Friday, May 31, 2013

O tempo é como uma esteira rolante diante da qual estamos, num determinado ponto da sua passagem. A parte que já passou por nós de forma alguma vai voltar. O que está à frente, o futuro, a cada piscar de olhos ou bater de asas de um beija-flor se transforma em passado. E o que passa velozmente diante de nós, com tamanha rapidez que sequer o percebemos, é o presente, fugaz, invisível e volátil. E isto enquanto pudermos permanecer diante da esteira porque, num determinado prazo, que não temos a mínima possibilidade de conhecer qual é, teremos de sair definitivamente dali. Não há, portanto, momentos inúteis, vazios, ociosos, cuja perda possamos recuperar. Todos, sem exceção, são irrecuperáveis. Nós é que quase nunca sabemos como equacionar o tempo. Preenchemo-lo, via de regra, com banalidades, fatuidades e tolices. Jogamos fora esse que é o nosso maior capital. Saibamos, pois, administrar com sabedoria o nosso tempo.


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Barraca do Destino

Pedro J. Bondaczuk

Comprei uma saudade
na barraca do Destino.

Saudade verde,
amarela ou azul?
Saudade sem cor.
Comprei uma saudade
numa loja de penhor.

E, por um suave sonho,
vendi o meu bem-querer.
Sorri para o anjinho
que tinha asas de flor.

E o ouro dos pirilampos,
amalgamado com a prata,
formou-me uma coroa de rosas:
rosas brancas e amarelas.

No casulo fugaz
da minha alegria
afinal renasci.
Mas na tumba cruel
da minha dor,
tornei, de novo, a morrer.

Empenhei todo o meu sonho,
 deixei de ser poesia
e, na barraca do Destino,
eu comprei nova saudade.

Saudade colorida
ou incolor?
Saudade-Ilusão!

No crepúsculo alegre
do meu cantar,
afoguei-me em frias ondas,
rolei, de novo, pro mar.

E entre algas coloridas
e musgos de estranha cor,
na barraca do Destino
recordei o primeiro amor
comprando nova saudade!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 10 de fevereiro de 1964).

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José de Anchieta e São Paulo

Pedro J. Bondaczuk

O padre José de Anchieta teve ou não participação direta na fundação da cidade de São Paulo? Essa é uma dúvida que ainda não foi esclarecida e que divide os mais ilustres e respeitáveis historiadores. De tudo o que li, a propósito, pude concluir (e posso, claro estar equivocado) que, no que se refere, digamos, à “movimentação política” para a elevação à categoria de vila do povoamento de colonos e de índios, surgido ao redor da escola construída sob as ordens do superior da Companhia de Jesus, esse jesuíta não teve nada a ver com a histórica decisão. Isso, porém, não quer dizer que ele não teve nenhuma participação na fundação de São Paulo. Teve e das mais relevantes. É o que tentarei demonstrar (espero) da forma mais clara e didática possível.

Em 1554, José de Anchieta recebeu um pedido do padre Manoel da Nóbrega, superior da Companhia de Jesus, para ajudá-lo no recém-criado Colégio do Planalto de Piratininga, que viria a ser o embrião da futura metrópole paulistana. Isso fazia todo o sentido, óbvio, já que o jesuíta canarino era conhecido como eficiente educador. Entre os historiadores persiste, também, a celeuma em torno da criação dessa casa de ensino. Alguns afirmam, baseados em não sei que documentos, que quando Nóbrega instalou o Colégio, já havia, e desde 1532, uma vila nas cercanias: a de Piratininga. Estão enganados.

As cartas de Anchieta – que podem ser lidas no livro “Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil”, volume II, página 107 – trazem importantes esclarecimentos a respeito. O vilarejo, confundido por alguns como sendo o do futuro embrião de São Paulo, realmente existia. Contudo, ficava muito distante do Colégio. Era a Vila de Santo Amaro – atual distrito da capital paulista e que já foi município autônomo – que na época estava sob a jurisdição de outra capitania, que não a de São Vicente, à qual a escola fundada pelos jesuítas estava subordinada.

Alguns historiadores atribuem (sem nenhum fundamento documental), a escolha do atual sítio em que São Paulo se localiza, junto ao pátio do Colégio – onde foi instalado o pelourinho, símbolo de justiça que dava foro às vilas – ao padre José de Anchieta. Contudo, o frei Gaspar da Madre de Deus, em suas “Memórias para a História da Capitania de São Vicente”, dissipa qualquer dúvida que porventura ainda possa existir a propósito. Afirma: “Depois de contender por alguns anos por esse modo, chegaram finalmente os padres a cantar a vitória porque, achando-se em São Vicente o governador geral Mem de Sá, em 1560, tais razões lhe propôs o padre Nóbrega, a quem ele muito venerava, que, persuadido delas, mandou extinguir a Vila de Santo André e mudar o pelourinho para defronte o Colégio; executou a ordem no mesmo ano, e daí por diante ficou a povoação na classe das vilas  com o título de São Paulo de Piratininga, que conservava desta o seu princípio”.

Portanto, não cabe participação alguma a José de Anchieta na movimentação política para que o povoamento em torno do Colégio ganhasse o status de vila. Júlio de Mesquita Filho – em um discurso que proferiu em 25 de janeiro de 1964 na Casa de São Paulo, citado no artigo “Reflexão sobre uma grande data” publicado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, em 2 de fevereiro de 1964 – esclarece a respeito: “A própria índole espiritual da poética figura do canarino está a dizer-nos que jamais lhe passaria pela mente disputar a seu irmão maior a honra insigne. Embora tivesse ele próprio a intuição do destino que esperava o humilde vilarejo, é evidente que a idéia estava mais no caráter empreendedor daquele que, no dizer de Serafim Leme, fora considerado por Southey o maior político do Brasil”. Essa referência foi feita a Manoel de Nóbrega.

Isso não quer dizer que José de Anchieta não teve nada a ver com a fundação de São Paulo. O historiador Pedro Calmon, num artigo da antiga revista “O Cruzeiro” (edição de 2 de junho de 1962), na coluna “Segredos e Revelações da História do Brasil”, sob o título “Dois santos americanos”, escreveu: “Guardou-se a tradição (que revelam documentos do século XVIII), que José de Anchieta, ufano de ter ajudado a fundar o povoado luso-goianá de São Paulo, predisse-lhe a grandeza, estendendo sobre o seu mesquinho perfil quinhentista a bênção cheia de sonho e voto. Inspiradamente vaticinou (como Anchises na Eneida falando aos romanos do porvir) – que a vila despovoada e mameluca seria, com o rodar do tempo, ampla, monumental, admirável; e enchendo de torres o céu propício, levantaria a massa monstruosa das construções acima da linha dos montes – como as poderosas capitais do universo”. E Anchieta, o que diria hoje, se visse suas previsões realizadas, diante da majestosidade da São Paulo deste século XXI?!


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Thursday, May 30, 2013


O cérebro precisa de estímulos, de ginástica, de exercícios. Quanto mais vier a ser exigido, mais ampliará seu alcance, sua capacidade de retenção e elaboração de informações. Pensar é um ato saudável. Mas como é o cérebro que comanda todas nossas emoções e ações, a qualidade, e o teor, dos pensamentos são muito importantes. Quem, por exemplo, não projeta na mente um futuro brilhante, pode estar abreviando a própria vida. O pessimismo é um veneno que mata lenta e metodicamente. Inúmeras experiências provaram que a vontade opera milagres. Há pessoas que morrem de repente, sem que tenham qualquer doença, e ninguém sabe explicar a razão. Investigando seu comportamento, invariavelmente se descobrem que elas não tinham esperanças, ambições a serem conquistadas, sonhos a serem concretizados, alegria e nem vontade de viver. Cuidemos, pois, do que pensamos e cultivemos sempre, todos os dias, a alegria, o bom-humor e o otimismo.

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Heroica resistência de um milênio


Pedro J. Bondaczuk

 A Polônia, situada na verdadeira encruzilhada da Europa, entre o Leste e o Oeste, teve toda a sua história marcada por sangrentos conflitos e sucessivas partilhas do seu território, desde a sua aparição como país, ocorrida no século, quando da união de diversas tribos eslavas que habitavam aquela região.

Atravessou praticamente quinhentos anos travando guerras quase que ininterruptas, tanto contra os belicosos povos nórdicos, quanto contra os ávidos Estados germânicos anteriores à formação da Alemanha ou o expansionista império russo.

As terras da Polônia já foram divididas entre suecos, finlandeses, alemães (em várias oportunidades) e dezenas de outros conquistadores. Mas, no correr da sua atribulada história, o povo polonês jamais se dobrou diante da força. Sempre encontrou meios para sobreviver, senão como país, pelo menos como nação.

Isto é, conservou costumes, crenças e tradições. Manteve acesa aquela chama de ideal que determina a existência de sociedades nacionais, contra tudo e contra todos, mesmo que sob o controle de tirânicos dominadores. E estes, reiteramos, foram abundantes.

A Polônia, em 1945, mais uma vez, acabou sendo partilhada. Tornada independente em 1918, invadida pelos nazistas em 1939, teve que se submeter a um poder maior no final da Segunda Guerra Mundial: a URSS.

É fato que o Exército Vermelho soviético livrou o país do pesado jugo imposto pelas tropas de Hitler e lhe concedeu relativa autonomia. Mas não a desejada liberdade pretendida pela maior parte do seu povo.

Hoje, a despeito de ser4, há já quatro décadas, uma sociedade dita comunista, a Polônia conserva a própria identidade. Não aceita, por exemplo, o ateísmo, tido como uma das características do regime sob o qual tenta, “realisticamente”, sobreviver.

Conserva a fé cristã (estima-se que 97% dos poloneses sejam católicos praticantes), seus costumes cristalizados em um milênio de existência e sua determinação de, um dia, apesar de situar-se no “meio do caminho” dos poderosos da Europa, ter o próprio espaço0, sem precisar pedir permissão a ninguém para existir.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular em 23 de julho de 1985).


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Resgate da memória de um mito

Pedro J. Bondaczuk

A “poeira’ do tempo torna quase impossível ao historiador traçar o perfil exato, ou pelo menos aproximado – com o rigor científico que a tarefa requer – dos homens e mulheres que participaram ativamente da construção da história de um povo mediante obras e ações. Lendas e mitos misturam-se a fatos. Cabe ao pesquisador separar o joio do trigo, no afã de chegar à verdade histórica. Como? Trata-se de tarefa gigantesca, que exige dedicação plena, não raro de toda uma vida e, ainda assim, sem garantia de sucesso.
Mesmo no que se refere a fatos, não raro o mesmo acontecimento tem várias versões, conforme quem o testemunhou e relatou. Em qual delas acreditar? Manda o bom senso que se dê crédito à mais sóbria, à menos fantástica, à que teoricamente seja pelo menos verossímil. Ocorre que nem sempre (diria raramente) as coisas ocorrem guardando um mínimo de lógica. Não raro, a versão que pareça, à primeira vista, a mais improvável é a verdadeira, comprovada tempos depois por documentos e testemunhos, e vice-versa. Por isso, encaro a história sempre com um pé atrás. Nunca dou crédito absoluto ao que se torna consensual (ou quase), por entender que se trata de uma versão de determinado fato, passiva, portanto, de ser revisada, quando não desmentida.

Uma das figuras, da História do Brasil mais fascinantes e mais difíceis de serem analisadas, por não se saber se parte (ou se tudo) do que se sabe dela é verdadeiro ou não passa de lenda, é José de Anchieta. E não faltam pesquisas a seu respeito. Muito pelo contrário. Esse até mítico jesuíta está em vias de se tornar o segundo santo brasileiro da Igreja Católica (embora não tenha nascido no Brasil), já que foi beatificado pelo papa João Paulo II em 1980 e seu processo para a “santificação” está bem adiantado no Vaticano.

Enquanto alguns historiadores atribuem-lhe a responsabilidade da fundação da cidade de São Paulo (e não a Manoel de Nóbrega, como outros tantos asseguram ter sido o fundador), ao mesmo tempo negam-lhe participação na criação do Rio de Janeiro. A despeito de inúmeras pesquisas (até para fundamentar seu processo junto ao Vaticano), porém,  fatos básicos para traçar a biografia e o perfil histórico de uma personalidade, como por exemplo, a data exata do seu nascimento, são, ainda nebulosos e objetos de controvérsias. Nenhum historiador tem certeza do ano em que Anchieta nasceu.

Sabe-se que José (ou Joseph, conforme J. Nunes Vilhena assegura que era seu nome de batismo) é natural do pequeno vilarejo de La Laguna de Tenerife, no arquipélago das Ilhas Canárias. Alguns afirmam que seu nascimento se deu em 1533. Outros, no entanto, asseguram que o ano correto foi 1534, coincidindo com o de criação da Companhia de Jesus, por parte de Inácio de Loyola. Ambas as correntes garantem que têm documentos que comprovam suas respectivas teses. Alguém, no entanto (diz a lógica) está errado. Mas quem? Como saber?

A Companhia de Jesus merece pelo menos um ou dois parágrafos, antes de se abordar, com maiores detalhes, a vida e a obra de José de Anchieta. Por que? Pela sua importância política, apesar de se tratar de uma ordem supostamente apenas religiosa. Seu poder, logo após sua criação, aumentou tanto, a ponto de seus superiores, até os dias de hoje, serem conhecidos como “papas negros”. A nova ordem visava, originalmente, a ser uma resposta, uma arma eficaz da contra-reforma, ou seja, do movimento que visava a combater a reforma protestante promovida por Martinho Lutero na Alemanha e que se ramificou por vários países da Europa.

