Bode expiatório do fracasso da UCR
O presidente argentino, Raul Alfonsin, cuja popularidade
foi bastante minada pela perversa crise econômica que atinge o seu país (a
exemplo do que ocorre em toda a América Latina) lançou mão de um recurso
extremo, na tentativa de recuperar a combalida candidatura de Eduardo Angeloz,
do seu partido, à sua sucessão nas eleições presidenciais de 14 de maio
próximo.
Elegeu o seu ministro da
Economia, Juan Vital de Sourrouille, ainda há pouco tido e havido como
verdadeiro mago das finanças, quando conseguiu baixar uma inflação anual com
taxas superiores a 1.000% para apenas 59%, como bode expiatório do fracasso de
suas políticas. E aceitou demiti-lo, ontem, quando faltam 43 dias para a
votação.
Aliás, este está sendo o duro
tributo pago por praticamente todos os mandatários do período de transição
democrática na região. Eles assumiram os governos de seus respectivos países
com as finanças virtualmente “arrebentadas”, depois de anos de ditadura
militar. E as coisas não lhes foram, em absoluto, favoráveis. Principalmente
porque durante todo esse tempo se verificou uma sangria enorme de capitais,
representada pelo pesado pagamento do serviço da dívida externa, sem que fossem
feitos novos aportes de recursos.
Dos presidentes que assumiram o
poder no pós-ditadura, nenhum deles, certamente, conseguiu fazer seu sucessor.
Na Argentina, apesar do desesperado esforço de Angeloz, com esse gesto
populista de pedir a cabeça de Sourrouille, dificilmente algo, ou alguém,
conseguirão tirar a vitória de Carlos Menem em 14 de maio próximo.
A única forma do candidato
peronista deixar de ser o próximo presidente da Argentina é a ocorrência de um
golpe de Estado, o que, aliás, não está totalmente fora de propósito.
Dificuldade idêntica, embora em grau mais atenuado, vem passando o uruguaio
Júlio Maria Sanguinetti.
No Brasil, pelo menos nessa fase
preliminar da campanha, a da soltura de balões de ensaio, tudo indica que o
ganhador da tão aguardada eleição presidencial de 15 de novembro, a primeira
direta em 29 anos, deverá ser algum candidato da esquerda. Pode ser Leonel
Brizola, ou Luiz Inácio Lula da Silva ou o “tucano” Mário Covas.
Este último, por sinal, embora
não seja tão comentado agora, pode reunir maiores chances, por ter livre
trânsito em áreas empresariais e em outros setores centristas e até de direita.
Mas não será nenhuma surpresa se os candidatos apoiados pelo governo, no Brasil
e no Uruguai, lançarem mão do mesmo expediente de Angeloz e pedirem as
demissões dos respectivos ministros da área econômica.
Afinal, eles são alvos óbvios do
descontentamento popular. Tais arroubos populistas de última hora, porém, nos
parecem mais gestos de desespero do que coerentes estratégias políticas.
Tendem, por isso, a ser estéreis.
(Artigo publicado na
página 11, Internacional, do Correio Popular, em 1 de abril de 1989).
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