Perdas salariais
Pedro J. Bondaczuk
O
Congresso Nacional certamente vai modificar a medida provisória publicada esta
semana e que institui a Unidade Real de Valor (URV) como indexador único da
economia e é o embrião da futura moeda. Alguns com sinceridade de propósitos, a
maior por interesse próprio (já que se trata de um ano eleitoral), o fato é que
senadores e deputados não irão aprovar, do jeito que está, a proposta do
governo, em especial na parte que trata da conversão de salários para o novo
índice.
Se
não houve perdas. como o ministro da Fazenda garante, Fernando Henrique Cardoso
terá que ser muito convincente, mais do que foi até agora e mais claro em suas
argumentações, para demonstrar. O general medo-persa Ciro afirmou, há mais de
dois mil anos, que "um plano que não admite modificações é um plano
ruim".
Claro
que tais alterações têm que ser de forma a que não o descaracterizem. Mas,
parodiando o ex-ministro do Trabalho, Antonio Rogério Magri, não pode ser
"imexível". Isso implica dizer que é legítima a movimentação dos
sindicatos, no sentido de evitar ainda mais prejuízos para os salários, os
principais prejudicados pelas várias "experiências" econômicas
perpetradas de 1986 para cá no País. Cabe-lhes esse papel.
Eles
existem é para isso mesmo. É até possível que tais entidades estejam sendo
precipitadas, lançando prematuros movimentos grevistas. Mas numa democracia que
se preze, tais atitudes devem ser consideradas normais.
O
próprio ministro da Fazenda, numa de suas tantas preleções acerca da URV,
ressaltou que o momento não é de ganhos ou perdas para ninguém. Portanto, caso
fique demonstrado que os salários sofreram alguma erosão, por menor que seja,
até por uma questão de coerência, o que foi perdido deve ser reposto.
A
forma como tal reposição será feita é o que menos importa. Mais achatamento
salarial vai implicar em fatal redução de arrecadação de tributos (pagos, em
última análise, pelos assalariados, que são concomitantemente consumidores e
contribuintes), produzindo déficits orçamentários, realimentadores de inflação.
Por
isso, requer-se coerência da parte de Fernando Henrique Cardoso. Ou ele prova
que os salários não sofreram nenhuma perda, como argumenta, ou repõe o que foi
perdido, para que seu plano não se perca onde os anteriores naufragaram: falta
de credibilidade.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de março de 1994).
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