Sunday, April 30, 2017

MINHA MANEIRA DE REVERENCIAR GÊNIOS LITERÁRIOS QUE ADMIRO

Minha afinidade com Jorge Luís Borges, Henry David Thoreau, Johann Wolfgang Von Göethe e Ralph Waldo Emerson, monstros sagrados da literatura, não está no estilo (os deles são absolutamente apurados, enquanto que o meu é coloquial, embora muitos me acusem de ser demasiadamente erudito). E muito menos está na originalidade. Está, isto sim, no enfoque, na visão de vida, na defesa da absoluta liberdade (posto que com responsabilidade) do homem (embora nenhum deles admitisse jamais que fosse anarquista, mas eu admito que sou). Não raro, pilho-me abordando, da minha maneira canhestra, em algum ensaio (60% da minha produção literária são desse gênero), conceitos abordados com perícia e genialidade por estes grandes mestres, sem sequer me dar conta. Quando alertado por leitores, todavia, tenho o cuidado de escrever novo texto dando o devido crédito ao autor de fato, ao original, da abordagem, embora as formas sejam rigorosamente diferentes: as dos quatro gênios citados sempre genial e a minha cheia de furos e ambigüidades (como seria de se esperar, lógico). É bom que se frise que não se trata de nenhum plágio. E mesmo que eu quisesse plagiar esses “monstros sagrados” (o que jamais faria em circunstância nenhuma), minha competência não chegaria a tanto. Trata-se de reverência, de respeito intelectual, de gratidão por eles terem existido e sido o que foram e, sobretudo, de afinidade (literária e espiritual). Reputo isso como bênção! É fruto, reitero, de um “ato de fé”.

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Ética e política



Pedro J. Bondaczuk


A palavra “ética” vem se tornando a expressão da moda de uns tempos para cá, desde quando as denúncias de Pedro Collor, em abril do ano passado, levantaram o véu que encobria um dos maiores casos de corrupção de que o País já teve notícia e que redundou no impeachment e na perda dos direitos políticos do ex-presidente Fernando Collor.

Mas não basta que apenas se fale em moral pública, mas é indispensável, antes de tudo, que se saiba com clareza seu significado e alcance e que se a pratique. Uma sociedade não será mais ou menos corrupta apenas por condenar atitudes aéticas. É indispensável que os atos lesivos ao próximo sejam erradicados.

Régis Jolivet, em seu “Curso de Filosofia”, define moral como sendo “a ciência que trata do uso que o homem deve fazer de sua liberdade, para atingir seu fim último”. E Eduardo Giannetti da Fonseca acentua, num brilhante ensaio publicado no periódico “Braudel Papers”: “Há verdades, como as da ética, que não basta serem ditas. É preciso fazer com que despertem o interesse e sejam sentidas”. O momento, portanto, é bastante oportuno para transformar palavras em ação.

A oportunidade para a moralização da vida política e econômica do País é preciosa e convém que seja aproveitada. Para que isso ocorra, todavia, se faz indispensável um nível razoável de politização do brasileiro, o que, infelizmente, ele ainda não possui, e que somente é possível mediante a informação clara, didática, honesta, competente e construtiva.

Movimentos e associações estão surgindo em grande quantidade em várias partes do País, objetivando dar ao cidadão condições para que ele venha a exercer de fato a sua cidadania, exercício este que apenas se realiza mediante a participação. Uma dessas entidades é a Associação Brasileira de Ética Política, sediada em Barão Geraldo, que se propõe a fazer um trabalho de base junto à comunidade quanto aos direitos e deveres de cada um de seus integrantes.

Trata-se de um grupo suprapartidário que objetiva conscientizar as pessoas a fiscalizarem atos dos órgãos públicos, a estarem atentas às ações e omissões dos representantes que elegeram e a participarem, efetivamente, da vida nacional.

Ao mesmo tempo, a entidade defende que a ética começa em casa, no relacionamento dos cidadãos com seus familiares e outros membros da comunidade. Há um equívoco, bastante difundido, e que alguns setores fazem questão de aprofundar (ao invés de esclarecer) acerca do significado do termo “política”.

