Saturday, November 30, 2013

Equivocam-se os que pensam que a felicidade seja uma coisa concreta, uma espécie de objeto, cuja posse proporcione permanente satisfação e bem-estar. Trata-se, na verdade, como já enfatizei diversas vezes,de um estado de espírito, de uma predisposição da alma para se satisfazer com que se tem, se é ou com onde se está. Conheço pessoas bafejadas pela fortuna, que têm tudo o que alguém possa desejar: bens materiais, saúde, afeto, reconhecimento. Mas, pelo próprio semblante, se percebe que são sumamente infelizes. Conheço, também, indivíduos paupérrimos, doentes, solitários, mas em cujos olhos brilha uma chama de perpétuo encantamento com a vida. Para nossos padrões de “felicidade”, pode parecer, até, paradoxo, mas não é. Os primeiros, são eternos insatisfeitos e sequer sabem o que querem. Os segundos, são agradecidos pelo privilégio maior: o  fato de estarem vivos. Herman Hess afirma, com inegável bom-senso, a respeito: “Felicidade é um como, não um quê”.


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Presente de Natal

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Escravidão infantil


Pedro J. Bondaczuk

A verdadeira civilização, aquela caracterizada pelo respeito absoluto e irrestrito ao ser humano, chegou a pouquíssimas partes do mundo, neste final de milênio, tido como o dos mais notáveis avanços no campo da tecnologia. Mas em termos de relacionamento entre as pessoas, a humanidade, ou pelo menos parte considerável dela, continua na Idade da Pedra, quando a luta pela sobrevivência se caracterizava pelo extremo egoísmo; pelo instinto substituindo a razão.

Os delegados da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, ouviram, certamente estarrecidos, ontem, uma revelação, sobretudo chocante. A de que cerca de 20 milhões de crianças trabalham, como escravas, em parte considerável do Sul asiático.

Embora nestas questões não se deva olhar o lado quantitativo, mas o princípio em si, o número é, simplesmente, assustador. Como ademais também seria se um único menor fosse o escravizado, para produzir riquezas para outro indivíduo, pois esta é uma brutalidade intolerável.

Pode parecer óbvia, esta afirmação, mas há milhões de pessoas que não entendem isso. Tanto, que existe uma quantidade tão grande de pequeninos sendo explorada da maneira mais vil e covarde que se possa conceber.

Mas não é somente o Sul da Ásia que conta com essa aberração. Foi ventilado, na ONU, o caso de lá, porque a denúncia partiu de um desses (já um tanto raros) abnegados idealistas, que ainda existem por todas as partes (poucos, infelizmente, e ficando a cada dia mais escassos), que realmente se preocupam com os semelhantes, que é dessa região.

Escravidão infantil, no entanto, (ostensiva ou disfarçada), existe em várias outras partes. Recentemente, comentamos a respeito da imensa covardia praticada por alguns governos africanos, que transformam meninos, de oito a doze anos, em “soldados”. Melhor qualificaríamos se disséssemos: em “buchas de canhão”.

Em muitas regiões, as crianças são exploradas sexualmente, para satisfazer a tara de degenerados, de seres doentios, que requerem tratamento adequado e não podem estar andando à solta nas ruas (alguns ocupando, até, cargos de destaque na sociedade).

Nas Filipinas, por exemplo, um desses centros de pedofilia chega ao perverso requinte de utilizar computadores para selecionar parceiros sexuais para as crianças. São situações como essa que provocam asco e desalento naqueles que ainda crêem que haja esperança para o mundo. Ela existe, mas é indispensável que se cobre alguma ação de quem de direito, para coibir aberrações tão assustadoras, que mostram que a sociedade do nosso tempo está profundamente doente e carente de rumos.   

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 4 de agosto de 1989)


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Vitória da persistência

Pedro J. Bondaczuk

O folclore de qualquer povo, ou seja, o conjunto de suas festas, comidas típicas, artesanato característico e outras tantas manifestações artísticas e culturais, assim como a vida, é dinâmico. Em alguns casos, mantém-se intacto, geração após geração, sem sofrer a mínima mudança ou adaptação. Em outros, modifica-se, adapta-se aos novos tempos, moderniza-se, embora nem sempre essas alterações sejam para melhor. E há circunstâncias em que até chega a desaparecer, sem deixar vestígios, por falta de interesse das pessoas de conservarem as tradições instituídas e consolidadas pelos ancestrais. Depende de cada povo.