A Companhia de Jesus teve, talvez, sua mais eficiente atuação (claro, do ponto de vista do Vaticano), nas recém-formadas colônias da Espanha e de Portugal no Novo Mundo. Destacou-se, sobretudo, no Brasil, para onde eram, originalmente, enviados, pela Coroa Portuguesa, degredados, os que eram considerados a escória social da metrópole:  ladrões, mendigos, prostitutas, rufiões e marginais da pior espécie, tidos como irrecuperáveis. Seu papel era, pelo menos em teoria, o de converter essas pessoas, assim como os índios da colônia, à fé católica. Foram inúmeras suas rusgas principalmente com os bandeirantes paulistas, que consideravam a Companhia de Jesus uma rival política. 

No que se refere a José de Anchieta, num ponto  todos os historiadores convergem: no fato de ele ter nascido em uma família humilde e profundamente religiosa. Em 13 de julho de 1553, aos 20 anos de idade (ou seria aos 21?), já monge, embora ainda não ordenado, o jovem noviço desembarcou no Brasil, na comitiva do segundo Governador Geral, Dom Duarte da Costa, aportando nessa data em Salvador, na Bahia. Dali, a ordem enviou-o a São Vicente, onde Martim Afonso de Souza havia iniciado o plantio de cana de açúcar e formado um importante e relativamente próspero núcleo de colonização. Era um desafio imenso para aquele moço, quase menino, que revelaria virtudes que o transformariam em um mito da nossa história.

Quando desembarcou nesta então vasta e praticamente inexplorada colônia portuguesa, um “deserto verde” sem fim, praticamente o maior dessa natureza do Planeta, que em menos de quatro séculos viria a se transformar no Brasil independente, o jovem monge, praticamente adolescente, havia recém se licenciado pela tradicional Universidade de Coimbra, grande pólo, na ocasião, de elevados ideais humanísticos da Europa, onde ingressou em 1548, aprofundando-se nas disciplinas Dialética, Filosofia, Letras, Latim e Vernáculo. Por ocasião do seu desembarque na Bahia, fazia, apenas, dois anos que Anchieta integrava a Companhia de Jesus, ordem em que ingressou em 1551.

É sobre essa figura fascinante e lendária (sobre a qual já escrevi dois ensaios que, admito, são inconclusivos pelas razões já expostas) que me proponho a refletir com vocês, provavelmente sem muito rigor científico (talvez sem nenhum), mas ressaltando, sobretudo, suas características mais notáveis: grande espírito empreendedor, elogiável capacidade de iniciativa, natural talento diplomático e, sobretudo, fé. Foram estas as virtudes que o levaram a participar, de uma forma ou de outra, da fundação das que hoje são as duas maiores e mais importantes metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro.


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Wednesday, May 29, 2013

O sucesso não acontece por acaso. É fruto de planejamento, esforço, preparo e, sobretudo, vontade. As pessoas, para serem bem-sucedidas, precisam querer isso, mas de forma prática, construtiva, consciente e subconscientemente, além de acreditar nessa possibilidade. Inúmeros pensadores já disseram, das formas mais variadas, tudo isso, como “a fé remove montanhas”, “querer é poder” etc., que embora sejam verdades comprovadas, não são levadas em conta, por já terem se transformado em clichês. Reitero que o sucesso não acontece por acaso. Sorte, por exemplo, não é nada mais do que a pessoa se encontrar no lugar certo, na hora adequada, para aproveitar determinadas oportunidades. Para que isso ocorra, ela precisa estar predisposta, preparada, apta a não deixar fugir a chance, que pode ser a única (ou não). Saibamos, pois, direcionar nossa vontade e fechemos as portas para as idéias negativas, o pessimismo e o mau-humor.


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Por dentro da TV


RENATA CONFUNDIDA COM RITA LEE

A Renata Sorrah, outro dia, levou um enorme susto quando chegou à Globo para as gravações de !Transas & Caretas". Uma verdadeira multidão estava à sua espera, impaciente para obter um autógrafo. A atriz não estava entendendo nada do por quê de tanta movimentação. E entendeu menos ainda quando lhe pediram que cantasse alguma coisa e quando um fã, mais afoito, começou a cantarolar: "Desculpe o um auê...". E foi um auê, mesmo. Renata foi confundida com a Rita Lee. Esclarecido o equívoco, a atriz desabafou: "Justo comigo, esta confusão! Eu que não c anto nem no banheiro!".