Hoje, quando o termo é mencionado, muitos torcem o nariz dizendo: “Não gosto desse assunto”. Acham que se trata, apenas, de atividade de pessoas oportunistas, que sempre têm palavras lisonjeiras na ponta da língua, pródigas em promessas, todas esquecidas após as eleições, à cata de votos.

Política, no entanto, é toda ação exercida pelo cidadão na vida comunitária. É participação. É o relacionamento com outras pessoas. É a busca de soluções dos problemas comuns, mediante a cooperação. Fazemos política da hora que acordamos até o momento de dormir, no lar, na rua, no trabalho, na escola, em todo o lugar em que nos relacionamos com nossos semelhantes. Restabelecer a ética nessa nobre atividade, portanto, significa resgatar a solidariedade, da qual o País está tão carente.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de março de 1993)


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Sem parâmetros

Pedro J. Bondaczuk

O homem precisa de referenciais para se orientar, saber onde está e o que (e até quem) é. A mente humana trabalha por comparações. Sabe, por exemplo, que o Homo Sapiens (e acho essa designação arrogante em demasia para o que de fato somos) é racional porque, comparado com os outros seres viventes (animais ou vegetais) mostra aptidões e sinais de inteligência e consciência que estes não demonstram. É o que denominamos de parâmetro (embora a definição dessa palavra não seja rigorosamente essa, mesmo que o sentido o seja).

Vivemos comparando: tamanhos, formas, distâncias, pensamentos, sentimentos, ações, comportamentos etc. Quando chegamos a uma cidade estranha, por exemplo, temos que escolher, de imediato, um ponto de referência para nos orientar. Caso contrário, ficaremos perdidos e desorientados, sem sabermos onde estamos e para onde devemos ir.

Na vida, também é assim. Desenvolvemos o conceito do bem e do mal pela comparação dos resultados de ambos. Para desorientar alguma pessoa, por maior que seja seu senso de orientação, é muito fácil. Basta alterar-lhe os parâmetros, os referenciais com os quais está habituada.

Em casos extremos, esse indivíduo chega a desconhecer, até mesmo, quem é. Morris West propõe o seguinte raciocínio, em seu romance “A Salamandra”: “Conhecem a palavra parâmetro? Muitas pessoas a usam, mas poucas lhe compreendem o sentido ou a importância. O dicionário a define como “uma quantidade constante no caso considerado, mas variável em casos diferentes”. Vamos reconhecer que essa definição pouco ou nada significa. Mas vamos supor que uma noite se vá dormir e, ao acordar na manhã seguinte, não se veja mais a torre de igreja ou a árvore que estavam sempre emolduradas pela janela. Vamos supor que se abra a porta da cozinha e se encontre, em lugar dela, um jardim de rosas. As qualidades constantes da vida teriam desaparecido. A pessoa estaria perdida e diria: ‘Não sei onde estou’. Se as mudanças continuassem de dia para dia, a pessoa acabaria uma vítima da inconstância das coisas e diria: ‘Não sei quem sou’”.

E quais são os parâmetros de conduta que as pessoas adotam, por considerar esses “referenciais” modelos de sucesso dignos de imitação? São os heróis (posto que aqui o “heroísmo” nem sempre é o exemplar, quando se coloca nesse patamar sanguinários guerreiros, peritos na “arte de matar”), santos, sábios, poetas, cantores, músicos, atores de cinema e televisão, jogadores de futebol etc. Ou seja, há ídolos para todos os gostos e fantasias, de acordo com a cabeça de cada um. E esse não é um fenômeno recente. Sempre foi assim.

Na Grécia antiga, por exemplo, guerreiros ousados, que despertaram a imaginação de multidões, foram glorificados e, posteriormente, até deificados, compondo extenso panteão de deuses com características (notadamente defeitos) típicos dos humanos. A Igreja Católica conta com uma infinidade de santos em seu hagiário, que teriam se destacado pela humildade, fé, caridade e outras tantas virtudes, raras nas pessoas comuns.

