Wednesday, February 28, 2018

Reflexão do dia


...ESTAMOS PRÓXIMOS, MAS ESTAMOS SÓS...”
Você é capaz, caro leitor, de identificar o autor deste texto?: “A esperança não será a prova de um sentido oculto da existência, uma coisa que merece que se lute por ela?”. E deste?: “Creio que a verdade é perfeita para a matemática, a química, a filosofia, mas não para a vida. Na vida contam mais a ilusão, a imaginação, o desejo e a esperança”. Ou deste outro?: “A vaidade é um elemento tão sutil da alma humana que a encontramos onde menos se espera, ao lado da bondade, da abnegação, da generosidade”.Ou ainda deste?: “Estamos próximos, mas estamos a uma distância incomensurável; estamos próximos, mas estamos sós”. São ideias expressas com coragem e com meridiana clareza por alguém afeito a perscrutar a alma humana para compreender o que move o homem, seus anseios, suas angústias, suas dúvidas e contradições. São de Ernesto Sábato, um dos maiores escritores argentinos de todos os tempos – e olhem que a Argentina os produziu e produz em profusão – senão da América Latina e do mundo. E não exagero.

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CITAÇÃO DO DIA:

Mulher amada 

Um belo rosto é o mais belo de todos os espetáculos; e a mais doce harmonia é o som da voz da mulher amada.

(Jean de La Bruyére).



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DIRETO DO ARQUIVO - Sucessão está deflagrada


Sucessão está deflagrada

Pedro J. Bondaczuk

O presidente Itamar Franco, tido e havido como defensor da estatização, deve passar para a história como o principal responsável pela privatização da empresa considerada símbolo da industrialização do País: a Companhia Siderúrgica Nacional.

Como todos os demais leilões, esse também foi marcado por denúncias de irregularidades, por acusações acerca de favorecimentos a este ou àquele grupo e por uma batalha de liminares e contraliminares, que manteve o processo na corda bamba até o último instante. Se todo o barulho procede ou não, o tempo haverá de dizer. Mas toda essa celeuma não deixa de esconder uma certa ironia.

Tão logo assumiu o poder, Itamar foi acusado de não fazer muito empenho na continuidade do programa de privatização. O presidente resolveu proceder a algumas mudanças nas regras e seus críticos não o perdoaram. Disseram que tudo não passava de um conjunto de manobras protelatórias, cujo objetivo era o de conservar as estatais do jeito que estavam. Reiteradamente ele afirmou que o leilão da CSN não seria adiado. O mercado parecia não levar muito a sério suas declarações. E, de fato, a privatização ocorreu, na data marcada.

A partir de agora, a velha Companhia Siderúrgica Nacional, orgulho do ex-presidente Getúlio Vargas, que a criou há 52 anos, já não pertence ao Estado. Foi um bom negócio? Talvez se questione o montante em dinheiro vivo exigido, US$ 60 milhões, como sendo inexpressivo, pois representa apenas 3,8% dos US$ 1,6 bilhão do seu preço total. Este também pode ser questionável.

Todavia, doravante, o governo não precisará mais desviar preciosos recursos da educação, da saúde e de outras áreas de sua absoluta competência para cobrir prejuízos dessa estatal, como fez em inúmeras oportunidades com a CSN e com outras empresas de desempenho ainda pior.

Politicamente, talvez a privatização não tenha sido um bom negócio. Afinal, Itamar perdeu outro partido, dos que lhe conferiram a frágil base congressual com que contava: o PDT de Leonel Brizolla.

Fica a impressão de que o leilão da siderúrgica foi apenas um pretexto para que o velho cacique gaúcho pulasse fora de um barco que ameaça fazer água. Certos da vitória do presidencialismo no plebiscito do próximo dia 21, os candidatos óbvios à Presidência já colocaram suas campanhas nas ruas, com mais de um ano de antecedência.

Eles negam, mas isso está para lá de claro. Como sempre, os interesses do País, que tem uma pequena chance – mínima, por sinal – de sair da presente e longuíssima crise, foram, mais uma vez, postos de lado, por políticos que já tiveram inúmeras oportunidades de mostrar serviço e não o fizeram.

Não bastasse o espetaculoso rompimento de Brizolla com o presidente, este foi alvo, ainda, de críticas, sérias e contundentes, no fim de semana, por parte de outros dois presidenciáveis: Paulo Maluf e Luís Inácio Lula da Silva.

Ambos explicitaram reparos ao estilo Itamar. Ressaltaram a sua inércia. Deram a entender que o presidente fala muito e nada faz. Maluf afirmou que o atual governo acabou. Para Lula, ele sequer começou. Mas como governar no atual sistema? Onde o prometido, mas nunca selado, pacto de governabilidade dos partidos? Itamar, doravante, será o alvo preferido dos que estão de olho na sua sucessão. E o País, como fica no próximo um ano e meio, até 1º de janeiro de 1995?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de abril de 1993).



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CRÔNICA DO DIA - Profundo ou confuso?


Profundo ou confuso?

Pedro J. Bondaczuk

Há escritores que gostam de complicar seus textos, com profusão de metáforas, de jargões, de palavras que existem mas que são raramente utilizadas no cotidiano e vai por aí afora. Entendem que isso seja “erudição” e que estão dando preciosa contribuição às letras e ao idioma. Não estão. Esquecem-se que a literatura é uma forma, talvez um pouco mais sofisticada, de comunicação. E o comunicador que não se faz entendido por todos os que têm contato com suas mensagens... é um fracassado.

Há escritores que são quase que ininteligíveis se você, ao lê-los, não tiver um bom dicionário à mão, que terá que consultar a todo o momento. Suas ideias são obscuras, ambíguas, dissimuladas e você tem que fazer enorme ginástica mental para tentar entendê-las. Alguns deles até que conseguem sucesso escrevendo dessa forma empolada e firmam prestígio de eruditos. Mas se você pedir aos seus leitores que façam uma descrição resumida do que leram, mesmo aos mais cultos e esclarecidos, eles não conseguirão. Poderão, até, apresentar suas “versões”, mas dificilmente estas estarão de acordo com o que o sujeito de fato escreveu.

Faço essa constatação não com o objetivo de criticar quem quer que seja. Até porque, não cometeria a indelicadeza de nominar escritores tão confusos, muitos até que se julgam, sinceramente, literariamente profundos, mas que na verdade são apenas obscuros. Faço-o no sentido de recomendar aos neófitos, aos jovens que estão adentrando este fascinante e não raro decepcionante mundo das letras, que atentem para os benefícios e a necessidade da clareza no que escrevem. Lembrem-se que vocês são, também, comunicadores. E o comunicador que não dá conta do recado de comunicar suas ideias e impressões é a negação do agente dessa atividade.

O interessante é que muitos desses textos obscuros são, até, bem construídos. Todavia, não raro seus autores se contradizem, sem que atinem e sem que o leitor, que nada entendeu do que escreveram, também perceba. Os filósofos (mas não somente eles) são muito dados a se valer dessa suposta “profundeza literária”. É mister, todavia, que se observe que clareza não implica no uso de linguagem e estilo relapsos. Você pode (e deve) expressar-se claramente e ainda assim com elegância e bom gosto. Aliás, este é o nosso grande desafio. É o que caracteriza o bom escritor e o distingue do medíocre (no sentido de mediano). Ademais, não se pode confundir simplicidade com infantilidade.

Li, tempos atrás, interessante crônica de Luís Martins a esse propósito, publicada no jornal O Estado de São Paulo, que não me limitei a ler, mas a recortei e adicionei à minha vasta hemeroteca. Aliás, abri uma pasta (que está abarrotada) exclusivamente para arquivar textos desse escritor, que foi colunista por muitos anos desse importante veículo de comunicação paulistano.

O texto a que me refiro intitula-se “A profundeza literária” e foi publicado na coluna “Crônica” em 6 de agosto de 1968. Nele, Luís Martins observa: “Muitas vezes, o efeito da profundeza literária é intencionalmente procurado, com laboriosa e consciente aplicação, e cujo êxito é uma "reussite" de falso virtuosismo, nada mais. O que, a meu ver, é um equívoco. Pois, na verdade, o mundo das ideias – a não ser que se trate da mente de um louco – é um mundo lógico, ordenado e luminoso, onde não há conclusões sem premissas, nem decretos ditatoriais sem "consideranda". O que acontece é que, na maioria das vezes, o pensador não é um escritor, isto é, vive no mundo das ideias mas não sabe exprimi-las exatamente em conceitos claros e objetivos, quando escreve; embrulha-se, divaga, perde-se num labirinto de solilóquios vazios, estabelecendo a maior confusão. Em suma, a profundeza é quase sempre um fruto da incapacidade de expressão”.

Todas as vezes que compro algum livro com essas características, ou seja, em que percebo que o autor quer mostrar maior profundeza literária do que de fato tem, ou fazer uma desnecessária exibição de erudição, sinto-me logrado. Como “castigo”, por não ter me informado, antes de comprar, a respeito da tal obra, leio-a do começo ao fim. Não raro, como castigo sobressalente, chego a relê-la, para aprender a ser mais cauteloso com o que vier a adquirir. Algumas dessas obras, consigo entender por completo, não sem antes fazer incríveis acrobacias e malabarismos mentais. Outras... entendo parcialmente, ficando vários pontos obscuros pendentes. Há, todavia, alguns desses livros que, por mais que tente, não compreendo patavina do que o autor quis dizer. E olhem que tenho cultura de razoável para boa! Imagino o drama do leitor que não seja, digamos, lá tão bem esclarecido.

