Oposição sistemática
Pedro J. Bondaczuk
O plano de ação do governo,
anunciado com pompa e circunstância em 24 de abril passado, pelo
presidente Itamar Franco, embora ainda não passe de mera carta de
intenções, já que depende das aprovação do Congresso para os
vários projetos de lei e medidas provisórias que o concretizem, à
primeira vista parece lógico, consistente e viável.
Esbarra, todavia, num
obstáculo enorme: a credibilidade. Há setores que – ou não
confiam, de fato, ou usam a pretensa desconfiança sobre uma
possibilidade futura de novos choques, congelamentos e confiscos como
meros pretextos – continuam remarcando, preventivamente, seus
preços. Por conseqüência, a inflação está em plena espiral
ascendente e pode comprometer todo o projeto de retomada do
crescimento. E o início da solução da crise voltará à estaca
zero.
Aliás, este problema, o da
falta de confiança, não é somente de Itamar. Praticamente todos os
presidentes brasileiros, por este ou aquele motivo, em maior ou menor
grau, enfrentaram resistências semelhantes aos seus programas e
atos.
Getúlio Vargas enfrentou, no
seu primeiro governo, férrea oposição, por ser ditador. No outro
mandato, o conquistado nas urnas, foi acusado de corrupção, que
seria de tal sorte, a ponto do Palácio do Catete (a sede
governamental de então, no Rio de Janeiro) estar assentado sobre “um
mar de lama”. De Juscelino, foi dito que auferia lucros pessoais
fantásticos com a construção de Brasília.
Jânio Quadros, eleito por
consagradora maioria, como a grande esperança de moralização do
País, enfrentou, logo no início do mandato, tenaz oposição, por
seu pretenso “autoritarismo”. Seu temperamento levou-o à
renúncia, que não é tão inexplicável quanto sempre se procurou
dar a entender.
João Goulart pagou pelo
populismo, principalmente quando se propôs a empreender reformas que
há muito se faziam necessárias e que acabaram por se transformar na
pedra que o fez tropeçar e ser deposto.
Dos vários governos
militares, é escusado relatar as razões da oposição que sofreram
de parcelas significativas da população. José Sarney perdeu a
credibilidade quando passou a barganhar o quinto ano de mandato, com
a política do “é dando que se recebe”.
De Fernando Collor nem é bom
falar sobre o que o levou a cair no descrédito. Sua gestão foi tão
desastrosa, que foi como se o País houvesse sido atingido por algum
cataclismo catastrófico, algum terremoto devastador, no máximo grau
da Escala Richter.
O governo Itamar Franco
assumiu em circunstâncias especialíssimas, sob promessas de
cooperação por parte da classe política e dos setores mais
representativos da sociedade. Enfrentou dificuldades terríveis para
a composição do ministério, uma costura complicada de retalhos de
peças as mais heterogêneas da esquerda à direita.
Nem bem chegou a tomar ciência
sobre a quantas andavam as contas públicas, trocou o ministro da
Fazenda, Gustavo Krause. Meses depois, o substituto deste, Paulo
Haddad, também caiu em desgraça. O Orçamento da União, que
deveria estar em vigor em 1º de janeiro, só foi sancionado na
semana passada.
Apesar de tudo isso, Itamar
cumpriu as promessas que fez de não recorrer a choques ou
congelamentos. Não confiscou poupança de ninguém. Mesmo assim, não
dispõe de nenhuma credibilidade. De duas, uma: ou não sabemos e
nunca soubemos escolher presidentes, ou agimos como aquele nihilista
espanhol da anedota, que perguntava: “Hay gobierno?”. E
arrematava, a seguir: “Entonces, yo soy contra!”.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de maio de 1993).
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