O folguedo “Boi bumbá”, no Estado de Rondônia, “importado” de outras regiões do País, levado para lá pelos migrantes do Norte e do Nordeste, perdeu suas características originais. Mas ao contrário do que aconteceu com outras tantas manifestações folclóricas que foram descaracterizadas e que, sem suas raízes, desapareceram, adquiriu “cor local”, fortaleceu-se com isso e sobreviveu. E não somente isso, mas desenvolveu-se e se consolidou. Hoje, esse folguedo, em Rondônia, pouco lembra seu modelo original. Tornou-se uma vertente nova, porém vigorosa, desse auto do ciclo natalino.

Essa manifestação folclórica tinha tudo para desaparecer de vez naquela parte do País. Durante muitos anos, o folclore, naquele Estado, foi relegado, pelas autoridades, dos seus diversos governos, ao absoluto ostracismo. Passou anos e anos sem receber verbas e nem incentivos de quaisquer espécie, por ser considerado coisa supérflua e sem nenhuma relevância. Pior, o “Boi bumbá” chegou a ser criminalizado e proibido, por ser tido e havido como mero pretexto para confusões e badernas.

Durante boa parte do regime militar de 1964, os principais cargos administrativos do então território federal foram ocupados por políticos que não tinham absolutamente nada a ver com a região. Muitos conheceram Rondônia apenas quando nomeados para suas funções. Por desconhecerem a cultura rondoniense, não poderiam dar (e não lhe deram) o devido valor. Além de não valorizarem, ainda perseguiram os praticantes das manifestações folclóricas típicas locais, entre as quais o “Boi bumbá”, considerado por muito tempo como “festa de bêbados e vagabundos”. Ah, a ignorância, quantos males não causa mundo afora!!! Essa persistente perseguição quase fez o folguedo desaparecer sem deixar vestígios.

Para o escritor Matias Mendes, a retração que o “Boi bumbá” enfrentou, em decorrência de tão feroz oposição, teve um aspecto que, no final das contas, se mostrou sumamente positivo. Ocorre que muitos detalhes que caracterizavam esse folguedo, entre os quais suas típicas toadas e coreografias, foram sendo esquecidos e se perderam no tempo. Quando os grupos que o praticavam retomaram a prática, interrompida por muitos anos tiveram que recorrer a improvisações e adaptações, para substituir o que havia sido esquecido.

O resultado dessas mudanças forçadas foi que o “Boi bumbá”, em Rondônia, adquiriu características próprias, rigorosamente distintas das de outras regiões do País. Hoje, pode-se dizer, sem erro, que esse folguedo já é uma festa folclórica exclusivamente rondoniense, da forma que é apresentada. Guardou pouquíssima coisa de sua matriz original. Embora o enredo tenha se conservado, a maneira de ser narrado, além das cantigas, danças e evoluções, são tipicamente locais. Foi assim que o “Boi bumbá” sobreviveu em Rondônia. Consolidou-se. Adquiriu feições locais. Hoje está mais vivo do que nunca e, reitero, com características rigorosamente próprias. Foi a vitória da persistência.

Uma das mudanças que deram certo foi a de acabar com a limitação de participantes. Não há mais nenhum limite para isso. Participam quantos e quais grupos quiserem, com número ilimitado de membros. Um dos mais populares do Estado, por exemplo, o “Estrela de Rondônia”, conta com 42 figurantes. Mas essa quantidade pode aumentar ou diminuir, de acordo com a vontade ou a necessidade dos seus dirigentes.

Há limitações, somente, para os principais personagens de um “Boi bumbá”, que são os mesmos que caracterizam esse folguedo em qualquer outra parte do País. E estes são, obrigatoriamente: Pai Francisco (Preto Velho), Catirina (mulher do Preto Velho), Cazumbá (Preto Velho companheiro de Pai Francisco), Mãe Maria (mulher de Cazumbá), Bicho Folha (diretor de índios), Doutor da Medicina, Doutor Relâmpago, Doutor da Vida, Padre Curandeiro, Sacristão, Miolo de Boi (pessoa que fica sob a armação da fantasia do boi), Miolo da Burrinha (acompanhante do boi na dança), Vaqueiros auxiliares, índios e batuqueiros. Voltarei ao assunto.

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Friday, November 29, 2013

Um conhecido dito popular garante que “a História é a mestra da vida”. Discordo. Bem que poderia ser, pois se fosse, muitos dos erros cometidos no passado seriam evitados no presente. Estou muito mais propenso a crer nos que afirmam que “a História nunca se repete, a não ser como farsa”. Não se repete mesmo. Mudam-se não só os personagens e cenários, como, e principalmente, as circunstâncias. Na realidade, a vida é que é (ou deveria ser) a mestra (quase nunca ouvida) da História. Os mesmos erros do passado remotíssimo, dos primórdios da civilização, são cometidos hoje em dia, com conseqüências agravadas pela multiplicação da espécie. Passou-se de alguns milhares de indivíduos de então para os mais de 7 bilhões de pessoas atuais. Não há, pois, como deixar de dar razão a Aldous Huxley quando afirma: “Talvez a maior lição da História seja que ninguém aprendeu as lições da História”.


