Thursday, November 28, 2013

Talhado pelo destino


 Pedro J. Bondaczuk


O candidato apontado por muitos observadores como o favorito para vencer o pleito presidencial de hoje, na Coréia do Sul, Kim-Dae Jung, tem sido hostilizado pelos militares desde o final da década passada, quando o país era presidido ainda pelo todopoderoso Park Chung Hee, que acabaria sendo assassinado, em 27 de outubro de 1979, por Kim Jae-Kyu, o chefe da KCIA, o serviço secreto sul-coreano.

Sua vida, nos últimos anos, tem sido uma sucessão de prisões, interrogatórios e exílios que pareciam, até pouco tempo atrás, não ter mais fim. Aliás, somente em julho passado, quando o presidente Choo-Doo Hwan, finalmente, concordou que a sua sucessão se desse mediante eleições diretas, foi que a prisão domiciliar a que estava submetido foi suspensa.

Por isso, não são de se estranhar os rumores de que, caso vença o pleito de hoje, os militares darão novo golpe de Estado, para impedir a sua posse. Uma série de circunstâncias, no mínimo curiosas, cercam a carreira desse político, natural de Kwangju, a Segunda maior cidade do país.

Em 1973, por exemplo, quando se achava exilado no Japão, Dae-Jung foi seqüestrado pela KCIA, causando um incidente internacional com o governo japonês. Levado para Seul, foi acusado de um desses delitos vagos de que os ditadores lançam mão para se livrar de opositores incômodos e condenado, em 1976, a cinco anos de prisão.

A sorte, no entanto, parecia estar do seu lado. Em 1978, ele foi incluído numa anistia geral, que beneficiou a mais de 5 mil prisioneiros políticos. Sua liberdade, todavia, durou pouco. Menos de dois anos depois, lá estava ele sendo levado, mais uma vez, a julgamento. Desta feita a acusação era gravíssima, a de sedição, responsabilizado que foi de Ter insuflado estudantes para que promovessem o motim que ocorreu em sua cidade natal e que redundou num autêntico banho de sangue.

Kim-Dae Jung foi considerado culpado e condenado à morte. Quando tudo parecia indicar que a carreira, finalmente, havia chegado ao fim, junto com a sua vida, eis que, mais uma vez, acabou sendo beneficiado com a pressão internacional a seu favor.

Em 1981, a sentença fatal foi transformada em prisão perpétua e, em 1982, obteve licença do governo para se exilar nos Estados Unidos, onde permaneceu por três anos. Foi em 1985 que Choo-Doo Hwan autorizou o seu regresso à Coréia do Sul. Mas logo no desembarque, teve que prosseguir sua via crucis de punições ilegais, arbitrárias e injustificadas.

Dae-Jung foi, novamente, detido, desta feita na própria residência, de onde pôde sair só em julho passado. E direto para uma candidatura presidencial. Daí, quem sabe, pode ir parar na Casa Azul, a sede de governo sul-coreana ou enfrentar, novamente, a masmorra.

Caso vença, afinal, os militares do seu país estarão passando pela grande prova de sinceridade aos olhos do mundo. Como vão se comportar? É um mistério!

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 16 de dezembro de 1987).


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