Na Idade Média, cavaleiros andantes foram postos como parâmetros, por burgueses e camponeses, que sonhavam imitar suas aventuras – na verdade, parasitas, que viviam do trabalho alheio – quer na luta pela reconquista da cidade de Jerusalém, em poder dos mouros, quer nas “justas” disputadas entre eles, para demonstrar habilidades e coragem. Era a forma que conheciam de tentar dar sentido e grandeza às suas vidas medíocres, cinzentas, sofridas e não raro miseráveis. E isso no Ocidente. No mundo muçulmano, os parâmetros eram inversos dos ocidentais. Ou seja, eram seus próprios guerreiros, envolvidos em intermináveis “jihads” (guerras santas), cujos supostos feitos e peripécias, na conquista de territórios para o Islã, eram exaltados e mitificados.

Muitos desses heróis e santos não resistiriam, porém, a uma análise mais acurada de suas vidas e decantadas façanhas. Revelar-se-iam não serem lá tão dignos da veneração, que descambava para a idolatria, de que eram alvos por parte dos tolos e dos basbaques. A maioria é fruto de histórias quase sempre inventadas, de feitos e peripécias nunca acontecidos, ou aumentados e distorcidos pela imaginação popular, e que, por isso, se transformaram, rapidamente, em lendas, que ninguém até hoje ousa contestar.

Na atualidade, os parâmetros de conduta continuam tão frágeis ou mais do que em tempos mais remotos. Foram, é verdade, um tanto modificados, mas provavelmente para pior. Contudo, na essência, são muito parecidos com os da antiguidade. Os “heróis” que despertam, atualmente, a imaginação popular (notadamente da juventude) e fazem multidões delirarem à sua simples presença, não são mais os guerreiros, como há alguns séculos (até porque, as guerras atuais não são nada “heroicas”; são, cada vez mais, tecnológicas, e infinitamente mais letais, à base de mísseis arrasadores e certeiros, disparados de quilômetros de distância dos campos de batalha, até de um continente a outro). São atletas de várias modalidades desportivas, notadamente do futebol (mas não apenas dele).

Os filósofos, poetas, historiadores etc. outrora mitificados, foram substituídos, no panteão contemporâneo, por atores e atrizes do cinema e da televisão; por cantores de rock, jazz ou qualquer outro ritmo exótico e de fácil absorção pelo público; por magérrimas e esquálidas modelos e por outras tantas “celebridades”, cuja glória, raramente, dura dez anos se tanto e que logo voltam ao ostracismo e à obscuridade de antes da fama, substituídos por outros ídolos, de igual natureza e duração.

Como se vê, são e sempre foram frágeis, fragílimos os nossos parâmetros de conduta. Nossos “ídolos”, por mais douradas que pareçam suas estampas, têm, quase todos, pés de barro. Esboroam-se à mais ligeira análise da sua conduta e dos seus feitos. Somos multidões (7,6 bilhões de pessoas), nos multiplicamos exponencialmente e caminhamos às tontas, com parcos e frágeis referenciais – que, longe de nos indicarem os caminhos mais adequados para o bem-estar e a felicidade, apenas nos despertam delirantes fantasias que se transformam, com o tempo, em inesgotáveis fontes de angústias e frustrações – rumo a um abismo sem fundo. Pode-se dizer, portanto, que, virtualmente, não temos parâmetros com os quais nos comparar, dada a mesquinhez e a fragilidade dos que são considerados, quase que consensualmente, como tal.


