Tuesday, March 12, 2013


Bode expiatório do fracasso da UCR

 Pedro J. Bondaczuk
  
O presidente argentino, Raul Alfonsin, cuja popularidade foi bastante minada pela perversa crise econômica que atinge o seu país (a exemplo do que ocorre em toda a América Latina) lançou mão de um recurso extremo, na tentativa de recuperar a combalida candidatura de Eduardo Angeloz, do seu partido, à sua sucessão nas eleições presidenciais de 14 de maio próximo.

Elegeu o seu ministro da Economia, Juan Vital de Sourrouille, ainda há pouco tido e havido como verdadeiro mago das finanças, quando conseguiu baixar uma inflação anual com taxas superiores a 1.000% para apenas 59%, como bode expiatório do fracasso de suas políticas. E aceitou demiti-lo, ontem, quando faltam 43 dias para a votação.

Aliás, este está sendo o duro tributo pago por praticamente todos os mandatários do período de transição democrática na região. Eles assumiram os governos de seus respectivos países com as finanças virtualmente “arrebentadas”, depois de anos de ditadura militar. E as coisas não lhes foram, em absoluto, favoráveis. Principalmente porque durante todo esse tempo se verificou uma sangria enorme de capitais, representada pelo pesado pagamento do serviço da dívida externa, sem que fossem feitos novos aportes de recursos.

Dos presidentes que assumiram o poder no pós-ditadura, nenhum deles, certamente, conseguiu fazer seu sucessor. Na Argentina, apesar do desesperado esforço de Angeloz, com esse gesto populista de pedir a cabeça de Sourrouille, dificilmente algo, ou alguém, conseguirão tirar a vitória de Carlos Menem em 14 de maio próximo.

A única forma do candidato peronista deixar de ser o próximo presidente da Argentina é a ocorrência de um golpe de Estado, o que, aliás, não está totalmente fora de propósito. Dificuldade idêntica, embora em grau mais atenuado, vem passando o uruguaio Júlio Maria Sanguinetti.

No Brasil, pelo menos nessa fase preliminar da campanha, a da soltura de balões de ensaio, tudo indica que o ganhador da tão aguardada eleição presidencial de 15 de novembro, a primeira direta em 29 anos, deverá ser algum candidato da esquerda. Pode ser Leonel Brizola, ou Luiz Inácio Lula da Silva ou o “tucano” Mário Covas.

Este último, por sinal, embora não seja tão comentado agora, pode reunir maiores chances, por ter livre trânsito em áreas empresariais e em outros setores centristas e até de direita. Mas não será nenhuma surpresa se os candidatos apoiados pelo governo, no Brasil e no Uruguai, lançarem mão do mesmo expediente de Angeloz e pedirem as demissões dos respectivos ministros da área econômica.

Afinal, eles são alvos óbvios do descontentamento popular. Tais arroubos populistas de última hora, porém, nos parecem mais gestos de desespero do que coerentes estratégias políticas. Tendem, por isso, a ser estéreis.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 1 de abril de 1989).

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