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Acordos precisam ser respeitados

 Pedro J. Bondaczuk

 A questão da produção e uso de armas químicas vem se arrastando praticamente desde o início deste século. O tema, em determinados instantes, desaparece dos olhos da opinião pública, para retorna, tempos depois, com maior força, sem que se chegue a uma decisão sincera a respeito. Tais armamentos foram vastamente empregados no correr da Primeira Guerra Mundial, com resultados simplesmente catastróficos.

Apesar de muitos não saberem disso, esse conflito, mais curto do que a segunda conflagração, produziu, proporcionalmente, muito mais mortes. Mesmo sem haver a bomba atômica e sem o uso intensivo de aviões em combate e em missões de bombardeio. Grande parte desse trágico resultado se deveu ao emprego de armas químicas, especialmente dos chamados gases paralisantes.

Em 1925, vários países selaram um pacto, em Genebra, para eliminar esse tipo de armamento. Essa convenção permanece em vigor e foi renovada em várias oportunidades. Mesmo assim, multiplicam-se denúncias de que tais armas estariam sendo fabricadas em grandes quantidades em diversas partes do mundo.

No ano passado, seu emprego pôde ser comprovado no conflito que se desenvolve no Golfo Pérsico, entre o Irã e o Iraque. Todavia, a comunidade internacional não fez nada de prático para punir os responsáveis por esse crime. Tudo ficou limitado a denúncias, mesmo a imprensa tendo documentado a utilização de substâncias tóxicas, mormente por parte dos iraquianos, contra a população curda.

A controvérsia ressurgiu quando o governo norte-americano acusou, em fins do ano passado, a Líbia de estar produzindo armas químicas. O coronel Muammar Khadafy, desacreditado internacionalmente por suas atitudes radicais, veio a público para desmentir a denúncia. Disse que a usina, que os EUA disseram que se tratava de uma fábrica de armamentos, era, apenas, uma indústria de medicamentos.

É claro que ninguém acreditou no ditador. Aliás, todos os países que sabidamente produzem armas químicas geralmente juram inocência. Mesmo que haja provas irrefutáveis de que estejam mentindo. O relacionamento sadio entre povos não se faz com burlas e falsidades. Estas acabam por desacreditar seus líderes e tornar a convivência caracterizada por tensões e por conflitos.

Por isso, estamos de acordo com a proposta norte-americana, de extensão de poderes às Nações Unidas, para que a entidade mundial possa assumir um papel fiscalizador na questão. E que o país que for pilhado em infração, seja passivo de severas sanções internacionais, para que esse meio cruel e estúpido de eliminar vidas humanas (aliás, todos o são), seja banido para sempre do Planeta.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 3 de março de 1989).


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O eclético Boi bumbá

Pedro J. Bondaczuk

O Brasil, em termos de cultura, ainda é um país à espera de ser “descoberto” pelos próprios brasileiros, a despeito dos avanços dos meios de comunicação e de transportes. Os habitantes do Norte, por exemplo, pouco (ou nada) conhecem dos comportamentos, costumes, manifestações populares e folguedos folclóricos típicos do Sul e vice-versa. Desconhecem, um do outro, lendas, comidas típicas, artesanato e outras tantas coisas características de cada região. Pouca gente, por exemplo, já assistiu algum dia a uma apresentação (ou pelo menos tomou conhecimento dela) do “Boi Bumbá” de Rondônia. Às vezes, nem mesmo moradores daquela parte do país tiveram esse privilégio.

De acordo com registros históricos (raros), esse folguedo surgiu, ali, há 93 anos, em 1920, quando o Estado ainda se chamava Território do Guaporé e pertencia ao Mato Grosso, antes que este fosse desmembrado nas partes Norte e Sul. Apesar de suas profundas raízes populares, esse festejo popular já esteve a pique de desaparecer, em todo o Brasil, em virtude de perseguições da polícia e, sobretudo, do preconceito cultural dos que não o entendem e, por isso, não o apreciam ou dos que sequer o conhecem e acham que se trata de “coisa de desocupados”. Mas sua origem no País é antiga, antiqüíssima, perde-se no tempo. É, em essência, um auto ou drama pastoril ligado à forma de teatro representativa das festas de Natal.

Recebe as mais diversas denominações País afora. É conhecido, por exemplo, no Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul pelo nome de “Bumba meu boi”. Todavia, mesmo nestes Estados, dependendo da região em que é encenado, recebe outros tantos “rótulos”. Por exemplo, no Maranhão e no Piauí, é conhecido, em algumas cidades, como “Boi de Reis”, por ser festejado no “Dia de Reis”, ou seja, 6 de janeiro de cada ano. No Ceará recebe diversos outros nomes, como “Reisado cearense”, “Boi de reis”, e “Reis boi surubim”. Já no Rio Grande do Norte, seus praticantes conhecem-no como “Boi calemba”, “Boi calumba” e “Rei do boi”.

