Insegurança latente
Pedro J. Bondaczuk
O Plano Real, apesar de haver
resistido, a contento, a várias pressões, ainda é encarado com
ceticismo por 22% da população e com absoluto pessimismo por outros
24%. Foi o que revelou a pesquisa, elaborada em outubro de 1994,
pouco depois das eleições presidenciais, pela Ipsa Group
Latinoamerica. Para os primeiros, as coisas de fato melhoraram, mas
voltarão ao que eram, com taxas de inflação ao redor dos 40%
mensais. Os segundos foram mais incisivos.
Sem revelar se têm ou não
uma base sólida para fundamentar suas sombrias previsões,
simplesmente afirmaram que o programa de ajuste da economia não vai
dar em nada. Que será mais um fracasso. É o caso de se dar três
batidinhas na madeira para espantar o azar.
Só não se sabe se tais
pessoas são os famosos "pessimistas de carteirinha" --- e
há muitos destes por aí --- ou apenas os precavidos. Ou, quem sabe,
estes dois grupos são compostos pelos que lucram com a orgia
inflacionária. Claro que nem este, nem nenhum outro plano, trazem a
garantia absoluta de sucesso, por si sós.
Todas as tentativas para
debelar a inflação dependem de cooperação geral, de um sentido
coletivo, de um "jogo de equipe", de uma visão de médio e
longo prazo. Não será especulando com estoques, por exemplo, que
este flagelo será vencido. E nem reajustando preços a torto e a
direito. Além disso, as várias instâncias do governo --- federal,
estaduais e municipais --- têm que fazer a sua parte e evitar gastos
supérfluos e déficits incabíveis nestas circunstâncias.
Ninguém é ingênuo --- não
mais, depois da frustrante experiência do Cruzado --- de achar que a
guerra já esteja ganha. O que se comemora são as primeiras
batalhas vencidas. Outras, certamente, virão. E talvez algumas
derrotas, também. Dizia-se, amiúde, por volta de agosto, que a
inflação voltaria a disparar em outubro, tão logo fossem
conhecidos os resultados das urnas. Não disparou. Posteriormente, as
"cassandras de mau agouro" previam uma explosão
inflacionária em novembro, por causa de fatores sazonais, como a
entressafra da carne, por exemplo.
Houve, de fato, considerável
alta no início do mês. Todavia refluiu e a taxa medida pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe),
revelou-se inferior à de outubro. E, o que é melhor, mostra nítida
tendência de baixa em dezembro. Uma eventual alta em janeiro, quando
Fernando Henrique Cardoso, mentor do Plano Real, assume a
Presidência, é bastante improvável. Até porque, a partir de então
é que vai começar a guerra de verdade contra este flagelo. Qual a
razão, pois, de pessimismo, se as batalhas que não foram ganhas
pelo menos terminaram empatadas?
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de
dezembro de 1994)
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