Talhado pelo destino
Pedro J. Bondaczuk
O candidato apontado por muitos observadores como o
favorito para vencer o pleito presidencial de hoje, na Coréia do Sul, Kim-Dae
Jung, tem sido hostilizado pelos militares desde o final da década passada,
quando o país era presidido ainda pelo todopoderoso Park Chung Hee, que
acabaria sendo assassinado, em 27 de outubro de 1979, por Kim Jae-Kyu, o chefe
da KCIA, o serviço secreto sul-coreano.
Sua vida, nos últimos anos, tem sido uma sucessão de
prisões, interrogatórios e exílios que pareciam, até pouco tempo atrás, não ter
mais fim. Aliás, somente em julho passado, quando o presidente Choo-Doo Hwan,
finalmente, concordou que a sua sucessão se desse mediante eleições diretas,
foi que a prisão domiciliar a que estava submetido foi suspensa.
Por isso, não são de se estranhar os rumores de que,
caso vença o pleito de hoje, os militares darão novo golpe de Estado, para
impedir a sua posse. Uma série de circunstâncias, no mínimo curiosas, cercam a
carreira desse político, natural de Kwangju, a Segunda maior cidade do país.
Em 1973, por exemplo, quando se achava exilado no
Japão, Dae-Jung foi seqüestrado pela KCIA, causando um incidente internacional
com o governo japonês. Levado para Seul, foi acusado de um desses delitos vagos
de que os ditadores lançam mão para se livrar de opositores incômodos e
condenado, em 1976, a cinco anos de prisão.
A sorte, no entanto, parecia estar do seu lado. Em
1978, ele foi incluído numa anistia geral, que beneficiou a mais de 5 mil
prisioneiros políticos. Sua liberdade, todavia, durou pouco. Menos de dois anos
depois, lá estava ele sendo levado, mais uma vez, a julgamento. Desta feita a
acusação era gravíssima, a de sedição, responsabilizado que foi de Ter
insuflado estudantes para que promovessem o motim que ocorreu em sua cidade
natal e que redundou num autêntico banho de sangue.
Kim-Dae Jung foi considerado culpado e condenado à
morte. Quando tudo parecia indicar que a carreira, finalmente, havia chegado ao
fim, junto com a sua vida, eis que, mais uma vez, acabou sendo beneficiado com
a pressão internacional a seu favor.
Em 1981, a sentença fatal foi transformada em prisão
perpétua e, em 1982, obteve licença do governo para se exilar nos Estados
Unidos, onde permaneceu por três anos. Foi em 1985 que Choo-Doo Hwan autorizou
o seu regresso à Coréia do Sul. Mas logo no desembarque, teve que prosseguir
sua via crucis de punições ilegais, arbitrárias e injustificadas.
Dae-Jung foi, novamente, detido, desta feita na
própria residência, de onde pôde sair só em julho passado. E direto para uma
candidatura presidencial. Daí, quem sabe, pode ir parar na Casa Azul, a sede de
governo sul-coreana ou enfrentar, novamente, a masmorra.
Caso vença, afinal, os militares do seu país estarão
passando pela grande prova de sinceridade aos olhos do mundo. Como vão se
comportar? É um mistério!
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 16 de dezembro de 1987).
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