Essa variedade de denominações ocorre, também, em outros Estados (reitero, em quase todos do País). Assim, no Pernambuco e Paraíba é chamado ora de “Boi”, ora de “Cavalo marinho”. No Rio de Janeiro é chamado de “Reis de boi”. No Rio Grande do Sul é “Boi bumbá” e “Boizinho”; no Amazonas, “Boi bumbá”; no Espírito Santo, “Bumba de Reis” e no Paraná e Santa Catarina, “Boi de mamão”.

O folguedo é longuíssimo, atingindo, não raro, até oito horas de duração. Conta com muitos personagens, mas, basicamente, eles são de três tipos: fantásticos, animais e humanos, todos devidamente caracterizados, alguns com fantasias riquíssimas e suntuosas (dependendo, óbvio, da região e da sua condição econômica). A representação envolve cantos e danças, como os enredos das escolas de samba do Carnaval, e é marcada ao som da zabumba, do ganzá e do pandeiro, este último tocado pela “cantadora”, que canta loas e toadas alusivas ao tema. Nos intervalos entre um ato e outro, autênticos acrobatas desenvolvem coreografias de intensa complexidade e beleza plástica.

Entre os personagens do “Bumba meu boi”, nome pelo qual o folguedo é mais conhecido, a despeito das tantas outras denominações, se destacam: Entre os fantásticos - Jaraguá, Mané Pequenino, Morto Carregando o Vivo, o Diabo, Babau e Caipora; entre os animais – boi, ema, pica-pau, cobra, cavalo marinho, e burrinha e entre os humanos – Capitão (o dono da festa), Capitão do Mato, Zebelinha, Sacristão, Mané Gostoso, Queixoso, Doutor Bastião, Mestre do Tear, Valentão, Mateus, Pastorinha, Romeiro, Fiscal, Padre, Arlequim e Engenheiro.

A respeito do “Boi bumbá” de Rondônia, sobre o qual me proponho a esboçar, nos próximos dias, algumas considerações especiais (pelo fato de, ali, o folguedo haver adquirido, com o tempo, algumas características próprias), sabe-se que essa manifestação folclórica foi levada para esse Estado por migrantes do Norte e do Nordeste, que foram para lá quando da construção da lendária ferrovia “Madeira-Mamoré”, a tal da qual se diz que cada dormente equivale a um operário morto na tarefa de construí-la. As primeiras apresentações, que datam de 1920, ocorreram na localidade de Santo Antônio, a sete quilômetros, por via fluvial, da capital, Porto Velho.

De acordo com depoimento do escritor Matias Mendes (contestado por autoridades da época), o “Boi bumbá” foi perseguido, em Rondônia, em duas fases distintas. Na primeira, por dirigentes civis do então território federal de Guaporé, que consideravam a festa como mero pretexto para bebedeiras, arruaças e badernas. Não era nada disso, óbvio. Mas... Está bem, em alguns casos, eram, de fato.


O folguedo, naqueles primórdios, tinha algumas características da “Folia de Reis”, muito difundida no Leste do País. Seus integrantes saíam às ruas, mascarados, para brincar. E quando grupos rivais se cruzavam, as pancadarias (algumas até com várias mortes) eram inevitáveis. Passada essa fase inicial de perseguição, que o “Boi bumbá” resistiu tenazmente a despeito de ser proibido, o folguedo enfrentou uma outra oposição, ainda mais renhida, radical e difícil de ser superada, que foi a etapa do preconceito cultural, que quase o leva ao desaparecimento. Mas, disso, tratarei em outra oportunidade.

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Thursday, November 28, 2013

Há quem (secretamente) tema a verdade, por receio de descobrir coisas a próprio respeito que o envergonhem e diminuam. Tolice! Apenas conhecendo, em profundidade, o que somos e onde podemos chegar, teremos condições de promover nossa evolução. Não podemos agir como uma criança, que tem medo da escuridão. No caso dela, o temor até se explica: é instintivo. Mas temermos a luz, que exponha o que, de fato, somos, é atitude tola, senão trágica. Temos que nos aceitar, mas agir concretamente no sentido de contínua melhoria. E esta só nos pode ser proporcionada pelo conhecimento, informação e saber. É para isso que Deus nos dotou de razão. Concedeu-nos, também, todavia, o livre-arbítrio. Cabe-nos, pois, buscar ou fugir da luz. Já na Antigüidade grega Platão constatava, com grande lucidez: “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.

