Heróis
são frutos de ocasião
Pedro J. Bondaczuk
Os heróis não são pessoas predestinadas, nem nascem
com alguma marca especial que os distinga dos demais. São indivíduos comuns,
que levam vidas iguais a todos, até que alguma circunstância extrema os force à
ação. São, portanto, frutos de ocasião.
No dia 19 de abril de 1943, sofrendo os horrores do
maior genocídio que a espécie humana teve conhecimento, milhares de judeus
poloneses estavam cercados em um gueto na arrasada Varsóvia. A opção para esses
homens, mulheres e crianças não era nem um pouco justa. A escolha que se lhes
apresentava era: morrer passivamente nas ruínas da capital polonesa sitiada ou
serem enviados aos campos de concentração de Auschwitz, Treblinka e outros, as
mais insanas criações de uma mente doentia que se possa imaginar, para serem
eliminados em câmaras de gases.
Foi aí que despontaram os heróis, desta terrível
alternativa. Eles escolheram uma terceira opção, a que não lhes fora oferecida
pelos seus verdugos: optaram por morrer lutando, com dignidade e com coragem,
como homens e não como gado em um matadouro.
Dessa forma, sete mil pessoas, seres humanos como os
seus assassinos, tombaram defendendo suas vidas e a dos parentes e amigos, no
episódio que passou para a história com o nome de “Levante do gueto de
Varsóvia”. Claro que os combatentes, tendo por armas, na maior parte dos casos,
as próprias mãos, macerados por meses, senão anos, de privações de todos os
tipos e sofrimentos inenarráveis, entre os quais havia muitas crianças, meninos
de no máximo 14 anos de idade, não poderiam resistira por muito tempo à mais
poderosa máquina de guerra que, até então, havia sido engendrada no mundo.
O gueto foi varrido pelo poder de fogo do
adversário. Mais de 50 mil pessoas foram levadas para os campos de
concentração, para uma morte ignóbil. Mas esse punhado de heróis, surgidos na
ocasião, pessoas comuns como nós,
preferiu morrer com dignidade, lutando pelo maior bem que o homem tem
direito e que lhe é sonegado pelos tiranos: sua liberdade. .
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de abril de 1984)
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