Concordo com Luís Martins quando afirma que “o mundo das ideias é um mundo lógico, ordenado e luminoso”. Nele, de fato, “não há conclusões sem premissas”. Você até pode utilizar termos que não sejam de uso comum em seus textos, mas deve contextualizá-los. E não custa seguir a regrinha tão comum no jornalismo, que é a de “decodificá-lo”, mas com competência, sem dar a entender ao leitor que você o ache ignorante ou mal-informado. Como fazer isso? Ora, ora, ora, existem mil formas. Se você é, de fato, profissional do texto (e presume-se que o seja), não terá nenhuma dificuldade de fazer isso. Quem tem a verdadeira profundeza literária deixa-a bem à vista no que escreve. Mas de forma rigorosamente inteligível até por parte do cidadão que acabou de ser alfabetizado. Fuja, pois, da tentação de cair no pedantismo e de ostentar erudição, mesmo que você seja, de fato, erudito. Agindo assim, esteja certo, ganhará leitores e, por que não, fiéis e leais seguidores.


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Tuesday, February 27, 2018

Reflexão do dia


PENSAR NEGATIVO O TEMPO TODO É ESTAR ENTREGUE A UMA FORMA DOENTIA DE ALIENAÇÃO
O sujeito precisa ser muito mal-humorado, um verdadeiro pitt-bull, e burro como essa raça de cachorros para, em lendo as peripécias de Tia Zulmira, do primo Altamirando, de Bonifácio o Patriota e de outros do tantos personagens de Stanislaw Ponte Preta, não cair na gargalhada. E Chico Anysio também foi assim. Leiam os seus livros (já li 18 deles) e verão que não exagero. Escrevi a respeito desse escritor e quem leu a referida crônica sabe do meu apreço e admiração por ele. O mundo precisa de gente bem-humorada e que veja a vida sob o prisma do humor. Quanto aos que pensam que literatura é apenas um desfile de violência, de paixões incontroláveis (e não raro inconfessáveis), de ciúmes, vinganças, patifarias, taras etc.etc.etc. e tudo o que há de ruim na natureza humana, aqui vai uma recomendação. Reciclem seus conceitos. Revejam seus valores. Avaliem a vida sob todos os seus aspectos, e não somente os negativos. Pensar negativo o tempo todo é estar entregue a uma forma doentia de alienação, e a mais perversa delas. Aprenda a rir. Ria das situações engraçadas e até das trágicas. Certamente você já deve ter ouvido falar de tragicomédia. E, sobretudo, valorize os mestres do humor, como foram os saudosos Stanislaw Ponte Preta e o genial Chico Anysio.

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CITAÇÃO DO DIA:



Beleza e amor 

A beleza do espírito, causa admiração; a da alma, estima; e a do corpo, amor.

(Bernard Fontenelle).



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DIRETO DO ARQUIVO - O retrato da exclusão


O retrato da exclusão

Pedro J. Bondaczuk

A matéria do "Correio Popular" de ontem, sobre o "garimpo" de lixo no aterro sanitário Delta 1, no Jardim Satélite Íris, é uma boa mostra da situação social do País. É o retrato com cores fortes da exclusão, em que pessoas sobrevivem às custas dos restos, dos detritos, do considerado imprestável, jogado fora por outras.

Campinas, neste aspecto, com seus contrastes entre o excelente (suas universidades e centros de pesquisa) e o medíocre (o abandono dos carentes), é uma espécie de resumo do que ocorre no País e cujo desafio, não somente das autoridades, mas de toda a sociedade, é o de mudar esse quadro.

No caso específico do "lixão", são 252 pessoas --- 185 adultos e 67 crianças --- trabalhando (pois não deixa de ser um trabalho este de separação de papéis, latas de alumínio, cobre, vidro, etc., recicláveis) em condições desumanas. Claro que ninguém se submete a atividades como essa por prazer. Esses brasileiros, abandonados à própria sorte, sujeitos a contrair doenças ou a se intoxicar com resíduos químicos, são vítimas das circunstâncias.

Em geral, são migrantes, que vieram da zona rural para a cidade grande em busca da fantasia do sucesso e que, despreparados para a vida urbana, sem instrução nenhuma ou no máximo com rudimentos do "abc", acabaram marginalizados, tendo que recorrer ao que os outros jogam fora para sobreviver.

(Editorial número dois publicado na página 2 do Correio Popular em 23 de janeiro de 1998).



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CRÔNICA DO DIA - As vinhas da ira


As vinhas da ira

Pedro J. Bondaczuk

Há livros que, mesmo sendo de ficção, causam muito mais impacto do que milhares de reportagens sobre determinado tema, principalmente se escritos com alma e verdade e por escritores que realmente conheçam o ofício. Refletem, em cada linha, muito melhor a realidade do que matérias bem apuradas e bem escritas (e já nem me refiro àquelas “mambembes”, sonolentas e chatas, que caracterizam parte da imprensa na atualidade).

