Peça pregada no M-19
Pedro J. Bondaczuk
O
Movimento 19 de Abril, da Colômbia, fundado em 1979, foi, durante o tempo em
que se manteve como grupo guerrilheiro --- condição que perdeu somente há cerca
de 50 dias quando depôs armas e se transformou num partido político ---
protagonista de situações bastante curiosas. À exceção do ataque ao Palácio da
Justiça de Bogotá, em 6 de novembro de 1985, oportunidade em que 100 pessoas
morreram, entre elas 11 juízes da Suprema Corte colombiana, suas ações, em geral,
causavam mais risos na população do que temores. Certa feita seus membros
agiram como Robin Hood, seqüestrando vários caminhões carregados de gêneros
alimentícios, que eles distribuíram entre favelados da Capital. Foi,
evidentemente, uma festa para os moradores das favelas beneficiadas.
Numa
outra ocasião, chegaram a roubar a espada do libertador Simon Bolívar,
devolvida posteriormente. Em 27 de fevereiro de 1980, tomaram de assalto a
Embaixada da República Dominicana, em Bogotá, durante uma festa, mantendo, na
oportunidade, 14 embaixadores como reféns, entre os quais o brasileiro Geraldo
Eulálio Nascimento e Silva, até 27 de abril desse ano. Anteontem, o M-19 foi
vítima de uma trágica "brincadeira", muito diferente das que
costumava fazer nos seus tempos de guerrilha. Seu candidato à presidência da
República, Carlos Pizarro, foi executado
em, pleno ar, num vôo entre a Capital e a cidade de Barranquilla, por um
pistoleiro que sacou de uma metralhadora (ninguém soube explicar ainda como a
arma entrou no Boeing 727 da Avianca) e disparou uma rajada contra o
ex-comandante guerrilheiro, o ferindo mortalmente.
Não
se pode afirmar que o líder morto não tivesse chances de vitória nas eleições.
Apenas vinte dias depois de ter formalizado seu novo "status" como
partido, o Movimento 19 de Abril disputou os pleitos municipais do mês passado.
E, para surpresa geral, obteve uma expressiva votação em Bogotá. P fato do
corpo de Pizarro estar sendo velado ao ar livre, entre as duas casas do
Congresso, diz muito de sua popularidade. Como são estranhos os caminhos da
vida! Na guerrilha, onde era mais provável que viesse a ser morto em algum
confronto com a polícia ou com o Exército, o líder escapou incólume. Foi ser
assassinado quando decidiu tentar a busca do poder pelas vias democráticas do
voto.
Em
compensação, se morresse enquanto guerrilheiro, seu féretro seria às
escondidas, talvez não presenciado sequer pela família. Isso se o seu corpo não
fosse doado para alguma faculdade de medicina. Agora, toda a Colômbia rende-lhe
suas homenagens. Quando ele poderia supor que terminaria seus dias dessa forma,
quando estava preso, por participar do ataque ao Palácio da Justiça?! Coisas da
vida...
(Artigo publicado na página 11,
Internacional, do Correio Popular, em 28 de abril de 1990)
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