BRASIL TRANSMITE VOTAÇÃO

A Rádio Brasil de Campinas, na próxima terça-feira, dia 25, vai abrir seus microfones para registrar um pouco da história contemporânea deste País. Num louvável esforço jornalístico, as emissora transmite, direto do plenário do Congresso Nacional, em Brasília, a votação da emenda Dante de Oliveira, que pode restabelecer as eleições diretas já. Uma nota dez para a Brasil, que soube sentir a importância do acontecimento, que vai polarizar, sem dúvida, todas as atenções nacionais.

UM "TOOTSIE" BRASILEIRO

A situação vivida por Dustin Hoffman, no filme "Tootsie", em que representa, com sucesso, um papel feminino, está sendo repetida, no Rio, pelo ator Jorge Fernando. Ele está substituindo a Mônica Torres na peça "Cândido", em cartaz no Teatro da Lagoa, durante um mês. Jorge vive uma velhinha avançada, o que o obriga a dançar, sapatear e mostrar muito charme. Se continuar assim, é capaz de ganhar o troféu de melhor atriz de teatro do ano. Que situação...

FILHA DE JARDEL NO VÍDEO

Se o saudoso ator Jardel Filho estivesse vivo, certamente não caberia em si de orgulho da filha Adriana. É que a menina, de apenas 16 anos de idade, faz sua estréia em televisão, na novela das sete da Globo, "Amor com Amor se Paga". Seu papel será o de uma garota chamada Renata, antiga namorada de Tomaz (Edson Celulari). Com a tradição da arte de representar que traz no sangue, Adriana só pode mesmo ter muito sucesso. A menina aparece no capítulo 42 da novela.

YARA CORTES SOLICITADA

Para Yara Cortes, a delegada de Sucupira no "Bem Amado", está sendo surpreendente a sua passagem pela Itália. Ela, que está gravando o segundo episódio deste ano do seriado, em Roma, não vence de dar tantos autógrafos. A explicação é simples. Está sendo exibida, atualmente, pela televisão italiana, a novela "O Casarão", em que Yara faz, magistralmente, um dos principais papéis. Vai daí...

FLÁVIO PODE FICAR

A novela da saída de Flávio Cavalcante da TVS, para transferir-se para a Bandeirantes, já está mais longa do que "O Direito de Nascer". Nesta semana que passou, vários diretores da emissora da Vila Guilherme mantiveram contatos com o apresentador, tentando fazê-lo desistir da transferência. Entre entes, destaca-se o próprio Sílvio Santos, o dono da TVS. Flávio ainda está muito indeciso e nos próximos dias poderemos ter novidades a respeito.

XÊNIA BALANÇANDO

De acordo com algumas informações, quem não está muito firme na Rede Globo é a Xênia Bier. Ela não esconde de ninguém o seu descontentamento com o novo esquema do TV Mulher. Além disso, segundo se afirma, estão se tornando freqüentes suas faltas ao serviço, sem a devida justificação. Como a Xênia não tem papas na língua e diz tudo o que pensa...

GALVÃO CONTINUA

Galvão Bueno, o excelente apresentador esportivo da Globo, veio a público para desmentir que estivesse se desligando da emissora, em virtude de uma briga, e que já estaria praticamente contratado pela Bandeirantes. Ele disse que, tanto não é verdadeira a notícia, que até já renovou contrato, por mais dez meses, com a Globo. Galvão diz ter ótimo ambiente no Jardim Botânico e que tudo não passou de uma gigantesca onda. Será?

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na editoria de TEVÊ, página 22, do Correio Popular, em 17 de abril de 1984).


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Plágio e citação

Pedro J. Bondaczuk

Os direitos autorais deveriam ser sagrados para todo o mundo e, por isso, respeitados sempre. Nem sempre o são. Eles valem não apenas para as artes, mas para todos os tipos de criação intelectual. Contudo, a pirataria come solta por aí, apesar do empenho das autoridades policiais para coibi-la. Esse ato de apropriação ilícita e, portanto, indébita, de softwares, de gravações (CDs, DVDs etc.) e de tantos e tantos produtos patenteados, traz graves prejuízos não apenas para seus legítimos donos, mas para a economia, as artes e a cultura entre outras atividades. Um desses danos é o de desestimular as pessoas criativas a empenharem-se para produzir idéias e desenvolverem-nas, beneficiando milhões e milhões de consumidores.