E por que isso acontece? Bem, uma das razões é a própria efemeridade do noticiário (e não importa veiculado em qual mídia). Qualquer notícia, por mais impactante que seja, perde a atualidade, horas depois de divulgada, sucedida por outras tantas, fresquinhas, abordando fatos que acabaram de acontecer ou mesmo que ainda estejam em andamento.

Já o livro, quando bem escrito, permanece vivo por anos, décadas, milênios até. Fica fora dos holofotes da atenção pública por algum tempo, é certo, mas se for bom e verdadeiro, sempre volta à baila e segue gerando efeitos virtualmente sem-fim.

Nenhum jornal da época de Victor Hugo, por exemplo, realçou com tamanho realismo como vivia uma horda de miseráveis em Paris (que não eram poucos, frise-se) do que os romances “Les miserables” e “Notre Dame de Paris”, este último traduzido, para nós, com o título de “O corcunda de Notre Dame”.

Poderia citar centenas de outros exemplos em que o escritor, embora se valendo da ficção, refletiu com muito maior fidelidade a realidade do seu tempo do que o repórter. E, claro, produziu mais efeitos nos leitores.

Este preâmbulo vem a propósito do livro “As vinhas da ira”, de John Steinbeck, que se transformou – provavelmente à revelia do autor – num dos mais agudos libelos contra as injustiças sociais e contra a exploração do homem pelo homem. Há tanta coisa a dizer a propósito, que por mais objetivo que eu seja, precisarei de uns dois ou três textos para abordar o que quero lhes transmitir.

Preliminarmente, é mister que se esclareça que Steinbeck nunca foi político, no sentido de militância. Nunca foi arauto, por sua vez, de qualquer ideologia ou sistema, a despeito de ser acusado de “comunista” por fanáticos imbecis (como se isso fosse algum crime), que o chegaram a colocar na lista dos “malditos”, na triste época do macartismo nos Estados Unidos.

Foi, sobretudo, um escritor. E meticuloso e observador. E que, principalmente, se expressava com rigorosa sinceridade, sem se preocupar com estilo ou pirotecnia verbal e nem se iria melindrar alguém, e quem. Daí ter alcançado tantos corações e mentes, quer em seu país, quer, e principalmente, mundo afora.

“As vinhas da ira”, que o autor achava que não seria um romance “comercial”, ou seja, de fácil aceitação pelo público – tanto que recomendou à editora que o lançou que rodasse baixa tiragem – superou todas as mais otimistas expectativas.

Vendeu milhões de exemplares nos Estados Unidos, antes mesmo de ser transformado em filme que lotou salas de cinema país e mundo afora. Foi traduzido para mais de 60 idiomas e vendido por toda a parte. E em todos os lugares em que chegou, causou o mesmíssimo impacto, a mesma repercussão.

Passadas várias décadas do lançamento, ainda continua sendo republicado por toda a parte e vendendo muito, embora há tempos seu autor não esteja mais vivo para saborear o sucesso. Aliás, em vida, o livro causou-lhe, isso sim, inúmeros dissabores e desgostos.

Tanto que, depois de “As vinhas da ira”, Steinbeck não escreveu quase mais nada. Desanimou da literatura. Decepcionou-se, sobretudo, com a falta de entendimento dos imbecis preconceituosos, dos fanáticos, dos alienados e dos tantos que se valem do poder do dinheiro (cujas fortunas são incapazes de justificar, boa parte das quais obtida por meios ilícitos e/ou fraudulentos) para explorar, humilhar e destruir semelhantes.

A qualidade literária do romance (apesar da ferocidade do ataque de muitos idiotas, travestidos de críticos) é incontestável. Tanto que, sem que Steinbeck fizesse a mínima força para isso e, ao contrário, até à sua revelia e para a sua surpresa, conquistou os dois maiores prêmios de Literatura que existem: o Pulitzer e o Nobel.

Por enquanto, antes das considerações que farei a propósito, oportunamente, recomendo-lhe, atento e fiel leitor, que, caso não tenha lido “As vinhas da ira” ainda, que o leia. Se já leu, faça uma releitura. Dessa forma, ficará mais fácil de entender as considerações que farei algum dia (não sei quando) acerca dessa obra monumental, um dos grandes marcos da literatura mundial de todos os tempos.


