Fruto da imprudência
Pedro
J. Bondaczuk
O garoto norte-americano Sean Smith, de apenas 10 anos de
idade, de Forth Lauderdale, na Flórida, está vivendo um drama terrível: o de
haver se tornado (posto que involuntariamente) o assassino da própria irmã, Erin,
de 8 anos.
Brincando com o revólver do pai,
que estava carregado (e a criança não sabia), o jovem disparou a arma,
atingindo mortalmente a menina. Ao vê-la ferida, procurou por socorro. Ligou,
incontinenti, para a polícia, para pedir uma ambulância, mantendo um diálogo
dramático, terrível, doloroso, com a funcionária que o atendeu. Quando o
socorro finalmente chegou, já era muito tarde. A pequena Erin havia morrido e
Sean sofrido um abalo nervoso.
Dramas desse tipo, frise-se,
ocorrem a todo o momento em nosso país, mesmo a nossa legislação não sendo tão
relaxada, no que diz respeito a armas de fogo, como é a norte-americana. Nos
Estados Unidos, em geral após algum atentado político, como o que vitimou John
Kennedy, em novembro de 1963 ou o que quase custou a vida a Ronald Reagan, em
março de 1981, a imprensa faz grande estardalhaço por alguns dias, pedindo
maior rigor das autoridades nesse aspecto.
Depois, a poeira assenta e tudo
volta a ser como sempre foi. Ou seja, revólveres e espingardas, dos mais
diversos calibres e graus de sofisticação, continuam sendo vendidos por
reembolso postal e qualquer um pode adquirir esses nefastos equipamentos.
Entre nós, sempre que se
deflagram campanhas (em geral histéricas) contra supostos aumentos da
criminalidade, as pessoas tendem a se armar. Os policiais mais experientes, com
muitos anos de janela, em geral, quando têm acesso aos meios de comunicação,
ensinam que este procedimento é completamente errado.
Além de ensejar freqüentes
acidentes domésticos, como o que envolveu o garotinho Sean, nos Estados Unidos,
o que as pessoas que adquirem armas conseguem é exatamente o oposto do que
pretendiam. Ou seja, ao invés de espantar assaltantes, atraem-nos, já que estes
têm predileção especial por roubar armas.
Ademais, o cidadão comum não é
adestrado no uso de tais equipamentos. Está sujeito, portanto, a ser morto ou
gravemente ferido, o que talvez não acontecesse, durante algum eventual
assalto, se ele não estivesse armado.
De quem é a culpa, no caso da
morte da menininha Erin? De Sean? Em absoluto! O menino foi tão vítima da
fatalidade quanto sua irmãzinha. Provavelmente, ele jamais vai conseguir se
livrar do trauma dessa dolorosa tragédia. A responsabilidade principal deve ser
atribuída ao pai, que vivendo a paranóia da segurança, acabou atuando,
imprudentemente, de forma exatamente inversa.
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 8
de junho de 1989).
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