Friday, April 21, 2017

Novos líderes para novos tempos



Pedro J. Bondaczuk


A complexidade das relações sociais neste início de século e de milênio, gerando problemas que nossos pais e avós sequer atinavam em seu tempo, provoca a necessidade do surgimento de um novo tipo de liderança. Há alguns anos, por exemplo, poluição era algo desconhecido. O termo "ecologia" surgiu apenas na década de 70, quando as questões ambientais deixaram de ser assunto de meia dúzia de estudiosos, para freqüentar as manchetes da imprensa. A Aids foi mencionada, pela primeira vez, em 1983, (pelo menos com a ênfase que o assunto merece), fruto podre da permissividade e da irresponsabilidade de milhões.

Exige-se, hoje, dos líderes de qualquer espécie, além dos atributos tradicionais, como competência, coragem, maleabilidade e capacidade de diálogo e, principalmente, de decisão, outros que são característicos dos novos tempos. Como, por exemplo, alto grau de informação, nos mais variados campos do conhecimento humano. E, sobretudo, muita criatividade. Ou seja, uma capacidade aguçada de encontrar novas soluções a partir de velhos pressupostos. Para tanto, faz-se indispensável a existência de um conjunto de circunstâncias simultâneas.

Exige pessoas que tenham coragem de se livrar de tabus, de ignorar preconceitos, de contestar dogmas e que, sobretudo, contem com uma capacidade ímpar de convencimento. O momento presente é de transição. As ideologias que prevaleceram durante praticamente todo o século XX provaram ser inadequadas para garantir equilíbrio econômico, com justiça social, para os povos.

O século passado foi, sem dúvida alguma, o mais violento da história. Nesse período, a humanidade passou por duas sangrentas e catastróficas guerras mundiais (na segunda surgiu a bomba atômica), por uma infinidade de revoluções (a portuguesa de 1910; a mexicana, de 1911; a Bolchevique, de 1917; a iraniana, de 1978, apenas para citar algumas das principais), além de conflitos nacionais e regionais, longos, mortíferos, desastrosos, com milhões de vidas humanas desperdiçadas por nada.

O modelo de estadista que prevaleceu ao longo de todo o século XX mostrou, sobejamente, não ser adequado. A humanidade regrediu, em termos de relacionamento social, na proporção inversa dos avanços da ciência e da tecnologia e da riqueza mundial. Faltou (e falta, o que é pior) uma liderança adequada. Hoje, dois terços dos habitantes do Planeta vegetam e batalham, virtualmente sem perspectivas ou esperanças, para sustentar o um terço que tudo tem e tudo pode, sem que haja a mínima razão lógica para isso. Será que há pessoas que acreditam de verdade que ninguém vai tentar alterar esse perverso quadro com o pior possível de todos os expedientes: o da violência? Parece que sim! E essa atitude (até uma criança inocente sabe, se é que ainda exista), é o cúmulo da alienação.

Os líderes da nova geração precisam ter em mente o potencial de violência e de destruição existente nessa situação de desigualdade e de exploração do homem pelo homem. E, mais do que isso, têm a obrigação de encontrar soluções criativas para este problema, até aqui ignorado, quando não tratado meramente como simples tema acadêmico, sem o devido realismo.

Sepultada a Guerra Fria, que por quase 50 anos manteve a humanidade à beira da hecatombe nuclear, se torna urgente, urgentíssimo, imediato, premente neutralizar o risco muito maior do que o confronto temido, mas nunca concretizado, das antigas superpotências: o da "bomba da miséria"! Falar, hoje, em sociedades não-excludentes, em que imperem a racionalidade e a justiça social, soa como delirante utopia. E, no entanto, é o único caminho lógico para evitar conflitos de conseqüências imprevisíveis.


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