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Monday, February 26, 2018

Reflexão do dia


O HOMEM É O ÚNICO ANIMAL QUE RI
Não entendo a cabeça de quem prefere a tragédia à comédia. Considero tremendos masoquistas os que juntam aos seus sofrimentos reais, não importa o quão intensos sejam, aos fictícios, criados por mentes férteis e observadoras. Não me interpretem mal e não pensem que estou fazendo apologia da alienação. O que recomendo, isso sim, é o “tempero”, pois a vida é assim, “temperada”. Não tem, apenas, violência, ciúme, traições, mortes e dor. Se tivesse... estaríamos roubados! Tirem um tempinho diário para rir do que é risível. O riso faz muito bem ao físico e ao espírito e, ademais, o homem é o único animal que ri. Daí este exercício saudável e prazeroso constituir-se numa espécie de distintivo humano, de característica exclusiva da espécie. Aprendam a valorizar os escritores que têm esse talento, que sabem criar situações que nos levem à gargalhada, sem debochar das fraquezas de ninguém e nem apelar para recursos escatológicos e primários. Stanislaw Ponte Preta foi assim. Chico Anysio também. E mais um punhado (escasso) de escritores.
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CITAÇÃO DO DIA:


Como o eco 

O amor e a amizade são como o eco: dão tanto quanto recebem.

(Alexandre Herzen).



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DIRETO DO ARQUIVO - Sombras no paraíso


Sombras no paraíso



Pedro J. Bondaczuk


Os depoimentos do empresário Paulo César Farias na Comissão Parlamentar de Inquérito, aberta pelo Congresso para apurar denúncias do irmão do presidente Fernando Collor, Pedro Collor, ocorridos semana passada, trouxeram à baila informações que estarreceram a sociedade.

É verdade que este não é o primeiro escândalo envolvendo aqueles que orbitam ao redor do poder, e se teme que não seja o último. De uns dois anos para cá, foram raríssimos os dias em que fatos escandalosos, principalmente de corrupção, deixaram de ocupar as manchetes na imprensa. Aos poucos, porém, eles foram esgotando o elenco de detalhes “apimentados” e caíram no esquecimento.

Sem fundamentos, certamente, elas não eram, caso contrário os envolvidos teriam exigido, até por via judicial, a retratação, para limpar seus nomes. Que fim levou, por exemplo, o inquérito sobre as superaposentadorias e pensões, que lesaram os cofres da Previdência Social em trilhões de cruzeiros? O que ocorreu com os advogados e juízes citados como coautores desses desfalques? E com os funcionários envolvidos?

Que fim levou o caso das mochilas do Ministério da Saúde? E o das bicicletas? Em que pé está o inquérito envolvendo o ex-ministro Alceni Guerra e auxiliares de alto escalão de sua pasta? E o affaire Antônio Rogério Magri? Estas são indagações frequentes, que o comentarista ouve de leitores e de pessoas com as quais cruza nas ruas e, certamente, são, também, de todo o brasileiro bem informado.

No início da semana, o deputado Humberto Souto, líder do governo na Câmara, deu a entender que a CPI envolvendo Pedro Collor e PC Farias não iria dar em nada, “por falta de provas”. Ou seja, que tudo irá terminar, como diz a gíria paulista, “em pizza”, ou como afirmam os cariocas, “em samba”, ou se expressam os gaúchos, “em chimarrão”.

Esta impunidade, todavia, esta falta de respeito para com a opinião pública e esta violação do preceito constitucional que considera “todo brasileiro igual perante a lei” são os maiores estímulos para que a corrupção, o suborno, a prevaricação com o dinheiro público, a venda de influências e outras tantas mazelas se tornem regras, nunca exceções.

Tal comportamento tende a ter o efeito de uma maçã podre num cesto de frutas sadias. Apodrece todas elas. Daí o predomínio da falta de credibilidade dos políticos e esta crise moral que o País atravessa. É o caso de se perguntar, como o criminalista Evaristo de Moraes Filho fez num artigo do suplemento “Ideias”: “Que modelo de paraíso da modernidade é este, onde mourejam mais de 30 milhões de pobres, e um apreciável contingente de ricos se anestesia nos valores dos narcóticos?”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de junho de 1992)

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CRÔNICA DO DIA - Espécie em extinção?


Espécie em extinção?

Pedro J. Bondaczuk

Dia desses, iniciei um dos meus tweets no twitter com esta exclamação: “É duro ser escritor no Brasil!”. Sei que as dificuldades que nós, que exercemos esta até um tanto cabalística atividade, temos não se restringem ao nosso país. Mas resido aqui, não tenho a mais remota intenção de emigrar e por isso preocupo-me com meu “lar planetário”, com o canto do mundo que escolhi para viver, com o meu quintal. Outros que se preocupem com os seus. Mas, uns mais e outros menos, todos os escritores enfrentam várias barreiras que tornam a atividade pouco (ou nada) atrativa.

Mas no meu caso, qual o motivo desse desabafo, justo eu que sou obcecado pelo texto e faço da literatura não um meio de subsistência (até porque, se o fizesse, seria o indigente dos indigentes e teria que mendigar até o pão nosso de cada dia), mas uma das razões de viver? É porque escrever e publicar livros no Brasil é como falar sozinho pela rua, como plantar bananeira nu em pêlo em plena Praça da Sé ou como pregar no deserto, sob um sol escaldante de mais de 50 graus centígrados. Ou seja, manifestação de insanidade. E não sou o primeiro e nem o único a sentir, e expressar, esse desamparo.

