Palavras ao vento
Pedro J.
Bondaczuk
O País viveu, no último fim de
semana, mais um capítulo da verdadeira novela em que se transformou o escândalo
envolvendo o empresário alagoano Paulo César Farias e as possíveis ligações
desse cidadão com o presidente Fernando Collor.
As grandes revistas de circulação
nacional colocaram um pouco mais de pimenta no assunto, em suas últimas
edições, como, aliás, já virou rotina desde que a questão veio à tona, no mês
de maio. Desde então, o escandaloso affaire raramente cedeu espaço nas
manchetes.
De tudo o que já foi dito acerca
do tema, tanto no que se refere às denúncias, quanto à defesa presidencial,
fica a impressão ao leigo, àquele que não tem acesso direto aos documentos e
nem aos depoimentos prestados na Comissão Parlamentar de Inquérito e na Polícia
Federal, que os dois lados estão dizendo somente meias-verdades. E estas, dada
sua verossimilhança, são muito piores do que a mentira completa.
Toda esta celeuma tem seu lado
positivo e sua face sumamente negativa. O aspecto bom é o fato da opinião
pública questionar as mazelas nacionais como nunca antes foi feito. Os cidadãos
que compõem a chamada “maioria silenciosa” exigem que se coloque um basta na
corrupção, que aliás está muito longe de ser uma prerrogativa brasileira.
Procedimentos que todos intuíam
que sempre existiram, mas que no passado não podiam vir a lume dado o
amordaçamento – sutil ou escancarado – dos meios de comunicação, estão sendo
desmascarados. Todavia, como ressaltou o padre Antonio Vieira, num de seus
inspirados sermões, para que as manifestações de intenções produzam algum
efeito, elas precisam vir acompanhadas, invariavelmente, de atos. O sacerdote
sentenciou: “Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são
necessárias obras”.
O lado ruim dessas denúncias,
desacompanhadas – pelo menos por enquanto – de providências é que, além de não
estar produzindo qualquer efeito prático, servem de “cortina de fumaça” para
problemas muito mais graves, que atingem toda a cidadania.
Ainda na semana passada, vimos a
classe empresarial hipotecar apoio ao ministro da Economia, Marcílio Marques
Moreira e, conseqüentemente, à sua política recessiva. Gente favorável e
contrária ao governo – aliás isto está cada vez mais difícil de identificar –
desfilou nos noticiários para dar a entender que agora o País está salvo da
ruína econômica com o acordo fechado com os bancos credores internacionais para
a rolagem, por 30 anos, da dívida externa governamental de US$ 44 bilhões.
Bobagem.
O que confunde a opinião pública
é que o apoio e os elogios partiram das mesmas pessoas que vêm deblaterando
contra a crise, a prolongada recessão e a catástrofe social que aí estão postas.
Parece que o escândalo PC vem exercendo um papel altamente alienante nas
pessoas, fazendo com que elas prestem atenção demasiada na formiguinha e acabem
por ser atropeladas pelo elefante da miséria.
Ou será que se pode dizer que
está salvo um país que convive com uma inflação média de 22,5% há meio ano? Ou
que esta salvação virá da simples lavagem de roupa suja em público, sem que
nada ocorra com os que delinqüem na gestão da coisa pública?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de
julho de 1992).
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