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Saturday, April 29, 2017

AUTORES COM OS QUAIS NOS IDENTIFICAMOS INFLUENCIAM NOSSA MANEIRA DE ESCREVER

Absorvemos da leitura dos autores com que tenhamos afinidade ideias, conceitos, valores, experiências etc. que de alguma forma nos dizem respeito. Urariano Mota, em brilhante comentário, feito há algum tempo, no blog “Literário”, comprova essa “absorção” com uma experiência pessoal: “Na releitura de ‘O Som e a Fúria’ estou percebendo que, da minha primeira leitura, ficaram coisas de que eu não me dava conta, coisas tais que ‘aproveitei’ em textos que eu julgava fossem apenas meus, absolutamente originais”, escreveu. Como boa parte dos meus leitores é constituída por escritores e estudantes de letras (embora nem todos sejam nem uma coisa e nem outra), são válidas e sumamente úteis as experiências de quem é do ramo. Queiram ou não (possivelmente até de forma inconsciente) elas certamente os irão orientar, de alguma maneira, no momento em que estiverem redigindo seus respectivos textos. Por isso, sem nenhum receio de ser mal interpretado, confesso, sem o menor pudor, que tenho esse tipo de afinidade, basicamente, com quatro escritores: Jorge Luís Borges (e quem é meu leitor assíduo certamente já notou isso), Henry David Thoreau, Johann Wolfgang von Goethe e Ralph Waldo Emerson. Claro que não escrevo igual a nenhum deles e nem poderia. Os quatro são gênios, enquanto eu não passo de escritor comum, como há milhões mundo afora, talvez um pouquinho mais esforçado do que a média, certamente com índice de leitura maior do que a maioria (e perdoem a falta de modéstia) e um redator compulsivo (não seria obsessivo?). Estou, contudo, distante anos-luz da genialidade.


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Só o início de uma caminhada



Pedro J. Bondaczuk


O plano para derrubar a inflação brasileira, posto em prática pelo governo do presidente José Sarney, apresentou, em março, o seu primeiro resultado animador. Não se contentou, apenas, em arrasar o monstro inflacionário, que ameaçava o País com a completa desorganização econômica. Foi mais longe e registrou um fato raríssimo em nossa história: deflação. Ou seja, uma redução geral de preços, cujos números, ainda, não foram revelados, ficando por conta dos palpites de cada um.

Mesmo que ela não ocorresse, porém, e a taxa do mês ficasse no zero, já seria uma expressiva vitória de toda a população, que com seu engajamento ao projeto, foi a razão determinante do seu sucesso. No entanto, é indispensável que não nos deixemos levar pela euforia, achando que doravante todos os nossos males estejam extintos e que se encontrou uma fórmula mágica, milagrosa, uma verdadeira alquimia, que transformou chumbo em ouro.

A guerra contra a inflação está muito longe de ter terminado. Na verdade, mal começou. O choque antiinflacionário, que teve como base a criação de uma nova moeda no País e que se caracterizou pelo congelamento de preços e de salários, foi apenas a ignição do motor, que já está ligado para o início de uma longa e penosa viagem pelos caminhos da nossa reorganização econômica. Outras providências terão que vir, para que a euforia não venha a se transformar em desencanto.

Projetos dessa natureza, do cruzado, precisam vir acompanhados de uma política coerente e cuidadosa de redistribuição de renda. Principalmente, no tempo em que vigorar o congelamento. Em casos dessa natureza, o tempo atua contra os que auferem baixas rendas e que por isso não contam com o suficiente para sequer uma manutenção pessoal adequada.

Explico. No Brasil, o número de consumidores é relativamente baixo, quando comparado à população. Essas pessoas, haja ou não inflação, jamais reduzem seu padrão de vida. Essa pequena quantidade que tem acesso ao consumo enseja, quase sempre, o surgimento dos nefastos mercados negros. Da noite para o dia, por exemplo, registra-se uma escassez artificial de determinados produtos. Isto não é nada difícil de acontecer, pelo contrário. Basta haver algum enorme depósito de mercadorias para armazenar estes gêneros, em algum remoto canto deste país-continente, tirando-os de circulação.

Os donos desses estoques clandestinos passam a vendê-los homeopaticamente. E como a lei natural de mercado, a da oferta e da procura, é muito mais forte do que qualquer processo artificial para regular preços, ditado pelas autoridades, estes tendem a crescer, em virtude da falta ou da baixa oferta de produtos. Ou seja, o comerciante, com aquele “jeitinho” todo especial, garante ao cliente: “Tenho 30 quilos de arroz, que guardei para o meu próprio consumo. Se você quiser, posso lhe vender, mas por Cz$ 45,00.

O consumidor, desesperado, acaba pagando, sem reclamar muito. Por que? Porque precisa da mercadoria e tem dinheiro para pagá-la, mesmo a preços mais elevados. Mas quem não tem? Quem depende, exclusivamente, do salário (congelado) para sobreviver, como faz? Que fiscalização é capaz de detectar e provar a existência dessa sonegação de gêneros de primeira necessidade? É, virtualmente, impossível!