Há alguns anos, li, numa entrevista de Lygia Fagundes Telles – Consagradíssima escritora, ganhadora de vários prêmios internacionais e que, possivelmente, algum dia, ainda vai conquistar o Prêmio Nobel de Literatura – esta declaração, que não difere em nada da minha em sua essência, embora tenha sido exposta com mais graça e beleza: “Digo sempre que há três espécies em extinção: o índio, a árvore e o escritor, esse marginalizado. É duro ser escritor num país com um índice tão alto de analfabetismo. E ainda por cima censurado”. Destaque-se que na ocasião em que Lygia fez esse desabafo, vivíamos os malfadados “anos de chumbo” da ditadura militar e os censores nos faziam cerco para impedir que nos expressássemos com liberdade.

Essa escritora carismática é muito especial para mim. Além de apreciar seus livros, todos eles – e, ademais, “rabiscados” (todos os volumes que me pertencem e que integram minha biblioteca), pois tenho o hábito de grifar à caneta os trechos que me agradem e que fatalmente acabo por comentar algum dia – tive o privilégio e a honra de perder para ela o primeiro lugar num concurso literário no Paraná, muito famoso nos anos 60, na edição de 1967, que revelou para o estrelato uma infinidade de escritores novos, até então no ostracismo. Não, leitor amigo, não sou masoquista. Não gosto de perder e nem de sofrer. Um ano antes, em 1966, vejam só, eu já havia perdido para ninguém menos que o magnífico Dalton Trevisan, o famoso “vampiro de Curitiba”. Como vêem, minhas derrotas são, pelo menos, “qualificadas”.

Vocês talvez estranhem eu reverenciar quem me derrotou. Mas faz todo o sentido do mundo. Só o fato de concorrer a um prêmio literário de prestígio, com “feras” desse porte, já me engrandeceu e fez com que eu subisse de patamar. Ademais, aprendi muito com ambos, notadamente com Lygia Fagundes Telles, de quem tenho não somente todos os livros que consegui encontrar, mas artigos de jornais e revistas e até uma cópia do seu discurso de posse na Academia Paulista de Letras. Mas, voltando ao tema, nós, escritores, somos, de fato, espécie em extinção, os últimos “heróis da resistência”.

Uma das maiores invenções do homem, que nós, pessoas modernas, não valorizamos devidamente, dada a facilidade de obtenção, é o livro. Ele permite o acúmulo de sabedoria, de experiências e de emoções de indivíduos especiais e possibilita o acesso a elas de gerações e mais gerações, séculos (às vezes milênios) afora, após a morte destes. Jorge Luís Borges observou, com argúcia, a esse respeito: “Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões do seu corpo. O microscópio, o telescópio são extensões de sua vista; o telefone é extensão da voz; também temos o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”.

Muito bem, mas essa invenção assombrosa depende de um personagem imprescindível, nem sempre devidamente valorizado, para existir. Claro que me refiro ao escritor. Sem ele, óbvio, não existiriam e não existirão livros. Por mais que a indústria editorial o considere personagem, digamos, secundário, não tem como descartá-lo. Não há livro sem textos, mesmo que estes se restrinjam a reles legendas de fotografias (pois há como fazer volumes só com fotos) ou de imagens de reprodução de quadros famosos. Mas sempre algumas palavras têm que ter. Se não houver nenhuma... Para haver livros, obviamente, há que existir texto e, por extensão, quem o escreva, o escritor. É verdade que muita gente que não é do ramo se aventura a publicar suas garatujas, sempre às próprias expensas, já que os editores não são burros de arriscar dinheiro bom em cima de produto ruim. Mas estes... bem, são uma outra história.

Tento ser (e agir) como Ernest Hemmingway recomendou que a gente fosse e agisse, neste texto, que pincei alhures: “Para o verdadeiro escritor, cada livro deve ser um novo início, no qual tenta alguma coisa que está além da realização. Deve sempre tentar o que nunca foi tentado ou que outros tentaram e não conseguiram. É porque tivemos tão grandes escritores no passado que um escritor é impelido para muito além de onde pode ir, onde ninguém pode ajudá-lo”. Tento ser original à minha maneira, mas sem abrir mão da principal característica do meu estilo (não sei se boa ou ruim), que considero rara virtude: a simplicidade. Tenho ojeriza por textos empolados e creio que meus leitores idem. Se não tivessem... não me prestigiariam com sua fidelidade.

