Mês do Folclore
Pedro
J. Bondaczuk
Agosto é tido e havido,
pelos supersticiosos, como um “mês de azar”. E todos nós temos (uns mais e
outros menos), nossas “superstiçõezinhas” (muitos têm “superstiçõezonas”),
embora neguemos enfaticamente sempre que questionados. Conscientemente, até que
não acreditamos nessas crendices, mas inconscientemente, lá no fundo de nossa
psique, cremos nessas coisas absurdas e irracionais. Por que? Sabe-se lá! É
possível que se trate de algum resquício do homem primitivo, ancestral de todos
os viventes, incrustado em nossos genes. É a tal da memória coletiva,
identificada e descrita pelo psicanalista Carl Gustav Jung.
Os políticos (pelo
menos os brasileiros, mas não sei se também os de outros países) acreditam, com
base em algumas coincidências (coincidências?), que os dois meses do ano,
iniciados pela letra “a”, seriam “azarados”. Estão, nesse caso, óbvio, além de
agosto, também abril. Os raros que admitem ter essa superstição, apontam uma
série de episódios ocorridos nesses dois períodos como justificativa para essa
crença irracional. Esquecem-se que, no restante do ano, fatos não raro muito
mais dramáticos e contundentes acontecem a todo o momento. Porém, é impossível
convencer os crédulos. E estes, claro, abundam. Há os que negam serem
supersticiosos de forma até pitoresca. Dizem, quando questionados:
“Supersticioso, eu?!! Não, não sou! Isto dá um azar danado!!!”. Ora, ora,
ora...
Os crédulos citam, por
exemplo, que foi num mês de abril (num dia 7 do ano de 1834), que o primeiro
imperador do Brasil, Dom Pedro I, abdicou do trono em favor do filho, menor de
idade, deflagrando uma crise institucional de grandes proporções, que só acabou
seis anos depois, em 1840, com a antecipação da maioridade do seu sucessor, que
legalmente deveria se dar apenas em 1844, quando tivesse 18 anos, mas que foi
antecipada tão logo completou 14 anos. Claro que isso poderia ocorrer em
qualquer mês. Contudo... aconteceu em abril.
Mas os crédulos não se
restringem a esse fato. Citam a execução de Joaquim José da Silva Xavier, o
“Tiradentes”, executado na forca em um mês de abril (no dia 21 do ano de 1792).
E vão mais longe em sua paranóia. Mencionam a morte do último presidente eleito
pelo voto indireto no País, Tancredo Neves, ocorrida na mesma data, mas de
1984, que quase deflagrou uma crise institucional de proporções imprevisíveis,
dando pretexto aos militares de prolongarem a ditadura, em vez de devolverem o
poder aos civis. Isso só não aconteceu porque o general João Batista Figueiredo
não insistiu nesse ponto, embora tenha se recusado a passar a faixa
presidencial ao vice, José Sarney.
Considero tremenda
bobagem rotular abril de “mês azarado” apenas por esses três fatos isolados.
Enfim... o supersticioso contumaz sempre encontra argumentos para sustentar
suas superstições. Ocorrências muitíssimo piores se verificaram em outros meses
dos vários anos, mas... Deixa pra lá!!! Quanto a agosto, é considerado, entre
outras coisas, como o “mês do cachorro louco”. Como se a hidrofobia dependesse
de períodos específicos para se manifestar. Claro que não depende. Mas vá
convencer os supersticiosos!!! Não tem jeito.
Quanto ao “azar” de
agosto, na política, são citados, basicamente, um suicídio e uma renúncia de presidente
para justificar a prevenção em relação a esse período. Além desses dois fatos,
desconheço qualquer outro acontecimento que justifique minimamente a pecha
impingida a esse mês. Há quem mencione as destruições de Hiroshima e Nagasaki,
pelas primeiras bombas atômicas lançadas sobre populações civis indefesas na
história, ocorridas nos dias 6 e 8 de agosto de 1945, respectivamente, mas
esses fatos ocorreram no Japão. Ademais, foi nessa mesma ocasião, no dia 12,
que aconteceu a rendição japonesa, que pôs fim, em definitivo, à Segunda Guerra
Mundial, que tem que ser considerado como evento positivo.
Getúlio Vargas
suicidou-se na madrugada de 24 de agosto de 1954, com um tiro no peito, em seus
aposentos no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, no auge de uma crise
institucional que fatalmente redundaria na sua deposição, caso não tivesse dado
cabo da vida. Sua morte agravou uma situação que já era grave por si só. Ele
foi sucedido por três presidentes diferentes, em meio a terríveis tensões, instabilidade que só teve fim com a eleição
de Juscelino Kubitschek (que quase foi impedido pelos militares de assumir).
Mas crise toda teve algo a ver com o tal do “mês do azar”? Absolutamente não!
Foi mera coincidência ocorrer nesse período.
O mesmo se pode falar da
renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, que ele atribuiu
à ação de “forças ocultas”, que nunca identificou quais eram. Foram duas
situações críticas, sem dúvida. Mas é mister ter em conta que o Brasil, em
termos políticos, é, e sempre foi, “viciado em crises”. Ou não é? Basta ler
atentamente nossa História que a conclusão saltará à vista do mais distraído
dos distraídos. E nenhuma delas (à exceção das que citei) teve nada a ver com
os meses iniciados com a letra “a”, tidos e havidos como azarados. Essas coisas
também podem ser catalogadas como “folclore”. São crenças, crendices e
superstições arraigadas na memória coletiva do brasileiro. Não por acaso (ou
será que foi casual?) agosto foi escolhido como o “Mês do Folclore” no Brasil, como
poderia ser, também, convenhamos, o pseudo-azarado abril.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment