Plano está minado
Pedro J. Bondaczuk
O Plano Collor vem despertando
crescentes suspeitas de ser um barco que está fazendo água, a
despeito de sucessivas declarações de seus mentores e gestores, a
ministra Zélia Cardoso de Mello, o secretário de Política
Econômica, Antonio Kandir, e o presidente do Banco Central, Ibrahim
Eris, de que tudo está correndo de acordo com o previsto.
Talvez fosse mais prudente e
desejável, até por uma questão de tática, que eles fizessem menos
declarações e mostrassem maiores resultados. Assim que o programa
foi lançado, se apregoou aos quatro ventos que a inflação já era
virtualmente coisa do passado. Afirmou-se que, em 100 dias, as taxas
baixariam dos indecentes 84% de março para um patamar de um dígito,
algo próximo a 10% mensais.
O período passou e a queda,
embora fosse real, não alcançou a cifra pretendida. Posteriormente,
na carta de intenções encaminhada ao Fundo Monetário
Internacional, a equipe do presidente Collor estabeleceu a meta de
2,5% para os últimos três meses do ano.
Entretanto, em 2 de agosto
passado, o presidente iraquiano Saddam Hussein, num gesto
intempestivo, determinou a invasão e anexação do Kuwait,
provocando um novo choque do petróleo. Na ocasião, nossas
autoridades econômicas asseguraram que o impacto da crise do Golfo
Pérsico sobre o plano de combate à inflação não seria muito
grande.
Em fins de outubro, porém, a
cantilena mudou. O novo surto inflacionário foi atribuído mais às
estrepolias do truculento Saddam Hussein do que a eventuais
subestimações de alguns fatores que não foram avaliados
devidamente.
Para complicar, há duas
autênticas "minas", armadilhas plantadas no caminho de uma
vitória sobre a inflação, uma interna e outra externa. A local
refere-se à não concessão de créditos no tempo certo para a
agricultura, o que leva à previsão de uma safra menor do que a de
anos anteriores. A externa, é a ausência de créditos para
importações, determinada pelas dificuldades na renegociação da
dívida externa.
A proposta brasileira,
apresentada aos banqueiros, é inteligente e sensata. Os
entendimentos, porém, não podem se desenrolar numa base de
confrontação. É preciso que haja flexibilidade. As duas armadilhas
são inflacionárias.
Talvez seja por essa razão
que os gestores do plano econômico estejam, agora, prometendo a
queda da inflação apenas para abril ou maio de 1991. Melhor seria,
porém, se não fizessem mais nenhuma promessa e descessem da sua
torre de marfim para o terreno da realidade, para a travessia da dura
tormenta que se desenha no horizonte.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de novembro de 1990).
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