Em Literatura, essa apropriação indébita recebe o nome particular de plágio. Muita gente, porém, confunde esse crime, condenável sempre e em qualquer circunstância, com citação. Quando cito algum escritor, não estou, em absoluto, plagiando-o e nem me apropriando de suas idéias. Pelo contrário, estou manifestando meu respeito por sua inteligência e criatividade e contribuindo para a divulgação do que escreveu. Para que esse procedimento não se configure em plágio, no entanto, tenho que dar, “sempre”, o devido crédito ao verdadeiro autor, citá-lo no contexto em que ele escreveu e, para tornar mais clara ainda a autoria, grafar o texto citado entre aspas, ou em negrito, ou ambos.

Já o plágio é a apropriação (indébita, claro, reitero) de algum texto alheio (não importa se na íntegra ou se apenas algum trecho do mesmo), e isso no caso da Literatura, que é do que estou tratando. O plagiador age como se aquilo fosse escrito por ele. Não raro não se dá, nem mesmo, o trabalho de alterar uma única vírgula. Busca tirar vantagem (e não importa se material ou se apenas intelectual) do que não fez, do que não despendeu o mínimo esforço para produzir. Esse ato equivale a furtar algum bem tangível da vítima: sua carteira, seu cartão de crédito, seu carro etc.

Ao contrário da citação, em que se valoriza quem escreveu; em que se manifesta respeito, admiração e até reverência ao seu talento; em que se o divulga e não raro, até, o resgata do esquecimento e do ostracismo, quem plagia está “roubando” o que o verdadeiro e legítimo autor tem de mais caro: sua memória, sua experiência de vida, seus sonhos, seu talento e suas esperanças. Todo bom escritor, em algum momento da carreira, cita outro, a quem admire, e em determinado contexto em que a citação seja pertinente. Fá-lo, porém, não apenas lhe dando o devido crédito, como, não raro, exaltando-o e reverenciando-o. Mas jamais comete plágio, sequer por descuido. Não precisa disso. É criativo o suficiente para merecer a designação, para mim nobilíssima, de escritor.   

É certo que determinados temas são, virtualmente, inesgotáveis e, por mais que sejam abordados, e por mais criativos que nos achemos, salvo raríssimas exceções (se é que elas existam), nossas idéias a propósito podem coincidir com as expressadas por outros, não importa de onde ou de quando. Mas dada a personalidade de cada um e as variadas circunstâncias, as semelhanças de abordagem jamais se configurarão em igualdade. E isso não é plágio. Não se trata de copiar o que alguém escreveu e dar a entender ou afirmar que fomos nós que o fizemos. Isso, sim, é crime. Reitero, equivale a qualquer outro tipo de furto. Trata-se de abordar um tema comum, mas sob nossa ótica estritamente pessoal.

Afirmar que determinada idéia foi criada por nós, que ninguém, em tempo algum, pensou nela, é, no entender do escritor alemão Johann Wolfgang Göethe (e no meu, evidentemente) arrogância. E mais: é inconsciência. Claro que sou tentado a achar que estas minhas reflexões estão revestidas, se não por completo, pelo menos parcialmente, de absoluta originalidade. Mas estariam? Como posso saber?

O que conheço de literatura universal? Qual o escritor uzbeque que já li? Ou bengali? Ou paquistanês? Ou hutu? Ou dos milhares de povos que há, espalhados mundo afora? Todos eles têm Literatura. Todos têm lá seus escritores. Como me achar original e inventivo depois de 13 milênios de civilização, com um número incontável de pessoas que já passaram pelo Planeta, que refletiram, estudaram e escreveram páginas e mais páginas que nunca chegaram e nem chegarão ao meu conhecimento?!

Mas essa impossibilidade de ser original não me libera, e nem a ninguém, de me apropriar de produções alheias. De tornar-me ladrão de textos, procurando ostentar perante a sociedade um talento que não tenho e nem nunca tive. E, não raro, o plagiador age dessa forma vil sequer para auferir vantagens econômicas. Faz o que faz por pura e exacerbada vaidade. E esta, quando incontrolável, cega as pessoas.

O escritor Matias Aires, nascido em São Paulo no século XVIII, escreveu a propósito, no livro “Reflexões sobre a vaidade”: “Dura mais (a nossa vaidade) do que nós mesmos, e se introduz nos aparatos últimos da morte. Que maior prova do que a fábrica de um elevado mausoléu? No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para com a fé dos mármores fazerem seus nomes imortais: querem que a suntuosidade do túmulo sirva de inspirar veneração, como se fossem relíquias as suas cinzas”. E antes que algum desavisado, que confunde as coisas por ignorância ou por má fé, fique tentado a me questionar, aviso que isto acima é citação e não plágio. Estas reflexões sobre a vaidade são de Matias Aires e não minhas.


