Plantando
bem, tudo dá
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, com suas dimensões continentais, foi tido
e havido até há poucos anos como um país eminentemente agrícola, onde as terras
seriam muito férteis e onde a afirmação do primeiro cronista desse semicontinente,
Pero Vaz de Caminha, “em se plantando tudo dá”, acabou por se transformar em
slogan.
Só que essa atividade, estranhamente, nunca teve
entre nós um balizamento, uma orientação segura e lógica, uma política, enfim.
Vários ciclos sucederam-se caoticamente, com os diversos governos ficando
sempre de olho no mercado externo, embora sequer fôssemos auto-suficientes na
totalidade de alimentos necessários à nossa população.
Períodos de superprodução – em especial de café –
alternaram-se com safras minguadas, o que demonstra que nesse setor o barco
nacional não dispunha de bússola. Agora, o governo do presidente Collor
pretende mudar isso.
É indispensável, todavia, que a mudança não se
constitua num mero plano, já que projetar o futuro é um exercício inútil, dada
a imponderabilidade dos acontecimentos. A política agrícola brasileira deve
ser, isto sim, o elenco de regras, válidas e iguais para todos, que regulamente
o jogo econômico nessa atividade essencial.
Precisa dividir-se em três partes fundamentais:
medidas de emergência, de médio prazo e de longa projeção. No primeiro caso, o
objetivo é garantir uma próxima safra farta e barata. Para isso, é
indispensável que haja condições para os agricultores, tanto de financiamentos
e juros que não sejam os leoninos de mercado, quanto de comercialização a
preços compensadores, acesso barato à moderna tecnologia, aos equipamentos,
insumos, sementes e defensivos, bem como a garantia de escoamento e
armazenamento do que for produzido.
Todavia, é preciso que se pense, igualmente, nas
colheitas de 1992, 1993, 1994 e assim sucessivamente. Para isso, a política
agrícola, para merecer de fato esse nome, tem de fixar regras claras,
imutáveis, seguras, que tornem a atividade tentadora, e não apenas viável como
se procura fazer hoje.
A produção de alimentos é não somente uma condição
indispensável ao combate à inflação, mas fundamental para vencer
definitivamente esta guerra e impedir que o voraz monstro que devora parcelas
crescentemente maiores do fruto do nosso trabalho possa se recuperar.
Afinal, no ano passado o Brasil exerceu um nada
honroso e desconfortável papel de um dos países do mundo que registraram as
maiores taxas inflacionárias, com seus olímpicos e absolutamente recordistas
1.973%, abaixo, somente, da Argentina, com 4.924% e do Peru, com 2.775%.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 16 de agosto de 1990)
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