Tuesday, March 26, 2013


Peça pregada no M-19
  
Pedro J. Bondaczuk
  
O Movimento 19 de Abril, da Colômbia, fundado em 1979, foi, durante o tempo em que se manteve como grupo guerrilheiro --- condição que perdeu somente há cerca de 50 dias quando depôs armas e se transformou num partido político --- protagonista de situações bastante curiosas. À exceção do ataque ao Palácio da Justiça de Bogotá, em 6 de novembro de 1985, oportunidade em que 100 pessoas morreram, entre elas 11 juízes da Suprema Corte colombiana, suas ações, em geral, causavam mais risos na população do que temores. Certa feita seus membros agiram como Robin Hood, seqüestrando vários caminhões carregados de gêneros alimentícios, que eles distribuíram entre favelados da Capital. Foi, evidentemente, uma festa para os moradores das favelas beneficiadas.

Numa outra ocasião, chegaram a roubar a espada do libertador Simon Bolívar, devolvida posteriormente. Em 27 de fevereiro de 1980, tomaram de assalto a Embaixada da República Dominicana, em Bogotá, durante uma festa, mantendo, na oportunidade, 14 embaixadores como reféns, entre os quais o brasileiro Geraldo Eulálio Nascimento e Silva, até 27 de abril desse ano. Anteontem, o M-19 foi vítima de uma trágica "brincadeira", muito diferente das que costumava fazer nos seus tempos de guerrilha. Seu candidato à presidência da República,  Carlos Pizarro, foi executado em, pleno ar, num vôo entre a Capital e a cidade de Barranquilla, por um pistoleiro que sacou de uma metralhadora (ninguém soube explicar ainda como a arma entrou no Boeing 727 da Avianca) e disparou uma rajada contra o ex-comandante guerrilheiro, o ferindo mortalmente.

Não se pode afirmar que o líder morto não tivesse chances de vitória nas eleições. Apenas vinte dias depois de ter formalizado seu novo "status" como partido, o Movimento 19 de Abril disputou os pleitos municipais do mês passado. E, para surpresa geral, obteve uma expressiva votação em Bogotá. P fato do corpo de Pizarro estar sendo velado ao ar livre, entre as duas casas do Congresso, diz muito de sua popularidade. Como são estranhos os caminhos da vida! Na guerrilha, onde era mais provável que viesse a ser morto em algum confronto com a polícia ou com o Exército, o líder escapou incólume. Foi ser assassinado quando decidiu tentar a busca do poder pelas vias democráticas do voto.

Em compensação, se morresse enquanto guerrilheiro, seu féretro seria às escondidas, talvez não presenciado sequer pela família. Isso se o seu corpo não fosse doado para alguma faculdade de medicina. Agora, toda a Colômbia rende-lhe suas homenagens. Quando ele poderia supor que terminaria seus dias dessa forma, quando estava preso, por participar do ataque ao Palácio da Justiça?! Coisas da vida...

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 28 de abril de 1990)

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