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Tuesday, May 28, 2013

A beleza está em toda parte. E talvez em cada momento de nossas vidas”. Esta constatação é de Jorge Luís Borges, que mesmo depois de acometido de cegueira, a vislumbrava, “com os olhos da alma”, em todo o instante e lugar. Como? Através da imaginação, capacidade ímpar, da qual somos dotados, e que tende a tornar belos até mesmo situações e lugares dos mais horrendos e deformados. Ademais, a beleza não se manifesta, apenas, pelo visual. Não a detectamos “só” com os olhos. Outros sentidos nos possibilitam contato íntimo com ela. O ouvido é um deles e, convenhamos, não o mais desprezível. Ouçam, por exemplo, de olhos fechados, um bom poema, declamado por quem saiba lhe dar a devida ênfase. Ou se disponham a ouvir determinadas sinfonias, ou mesmo canções populares de reconhecida qualidade. A alma parece flutuar fora do corpo, nesses momentos de encantamento, e não raro logramos entrar até em estado de  êxtase. Experimentem. Vocês irão gostar.


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internetWWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.        

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Célula da democracia


Pedro J. Bondaczuk

Os jornais de grande circulação do País andaram publicando, recentemente, anúncios publicitários, de página inteira, conclamando os eleitores a votar em branco ou a anular o voto nas eleições de 3 de outubro próximo. A campanha, certamente caríssima, mas sobretudo impatriótica, suscita uma série de questões.

Como por exemplo: quem está pagando as despesas? Qual o propósito de tamanho investimento? A quem interessa um impasse institucional nessa altura da vida nacional? Aos brasileiros, certamente, é que não é.

Aliás, é bom que se frise, a má qualidade do atual Congresso pode ser atribuída, em grande parte, ao mau uso do voto nas eleições passadas. Na oportunidade, não houve campanha para que ele fosse jogado fora. Pelo menos não ostensiva, pregando abertamente a omissão, como agora.

O que ocorreu foi um protesto em massa do eleitorado, descontente com as mazelas que então se verificavam na vida pública, que eram bem menores do que as atuais. Uma enxurrada de votos brancos e nulos inundou as urnas e candidatos que normalmente não seriam eleitos, por contarem com currais eleitorais insuficientes, acabaram conquistando suas investiduras.

Na oportunidade, nesse mesmo espaço, advertimos para as conseqüências dessa insensatez. Previmos, não num exercício de futurologia ou lançando mão de alguma hipotética e infalível bola de cristal, mas escudados em projeções lógicas, o que, desgraçadamente, está acontecendo no Congresso.

Os eleitores estariam dispostos a reincidir no erro? Caso atendam à mensagem da campanha, irresponsável e impatriótica, estarão agindo, mais uma vez, como inocentes úteis. Farão o jogo dos que não têm cacife para se eleger, numa votação normal e que acabarão beneficiados, mais uma vez, por uma omissão da cidadania.

O escritor James Amado, em seu romando "Chamado do Mar", constata: "O voto não é apenas um direito, mas um dever precípuo de todos os cidadãos. Senão vejamos: é com esse pequenino pedaço de papel que depositamos na urna que se cria e se mantém viva a própria Nação. O voto é como a célula: pequenino, mas fundamental".

Não se concebe que ele seja vendido ou trocado por favores. Nem que seja anulado, não exercido ou dado aleatoriamente a quem não se conheça ou não se confie. Errar uma vez é humano. Mas duas?! É inconcebível!!


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de março de 1994).

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Do perigo de julgar

Pedro J. Bondaczuk

O ato de julgar ações alheias implica em imensa responsabilidade. Além de intenso preparo, que tem que ser o mais meticuloso possível, o julgador tem que ter bom senso e jamais se deixar levar pelas aparências, que soem ser enganadoras. Precisa, sobretudo, não ter nenhuma espécie de preconceito. Tem que ser objetivo, racional e responsável. Não raro, em suas mãos, está o destino de um ser humano que é igual a ele: sujeito a paixões, a desejos e às mais complexas emoções.

E nós, que não temos essa capacitação técnica (na verdade, não temos nenhuma) para essa atividade, estamos habilitados a julgar, com justiça, as ações alheias? Não preciso sequer refletir muito para responder à questão. É óbvio que não estamos. Porém, a todo o momento, nos metemos a julgar atos alheios, sem sermos convocados para tal, sem ter nem mesmo conhecimento de causa, baseados, somente, no que ouvimos ou lemos na imprensa e sem atentar, principalmente, que podemos estar destruindo reputações e até vidas. Não sabemos distinguir senso crítico de julgamento.

Se não estamos aptos para julgar ações alheias, imaginem julgar intenções! Como saber o que moveu determinada pessoa a cometer algum ato que julguemos, ou que de fato seja reprovável? Ouso dizer que se trata do impossível. Ademais, nossos julgamentos (por mais que tentemos) nunca se vêem totalmente expurgados de preconceitos, ou seja, de conceitos previamente fabricados. E muito menos de imparcialidade.

O escritor italiano Dino Segre, que ficou conhecido pelo pseudônimo de Pitigrilli (que utilizava para assinar seus textos) traçou um perfil humano genérico, não de alguém específico, mas do tipo médio, no qual a maioria de nós se enquadra. Escreveu, no livro "Lições de Amor": "O homem não é nem anjo, nem fera, ou é ambas as coisas em proporções desiguais. A beneficência, a moral, a caridade não podem fabricar homens e mulheres ideais. Devem servir-se daqueles que encontram".

A dúvida que me fica é: será que as pessoas cuja imagem envolvemos em uma aura de santidade eram ou são verdadeiramente santas? Ou as que julgamos sábias, teriam, de fato, tanta sabedoria? Ou, do lado oposto, será que os monstros humanos foram mesmo tão maus como pintados? Provavelmente há exageros, para o bem ou para o mal, para melhor ou para pior, em todas essas avaliações. Mas... como saber? Como distinguir a justiça e a injustiça desses julgamentos?

Entendo que a melhor estratégia para isso é a enunciada pelo filósofo Eduardo Giannetti, no livro “Nada é tudo’ (Editora Campus): “Prefiro a vertigem da dúvida ao tóxico das convicções”. Esse é o tipo de ceticismo que não condeno e que, pelo contrário, recomendo. Dou-lhe o nome de “prudência”. É o procedimento do sábio, do justo, daquele que se horroriza ante a mínima possibilidade de cometer alguma injustiça contra quem quer que seja. Não se trata, como alguns entendem, de ficar “em cima do muro”. Trata-se de aplicar o axioma jurídico, que poucos aplicam, do “in dúbio pro reo” (em sua expressão latina).

Julgar emoções alheias só por reações externas, como gestos, expressões e palavras, é inútil e não raro nos leva a cometer injustiças. Escrevi isso, tempos atrás, em um ensaio, e acrescentei que “elogios enfáticos, por exemplo, que, muitas vezes, recebemos pelo que somos ou fazemos, nem sempre (ou quase nunca) refletem os reais sentimentos dos que elogiam. Não raro o que não diz nada, e que parece ter permanecido indiferente à nossa pessoa e nossos feitos, é exatamente o que mais os apreciou e valorizou. Anos depois, descobrimos isso. Mas já pode ser tarde para repararmos a injustiça de havermos pensado mal do nosso real admirador”. E não são poucas as vezes que cometemos esse tipo de injustiça.

Imaginem, então, o que é julgar intenções alheias! Como saber o que move determinadas pessoas a praticar certos atos nitidamente ilegais ou, no mínimo, imorais? Não vejo como. Prefiro, nestes casos, recorrer à recomendação de Giannetti. Ou seja, entregar-me “à vertigem da dúvida” para não ser afetado pelo “tóxico das convicções” (no caso, as falsas).

Meu saudoso e sábio amigo, Mauro Sampaio, poeta sumamente observador, legou-nos magnífico poema a propósito, que explica porque somos incapazes de julgar emoções e, principalmente, intenções, embora o façamos, estupidamente, a todo o instante. Seu título é “Justiça” e diz:

“No ápice da pirâmide,
se encontram e se irmanam
a sabedoria, a loucura e a tolice.

Só tu, Senhor, as distingues”.

De fato, nossos julgamentos para fazer essa distinção (e outras tantas) são falhos, parciais e, por isso, injustos. Muito do que consideramos o suprassumo da sabedoria não passa de rematada tolice, e vice-versa. O mesmo vale para a  justiça dos nossos vereditos. Não estamos habilitados a julgar ninguém e, por isso, deveríamos nos abster de fazer o que não sabemos e, por isso, não podemos fazer com isenção e imparcialidade.

Aliás, já que mencionei o Mauro (o que sempre me renova a satisfação e o orgulho de ter privado de sua amizade, embora renove, também, a saudade), partilho com você, paciente leitor, mais um poema desse magnífico poeta, com o qual fecho, com chave de ouro, esta descompromissada reflexão:

Julgamento

“Não exortarei o mau.
Não o repelirei.
Me curvarei ante a sua fragilidade.

Não é meu o julgamento”.


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