Wednesday, April 12, 2017

Insegurança latente



Pedro J. Bondaczuk



O Plano Real, apesar de haver resistido, a contento, a várias pressões, ainda é encarado com ceticismo por 22% da população e com absoluto pessimismo por outros 24%. Foi o que revelou a pesquisa, elaborada em outubro de 1994, pouco depois das eleições presidenciais, pela Ipsa Group Latinoamerica. Para os primeiros, as coisas de fato melhoraram, mas voltarão ao que eram, com taxas de inflação ao redor dos 40% mensais. Os segundos foram mais incisivos.

Sem revelar se têm ou não uma base sólida para fundamentar suas sombrias previsões, simplesmente afirmaram que o programa de ajuste da economia não vai dar em nada. Que será mais um fracasso. É o caso de se dar três batidinhas na madeira para espantar o azar.

Só não se sabe se tais pessoas são os famosos "pessimistas de carteirinha" --- e há muitos destes por aí --- ou apenas os precavidos. Ou, quem sabe, estes dois grupos são compostos pelos que lucram com a orgia inflacionária. Claro que nem este, nem nenhum outro plano, trazem a garantia absoluta de sucesso, por si sós.

Todas as tentativas para debelar a inflação dependem de cooperação geral, de um sentido coletivo, de um "jogo de equipe", de uma visão de médio e longo prazo. Não será especulando com estoques, por exemplo, que este flagelo será vencido. E nem reajustando preços a torto e a direito. Além disso, as várias instâncias do governo --- federal, estaduais e municipais --- têm que fazer a sua parte e evitar gastos supérfluos e déficits incabíveis nestas circunstâncias.

Ninguém é ingênuo --- não mais, depois da frustrante experiência do Cruzado --- de achar que a guerra já  esteja ganha. O que se comemora são as primeiras batalhas vencidas. Outras, certamente, virão. E talvez algumas derrotas, também. Dizia-se, amiúde, por volta de agosto, que a inflação voltaria a disparar em outubro, tão logo fossem conhecidos os resultados das urnas. Não disparou. Posteriormente, as "cassandras de mau agouro" previam uma explosão inflacionária em novembro, por causa de fatores sazonais, como a entressafra da carne, por exemplo.

Houve, de fato, considerável alta no início do mês. Todavia refluiu e a taxa medida pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe), revelou-se inferior à de outubro. E, o que é melhor, mostra nítida tendência de baixa em dezembro. Uma eventual alta em janeiro, quando Fernando Henrique Cardoso, mentor do Plano Real, assume a Presidência, é bastante improvável. Até porque, a partir de então é que vai começar a guerra de verdade contra este flagelo. Qual a razão, pois, de pessimismo, se as batalhas que não foram ganhas pelo menos terminaram empatadas?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de dezembro de 1994)


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