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Presente de Natal

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Talhado pelo destino


 Pedro J. Bondaczuk


O candidato apontado por muitos observadores como o favorito para vencer o pleito presidencial de hoje, na Coréia do Sul, Kim-Dae Jung, tem sido hostilizado pelos militares desde o final da década passada, quando o país era presidido ainda pelo todopoderoso Park Chung Hee, que acabaria sendo assassinado, em 27 de outubro de 1979, por Kim Jae-Kyu, o chefe da KCIA, o serviço secreto sul-coreano.

Sua vida, nos últimos anos, tem sido uma sucessão de prisões, interrogatórios e exílios que pareciam, até pouco tempo atrás, não ter mais fim. Aliás, somente em julho passado, quando o presidente Choo-Doo Hwan, finalmente, concordou que a sua sucessão se desse mediante eleições diretas, foi que a prisão domiciliar a que estava submetido foi suspensa.

Por isso, não são de se estranhar os rumores de que, caso vença o pleito de hoje, os militares darão novo golpe de Estado, para impedir a sua posse. Uma série de circunstâncias, no mínimo curiosas, cercam a carreira desse político, natural de Kwangju, a Segunda maior cidade do país.

Em 1973, por exemplo, quando se achava exilado no Japão, Dae-Jung foi seqüestrado pela KCIA, causando um incidente internacional com o governo japonês. Levado para Seul, foi acusado de um desses delitos vagos de que os ditadores lançam mão para se livrar de opositores incômodos e condenado, em 1976, a cinco anos de prisão.

A sorte, no entanto, parecia estar do seu lado. Em 1978, ele foi incluído numa anistia geral, que beneficiou a mais de 5 mil prisioneiros políticos. Sua liberdade, todavia, durou pouco. Menos de dois anos depois, lá estava ele sendo levado, mais uma vez, a julgamento. Desta feita a acusação era gravíssima, a de sedição, responsabilizado que foi de Ter insuflado estudantes para que promovessem o motim que ocorreu em sua cidade natal e que redundou num autêntico banho de sangue.

Kim-Dae Jung foi considerado culpado e condenado à morte. Quando tudo parecia indicar que a carreira, finalmente, havia chegado ao fim, junto com a sua vida, eis que, mais uma vez, acabou sendo beneficiado com a pressão internacional a seu favor.

Em 1981, a sentença fatal foi transformada em prisão perpétua e, em 1982, obteve licença do governo para se exilar nos Estados Unidos, onde permaneceu por três anos. Foi em 1985 que Choo-Doo Hwan autorizou o seu regresso à Coréia do Sul. Mas logo no desembarque, teve que prosseguir sua via crucis de punições ilegais, arbitrárias e injustificadas.

Dae-Jung foi, novamente, detido, desta feita na própria residência, de onde pôde sair só em julho passado. E direto para uma candidatura presidencial. Daí, quem sabe, pode ir parar na Casa Azul, a sede de governo sul-coreana ou enfrentar, novamente, a masmorra.

Caso vença, afinal, os militares do seu país estarão passando pela grande prova de sinceridade aos olhos do mundo. Como vão se comportar? É um mistério!

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 16 de dezembro de 1987).


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Mês do Folclore

Pedro J. Bondaczuk

Agosto é tido e havido, pelos supersticiosos, como um “mês de azar”. E todos nós temos (uns mais e outros menos), nossas “superstiçõezinhas” (muitos têm “superstiçõezonas”), embora neguemos enfaticamente sempre que questionados. Conscientemente, até que não acreditamos nessas crendices, mas inconscientemente, lá no fundo de nossa psique, cremos nessas coisas absurdas e irracionais. Por que? Sabe-se lá! É possível que se trate de algum resquício do homem primitivo, ancestral de todos os viventes, incrustado em nossos genes. É a tal da memória coletiva, identificada e descrita pelo psicanalista Carl Gustav Jung.

Os políticos (pelo menos os brasileiros, mas não sei se também os de outros países) acreditam, com base em algumas coincidências (coincidências?), que os dois meses do ano, iniciados pela letra “a”, seriam “azarados”. Estão, nesse caso, óbvio, além de agosto, também abril. Os raros que admitem ter essa superstição, apontam uma série de episódios ocorridos nesses dois períodos como justificativa para essa crença irracional. Esquecem-se que, no restante do ano, fatos não raro muito mais dramáticos e contundentes acontecem a todo o momento. Porém, é impossível convencer os crédulos. E estes, claro, abundam. Há os que negam serem supersticiosos de forma até pitoresca. Dizem, quando questionados: “Supersticioso, eu?!! Não, não sou! Isto dá um azar danado!!!”. Ora, ora, ora...

