Ética e política
Pedro J. Bondaczuk
A palavra “ética” vem se
tornando a expressão da moda de uns tempos para cá, desde quando as
denúncias de Pedro Collor, em abril do ano passado, levantaram o véu
que encobria um dos maiores casos de corrupção de que o País já
teve notícia e que redundou no impeachment e na perda dos direitos
políticos do ex-presidente Fernando Collor.
Mas não basta que apenas se
fale em moral pública, mas é indispensável, antes de tudo, que se
saiba com clareza seu significado e alcance e que se a pratique. Uma
sociedade não será mais ou menos corrupta apenas por condenar
atitudes aéticas. É indispensável que os atos lesivos ao próximo
sejam erradicados.
Régis Jolivet, em seu “Curso
de Filosofia”, define moral como sendo “a ciência que trata do
uso que o homem deve fazer de sua liberdade, para atingir seu fim
último”. E Eduardo Giannetti da Fonseca acentua, num brilhante
ensaio publicado no periódico “Braudel Papers”: “Há verdades,
como as da ética, que não basta serem ditas. É preciso fazer com
que despertem o interesse e sejam sentidas”. O momento, portanto, é
bastante oportuno para transformar palavras em ação.
A oportunidade para a
moralização da vida política e econômica do País é preciosa e
convém que seja aproveitada. Para que isso ocorra, todavia, se faz
indispensável um nível razoável de politização do brasileiro, o
que, infelizmente, ele ainda não possui, e que somente é possível
mediante a informação clara, didática, honesta, competente e
construtiva.
Movimentos e associações
estão surgindo em grande quantidade em várias partes do País,
objetivando dar ao cidadão condições para que ele venha a exercer
de fato a sua cidadania, exercício este que apenas se realiza
mediante a participação. Uma dessas entidades é a Associação
Brasileira de Ética Política, sediada em Barão Geraldo, que se
propõe a fazer um trabalho de base junto à comunidade quanto aos
direitos e deveres de cada um de seus integrantes.
Trata-se de um grupo
suprapartidário que objetiva conscientizar as pessoas a fiscalizarem
atos dos órgãos públicos, a estarem atentas às ações e omissões
dos representantes que elegeram e a participarem, efetivamente, da
vida nacional.
Ao mesmo tempo, a entidade
defende que a ética começa em casa, no relacionamento dos cidadãos
com seus familiares e outros membros da comunidade. Há um equívoco,
bastante difundido, e que alguns setores fazem questão de aprofundar
(ao invés de esclarecer) acerca do significado do termo “política”.
Hoje, quando o termo é
mencionado, muitos torcem o nariz dizendo: “Não gosto desse
assunto”. Acham que se trata, apenas, de atividade de pessoas
oportunistas, que sempre têm palavras lisonjeiras na ponta da
língua, pródigas em promessas, todas esquecidas após as eleições,
à cata de votos.
Política, no entanto, é toda
ação exercida pelo cidadão na vida comunitária. É participação.
É o relacionamento com outras pessoas. É a busca de soluções dos
problemas comuns, mediante a cooperação. Fazemos política da hora
que acordamos até o momento de dormir, no lar, na rua, no trabalho,
na escola, em todo o lugar em que nos relacionamos com nossos
semelhantes. Restabelecer a ética nessa nobre atividade, portanto,
significa resgatar a solidariedade, da qual o País está tão
carente.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de março de 1993)
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