Saturday, November 23, 2013

Ó bendito o que semeia...

Pedro J. Bondaczuk

O cultivo de idéias nobres, elevadas, altruísticas, ou seja, de algum ideal supremo, é algo que me fascina e mobiliza. E vai além: é comportamento que me empolga e suscita imitação. Mas... minha capacidade para imitar, infelizmente, é bastante limitada. Porém, eu tento. Não me refiro, todavia, a somente “imaginar” um mundo melhor, uma sociedade mais justa e igualitária, sem carências, egoísmo e nem violência, mas nada fazer, de prático e efetivo, para que, de fato, as coisas sejam assim.

Não existe geração espontânea. Nada surge do nada, como num passe de mágica. Entendo que o idealista verdadeiro, o que faz jus a essa designação, é o que age. Mas age não tresloucadamente, somente por impulso, mas o que o faz com método e sabedoria, para viabilizar essa desejável e tão necessária evolução espiritual do homem. Idealizar, sem agir, não passa de inócuo devaneio, que nada muda e nada constrói.

Escrevi, dia desses, na minha página do Facebook, um depoimento espontâneo, de pura emoção, que pode ter soado para quem o leu um tanto piegas (e é possível que de fato seja), mas que era (e é) a lídima expressão do que sentia naquele momento. Exaltei um idealista autêntico, deixando de lado estilo, ponderação e regras literárias, para dar vazão, apenas, à paixão sem limites, que é, pela própria natureza dela, irrestrita. Essa é uma das características da minha personalidade. Seria defeito? Sei lá! Tenho temperamento apaixonado e, quando gosto de algo ou de alguém, não consigo medir intensidade e nem restringir palavras e muito menos guardar apenas comigo mesmo. Apregôo-o aos quatro ventos.

A referida mensagem no Facebook era destinada a uma figura que conheço há cerca de vinte anos, pela qual sempre tive, tenho e terei grande estima e, sobretudo, admiração. E esses sentimentos vêm desde os tempos em que eu trabalhava no Correio Popular de Campinas e era responsável pela editoria de “Opinião” (passei por todas as editorias desse jornal, nas duas décadas em que tive o privilégio de prestar serviço a essa empresa jornalística). Essa pessoa era colaboradora assídua do nosso diário, escrevendo, com regularidade, artigos inteligentes e  oportunos, abordando temas problemáticos da cidade, do País e do mundo, os mais variados possíveis, mas sempre em sentido construtivo, apontando falhas e mazelas, mas também soluções para os problemas que enfocava.

Apontar o que está errado e criticar o que seja criticável, qualquer um pode fazer. Não há nenhuma ciência nisso. Basta que a pessoa saiba se expressar razoavelmente bem, eu escreva com alguma precisão, e pronto. Está feita a denúncia, tão ao gosto da imensa maioria dos articulistas que, não raro, condena até o que não seja condenável. Mas apresentar soluções práticas e viáveis, para o que atormenta a sociedade, é tarefa para poucos, pouquíssimos, restrita apenas aos sábios. E estes, infelizmente, são raros. Já escrevi, neste espaço destinado a reflexões diárias sobre literatura, acerca desta figura admirável. Na oportunidade, limitei-me a abordar seu talento de poeta, sensível e apaixonante.

Para quem não freqüenta essa rede social, o Facebook, ou que freqüente, mas não tenha lido a mensagem a que me refiro, faço questão de reproduzi-la, até como forma de homenagem a quem a suscitou e a merece sem restrições. Nela escrevi:

“Conheço dezenas de pessoas generosas, de coração e mãos abertos, cujas atitudes positivas me fazem recuperar, pelo menos um pouco, a fé na humanidade, sempre que esta fica abalada face à nefasta ação dos maus. Conheço um punhado de intelectuais, de artistas e de escritores, que produz e partilha idéias magníficas e enriquecedoras com a comunidade, sem se importar com nenhum retorno material. Não conheço, todavia, nenhuma pessoa que se compare, sequer remotamente, com o juiz, poeta e escritor Francisco Fernandes Araujo.

Até hoje, jamais tomei conhecimento de ninguém que doasse, com a generosidade e o desprendimento que ele faz, de CEM MIL livros, que certamente tiveram custos, e não somente materiais, mas, sobretudo, intelectuais. Notem que não se trata de CEM ou de MIL, mas de CEM MIL!!! A grande maioria das cidades brasileiras não tem tamanha população.

Francisco (nome que lhe cabe a caráter, por agir como seu xará, da cidade de Assis, na Itália) se enquadra, pois, nestes versos inspiradíssimos de Castro Alves, do poema ‘O livro e a América’:

Ó bendito o que semeia
livros, livros à mancheia
e manda o povo pensar,
e o livro, caindo n’alma,
é germe, que faz a palma,
é chuva que faz o mar.

‘Bendito’ é o termo que lhe cabe a caráter. Há tempos eu devia este singelo testemunho público a este homem generoso que me orgulho em ter como amigo”.

Como o mundo seria melhor se tivesse um punhado de milhares de pessoas como o juiz, poeta e escritor, Dr. Francisco Fernandes de Araujo!!! Infelizmente... não tem.


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