Os crédulos citam, por exemplo, que foi num mês de abril (num dia 7 do ano de 1834), que o primeiro imperador do Brasil, Dom Pedro I, abdicou do trono em favor do filho, menor de idade, deflagrando uma crise institucional de grandes proporções, que só acabou seis anos depois, em 1840, com a antecipação da maioridade do seu sucessor, que legalmente deveria se dar apenas em 1844, quando tivesse 18 anos, mas que foi antecipada tão logo completou 14 anos. Claro que isso poderia ocorrer em qualquer mês. Contudo... aconteceu em abril.

Mas os crédulos não se restringem a esse fato. Citam a execução de Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, executado na forca em um mês de abril (no dia 21 do ano de 1792). E vão mais longe em sua paranóia. Mencionam a morte do último presidente eleito pelo voto indireto no País, Tancredo Neves, ocorrida na mesma data, mas de 1984, que quase deflagrou uma crise institucional de proporções imprevisíveis, dando pretexto aos militares de prolongarem a ditadura, em vez de devolverem o poder aos civis. Isso só não aconteceu porque o general João Batista Figueiredo não insistiu nesse ponto, embora tenha se recusado a passar a faixa presidencial ao vice, José Sarney.

Considero tremenda bobagem rotular abril de “mês azarado” apenas por esses três fatos isolados. Enfim... o supersticioso contumaz sempre encontra argumentos para sustentar suas superstições. Ocorrências muitíssimo piores se verificaram em outros meses dos vários anos, mas... Deixa pra lá!!! Quanto a agosto, é considerado, entre outras coisas, como o “mês do cachorro louco”. Como se a hidrofobia dependesse de períodos específicos para se manifestar. Claro que não depende. Mas vá convencer os supersticiosos!!! Não tem jeito.

Quanto ao “azar” de agosto, na política, são citados, basicamente, um suicídio e uma renúncia de presidente para justificar a prevenção em relação a esse período. Além desses dois fatos, desconheço qualquer outro acontecimento que justifique minimamente a pecha impingida a esse mês. Há quem mencione as destruições de Hiroshima e Nagasaki, pelas primeiras bombas atômicas lançadas sobre populações civis indefesas na história, ocorridas nos dias 6 e 8 de agosto de 1945, respectivamente, mas esses fatos ocorreram no Japão. Ademais, foi nessa mesma ocasião, no dia 12, que aconteceu a rendição japonesa, que pôs fim, em definitivo, à Segunda Guerra Mundial, que tem que ser considerado como evento positivo.

Getúlio Vargas suicidou-se na madrugada de 24 de agosto de 1954, com um tiro no peito, em seus aposentos no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, no auge de uma crise institucional que fatalmente redundaria na sua deposição, caso não tivesse dado cabo da vida. Sua morte agravou uma situação que já era grave por si só. Ele foi sucedido por três presidentes diferentes, em meio a terríveis tensões,  instabilidade que só teve fim com a eleição de Juscelino Kubitschek (que quase foi impedido pelos militares de assumir). Mas crise toda teve algo a ver com o tal do “mês do azar”? Absolutamente não! Foi mera coincidência ocorrer nesse período.


O mesmo se pode falar da renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, que ele atribuiu à ação de “forças ocultas”, que nunca identificou quais eram. Foram duas situações críticas, sem dúvida. Mas é mister ter em conta que o Brasil, em termos políticos, é, e sempre foi, “viciado em crises”. Ou não é? Basta ler atentamente nossa História que a conclusão saltará à vista do mais distraído dos distraídos. E nenhuma delas (à exceção das que citei) teve nada a ver com os meses iniciados com a letra “a”, tidos e havidos como azarados. Essas coisas também podem ser catalogadas como “folclore”. São crenças, crendices e superstições arraigadas na memória coletiva do brasileiro. Não por acaso (ou será que foi casual?) agosto foi escolhido como o “Mês do Folclore” no Brasil, como poderia ser, também, convenhamos, o pseudo-azarado abril.

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Wednesday, November 27, 2013

Não raro nos rebelamos com o papel que nos atribuem em determinados empreendimentos. Achamos que devemos ser os atores principais, não meros coadjuvantes. Muitos, para não serem “usados”, optam por nada fazer. Tornam-se inúteis e omissos. Pior, por se julgarem injustiçados, desmancham-se em murmúrios e lamentações e parecem sentir prazer no sofrimento que se auto-infligem. O fato de não desempenharmos o principal papel em determinados empreendimentos não nos diminui, se cumprirmos a tarefa que nos for designada com entusiasmo e competência. Por defeito de um simples prego, um edifício inteiro pode ruir. George Bernard Shaw escreve, no livro “Man and superman”: “Esta é a verdadeira alegria, o ser usado com um propósito reconhecido como poderoso, ser uma força da natureza e não um tolo, febril, egoísta e pequeno, tomado de males e padecimentos, queixando-se de que o mundo não se esforça para fazê-lo feliz”

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Presente de Natal

Dê às pessoas que ama e admira o melhor dos presentes neste Natal: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas o ano todo, mas por toda a vida.