A concentração de renda, quando exagerada (e em nosso país ela é), enseja, mais cedo ou mais tarde, esse tipo de distorção. No entanto, aumentando a oferta de mercadorias e possibilitando que a maioria dos brasileiros (o ideal seria a totalidade) tenha com que adquirir esses produtos, não haverá mercado negro que resista. Quando os preços subirem excessivamente, ninguém poderá adquirir essas mercadorias, forçando, por conseqüência, de maneira natural, a sua queda.

É claro que redistribuição não significa confisco. Não é tirar de quem tem para dar a quem não tem. Esse procedimento, além de injusto e antinatural, é ineficiente. Se o sistema vigente permanecer o mesmo, em pouco tempo esses recursos terminam transferidos, de novo, para os bolsos dos seus donos originais.

É preciso reordenar toda a estrutura do País. É necessário dar mais acesso, a um número crescente de pessoas, à educação, ao aprimoramento técnico para a realização profissional. É preciso incentivar investimentos maciços em atividades produtivas, para gerar crescentes oportunidades de emprego. Além disso, tem que se reduzir, progressivamente, os impostos indiretos, pagos indistintamente por quem pode e por quem não pode pagar, do tipo ICM e IPI, e aumentando, na mesma proporção, os diretos.

É claro que essas são apenas algumas das providências que precisam ser adotadas. Embora sejam as mais óbvias, são, também, as de mais difícil execução. No entanto, o País tem que fazer isso, se aspira uma posição melhor no âmbito internacional.

Não se concebe uma sociedade forte e respeitada, onde 60 milhões de pessoas vegetam nos limites da mais absoluta miséria, sem que tenham condições sequer de adquirir os alimentos indispensáveis à sua sobrevivência. Providências do tipo das tomadas com a criação do Plano Cruzado funcionam, mas desde que acompanhadas de sábias e corajosas medidas complementares. E temos esperanças que elas virão, pois esta é a vontade manifestada pelos brasileiros.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de abril de 1986)


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Voz do atrevimento


Pedro J. Bondaczuk


A palavra “atrevimento” (como tantas outras expressões, em qualquer idioma) tem dupla conotação: uma positiva e outra negativa. Geralmente consideramos atrevida a pessoa desconhecida que nos dirige a palavra de forma abrupta, agressiva, senão brutal. Ou a, que sem mais e nem menos, ocupa o lugar que era nosso numa fila qualquer. Ou a que dá uma cantada numa mulher bonita que, visivelmente, “não é para o seu bico” e que não lhe deu, dá ou dará a mínima confiança.

Há, é claro, muitas e muitas outras acepções negativas do termo que nem é preciso mencionar, pois todos as conhecem, de sobejo.. Mas o atrevido, também, é o indivíduo que realiza o que ninguém conseguiu ainda realizar e que tinha toda a aparência de irrealizável.

É o que desafia as circunstâncias e faz coisas admiráveis. É o que encara a vida com coragem e ousa ir contra a corrente, impondo, com argumentos, idéias e convicções, mas com consciência e certeza do que faz, e se dá bem. Para o escritor Henry Miller, “imaginação é a voz do atrevimento”. Esse é o atrevimento que me fascina e me mobiliza. Ou seja, o de imaginar alguma coisa que à primeira vista pareça irrealizável, ousar e tentar concretizar o que foi imaginado, e mesmo que não tiver sucesso, gozar da deliciosa sensação de ao menos haver tentado.

A realidade, nua e crua, é fria, é feia, é insuportável. A vida – sempre convém reiterar, já que muitos parecem se esquecer disso – não tem reprises. E é muito bom que não tenha mesmo. Seu maior encanto é justamente este, o da novidade, mesmo que às vezes o “novo” nos traga surpresas desagradáveis, não raro trágicas até. O consolo, porém, é que no momento seguinte pode consertar tudo e nos proporcionar alguma alegria que sequer desconfiávamos que fosse possível. Por isso, atrever-se é preciso. Sempre!

A propósito de hipotéticos (e impossíveis) recomeços, a escritora Júlia Lopes de Almeida faz a seguinte constatação, no “Livro das donas e donzelas” (pouco conhecido, mas que deveria ser lido, sobretudo pelas mulheres): “O que torna a vida encantadora é o imprevisto, e a prova é que ninguém desejaria recomeçá-la da mesma forma porque já a viveu, nem creio mesmo que, se tal milagre se pudesse cumprir, houvesse alguém, por mais venturosa que lhe houvesse corrido a curta vida, que tivesse coragem de a recomeçar”.

Honestamente, eu não a teria. Muitos até afirmam, ousadamente (ou seria impulsiva temerariamente?), que gostariam dessa reprise. Mas são palavras soltas ao vento, sem nenhuma reflexão ou fundamentação, ao sabor do momento. Quando refletem, essas pessoas concluem que o que viveram não foi sequer tão bom assim e muito menos o ideal.

Optam por desejar – reitero, se fosse possível recomeçar a vida – não só por um início diferente, mas também por um meio e fim diferentes, bastante diversos daqueles pelos quais já passaram. Júlia prossegue, em suas considerações: “Corra alguém os olhos, pense, siga o curso da sua existência, e ficará convencido de que só alguns dias lhe mereceram o desejo de serem revividos. Dias? Nada mais que momentos, de inolvidável doçura”.

Valeria a pena, pois, passar, novamente, pelos mesmíssimos dramas, dores, incertezas e aflições pelos quais já passamos, apenas para reviver escassos, pouquíssimos, raros e fugazes momentos de felicidade? Creio que nem mesmo o mais masoquista dos masoquistas gostaria de reviver tudo isso.

Ademais, é possível que no segundo seguinte esteja o tosão de ouro, o Santo Graal, o cálice sagrado da felicidade, que tanto procuramos e que raros encontram algum dia. É verdade que pode estar, também, a morte. Mas isso não há como evitar. Será sempre, sempre um dos tantos riscos que teremos que correr.

Ouçamos, pois, a voz do atrevimento, que algumas vezes não passa de quase inaudível sussurro, mas que em outras é um grito, um brado, um berro a nos desafiar. Não nos acovardemos nos refugiando na comodidade da omissão. Sejamos ousados, posto com a necessária prudência, e criemos as oportunidades que precisamos, caso elas não surjam espontaneamente, como cavalos selados, à espera, apenas, de serem montados.

Sejamos atrevidos, sim, face às circunstâncias, favoráveis ou negativas, não importa. No primeiro caso, para elevarmos ao máximo grau as satisfações que venhamos a conquistar. No segundo, para pelo menos tentar reverter o que pareça (e talvez de fato seja) irreversível. Ousemos sonhar, cada vez mais, cada vez mais alto, cada vez mais intensamente. Ousemos encarar o que outros já encararam, e fracassaram. Ousemos, acima de tudo, dar asas velozes e fortes à imaginação, essa voz alentadora do atrevimento (do saudável e construtivo, convém sempre destacar).


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Friday, April 28, 2017

LEITURA É, DE FATO, UM “ATO DE FÉ”


 Um judicioso (como tudo o que ele escreve) e generoso comentário do escritor Urariano Mota, feito há já algum tempo a determinado texto que escrevi, a propósito de leitura, merece considerações da minha parte, pelo tanto de verdade que contém. Aliás, por falar nesse brilhante “escriba” (permita-me chamá-lo, carinhosamente, dessa forma, caro mestre), aconselho que vocês comprem, leiam, recomendem e deem de presente os seus livros “Soledad no Recife”, “Os corações futuristas””O caso Dom Vital” e o recém-lançado “Dicionário amoroso do Recife”. Tenho absoluta certeza que vocês irão me agradecer por essa dica. Mas, voltando ao assunto, Urariano observou, no aludido comentário: “há um outro fenômeno na leitura talvez mais poderoso: é o que fica guardado lá no mais íntimo do espírito, e não nos demos conta”. É verdade. Determinados conceitos e até formas de expressão de nossos escritores favoritos são captados pelo subconsciente e, quando nos damos conta, emergem ao consciente, não raro literalmente. E por que isso acontece? Entendo que ocorra em virtude da afinidade que descobrimos ter com tais autores. Isso reforça ainda mais minha tese de que “leitura é ato de fé”.


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Atitude justa, porém tardia



Pedro J. Bondaczuk



A União dos Escritores da União Soviética está reparando, embora bastante tardiamente (com quase 30 anos de atraso), uma das maiores injustiças que já cometeu, ditada, certamente, pela abjeta bajulação de seus membros e não por eventual falha de julgamento.

Está reabilitando o único escritor do país a conquistar um Prêmio Nobel de Literatura, Boris Pasternak, por seu delicioso romance “Doutor Jivago”. Até hoje, ninguém entendeu, no Ocidente, o que levou esse grupo de intelectuais a agir da maneira que agiu. Destilando seu ódio (possivelmente voltado contra si mesmo, contra sua imensa covardia face ao poder e aos poderosos) sobre um homem pacato, que amava sua pátria e que jamais, em momento algum, compreendeu a razão de ser considerado um dissidente político.

O romancista “comeu o pão que o diabo amassou” apenas por ser considerado genial além das fronteiras do território nacional. O Cremlin entendeu que o fato dele ser escolhido para o Nobel implicava, necessariamente, em alguma armadilha propagandística contra a União Soviética. Qual, não importava.

O regime desconfiava que ela existia, e pronto. Para “puxar o saco”dos vetustos senhores da cúpula do Partido Comunista, então comandados pelo campônio Nikita Kruschev, a União dos Escritores precisava se adiantar ao governo. Urgia que se punisse o companheiro, que ousara escrever uma obra capaz de despertar tamanho fascínio nos “burgueses” do Ocidente.

E o que fizeram, para realizar sua obra-prima de bajulação? Em primeiro lugar, expulsaram Pasternak da entidade, o que equivale dizer, fecharam as portas para que o romancista fosse publicado e, portanto, lido, em seu próprio país. A seguir, pediram a cassação da sua cidadania soviética, como se tivessem esse direito. E, por último, desejaram expulsar o romancista (um patriota que confessou, em pânico, em desespero, temendo perder o que mais amava: “Sair das fronteiras da minha pátria significa para mim a morte”) da própria União Soviética.

Felizmente, para o escritor, seus companheiros tiveram ao menos esse gesto de “piedade”. Deixaram-no9 continuar vivendo no país, que estava sendo tão injusto com ele, mas que ele amava tanto. O festejado Prêmio Nobel de Literatura no Ocidente era, em sua terra natal, autêntico paria. Um intelectual maldito, marcado, visado, do qual todos procuravam se afastar, como se fosse possuído de moléstia altamente contagiosa.

Mas seu romance “Doutor Jivago” sempre esteve despido de segundas intenções. É uma história viva, humana, impregnada do calor da autenticidade, escrita por alguém que tinha convicção do que escrevia. É uma obra embebida de ternura, de compaixão pelos defeitos e fraquezas humanos e principalmente de compreensão deles.

É claro que seu estilo levemente irônico serviu de pretexto para que aqueles que foram classificados por Alexander Soljenytsin de “maquiadores literários” exclamassem o seu “Eureka” russo. Para que descobrissem o que entendiam serem críticas veladas ao sistema soviético de governo e que por isso agradavam aos ocidentais.

Por causa dessa sua paranóia, privaram os cidadãos desse país, sabidamente amantes da boa literatura e entendedores de arte (os russos produziram centenas de gênios literários, em todos os tempos, isso não é segredo para ninguém), de uma obra humana, talentosa, verossímil e, sobretudo, carregada de patriotismo. Que geração infeliz foi essa que deixou que interesses mesquinhos lhe obliterassem a razão e o senso de avaliação!

Hoje, felizmente, Pasternak, que morreu em 1960, sozinho, amargurado e injustiçado pela sua gente, está sendo, finalmente, reconhecido. Afinal, graças ao trabalho de uns poucos que não se conformaram com a burrice cometida por um bando de burocratas travestidos de intelectuais, a verdade começa a ser restabelecida. E este é o único caminho para a literatura russa sobreviver. Pois, como disse com muita argúcia o dissidente Zamyatine: “...Se se esperar do escritor que ele seja um crente real e fiel, se não lhe for permitido ironizar, como Swift, ou rir de tudo, como Anatole France..., receio que a literatura russa só terá um futuro: o passado”.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de fevereiro de 1987).


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