Ó bendito o que
semeia...
Pedro
J. Bondaczuk
O cultivo de idéias
nobres, elevadas, altruísticas, ou seja, de algum ideal supremo, é algo que me
fascina e mobiliza. E vai além: é comportamento que me empolga e suscita
imitação. Mas... minha capacidade para imitar, infelizmente, é bastante
limitada. Porém, eu tento. Não me refiro, todavia, a somente “imaginar” um
mundo melhor, uma sociedade mais justa e igualitária, sem carências, egoísmo e
nem violência, mas nada fazer, de prático e efetivo, para que, de fato, as
coisas sejam assim.
Não existe geração
espontânea. Nada surge do nada, como num passe de mágica. Entendo que o
idealista verdadeiro, o que faz jus a essa designação, é o que age. Mas age não
tresloucadamente, somente por impulso, mas o que o faz com método e sabedoria,
para viabilizar essa desejável e tão necessária evolução espiritual do homem.
Idealizar, sem agir, não passa de inócuo devaneio, que nada muda e nada
constrói.
Escrevi, dia desses, na
minha página do Facebook, um depoimento espontâneo, de pura emoção, que pode
ter soado para quem o leu um tanto piegas (e é possível que de fato seja), mas
que era (e é) a lídima expressão do que sentia naquele momento. Exaltei um
idealista autêntico, deixando de lado estilo, ponderação e regras literárias,
para dar vazão, apenas, à paixão sem limites, que é, pela própria natureza
dela, irrestrita. Essa é uma das características da minha personalidade. Seria
defeito? Sei lá! Tenho temperamento apaixonado e, quando gosto de algo ou de
alguém, não consigo medir intensidade e nem restringir palavras e muito menos
guardar apenas comigo mesmo. Apregôo-o aos quatro ventos.
A referida mensagem no
Facebook era destinada a uma figura que conheço há cerca de vinte anos, pela
qual sempre tive, tenho e terei grande estima e, sobretudo, admiração. E esses
sentimentos vêm desde os tempos em que eu trabalhava no Correio Popular de
Campinas e era responsável pela editoria de “Opinião” (passei por todas as
editorias desse jornal, nas duas décadas em que tive o privilégio de prestar
serviço a essa empresa jornalística). Essa pessoa era colaboradora assídua do
nosso diário, escrevendo, com regularidade, artigos inteligentes e oportunos, abordando temas problemáticos da cidade,
do País e do mundo, os mais variados possíveis, mas sempre em sentido
construtivo, apontando falhas e mazelas, mas também soluções para os problemas
que enfocava.
Apontar o que está
errado e criticar o que seja criticável, qualquer um pode fazer. Não há nenhuma
ciência nisso. Basta que a pessoa saiba se expressar razoavelmente bem, eu
escreva com alguma precisão, e pronto. Está feita a denúncia, tão ao gosto da
imensa maioria dos articulistas que, não raro, condena até o que não seja
condenável. Mas apresentar soluções práticas e viáveis, para o que atormenta a
sociedade, é tarefa para poucos, pouquíssimos, restrita apenas aos sábios. E
estes, infelizmente, são raros. Já escrevi, neste espaço destinado a reflexões
diárias sobre literatura, acerca desta figura admirável. Na oportunidade, limitei-me
a abordar seu talento de poeta, sensível e apaixonante.
Para quem não freqüenta
essa rede social, o Facebook, ou que freqüente, mas não tenha lido a mensagem a
que me refiro, faço questão de reproduzi-la, até como forma de homenagem a quem
a suscitou e a merece sem restrições. Nela escrevi:
“Conheço
dezenas de pessoas generosas, de coração e mãos abertos, cujas atitudes
positivas me fazem recuperar, pelo menos um pouco, a fé na humanidade, sempre
que esta fica abalada face à nefasta ação dos maus. Conheço um punhado de
intelectuais, de artistas e de escritores, que produz e partilha idéias
magníficas e enriquecedoras com a comunidade, sem se importar com nenhum
retorno material. Não conheço, todavia, nenhuma pessoa que se compare, sequer
remotamente, com o juiz, poeta e escritor Francisco Fernandes Araujo.
Até
hoje, jamais tomei conhecimento de ninguém que doasse, com a generosidade e o
desprendimento que ele faz, de CEM MIL livros, que certamente tiveram custos, e
não somente materiais, mas, sobretudo, intelectuais. Notem que não se trata de
CEM ou de MIL, mas de CEM MIL!!! A grande maioria das cidades brasileiras não
tem tamanha população.
Francisco
(nome que lhe cabe a caráter, por agir como seu xará, da cidade de Assis, na
Itália) se enquadra, pois, nestes versos inspiradíssimos de Castro Alves, do
poema ‘O livro e a América’:
Ó
bendito o que semeia
livros,
livros à mancheia
e
manda o povo pensar,
e
o livro, caindo n’alma,
é
germe, que faz a palma,
é
chuva que faz o mar.
‘Bendito’
é o termo que lhe cabe a caráter. Há tempos eu devia este singelo testemunho
público a este homem generoso que me orgulho em ter como amigo”.
Como o mundo seria
melhor se tivesse um punhado de milhares de pessoas como o juiz, poeta e
escritor, Dr. Francisco Fernandes de Araujo!!! Infelizmente... não tem.
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