Wednesday, April 26, 2017

Plano está minado


Pedro J. Bondaczuk


O Plano Collor vem despertando crescentes suspeitas de ser um barco que está fazendo água, a despeito de sucessivas declarações de seus mentores e gestores, a ministra Zélia Cardoso de Mello, o secretário de Política Econômica, Antonio Kandir, e o presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, de que tudo está correndo de acordo com o previsto.

Talvez fosse mais prudente e desejável, até por uma questão de tática, que eles fizessem menos declarações e mostrassem maiores resultados. Assim que o programa foi lançado, se apregoou aos quatro ventos que a inflação já era virtualmente coisa do passado. Afirmou-se que, em 100 dias, as taxas baixariam dos indecentes 84% de março para um patamar de um dígito, algo próximo a 10% mensais.

O período passou e a queda, embora fosse real, não alcançou a cifra pretendida. Posteriormente, na carta de intenções encaminhada ao Fundo Monetário Internacional, a equipe do presidente Collor estabeleceu a meta de 2,5% para os últimos três meses do ano.

Entretanto, em 2 de agosto passado, o presidente iraquiano Saddam Hussein, num gesto intempestivo, determinou a invasão e anexação do Kuwait, provocando um novo choque do petróleo. Na ocasião, nossas autoridades econômicas asseguraram que o impacto da crise do Golfo Pérsico sobre o plano de combate à inflação não seria muito grande.

Em fins de outubro, porém, a cantilena mudou. O novo surto inflacionário foi atribuído mais às estrepolias do truculento Saddam Hussein do que a eventuais subestimações de alguns fatores que não foram avaliados devidamente.

Para complicar, há duas autênticas "minas", armadilhas plantadas no caminho de uma vitória sobre a inflação, uma interna e outra externa. A local refere-se à não concessão de créditos no tempo certo para a agricultura, o que leva à previsão de uma safra menor do que a de anos anteriores. A externa, é a ausência de créditos para importações, determinada pelas dificuldades na renegociação da dívida externa.

A proposta brasileira, apresentada aos banqueiros, é inteligente e sensata. Os entendimentos, porém, não podem se desenrolar numa base de confrontação. É preciso que haja flexibilidade. As duas armadilhas são inflacionárias.

Talvez seja por essa razão que os gestores do plano econômico estejam, agora, prometendo a queda da inflação apenas para abril ou maio de 1991. Melhor seria, porém, se não fizessem mais nenhuma promessa e descessem da sua torre de marfim para o terreno da realidade, para a travessia da dura tormenta que se desenha no horizonte.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de novembro de 1990).



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