Sunday, April 30, 2017

Ética e política



Pedro J. Bondaczuk


A palavra “ética” vem se tornando a expressão da moda de uns tempos para cá, desde quando as denúncias de Pedro Collor, em abril do ano passado, levantaram o véu que encobria um dos maiores casos de corrupção de que o País já teve notícia e que redundou no impeachment e na perda dos direitos políticos do ex-presidente Fernando Collor.

Mas não basta que apenas se fale em moral pública, mas é indispensável, antes de tudo, que se saiba com clareza seu significado e alcance e que se a pratique. Uma sociedade não será mais ou menos corrupta apenas por condenar atitudes aéticas. É indispensável que os atos lesivos ao próximo sejam erradicados.

Régis Jolivet, em seu “Curso de Filosofia”, define moral como sendo “a ciência que trata do uso que o homem deve fazer de sua liberdade, para atingir seu fim último”. E Eduardo Giannetti da Fonseca acentua, num brilhante ensaio publicado no periódico “Braudel Papers”: “Há verdades, como as da ética, que não basta serem ditas. É preciso fazer com que despertem o interesse e sejam sentidas”. O momento, portanto, é bastante oportuno para transformar palavras em ação.

A oportunidade para a moralização da vida política e econômica do País é preciosa e convém que seja aproveitada. Para que isso ocorra, todavia, se faz indispensável um nível razoável de politização do brasileiro, o que, infelizmente, ele ainda não possui, e que somente é possível mediante a informação clara, didática, honesta, competente e construtiva.

Movimentos e associações estão surgindo em grande quantidade em várias partes do País, objetivando dar ao cidadão condições para que ele venha a exercer de fato a sua cidadania, exercício este que apenas se realiza mediante a participação. Uma dessas entidades é a Associação Brasileira de Ética Política, sediada em Barão Geraldo, que se propõe a fazer um trabalho de base junto à comunidade quanto aos direitos e deveres de cada um de seus integrantes.

Trata-se de um grupo suprapartidário que objetiva conscientizar as pessoas a fiscalizarem atos dos órgãos públicos, a estarem atentas às ações e omissões dos representantes que elegeram e a participarem, efetivamente, da vida nacional.

Ao mesmo tempo, a entidade defende que a ética começa em casa, no relacionamento dos cidadãos com seus familiares e outros membros da comunidade. Há um equívoco, bastante difundido, e que alguns setores fazem questão de aprofundar (ao invés de esclarecer) acerca do significado do termo “política”.

Hoje, quando o termo é mencionado, muitos torcem o nariz dizendo: “Não gosto desse assunto”. Acham que se trata, apenas, de atividade de pessoas oportunistas, que sempre têm palavras lisonjeiras na ponta da língua, pródigas em promessas, todas esquecidas após as eleições, à cata de votos.

Política, no entanto, é toda ação exercida pelo cidadão na vida comunitária. É participação. É o relacionamento com outras pessoas. É a busca de soluções dos problemas comuns, mediante a cooperação. Fazemos política da hora que acordamos até o momento de dormir, no lar, na rua, no trabalho, na escola, em todo o lugar em que nos relacionamos com nossos semelhantes. Restabelecer a ética nessa nobre atividade, portanto, significa resgatar a solidariedade, da qual o País está tão carente.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de março de 1993)


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