Tuesday, November 12, 2013

Fruto da imprudência


Pedro J. Bondaczuk



O garoto norte-americano Sean Smith, de apenas 10 anos de idade, de Forth Lauderdale, na Flórida, está vivendo um drama terrível: o de haver se tornado (posto que involuntariamente) o assassino da própria irmã, Erin, de 8 anos.

Brincando com o revólver do pai, que estava carregado (e a criança não sabia), o jovem disparou a arma, atingindo mortalmente a menina. Ao vê-la ferida, procurou por socorro. Ligou, incontinenti, para a polícia, para pedir uma ambulância, mantendo um diálogo dramático, terrível, doloroso, com a funcionária que o atendeu. Quando o socorro finalmente chegou, já era muito tarde. A pequena Erin havia morrido e Sean sofrido um abalo nervoso.

Dramas desse tipo, frise-se, ocorrem a todo o momento em nosso país, mesmo a nossa legislação não sendo tão relaxada, no que diz respeito a armas de fogo, como é a norte-americana. Nos Estados Unidos, em geral após algum atentado político, como o que vitimou John Kennedy, em novembro de 1963 ou o que quase custou a vida a Ronald Reagan, em março de 1981, a imprensa faz grande estardalhaço por alguns dias, pedindo maior rigor das autoridades nesse aspecto.

Depois, a poeira assenta e tudo volta a ser como sempre foi. Ou seja, revólveres e espingardas, dos mais diversos calibres e graus de sofisticação, continuam sendo vendidos por reembolso postal e qualquer um pode adquirir esses nefastos equipamentos.

Entre nós, sempre que se deflagram campanhas (em geral histéricas) contra supostos aumentos da criminalidade, as pessoas tendem a se armar. Os policiais mais experientes, com muitos anos de janela, em geral, quando têm acesso aos meios de comunicação, ensinam que este procedimento é completamente errado.

Além de ensejar freqüentes acidentes domésticos, como o que envolveu o garotinho Sean, nos Estados Unidos, o que as pessoas que adquirem armas conseguem é exatamente o oposto do que pretendiam. Ou seja, ao invés de espantar assaltantes, atraem-nos, já que estes têm predileção especial por roubar armas.

Ademais, o cidadão comum não é adestrado no uso de tais equipamentos. Está sujeito, portanto, a ser morto ou gravemente ferido, o que talvez não acontecesse, durante algum eventual assalto, se ele não estivesse armado.

De quem é a culpa, no caso da morte da menininha Erin? De Sean? Em absoluto! O menino foi tão vítima da fatalidade quanto sua irmãzinha. Provavelmente, ele jamais vai conseguir se livrar do trauma dessa dolorosa tragédia. A responsabilidade principal deve ser atribuída ao pai, que vivendo a paranóia da segurança, acabou atuando, imprudentemente, de forma exatamente inversa.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 8 de junho de 1989).


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk    

No comments: