Thursday, April 06, 2017

Plantando bem, tudo dá


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil, com suas dimensões continentais, foi tido e havido até há poucos anos como um país eminentemente agrícola, onde as terras seriam muito férteis e onde a afirmação do primeiro cronista desse semicontinente, Pero Vaz de Caminha, “em se plantando tudo dá”, acabou por se transformar em slogan.

Só que essa atividade, estranhamente, nunca teve entre nós um balizamento, uma orientação segura e lógica, uma política, enfim. Vários ciclos sucederam-se caoticamente, com os diversos governos ficando sempre de olho no mercado externo, embora sequer fôssemos auto-suficientes na totalidade de alimentos necessários à nossa população.

Períodos de superprodução – em especial de café – alternaram-se com safras minguadas, o que demonstra que nesse setor o barco nacional não dispunha de bússola. Agora, o governo do presidente Collor pretende mudar isso.

É indispensável, todavia, que a mudança não se constitua num mero plano, já que projetar o futuro é um exercício inútil, dada a imponderabilidade dos acontecimentos. A política agrícola brasileira deve ser, isto sim, o elenco de regras, válidas e iguais para todos, que regulamente o jogo econômico nessa atividade essencial.

Precisa dividir-se em três partes fundamentais: medidas de emergência, de médio prazo e de longa projeção. No primeiro caso, o objetivo é garantir uma próxima safra farta e barata. Para isso, é indispensável que haja condições para os agricultores, tanto de financiamentos e juros que não sejam os leoninos de mercado, quanto de comercialização a preços compensadores, acesso barato à moderna tecnologia, aos equipamentos, insumos, sementes e defensivos, bem como a garantia de escoamento e armazenamento do que for produzido.

Todavia, é preciso que se pense, igualmente, nas colheitas de 1992, 1993, 1994 e assim sucessivamente. Para isso, a política agrícola, para merecer de fato esse nome, tem de fixar regras claras, imutáveis, seguras, que tornem a atividade tentadora, e não apenas viável como se procura fazer hoje.

A produção de alimentos é não somente uma condição indispensável ao combate à inflação, mas fundamental para vencer definitivamente esta guerra e impedir que o voraz monstro que devora parcelas crescentemente maiores do fruto do nosso trabalho possa se recuperar.

Afinal, no ano passado o Brasil exerceu um nada honroso e desconfortável papel de um dos países do mundo que registraram as maiores taxas inflacionárias, com seus olímpicos e absolutamente recordistas 1.973%, abaixo, somente, da Argentina, com 4.924% e do Peru, com 2.775%.     

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de agosto de 1990)


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