Emile Zola definiu a literatura como “uma fatia de vida vista através de um temperamento”. É uma atividade que encerra em si um paradoxo. Para ser concebida, exige rigorosa solidão de quem a produz. Um escritor não elabora seus textos numa avenida, ou estádio de futebol, em meio a burburinhos e algaravias de multidões. Isola-se, concentra-se, prospecta idéias e sentimentos nas profundezas abissais do subconsciente e de lá extrai o precioso “petróleo”, que tenderá a se tornar combustível de inspiração e motivação para muitas vidas. Mas nunca sabe se foi bem-sucedido em sua tarefa. Até porque, para ele, o parâmetro do sucesso não é a quantidade de livros vendidos (facílima de apurar), importante para as livrarias e os editores, mas o tanto de volumes realmente lidos (impossível de se conhecer). Apenas uma, uma única e solitária figura lhe importa de fato, e quanto maior for sua quantidade, maior será seu sucesso. Quem? O leitor, claro!

É o único juiz cujo veredito o escritor acata e ao qual se submete. Fora dele... Lima Barreto, que não teve a felicidade de gozar, em vida, o sucesso que seu talento justificou que gozasse e que só passou a ter depois de morto, tinha essa consciência. Tanto que escreveu: “Quem faz as obras-primas não somos nós os autores e nem os críticos, nem os amigos dos autores: são os leitores e, sobretudo, o tempo”. Com esta declaração, concluo minha reflexão de hoje. O que poderia acrescentar a uma constatação tão lúcida, óbvia e verdadeira? Nada! Rigorosamente nada!


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Sunday, February 25, 2018

Reflexão do dia


DOIS ESCRITORES QUE FORAM MESTRES DA COMÉDIA
Entre os escritores brasileiros que tinham talento para fazer os leitores rirem, destaco dois, ambos já falecidos. O primeiro é Sérgio Porto, mais conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, que completaria 95 anos de idade em 11 de janeiro de 2018, mas que morreu há quase 50 anos, em 30 de setembro de 1968. O segundo é Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o queridíssimo Chico Anysio, do qual sempre fui fã incondicional por sua eclética produção, inclusive na atividade que é a minha paixão, a literatura. Acho estranhíssimo que supostos intelectuais, do alto de sua arrogância, torçam o nariz para os livros desses dois escritores, como se seus livros fossem coisas de somenos. Tratam-nos como se fizessem “literatura menor”, o que um mínimo de conhecimento, de informação e de bom-senso revelaria que não fizeram. Tanto o saudoso Lalau, quanto o não menos saudoso e magnífico talento, que foi o Chico Anysio, são escritores de primeiríssima linha. Os livros de ambos, deliciosos de serem lidos, ensejam-me muito mais reflexões, e por consequência, maior aprendizado sobre a vida, do que os dramalhões lacrimosos que lideram as tantas listas dos mais vendidos.

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CITAÇÃO DO DIA:

Tudo é grandeza

Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabe amar.

(Laure Conan).


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DIRETO DO ARQUIVO - Fim de férias


Fim de férias


Pedro J. Bondaczuk

Este é o último fim de semana das férias de meio de ano de 2001. Neste período, muitas atividades param (inclusive as políticas, com o recesso das câmaras municipais, assembleias legislativas e o Congresso). Os que têm estabilidade financeira (raros), deixam a cidade, rumo ao Exterior (neste ano o turismo externo caiu abruptamente, por causa da desvalorização do Real) ou a pontos turísticos tradicionais do País, notadamente as ensolaradas praias do Nordeste. Até o futebol dá uma pausa, com o intervalo entre os torneios regionais e o Campeonato Brasileiro.

Aliás, a outrora grande paixão do brasileiro, que já foi fonte (que se pensava inesgotável) de satisfação e de orgulho perante o mundo, atualmente é mais um dos tantos motivos de vergonha, de raiva e de aborrecimento para a população.

As sucessivas, e cada vez mais vexatórias, derrotas da Seleção Brasileira vêm se somar à crise energética, à avassaladora desvalorização do Real (que para maior irritação das pessoas é atribuída às dificuldades enfrentadas pelos nossos irmãos, vizinhos, mas eternos rivais, os argentinos), à permanente e irresoluta violência urbana, às já corriqueiras denúncias de corrupção dos políticos e a tantas e tantas coisas ruins, que nos tiram o sono, provocam mau humor e tornam nossa vida mais tensa e menos alegre.

Quem pôde gozar dessa saudável e desejada pausa, de 30 dias, nos problemas cotidianos, retorna revigorado, para reassumir a cátedra, a tribuna, o escritório, o consultório, a oficina, a redação, o púlpito, ou seja lá qual for o centro das suas atividades. Quem não teve esse privilégio e sorte, encara um período que se sabe muito difícil, em especial para a cidade, sem esse bem vindo descanso. Agosto começa, por exemplo, com o megarreajuste das passagens de ônibus (de 30%), com a controvérsia envolvendo os vendedores ambulantes, conhecidos como "carrioleiros", e com outras tantas e tantas questões que atormentam os campineiros (e todos os brasileiros, logicamente). Mas inicia-se, também, com a esperança (esta nunca morre) de que surja, enfim, uma benfazeja, posto que pequenina, luz no fim do túnel, que sinalize para o término das crises que se perpetuam e do festival de incompetência e corrupção que penaliza esta geração.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Notícia Metropolitana, em 25 de julho de 2001).