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: nenem138@gmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

Com o que presentear:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livrariaEm qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.

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Uma causa para os rebeldes


Pedro J. Bondaczuk


A prolongada crise econômica que o País atravessa, aumentando o grau de miserabilidade da população e acentuando os desníveis de renda – que já não eram baixos – as sucessivas denúncias de corrupção em todos os níveis da vida pública sem que haja a competente punição dos denunciados e as múltiplas frustrações diante das promessas dos políticos feitas em palanques e posteriormente não cumpridas estão produzindo efeitos extremamente danosos nos brasileiros.

Há, por aí, e isso é facilmente detectável, um clima generalizado de pessimismo, de desencanto e até mesmo de desalento, especialmente entre os mais jovens. Percebe-se um perigoso conformismo com a situação que aí está e uma ausência daqueles ideais que moveram toda uma geração nos anos 60.

De repente, o patriotismo, galardão ostentado com orgulho por uma juventude rebelde, embora tal rebeldia não tivesse uma causa definida, ou pelo menos bem-delineada, passou a ser sinônimo de “caretice”, ou seja, questão de galhofa e ridículo.

Um individualismo feroz e sem sentido para um país jovem substituiu as grandes ações coletivas, as manifestações de protesto, os movimentos subterrâneos, a luta popular por uma sociedade mais justa, próspera e humana.

Multidões já não erguem as grandes bandeiras que empolgaram toda uma geração, como a do fim da ditadura, a da abolição dos atos institucionais, a da volta dos exilados, a da anistia, a das Diretas-já e outras tantas que caracterizaram a luta dos cidadãos pelo seu direito de cidadania.

O cientista político Emir Sader observou, num artigo publicado em junho de 1992 no caderno “Idéias” do “Jornal do Brasil”: “Muitos dos próprios protagonistas dos anos 60 olham com saudade para os tempos passados, mas renegam ideais pelos quais lutaram, em nome da idade da razão, da maturidade, do bom-senso e até do mercado. Se permanece o interesse pelas trajetórias individuais de quem teve a sorte de fazer 20 anos na década de 60, não há o paralelo correspondente da preocupação com os valores que animaram grande parte daquela geração”.

Onde foram parar os grandes sonhos de toda uma vida? Onde estão os valores éticos defendidos com destemor? Foram substituídos pelo comodismo? Foram trocados por posições? Foram abastardados? O pior de tudo é que aqueles idealistas da década de 60 renegaram por completo seus ideais a ponto de sequer passá-los a seus filhos. Daí o cínico desalento de hoje, o individualismo inconseqüente, a busca por meras miragens, estas sim “caretices”.

Rebeldes existem também nos dias atuais e até em maior número do que há 30 anos. Mas sua rebeldia se trata apenas de mera auto-afirmação, de uma batalha sem causa, destrutiva, ou, no mínimo, meramente catatônica.

Caracteriza-se pelo ceticismo, pelo imobilismo, pela amargura, pelo isolamento. Bandeiras, todavia, não faltam para serem erguidas. Pelo contrário, existem em maior quantidade do que nos anos 60. A maior delas é a construção de um Brasil diferente, onde as crianças sejam encaradas como o grande patrimônio nacional e não meros estorvos, abandonadas pelas ruas, alvos de impiedosas caçadas. Eis, portanto, uma grande causa para os que se rebelam contra o que aí está.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de julho de 1992).


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Cultivando as raízes

Pedro J. Bondaczuk

O intenso apego que tenho pelo meu país, pela sua cultura e por sua gente fez com que eu perdesse algumas oportunidades de ir estudar no Exterior. Não suportaria uma temporada prolongada longe dos amigos, do futebol, da nossa rica e peculiar literatura e de tudo o que gosto.

Confesso que não saberia viver como imigrante, mesmo que legalizado, nos Estados Unidos, França, Portugal ou em qualquer outra parte, embora saiba que a experiência e os conhecimentos que poderia obter seriam inestimáveis. Em outra terra qualquer, por melhor que fosse meu padrão de vida – o que é contestável – eu me sentiria sempre um intruso, um sapo de fora, um "estranho no ninho". Por isso, toda a vez que me surge alguma chance de viajar para o Exterior, procuro negociar para que esta viagem seja trocada por outra, para qualquer parte deste País: Nordeste, Sul, Norte, etc., não importa. E não me arrependo das oportunidades que perdi para estudar no Primeiro Mundo.

