempre que trato da questão. Há como fugir desse pessimismo mórbido, que envenena nosso comportamento, nossas ações e até nossos relacionamentos, sobretudo os afetivos? Há e muitos. Para evitá-lo, o melhor recurso é o de recorrermos a poderosas “vacinas”: fé, esperança e, sobretudo, amor. Helen Keller observou, em uma de suas tantas conferências, como que num desafio à platéia, que não teve como a contestar: “Nenhum pessimista jamais descobriu o segredo das estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu para o espírito humano”.  E não estava certa?
 
O sucesso não acontece por acaso. Sorte, por exemplo, não é nada mais do que a pessoa se encontrar no lugar certo, na hora adequada, para aproveitar determinadas oportunidades. E para que isso ocorra, evidentemente, ela precisa estar predisposta, preparada, apta a não deixar fugir a chance, que pode ser a única (ou não). E, principalmente, acreditar nela.
 
O cérebro humano precisa de estímulos, de ginástica, de exercícios. Quanto mais vier a ser exigido, mais ampliará seu alcance, sua capacidade de retenção e de elaboração de informações. Pensar não dói e é um ato saudável. Mas como é o cérebro que comanda todas nossas emoções e ações, a qualidade, e o teor, desses pensamentos são muito importantes. Quem, por exemplo, não projeta na mente um futuro brilhante, pode estar abreviando a própria vida. O pessimismo é um veneno que mata lenta e metodicamente. Devemos fugir a todo o custo dessa tentação.
 
Não há como negar que o mais profundo pessimismo permeia as relações humanas neste início de milênio. As pessoas andam tão pessimistas, que até uma bobagem como a de que o mundo iria acabar em 21 de dezembro de 2012, com base, apenas, em suposta profecia maia, foi acreditada por milhões, mundo afora. Há, até, e não são poucos, os que torcem (pelo menos da boca para fora), para que acabe mesmo.  Raríssimos são os que crêem em um mundo melhor, mais justo, equilibrado e humano, sem os enormes contrastes e aberrações econômicos, sociais e comportamentais  da atualidade. As pessoas desconfiam umas das outras (com certa dose de razão, convenhamos) e a hipocrisia predomina nos relacionamentos (sejam profissionais, afetivos ou de qualquer outra espécie, até no seio das famílias, onde a  prepotência, a traição, os abusos sexuais e o rancor se instalam com freqüência assustadora).
 
Há crescente desamor na humanidade, o que se transforma em estopim para explosões (individuais e coletivas) de violência ou pelo menos atua como uma espécie de bomba-relógio, pronta a explodir a qualquer momento, face ao mais banal e inocente incidente. Em suma: o homem desconfia do homem e odeia o seu semelhante.
 
Apostemos, porém, na felicidade. Sejam quais forem as circunstâncias, não nos deixemos, jamais, levar pelo pessimismo, pela angústia, pelo derrotismo. Para se ter uma vida sadia, todavia, é preciso lutar contra esse negativismo. Não se defende, evidentemente, a alienação de ninguém. O mal, nas suas diversas formas, existe, sempre existiu e seguirá existindo. É realidade inegável, e deve, óbvio, ser combatido. Seu antídoto evidente, porém, é seu oposto. Ou seja, é o bem. São as idéias positivas. É a valorização das pequenas coisas agradáveis que nos ocorrem que, somadas, acabam por se tornar grandes, maiúsculas, imensas, incomensuráveis. Dê, portanto, um basta ao pessimismo, essa traiçoeira doença da alma, principalmente ao exacerbado e mórbido! Tente! Você pode!!!
 
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