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CRÔNICA DO DIA - Estação intermediária


Estação intermediária

Pedro J. Bondaczuk

A felicidade – assim como o amor, a esperança, a saudade, a liberdade etc.etc.etc. – é tema recorrente e batidíssimo em literatura e, no entanto, inesgotável. Escritores abordam-no, amiúde, sob os mais variados aspectos, em poemas, romances, contos, novelas e peças teatrais, mas, via de regra, enfocam-no pelo viés oposto. Ou seja, o da infelicidade.

Há (convenhamos) muitíssimo mais pessoas infelizes mundo afora do que as felizes. E essas compõem personagens muito mais interessantes (pelo menos para os que os criam) do que as que têm vidas mansas e tranquilas.
Volta e meia, são apresentadas, por especialistas em autoajuda, “fórmulas” mágicas de felicidade. Para uns, elas funcionam. Para outros tantos... não. Trata-se de condição subjetiva e só nós podemos encontrar (ou não) o seu caminho no fundo da nossa mente.

Ressaltei, inúmeras vezes, em minhas crônicas, que a felicidade não é uma coisa concreta, como uma mesa, uma cadeira, um carro, um computador, ou seja, algo palpável, uma espécie de “Santo Graal”. É, sim, predisposição íntima, que nos faz apreciar o lado positivo e nobre da vida e não dar tanta importância às tragédias e horrores que nela acontecem, mesmo que sejamos os protagonistas.

Em suma: é feliz quem se sente assim, não importa por qual razão, independente, portanto, de fortuna, prestígio ou condição social, embora esses contribuam (não sejamos cínicos) para ela. Um sujeito sem eira e nem beira, que não tenha onde morar e sequer o que comer, não tem porque se contentar com a vida que tem, a menos que seja renitente masoquista.

Quando alguma pessoa diz o surrado clichê de que “o dinheiro não traz felicidade”, invariavelmente surge alguém para replicar: “manda trazer”. Claro que a fortuna, em si, sem outros tantos ingredientes que a devem acompanhar, não faz ninguém feliz. Todavia, a carência de meios para se sustentar produz, sempre, o efeito inverso: torna o carente invariavelmente infeliz.

A riqueza em excesso, todavia, desde que quem a possui não a saiba usufruir adequadamente, tende, também, a gerar infelicidade. De outro tipo diferente da do miserável, claro. Os detentores de imensas fortunas são os clientes preferenciais dos consultórios de psiquiatria. As maiores taxas de suicídio do Planeta são as dos países ricos, do chamado “Primeiro Mundo”, em que a prosperidade é a tônica e a carência rara exceção.

Os suicidas (reais ou potenciais) não são etíopes famintos, ou afegãos miseráveis ou refugiados africanos ou asiáticos que não têm sequer uma pátria, quanto mais casa, família, emprego etc. São os nababos suecos, alemães, japoneses ou norte-americanos. Será que alguém tem condições de explicar, objetivamente, por que?

O sujeito milionário (ou bilionário, que seja) é (salvo exceções) permanente desconfiado. Em sua cabeça, todos querem se apropriar (de uma forma ou de outra) de sua fortuna (que, ademais, não levará para o túmulo quando morrer, mas ele sequer pensa nisso).

E quando alguém jura que o ama, mesmo que lhe dê provas concretas desse sentimento, não acredita. Principalmente se quem fez tal juramento tem menos riquezas do que ele. Não crê em amores, em afetos desinteressados e muito menos em amizades. Vive cercado de um batalhão de empregados e de guarda-costas e paga caro pelo simples prazer do sexo, que julga objeto de compra e venda, como outra “mercadoria” qualquer.

Acredita, isso sim (e com sinceridade) que o suposto interesse afetivo que alguém lhe devote tenha sempre alguma segunda intenção (às vezes não tem). E que o propalado “amor” que lhe venha a ser eventualmente declarado não passe de mera tentativa de aplicação do famoso golpe do baú. Como uma pessoa assim pode ser feliz?! Não pode!

Li, recentemente, em uma das peças do norueguês Henrik Ibsen (não tenho certeza se foi na “Casa de Bonecas” ou em outra qualquer), a declaração de um dos personagens que vem a calhar nestas considerações. Diz: .“A felicidade é uma estação intermediária entre a carência e o excesso”.

Claro que as coisas não são assim tão simples, ainda mais em se tratando de um sentimento tão vago e subjetivo. Isso não quer dizer que quem nem beire a carência e nem tenha fortuna mirabolante seja, automática e liminarmente, feliz. Nem infeliz. Longe disso. Há muitas e muitas e muitas outras pessoas, coisas e circunstâncias envolvidas nessa questão da felicidade. Mas que a constatação faz sentido, ah, isso, sem dúvida, faz!


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