Pablo Neruda, em seu livro autobiográfico "Confesso que vivi", opinou: "Acho que o homem deve viver em sua pátria e creio que o desarraigamento dos seres humanos é uma frustração que de uma maneira ou outra entorpece a claridade da alma. Eu não posso viver senão em minha própria terra. Não posso viver sem pôr os pés, as mãos e o ouvido nela, sem sentir a circulação de suas águas e de suas sombras, sem sentir como as minhas raízes buscam em seu barro pegajoso as substâncias maternas". Eu também me sinto assim. Apesar das minhas feições eslavas, sou brasileiro, brasileiríssimo na minha essência, nos meus gostos, costumes e comportamentos. Não sobreviveria longe daqui.

Entre outras coisas, admiro, estudo e procuro consumir o nosso rico folclore, a chamada "cultura popular". Nas várias viagens que fiz, aos recantos mais distantes deste País, o que mais me impressionou não foram exatamente as paisagens, sem dúvida maravilhosas e que encantam os turistas do mundo todo pelo seu exotismo. Gosto de viajar para conhecer gente.

Tenho feito amizades preciosas, com pessoas simples, sem instrução, semi-analfabetas e sem posses, algumas travando desesperada luta pela sobrevivência, mas com um coração enorme. E com imensa alegria de viver. Como são fascinantes! Que calor humano transmitem em sua rústica simplicidade! Tenho assistido a manifestações folclóricas centenárias, transmitidas e conservadas intactas através de gerações, como as congadas, as reisadas, os boi-bumbás etc.

A rigor, sequer é necessário sair de Campinas para ter contato com essa riquíssima cultura popular. Quando morava, há alguns anos, em uma república de rapazes no distrito de Barão Geraldo, a "Saudosa Maloca" – à qual já me referi em várias crônicas – vez por outra promovia em nossa casa sessões de catira.

A organização ficava a cargo de um vizinho, Abrahão, mineiro com quem tive enorme amizade pela sua admiração pela minha terra natal, o Rio Grande do Sul. Tratava-se de um caminhoneiro, que me abastecia com o bom chimarrão sempre que ía para o meu Estado. Era, entre outras coisas, um catireiro de primeiríssima.

Participavam dessas rodas, além dele, do seu filho Olair e de suas filhas Lia, Alice e Geraldine, um senhor idoso do local, de quem conheço somente o primeiro nome (João), e dois violeiros, que até hoje não sei como se chamavam. Se me disseram, não consegui memorizar. Catiras, para quem não sabe, é uma dança do folclore brasileiro cuja origem é híbrida. Ou seja, tem influências indígenas, africanas e européias. Seu ritmo musical é marcado por batidas dos pés e por palmas dos dançarinos. É conhecida, em muitas regiões, como “cateretê”.

Trata-se de manifestação folclórica ainda muito cultivada no interior de São Paulo, embora, infelizmente, se torne cada vez mais rara, por falta de adesão das novas gerações, por falta de conhecimento a seu respeito. Uma pena. Fiquei sabendo que em outras partes do País, como os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e norte do Paraná, a catira ainda é muito comum e bastante difundida.Só não a aprecia quem não a conheço. Eu conheço e aprecio demais.

Meus companheiros de república sempre inventavam algum "compromisso" para não assistir às sessões de catira que eu promovia na “Saudosa Maloca”. Na verdade, tinham era preconceito contra essa música de raiz que sequer conheciam. Procuravam passar a impressão de uma "modernidade" que nem ao menos tinham. Eram tão “caipiras” (se não mais) quanto eu, que pelo menos nunca escondi essa minha “caipirice”.

O Zé Formiga vivia cantarolando sucessos do Roberto Carlos. O Jarbas tinha discos e mais discos românticos, principalmente de Altemar Dutra. O Catarina apreciava apenas a Jovem Guarda. O Zito, como bom baiano, era adepto do samba-de-roda e o Gerson Carioca o era do sambão mesmo. Eu era, pois, motivo de gozações por este meu gosto.

E daí? Não vejo incompatibilidade alguma entre a música clássica, o jazz, o tradicional "pop" norte-americano de George e Ira Gershwin e Cole Porter – as minhas grandes preferências – e o som de raiz, rural, brasileiríssimo do qual também sempre gostei.

Os maiores compositores nacionais bebem nessa fonte. Alguns estrangeiros também, alguns dos quais recorrendo, inclusive, ao plágio. Por que também não posso? O engraçado é que na república eu não era o único "caipira", como era chamado. Todos éramos bons interioranos: do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de Santa Catarina e da Bahia. Meus colegas não sabem o que perderam...E eu, não só não renego, como cultivo, com o maior carinho e o máximo desvelo, minhas raízes. Gosto de ser brasileiro! Nasci assim e morrerei dessa forma um dia.


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